Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 18
Espectro Autista


Notas iniciais do capítulo

Hey, hoje minhas aulas começam. E ai próxima postagem, como eu já disse em outras oportunidades, vai demorar um tanto. Queria deixar um capítulo para vocês terem o que pensar.

Uma música da Pink qualquer serve. Eu pus Who Knew para tocar, escolham a de vocês.



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Espectro Autista é um espectro de condições psicológicas caracterizado por anormalidades generalizadas de interação social e de comunicação, e por gama de interesses muito restrita e comportamento altamente repetitivo.

ZOE

- Bê? – liguei para ele assim que ela desligou.

- Oi! Zoe! O que há de bom? – respondeu do outro lado da linha com tanta animação que ficava notório seu estado contente.

- Nada de muito bom, sabe o Vitor? – não esperei pela resposta – Bem, eu sei que você e a Pan estavam num mal estar...

- Esquece isso, Zoe, fala logo o que foi?

- Então, não tem mais jeito, ele é um paciente terminal...Mas vai fazer o tratamento paliativo fora do hospital, e ela só quer que ele aproveite o tempo que tem, ele não quer ser tratado como um doente e eu acabei de falar com ela – paro para tomar fôlego – Dei a ideia de sairmos, você sabe, jogar conversa fora, falar besteira, rir, e vamos eu, Tiago, ela, ele, e queria que você. Por favor, por favor, por favor...- eu estava preparada para insistir, para argumentar, mas ele aceitou tão prontamente que levei uns segundos para entender que ele havia aceitado de primeira – Então você vai mesmo?

- Vou, claro que sim. A Pan é minha amiga e ele é um cara legal, certo?

- Isso – digo ainda sem entender completamente que não precisarei insisti.

- Mas...será que...eu poderia levar alguém...?

- Alguém?

- É.

- Pode, pode, claro que sim...quem?

- Pode chamar de Mona.

- Hum...Mona...- digo tendo a certeza de que ele está com as bochechas vermelhas do outro lado da linha – E vocês são...?

- Amigos. Na verdade mais que isso, mas somos amigos Zoe,e pa-pare com isso – diz com aquela ponta de ansiedade na voz que eu já me acostumei – Tenho que receber um cliente agora, me manda o local e a hora por mensagem?

- Mando sim – e antes de desligar completo – Para você e para a Mona eu mando, pode deixar.

-Zoe...

***

BERNARDO

Passei para buscar a Mona às 19 horas, uma coisa que aprendi com nossas semanas de convivência é que a síndrome de asperger geralmente, vem acompanhada de uma certa exatidão, ela era extremamente pontual, e tinha um modo diferente de ver o mundo. Eu gostava. Aliás, aprendi nessas semanas que eu gostava muito.

- Então o namorado da sua amiga tem câncer?

- Sim, foi assim que eles se conheceram, ela era médica dele.

- Interessante,e a quanto tempo vocês são amigos?

- Ah faz muito tempo já- bebo um gole de meu suco de goiaba cremoso.

- Muito amigos?

- Bem, eu, ela e Zoe sempre fomos muito amigos. Andamos um pouco distantes, mas ela precisa de nós, é um momento difícil.

- Entendo, entendo – ela toma um gole de capuccino e gira o líquido no copo com uma concentração ímpar, depois de uns bons segundos olha para mim fazendo o copo parar. Sorri – É ela. É ela, não é?

- O quê?! Do que você está falando Mona? – respondo confuso.

- O pequeno príncipe – diz sussurrando.

- O quê...

- O príncipe que deixou a raposa sozinha e foi cuidar da flor...-  eu devo ter feito uma cara estranha, pois ela interrompeu o que dizia, pegou minha mão que estava na mesa e sorriu de maneira compreensiva – Tudo bem, eu já sabia que você era a raposa lembra?

- Não...nã-não é isso ... – mas ela dá um sorriso de canto de boca e arqueia as sobrancelhas, paro de falar, olho para o lado um instante – Eu gostava dela...muito. Eu disse, mas não sabia que ela estava com ele. Mas, quer saber? – passo meu polegar pela parte de cima da mão dela – Eu acho que o pequeno príncipe foi cuidar de sua flor, e, que a raposa achou alguém que a cativou.

Ela responde com um sorriso um tanto desdenhoso. Toma mais um gole e volta a rodar o copo. Voltamos a conversar sobre assuntos variados. Já eram 19:45 p.m. Quando ela disse:

- A raposa me cativou também – ela disse entre um comentário sobre como o capuccino estava bom e um sobre o fato deles estarem atrasados.

Eu queria responder, mas fiquei num misto de surpresa e qualquer coisa boa. E teria respondido com um beijo se tivesse tido a oportunidade, mas ela continuou falando do creme do capuccino e não demorou muito Zoe e Tiago chegaram.

- Mona! – minha amiga com aquele jeito de líder da matilha abraçou Mona de maneira calorosa.

- Muito prazer – ela respondeu timidamente.

- Eu estava muito ansiosa para te conhecer, porque o Bê te adora e então eu te adoro também – ok, tenho absoluta certeza de que fiquei tão vermelho quanto poderia ficar.

- É mesmo? – Mona diz olhando para mim como se estivesse se divertindo com aquilo.

- Pode apostar – as duas sorriram em complô .

Não demorou e eles também chegaram. Vitor e Pan vieram de mãos dadas, ele estava parecendo mais frágil desde que o vi, mais magro, mas não sem aquele “porte”, não, isso continuava lá, vai ver não era nada que uma doença pudesse retirar dele. E ela estava abatida também, parecia cansada. Fiquei surpreso quando percebi que sentia uma certa pena deles. Não, pena não é uma boa palavra. Talvez compaixão. Talvez até um misto de gratidão pela amizade da Pan e o sentimento de incapacidade de ajudá-la agora. Não senti aquilo da livraria, aquele ciúme da outra vez. Cumprimentamos os dois.

- Pan – digo enquanto dou um abraço nela – Acho que você já sabe, mas conte comigo por todo o sempre, ok?! – digo para que só ela escute.

- Bê – ela me segura mais um pouco.

- Vitor – estendo a mão – Beleza?

- Bernardo, meu caro, tudo azul – ele segura minha mão num cumprimento.

- E essa é a Mona – digo apresentando-a . – Mona esses são Pan e Vitor.

Ela estava com um semblante esquisito, parecia incomodada com alguma coisa. Deduzi logo que era resultado de seu modo particular de relacionar-se. A confraternização foi muito divertida, Vitor contou histórias engraçadas que fizeram todos rirem. Ou quase todos, já que, Mona permaneceu rodando seu copo de capuccino e falando só quando era essencial.  Ela não era assim comigo, mas entendi que precisava de um tempo para adaptar-se e criar uma via de comunicação com essas pessoas novas.  Nos despedimos dos outros e caminhamos até o carro em silêncio. Comecei a dirigir esperando que ela puxasse assunto, mas não aconteceu.  Foi ai que percebi que ela estava propositalmente calada.

- Mona?

- Hum – disse sem tirar os olhos da janela.

- Você está chateada comigo? – ela não respondeu – Eu achei que você estava mais quieta por conhecer tantas pessoas novas no mesmo dia – ela continuou olhando para a janela, então tentei descobrir o motivo do silêncio – Foi algo que eu disse? – nada- Foi algo que eu fiz? – mais silêncio – Me desculpa.

Ela olha para mim com um semblante que misturava preocupação e algum ressentimento. Abre a boca algumas vezes sem dizer nada. Morde o lábio inferior e volta a olhar pela janela. Cruza os braços. E fica assim por uns dois minutos.

- Há quanto tempo você conhece o Vitor Campani? – diz sem se virar.

- O namorado da Pan? Essa foi a segunda vez que o vi – respondo – Por que?

Ela não fala nada.  Aperta os braços contra o peito. Respira fundo.

- E você? – falo começando a sentir algo muito estranho no ar – Há quanto tempo o conhece?

O sinal fica vermelho e posso ver que ela me olha de soslaio. Repito a pergunta. Mona vira-se bruscamente e me encara tão profundamente que sou obrigado a desviar o olhar por alguns segundos. O sinal fica verde e volto a avançar com o carro sem ter ouvido um resposta.

- Mona...?

- Há muito tempo...Quando eu era criança... Ele não lembra de mim. – as frases saíram soltas e um tanto sem nexo, mas a frase seguinte foi bem clara – Eu não gosto dele – ela olhou pela janela novamente, balançou a cabeça e pude ver que seu semblante se retorcia numa cara de nojo – Eu não gosto dele – repetiu num sussurro entre dentes. 


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Notas finais do capítulo

E então, é sério estou curiosa para saber o que vcs acharam desse? Hum?

Bjoks



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