Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 73
Fuja




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“Tentavas fugir?” –Luiz me perguntou.

“Não, eu só...” –Fui interrompida.

“Vem cá!” –Ele disse me puxando pelo braço esquerdo.

Realmente, era apenas um corredor vazio onde a porta ficava. Chegamos até uma sala e uma senhora de aparentemente cinquenta anos, fumava seu cigarro em um sofá velho próximo a uma janela com grade. Olhei todo o cômodo e um gato cinza dormia sobre um jornal no chão próximo a uma outra porta. A tv velha e pequena ficava sobre uma pequena mesa encostada em uma parede azul, já descascando. A mulher tinha os cabelos tingidos de loiro e estava preso em um coque. Ela estava fora de forma e sua barriga saia por baixo da sua blusa azul celeste, a mulher ainda usava uma bermuda de lycra com algumas flores na estampa.

“Essa é a garota?” –Ela perguntou com uma voz rouca.

Enquanto Luiz segurava meu braço, o motorista amarrava minhas mãos para trás. A mulher se levantou e soltou sua fumaça de cigarro, em meu rosto. Comecei a tossir e os três começaram a rir.

“Quantos anos você tem?” –Ela perguntou. “15.” –Respondi.

“Mais três anos de uso ainda.” –A mulher disse rindo. –“Tem nome?”

“Claro!” –Respondi. –“Idiota.” –Sussurrei.

“Eu ouvi isso!” –Ela disse com o cigarro na boca. –“Me diga seu nome.”

Permaneci calada e fiquei encarando seus olhos castanhos escuros. Parecia que todo mundo nesse lugar tinha os mesmos olhos.

“Tudo bem, não quer dizer. Vou te chamar de ...” –Ela disse com uma expressão pensativa.

“Yolanda.” –Disse Luiz.

Cada minuto que passava, meu ódio por ele só aumentava. Mas ao olhar para o rosto de Luiz, eu sentia pena. Na época, Luiz tinha 43 e parecia muito mais esperto do que hoje.

“Ela é a filha do Antônio?” –A mulher perguntou.

“E seu nome?” –Eu perguntei.

“O que, garota?” –Ela perguntou se virando para mim.

“Você perguntou meu nome, quero saber o seu.” –Eu disse.

Ela ficou me encarando surpresa e logo sorriu. Ela demorou para responder. A mão que Luiz me segurava, começava a suar e aquilo estava realmente me incomodando.  O motorista havia amarrado meus pulsos com força e minha mão começava a ficar dormente.

“Sou Cristina.” –Ela respondeu com sua voz rouca.

“Então, Cristina, poderia desamarrar minhas mãos? Está me machucando.” –Eu disse.

Ela olhou para Luiz. Ele foi para trás de mim e tentou desatar os nós feitos pelo motorista. Passei a mão direita em meu pulso esquerdo e vice versa. Nos meus pulsos haviam as marcas da pequena corda utilizada para me prender.

“Vai lembrar os velhos tempos?” –Cristina perguntou a Luiz.

Ele afirmou com a cabeça e foi me conduzindo até o porão novamente. Quando chegamos perto da porta, pude notar que a chave estava na fechadura pelo lado de fora.

“O que é aquilo?” –Apontei para o final do corredor vazio.

Luiz olhou e aproveitando sua distração, o empurrei para dentro do porão e distância entre a porta e a escada, não era muito grande e o ouvi cair. Tranquei a porta e ninguém foi procurar saber o motivo pelo qual Luiz gritava. Fui caminhando até a porta da frente e girei a maçaneta. Trancada. Evitei passar pela sala, onde Cristina ainda estava e pude ouvir ao longe, Luiz bater na porta. Corri para uma porta fechada e descobri que era um quarto. Havia uma cama de solteiro e um guarda roupa de quatro portas. As janelas também tinham grade. Havia um buraco para ar condicionado no alto da parede. Muito alto para mim. Na porta não tinha nenhuma chave com a qual eu pudesse trancá-la. Empurrei a cama até a parede do buraco. Subi na cama e o consegui alcançar. Tentei subir três vezes e na última, consegui. Empurrei a madeira que tapava o buraco e seu barulho foi enorme. Quando finalmente consegui por a minha cabeça para fora, vi o vira-lata lá embaixo me esperando. Minha cintura ficou entalada no buraco por alguns minutos e finalmente escorreguei e cai para fora. Fiquei deitada no chão, sentindo dor, por alguns minutos enquanto o vira-lata lambia meu braço.

“Cadê a garota?” –Berrou Cristina.

Finalmente recuperei as forças para me levantar e enquanto eu corria, meu corpo todo doía. Tinha um enorme quintal de terra na frente e o portão estava aberto. A rua não tinha asfalto e outras casas parecidas estavam no entorno. Corri para a direita, mesmo não sabendo onde iria me levar. Vi uma rua que cruzava com a qual eu estava correndo e virei para a esquerda, para evitar o mesmo quarteirão da casa. Eu já não aguentava mais correr, minhas costelas doíam e minha cabeça também. Encontrei uma senhora sentada na porta de sua casa, vendendo balas.

“Posso me esconder aqui? Estão atrás de mim.” –Eu disse ofengante.

“Entre.” –Ela disse.

Entrei e me sentei no chão e me encostei no muro. Lá de fora, não conseguiam me ver. Eu tentava arrumar uma posição que parasse com a minha dor, mas nada funcionava. Eu podia sentia a adrenalina correr em minhas veias. “Eu vou morrer”, isso não parava de se repetir em minha mente. Como eu precisava do meu celular agora.

“Com licença, que lugar é esse?” –Perguntei para a senhora. –“E posso usar seu telefone?” –Me levantei.

“Estamos em...” –Ela dizia até ser interrompida por barulho de tiros.

Me abaixei e pude ver a senhora pegar seu celular e discar para alguém. Ela conversou por dez minutos e logo dois homens entraram em sua casa. A senhora apontou para mim e eles vieram em minha direção. Tentei correr, mas um deles me agarrou por trás pela cintura.

“Me solta!” –Eu disse batendo em seus braços que me envolviam.

Tentei me soltar de todas as maneiras possíveis, mas o homem era realmente forte. O outro que o acompanhava, segurou minhas pernas e ambos me carregaram. Não havia mais ninguém na rua, parecia que eles mandavam naquele lugar. Não demorou muito e estávamos em casa novamente. O homem que me carregava me jogou no sofá e procuraram a chave do porão nos bolsos da minha calça, até encontrá-las. Fiquei sentada no sofá olhando para Cristina, um dos homens que me trouxe e o motoristas. Todos estavam tomando cuidado para eu não fugir novamente. Eu tentava regular minha respiração. Luiz apareceu na sala com o homem que me carregou e veio em minha direção. O barulho foi alto. O tapa que levei em meu rosto fez com que minha bochecha esquerda ardesse, queimasse. Tudo em meu corpo doía.

“Só pra te lembrar, sei onde está sua família. Caso queira fugir novamente, será pior para eles.” –Disse Luiz.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥
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Little Leaves ♥ eddictedhoran



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