Ela era uma menina feliz e perfeita. De família rica, bem educada. Trabalhava como secretária de um famoso dentista enquanto não terminava sua faculdade para seguir sua vocação de professora. Só faltava mais um semestre para esse sonho se concretizar. Cheia de amigos, cheia de vida, no auge dos seus 22 anos, e com o namorado dos sonhos: Júlio, o homem de sua vida, o amor de infância, ou o amor eterno. Era o que parecia ser, até os últimos três meses.

O inferno se instalou na sua vida. Seu Júlio havia enjoado dela. Estava frio, distante, mal aparecia em sua casa e mal falava com ela, até que aconteceu...

Estava acabado. Dez anos indo embora. Mais do que isso: ELE estava indo embora, e nos braços de outra. O que poderia ser pior? Aquele era seu fim.

Desespero era pouco para definir o que sentia. A sensação do vazio deixado ali, a falta de ânimo para sequer levantar da cama, a vontade de viver estava acabada. Só lhe restava uma coisa: desistir.

Tentou uma, duas, três vezes. Sempre havia algo que a prendia, não a deixava continuar aquele ato final. Ela não sabia o que era, mas odiava esse algo infinitamente, só por não a deixar ir.

Ela era feliz. Tinha tudo que havia sonhado: uma boa casa, um bom emprego, o namorado perfeito, uma família perfeita e sempre pronta para apoiá-la. Mas o namorado perfeito não a queria mais. Tinha outra mil vezes melhor, chegou a traí-la, e, por fim, largá-la, deixando-a naquele estado.

A depressão chegou. Nada mais fazia sentido. Largou todos os seus amigos, tirou licença do trabalho e da faculdade. Estava sempre sob efeitos de remédios pesados. Tudo era distante e complicado. Sentia-se um peso, um estorvo.

Quando quase começou mais uma tentativa de morrer, uma ligação. Sua mãe.

- Alô, minha querida. Achei alguém que pode te fazer companhia.

- Esquece, mãe. Não quero mais nada. Pode dispensar, não vai precisar disso.

- Para, Lara. Não vou desistir. Amanhã mesmo ele vai começar. Esteja viva! – comentou, ironicamente.

- Eu posso não estar, sabia? – brava.

- Sim, eu sei. Por isso ele vai estar aí às 8h00. Beijos, minha filha. – desligou.

- Tá bom. – bufou.

Era só o que faltava! Mais um vindo cheio de sermões pra cima dela. Mais um querendo mostrar que a vida é bela e blá blá blá. Ela estava cansada. Não precisava de mais um vindo falar a mesma coisa, precisava de alguém que a compreendesse, a ajudasse, ou a matasse de vez. Bom, quem sabe não seria ele? Resolveu esperar para ver o que acontecia.