Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Yoo meus caros leitores!!
Bom, sei que andei baastante sumida não é?! Mas foi por uma boa causa (na verdade nem tão boa assim), eu estava de castigo e com alguns probleminhas pessoais. Era pra eu ter postado já há umas duas semanas, mas só saí do castigo ontem, e como não tive tempo de postar, cá estou eu. Ontem só tive tempo de dar uma passadinha rápida no nyah! para ver as minhas atualizações e como tinha que dar mais uma revisada no capítulo decidi deixar para postar hoje. Espero que entendam. (:
Agora, sobre o capítulo, este ée bem grandinho, um pouco mais do que costumo fazer (espero que capítulos enormes assim não se repitam porque aí já é demais!), mas foi necessário, vocês vão entender quando lerem.
Ah, só mais uma coisinha, até o dia 14/12 não vou ter mais tempo previsto para postar, já que desde agora começou a primeira etapa das minhas provas finais então preciso estudar. Mas, não quer dizer que vou deixar de postar, amo isto!
Para encerrar este (enorme) aviso, gostaria de agradecer muuuito aos meus leitores e aos meus reviews, sempre tão atenciosos, sempre tão encorajadores, sempre comigo! Dedico este capítulo a todos meus leitores (leitores fantasmas totalmente incluídos!!)!
Agora, sem mais delongas, boa leitura! XD



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Capítulo 11

Já era madrugada, a lua estava alta no céu coberto de estrelas brilhantes, o cricrilar dos grilos era calmo, trazendo um clima tranquilo e aconchegante. Estava fresco, úmido, silencioso. Ele estava sentado no jardim e fitava o céu com os olhos reluzindo as estrelas. Afagou os cabelos em um longo e profundo suspiro abaixando sua cabeça e a colocando entre seu joelho e sua perna direita deitada. Deixou uma lágrima, apenas uma única lágrima cair de seu olho e rolar pelo seu rosto, chegando à blusa azul de seu pijama e fazendo uma pequena mancha se alastrar vagarosamente.  Novamente olhou para a lua e se deixou levar.

“O garotinho corria rápido para a sua casa carregando uma bola em baixo do braço, hoje sua mãe havia lhe prometido apresentar uma nova amiga e depois o levar para comer ramén em sua barraca favorita.

Morava em um bairro simples, mas feliz. Gostava de brincar com seus vizinhos à tarde, depois da escola, embora eles vivessem implicando o garotinho, que por sua vez não deixava barato e revidava, mas era sempre interrompido por sua mãe, que o trazia arrastado para casa.

Ela era uma mulher de temperamento curto, brava, mas carinhosa e cuidadosa. Um pouco diferente dela, seu marido era mais calmo e pacífico, mas quando se tratava de sua pequena família, ele se tornava como um leão.

O garotinho abriu a porta de sua casa chamando seu cãozinho, mas ao contrário do que esperava que acontecesse, o cão não apareceu e nem ao menos deu algum sinal. O chamou mais algumas vezes, mas desistiu quando o animal não respondeu a todos os respectivos chamados. Resolveu entrar de vez dentro de sua casa e correu adentrando-a, tirando os sapatos e deixando a bola rolar no chão. Gritou avisando que havia chegado, mas assim como quando chamou seu cãozinho, não escutou nenhuma resposta se quer, nem ao menos um ‘olá’. Achou aquilo muito estranho, mas pensou que seus pais poderiam estar tentando lhe dar um susto, então resolveu correr pelos cômodos da casa a procura deles. Subiu o segundo andar e foi logo na direção de seu quarto. Nada. Seguiu com um sorriso para o quarto deles, e como antes, não encontrou absolutamente nada, apenas uma cama bem arrumada e o cheiro mesclado de pimenta e rosas no ar. Procurou em baixo das camas tanto de seu quarto como de seus pais, procurou nos banheiros, nada. Sentou-se emburrado no sofá e começou a se perguntar se seus pais haviam saído e o deixado sozinho em casa. “Não, eles não fariam isso.” Pensou quando se lembrou de que faltava apenas um lugar para procurar. Levantou-se correndo do sofá e começou a dizer que já os tinha encontrado e que não precisavam mais que se escondessem. Tinha um sorriso enorme e feliz no rosto, um sorriso que foi estilhaçado em mil pedaços quando atravessou a porta da cozinha. Seus olhos azuis que antes estavam cintilando e expressavam a alegria de um garoto de seis anos, agora estavam opacos. Suas pupilas estavam extraordinariamente contraídas, sua expressão agora era de medo, de horror, de dor, de choque. Lágrimas escorriam por seus olhos freneticamente. Seu coração parou por um segundo e retornou com uma pulsação veloz. Tudo o que via era uma mulher de olhos fechados e dona de longos cabelos tão vermelhos quanto o rastro de sangue que saia de sua boca, sentada em uma cadeira com os punhos por trás das costas, amarrados por uma corda, assim como seus pés. Sua cabeça estava pendida para o lado, levemente encosta aos cabelos loiros e espetados do homem amarrado de mesma forma, atrás de si, com o mesmo tipo de machucado. A linha de sangue havia sido bastante amenizada, mas mesmo assim, podiam-se ver, em seus pescoços, rastros do vermelho escarlate. Aqueles eram seu pai e sua mãe.

O garotinho, loiro como o homem, não acreditava no que via, não queria acreditar. “P. Papai...? Ma... Mamãe...?” Ele repetia baixinho. “Na-Não p-po-pode s-s-ser!” Tentava se convencer do contrário do que via. Seu coração batia em choques. Todo o seu corpo tremia. “N-Não são e-eles! N-Não s-sa-são!” Gritou alto, caindo ao chão sobre seus joelhos e levando a coluna até eles, se apoiando sobres seus antebraços com as mãos cerradas e sobre suas pernas, formando um casulo. Socava o assoalho fortemente repetindo essas palavras. Suas mãos começavam a ferir e deixava suas lágrimas correrem por seu rosto e mancharem a madeira. Chorava incontrolavelmente. “NÃO SÃO! ISSO NÃO ESTÁ ACONTECENDO!” Gritou alto para si mesmo quando levou as mãos à cabeça, apertando fortemente seus dedos no cabelo loiro, os manchando com o pouco de sangue que tinha nas mãos e gritando de dor, dor que penetrava cruelmente seu coração. Estava confuso. Perdido. Estava doendo, doendo ardentemente. Maldito coração, doía-lhe mais do que se tivesse fincado uma faca em si. Era uma dor aguda, funda, agonizante, que cada vez penetrava mais. Mais forte do que tudo. Sua cabeça doía como se estivessem a martelando. Continuava ali gemendo alto de dor. Engasgava com suas lágrimas, e sentia sua garganta arder, seu clamor estava começando a ficar rouco. Isso, ele clamava. Clamava para que aquilo não fosse verdade, clamava para que estivesse em um pesadelo, clamava para que alguém chegasse e dissesse que eles estavam bem e que era apenas uma brincadeira de mau gosto. Sentiu seu estômago embrulhar horrivelmente. Sentiu sua garganta apertar. Sentiu seu pulmão falhar. Começou uma forte crise de tosse que se misturava com seu engasgado e sua falta de ar. Cravou as unhas no assoalho quando vomitou. Caiu de lado, fraco, engasgado com o choro, tonto. Parecia que todo o ar do mundo havia resolvido sumir. Estava ofegante, não conseguia respirar pelo nariz e se esforçava para puxar ar pela boca em meio aos soluços molhados. Notou que sua mão e suas unhas sangravam, devido a força com que as fechou. Isso não era nada comparado a dor que o dilacerava por dentro. Virou de bruços e se arrastou com os braços e as pernas até mais perto onde seus pais se encontravam. Ainda soluçava constantemente, e parecia-lhe que as lágrimas não iriam cessar nunca mais. Tremia todo o corpo. Esforçava-se ao máximo para se aproximar das cadeiras. Gemia de dor, sentia que seus ossos dos braços e das pernas iriam se quebrar, mas tinha que chegar lá, tinha que fazê-lo. Por onde arrastava seu corpo, deixava um rastro escarlate devido aos profundos arranhões que tinha. Parou por vários instantes, se recuperando, tomando o máximo de fôlego possível. Tentou controlar o choro, mas foi em vão. Sentia que iria morrer. Queria morrer. Assim que se recuperava, voltava ao esforço novamente. O assoalho estava marcado por lágrimas. Suspirava e soluçava profundamente, e nas poucas pausas puxava ar, mas que logo se esvaia com os gemidos. Não aguentou mais, não havia conseguido chegar aos pés de seus pais, mas já estava perto. Queria continuar, mas seu corpo não resistia mais. Tremulava muito quando levou a mão mais uma vez para se puxar ao chão, mas assim que a encostou à madeira, os restos de suas forças se foram. O toque levou consigo suas últimas reservas de energias. A visão do garotinho começou a ficar turva e escura, sua cabeça parecia girar mais do que antes. “N-Não...” Murmurou baixinho, quando tudo se escureceu de vez. Por fim, seu corpo parou de tremer e suas pálpebras finalmente se fecharam em descanso. Desmaiou, ali, ao lado de seus pais mortos.”

Abaixou a cabeça e levou a costa de sua mão esquerda ao seu rosto, secando aquele rastro torto e salgado que lhe umedecia a face e o incomodava. Soltou um profundo suspiro olhando uma última vez para o céu enquanto se levantava apoiado ao seu joelho. Voltou a caminhar calmamente pelos corredores. O sono parecia estar querendo lhe fazer uma visita.

-------------- xx --------------

O começo de tarde estava nublado, úmido e abafado. Estava calor no último horário. Era sexta-feira, então os horários de aulas se davam por acabados antes do intervalo, consequentemente, os alunos tinham a tarde livre. Para saírem do colégio era preciso permissão de seus responsáveis, mas a grande maioria deles já deixava autorizada a saída de finais de semanas.

A matéria de matemática era considerada fácil para uma garota de cabelos rosados, que na maioria das vezes aproveitava o tempo para observar a vista ampla do céu que a janela ao seu lado lhe permitia ter. Não gostava muito de dias nublados, geralmente o clima era abafado e o céu cinzento a entediava. Em dias assim, era mais comum que ela prestasse atenção ás aulas, porém hoje estava sendo diferente. Forçava a sua mente a criar alguma maneira de cumprir a promessa que havia feito a uma amiga. “Droga, como fui prometer uma coisa dessas?” Repetia constantemente para si mesma. Levantou os olhos verdes para o quadro a procura de alguma distração, mas as enormes expressões abarrotadas de letras só a fez suspirar mais e esconder a cabeça entre os braços cruzados sob a mesa. Ouviu as últimas palavras de seu professor avisar a turma de um dever de três páginas quando o sinal soou. Olhou – no escuro – para seu livro abaixo de sua cabeça e viu que não era tanto quanto estava acostumada, além de ser fácil. Continuou com a cabeça baixa enquanto seus colegas saiam agitados da sala de aula, felizes com o final de semana. Tinha uma audição muito sensível e conseguiu escutar a voz estridente de Ino no fundo da sala, provavelmente estava falando sobre alguma bebedeira e algum garoto, com outra colega. Escutou um barulho mais abafado duas carteiras atrás da sua. Pela sutileza e pelo fato de Hinata sentar duas cadeiras atrás de si, a rosada pode constatar que era ela. O professor havia saído e a sala estava praticamente vazia agora. A garota de cabelos rosados retornou sua atenção para o fundo e ouviu Ino novamente e algumas reclamações. Uma voz familiar praguejava a respeito dos deveres e de como eram difíceis. “Essa voz... Eu conheço essa voz...” Disse mentalmente se concentrando para reconhecê-la “Naruto!!” Levantou a cabeça rapidamente. “Finalmente algo!”

--Sakura-san, você está b-bem? – uma voz baixa surgiu a sua frente, distraindo-a por um segundo.

--Hinata? – ela elevou os olhos verdes até o rosto sutilmente corado – Hinata! – se levantou rapidamente, levando sua mão em formato de concha até o ouvido da garota.

--S-Sakura-san? – a morena estava um pouco espantada e ligeiramente mais corada.

--Lembra-se do que eu te prometi? – disse em um tom um tanto quanto seco. No fundo, não queria dizer nada, não queria fazer nada. Mas agora já havia prometido, e tinha que cumprir.

--S-Sim...

--Eu consegui ouvir que ele está precisando de uma ajudinha com matemática, esta seria sua oportunidade! – fingiu empolgação.

--Sakura-san! – um sorriso começava a brotar nos lábios vermelhos – I-Isto é ó-ótimo! Mas... Não s-sei se vo-vou conseguir f-falar com e-ele... – o sorriso parecia desaparecer.

--Hinata, você tem que acreditar que consegue. – “Você não precisa fazer isso” uma grande parte de si dizia isso – Eu vou te observar e ver como você vai se sair, se alguma coisa acontecer eu intervenho. – “Ele não precisa aceitar sua ajuda.”.

 --M-Mas... – ergueu o olhar para os olhos verdes, que em uma pouca parte dizia para que ela fosse até lá, mas a maior parte, que ficou oculta aos olhos perolados, pedia para que tudo ficasse como estava, para que nada acontecesse – Você tem razão Sakura-san, eu tenho que ir.

--Que bom. – forçou um sorriso amigável – Estarei te observando da porta. – disse enquanto soltou a amiga e caminhou em direção a porta, levemente mancando, escondendo seu corpo.

Sakura, com um pequenino sorriso, ficou olhando como sua amiga iria se sair. Uma parte de si dizia que aquilo era o certo, que iria ser bom. Por um momento, quando viu que Hinata finalmente havia conseguido se dispor para ajudar Naruto a estudar, uma parte egoísta de Sakura começou a falar mais alto. Não sabia, não entendia, mas não gostava de ver sua amiga com ele. Era desconfortável. Seu coração, por algum motivo, batia mais rápido quando pensava na hipótese de eles darem certo. Mas quando os olhos da rosada pousaram no rosto de felicidade de Hinata quando Naruto aceitou a oferta de ajuda, seu coração fraquejou por um segundo e retomou um ritmo lento. Tinha um sorriso singelo no rosto. Não eram as muitas vezes que Hinata esboçava um sorriso assim. Além de sua extrema timidez, a garota também tinha vários problemas com a família. Ela era uma garota linda, delicada, doce e meiga. Apenas era preciso fazer as coisas certas para ela sorrir. Mas mesmo assim, esta não era uma tarefa fácil, não era qualquer um que conseguia tirar bons sorrisos da morena. Apenas Kiba conseguia fazer com que a garota soltasse gargalhadas.

Saiu da porta ainda com o sorriso, porém ele foi diminuindo-se até nada. Soltou um profundo suspiro enquanto caminhava de olhos fechados. Tinha sua mente confusa, bagunçada. As divergências entre o que sentia quase que a enlouquecia. Não queria, não podia e não era do tipo que criava ilusões amorosas, mas sabia que sentia algo por Naruto, não iria mentir para si mesma. Porém, estava um pouco feliz por Hinata. Ela era sua amiga, queria o melhor para ela, mesmo que o melhor para si tivesse que esperar um pouco. Por um segundo, uma pergunta surgiu na mente de Sakura: “Onde está o meu amor próprio? Sacrificar coisas que poderiam me fazer tão bem quanto para Hinata, apenas para vê-la bem?” Novamente a parte egoísta de rosada começou a se elevar, mas logo foi suprimida pela mesma. Sua amizade com Hinata contava bastante nesta situação. “Se Hinata ficar bem, eu também vou certo? Certo Sakura? Ou será que não?” Perguntas assim pairavam na mente da rosada. A confusão em sua cabeça atordoava-a. Novamente, soltou um profundo suspiro e levou sua mão até sua têmpora esquerda, afagando-a.

--Droga... – bufou.

Caminhou sozinha pelo corredor largo, indo para seu quarto. Não queria ir para casa para ter apenas a companhia dos empregados que temiam conversar com ela. Se for pra ficar sozinha, que seja em lugar confortável e que possa ter um pouco de tranquilidade.

-------------- xx --------------

As nuvens começavam a se escurecer mais e, por piedade ou não, uma brisa refrescante tomou conta do colégio, trazendo consigo o gostoso e refrescante aroma úmido da chuva. Dois rapazes lanchavam sentados com as pernas cruzadas sob uma sombra repousante de uma árvore do jardim. Um deles tinha um semblante pouco mais descontraído em relação ao outro, que tinha um semblante de preocupação.

--Hey, daqui a pouco vou encontrar a Hinata-san na área de lazer. Ela prometeu me ajudar com matemática. Deveria ir também, eu percebi que não entendeu a matéria muito bem, e isso é estranho vindo de você, afinal, já estudamos essa matéria.

--Não preciso de ajuda. – respondeu rápido e seco.

--Tudo bem, você quem sabe, mas se ficar de recuperação no final do ano eu vou rir de você com todo o meu direito. – brincou, com um sorriso maroto. Pena que este se reduziu a nada e continuaram a lanchar.

Um dos rapazes continuou a comer o ramén que havia pedido, enquanto o outro nem se quer havia tocado na bandeja de sushi que havia pedido.

--Oy, Sasuke, é melhor você comer. – disse o loiro colocando a tigela de ramén de lado.

--Naruto – o garoto fez o mesmo com a badeja que estava em seu colo – Jiraya-sama me contou algo...

 --Sasuke... – o loiro agora parecia mais apreensivo.

--Ele morreu.

--O que?! – alterou a voz.

--Um informante do Jiraya-sama veio aqui no colégio ontem e disse que ele havia sido assassinado por alguém de dentro. O chefe sabia que ele sabia coisas de mais e que não iria manter o silencio, então foi preciso o ganhar a força.

--Merda! – cerrou os punhos e socou a árvore, fazendo a tigela branca, que estava perto de sua perna, rolar pela grama – Nós precisávamos daquelas informações! Eu precisava! – recostou sua cabeça na árvore.

--É melhor ter calma, não estamos completamente na estaca zero, Jiraya-sama ainda tem muitos informantes. Temos sorte que o chefe não sabe que umas das informações viriam para nós.

--Mas diminuímos um passo, agora estamos... Agora estou – corrigiu – mais longe da minha vingança.

Um silêncio sufocante invadiu aquele lugar. Naruto tinha os olhos cerrados, assim como os punhos. A cabeça ainda estava recostada na árvore, que parecia lhe oferecer amparo. Sasuke o olhava não tão indiferente como de costume. Sabia o que Naruto estava passando, afinal ele passou por algo muito parecido. Assim como o loiro, Sasuke havia visto seus pais mortos a sua frente, assistiu a morte de seu tão querido irmão mais velho. O estrondoso barulho abafado ainda corria por suas memórias como se a tragédia tivesse acontecido ontem.

“O pequeno garotinho – que aparentava ter por volta dos seis anos – estava parado, atônito, olhando para seu tão querido e admirado irmão mais velho. Assustado, acovardado, sem poder fazer nada. Em choque. Seus olhos ônix, agora contraídos de medo, iam de encontro à mão sangrenta de seu irmão, que empunhava uma arma. Desviou os olhos do rapaz e voltou à atenção para dois corpos no chão. Um por cima do outro. Uma mulher e um homem. Ambos com um buraco no peito, por onde escorria uma linha grossa de sangue. Novamente olhou para o irmão – que olhava friamente para a arma em sua mão envolta de sangue – e não conseguiu pensar em mais nada. Era muito jovem, mas diante de uma situação destas, não há mais o que pensar. Não queria, não podia, odiava pensar nesta hipótese, mas os fatos apontavam para ele, seu precioso irmão mais velho.

--Nii-san... P-Por quê?

--Sa-Sasuke...? – o rapaz virou seu rosto rapidamente para o garotinho. Havia se surpreendido com a voz inesperada vinda de seu irmão – Sasuke, você precisa sair daqui! – correu na direção da criança.

--N-Nii-san, o-o que v-você fez? – o garoto recuou. Lágrimas frenéticas já corriam por sua face. À medida que movia seus passos para trás, tropeçou em algo derrubado e caiu ao chão.

--Sasuke, você tem sair daqui, o mais rápido possível. – Itachi se aproximou mais, se abaixando ao mesmo tamanho que o irmão, sem deixar de segurar sua arma, encostando sua mão carmesim no ombro do pequenino garoto.

--I-Isso n-não pode es-estar acontecendo! N-Não pode! Não, nii-san, v-você não p-pode ter fei-feito nada! – murmurou para si mesmo. Com ajuda de suas mãos, recuava para longe do irmão. Suas lágrimas escureciam ainda mais sua camisa azulada.

--Escute Sasuke, eu preciso que você preste muita atenção no que eu vou te dizer! – o rapaz se aproximou novamente do irmão, o segurando, impedindo que o garoto se afastasse mais. Seus olhos, tão ônix quanto aos de seu irmão caçula, o fitava seriamente.

--Não nii-san... – o pobre menino meneava a cabeça, ainda em choque, sem querer acreditar no que via. As pequenas frestas de luz que entravam pelas janelas fechadas se focalizavam no rosto do pequeno Sasuke.

--Alguém... – Itachi foi interrompido por um barulho abafado vindo do fundo da casa. Virou o rosto rapidamente para onde o barulho parecia vir. Um barulho similar ao recarregar de uma arma – Sasuke, alguém está aqui, alguém mal, que matou nossos pais. Ele quer me matar...

--N-Não nii-san...

--Sasuke, você tem que confiar em mim! – sacudiu o garoto, que por sua vez levantou o rosto para o irmão, e passou a prestar um pouco mais de atenção nele – Você tem que acreditar em mim! Ele... – era realmente duro de dizer, duro de encarar que a morte estava à espreita – Ele quer nos matar. Mas você não pode morrer. Eu vou te defender. Papai e mamãe já se foram, eu não pude os proteger – lágrimas começavam a surgir sutilmente – mas a você eu consigo. Você é meu irmão menor, é meu dever te proteger!

--V-Você não pode morrer nii-san, p-papai e m-mamãe não podem estar mortos... – o pobre garoto se viu dizendo isto já nos braços de seu irmão, que o levava para perto de um armário velho e grande, no fundo da sala onde estavam.

--Você vai ficar bem Sasuke. – sorriu meigo o colocando no chão. Novamente escutou barulhos, o que fez com que sua reação fosse como a anterior. Rapidamente voltou seu rosto para o irmão menor, assustado como um gatinho, diante do armário. Abriu silenciosamente a porta e o empurrou para dentro – Rápido, entre! Fique aí, e não saia, não importa o que acontecer! Fique de olhos fechados até tudo estar acabado... E... – tomou um pouco de ar, sua respiração estava alterada – Quando finalmente estiver, eu vou estar lá pra você. – sorriu gentilmente fechando a porta do armário de madeira e levantando-se rápido, preparando a arma e a empunhando em posição de ataque.

O pequeno Sasuke permaneceu no armário como seu irmão mandou. Continuava a chorar e murmurar, sem entender o que estava acontecendo. Em um segundo seu mundo havia virado de cabeça pra baixo, como se fosse um sonho... Não, não um sonho, um pesadelo, um terrível pesadelo!

Das frestas do armário, mesmo com a pouca luz, pode ver seu irmão mais velho, aquele a quem havia tomado como exemplo a ser superado, estar parado no escuro, em um silencio assassino, esperando por algo. Não demorou muito até descobrir o que era. Um homem estranho apareceu do escuro, igualmente empunhado de uma arma, e do escuro gritou “Morra Uchiha!”, sendo mais rápido que o próprio Itachi conseguiu ser. O barulho estrondoso no escuro ecoou nos ouvidos frágeis de Sasuke. “Não!” ele murmurou repedidas agonizantes e dolorosas vezes, com os dedos agarrados as pequenas frestas da porta do armário. Tinha medo nos olhos, tristeza, raiva, e por cima de tudo ódio, este que cresceu ao ver o assassino de sua família tomar o colar do pescoço de seu irmão. O colar que estava na família por gerações, o colar com o símbolo de sua honra! O colar que significava os Uchiha... O colar que agora estava manchando de sangue escarlate, e jazia nas mãos de um crápula, que carregava a culpa da morte da pequena família Uchiha. O ódio de Sasuke cresceu ao ver aquele monstro desmerecer o símbolo de sua família, e o levar apenas como um troféu. Ao ver os passos dele saírem da casa, Sasuke caiu no armário. Deitado, encolhido, ele tentava repassar e entender o que havia acabado de acontecer. Gritou alto, como se quisesse que todos ouvissem sua voz, sua dor... Mas ninguém apareceu. Continuou a gritar, até que estes virassem murmúrios. Adormeceu na escuridão do armário. Queria muito que aquilo fosse apenas um pesadelo, mas parece que este não havia nem começado. O que faria agora? Estava completamente sozinho no mundo. Sozinho...”

Retraiu as lembranças ao perceber que Naruto havia se levantado. Meneou a cabeça e a voltou para a direção do amigo.

--Aonde vai?

--Espairecer. – o loiro nem se quer virou o rosto, apenas permaneceu de costas.

--Cuidado com o que pretende. – o moreno advertiu.

--Tanto faz. – saiu caminhando pelo jardim.

--Não arrisque tudo... Para você mesmo.

 Naruto ouviu, mas preferiu ignorar e continuar caminhando. Sasuke continuou sentado debaixo da árvore, descansando. Sabia muito bem que seu amigo loiro e idiota seria capaz de correr até o chefe e tentar mata-lo neste exato momento. Seria fácil e rápido de mais para alguém que o fez sofrer por tanto tempo, como aquele crápula.
Retirou do bolso da calça um colar de prata com um pingente em forma de leque, vermelho rubi em cima e branco embaixo. Segurou a ponta, elevando o pingente até seus olhos sem expressão. O vento uivante balançava tanto seus cabelos negros como o colar. “Mamãe... Papai... Itachi...” Murmurou enquanto envolveu a corrente prata em sua mão fechada que aos poucos foi se abrindo, levando o colar ao pescoço alvo do moreno, e com o auxilio de sua outra mão, o prendeu, o escondendo dentro da blusa.

-------------- xx --------------

Não havia ninguém no quarto além da garota de cabelos rosados. Uma de suas amigas havia saído com alguns livros há alguns minutos e a outra já havia ido para sua casa. A garota que sobrou estava sentada com uma das pernas sob a mesa enquanto a outra estava encolhida sob a cadeira, fazendo com que suas costas ficassem curvadas e apertadas contra o encosto macio e negro. Usava as pernas como apoio para o livro que lia. Parecia bastante concentrada, sem nem ao menos piscar e passava as páginas amareladas devagar. Provavelmente já havia um bom tempo que estava naquela posição, já que começou a sentir algumas dores em uma das suas pernas e em suas costas, então se ajeitou melhor, tirando os pés da escrivaninha e colocando ambos no chão, mas seu livro escorregou por sua saia caiu no chão, embaixo do chão. Como esperado, a garota se curvou para pegá-lo, porém a tentativa sem sucesso a obrigou a sair da cadeira e se agachar. Mas, fazendo jus a sua fama de desastrada, ao levantar com o livro na mão, bateu a cabeça com força contra a escrivaninha, causando um barulho enorme tanto da colisão quanto dos objetos que derrubou. Praguejou levando a mão ao local dolorido – que já apresentava um leve galo – e saiu engatinhando de onde estava. Quando ia se levantar, notou os livros derrubados no chão e os recolheu, mas como era uma pilha grande, ao se levantar, desequilibrou alguns que estavam por cima e estes novamente caíram. Bufou nervosa e se xingou mentalmente, colocando os livros em sua mão e novamente abaixando para pegar os restantes. Assim que levou a mão ao chão, notou algo diferente, era uma capa diferente, desgastada, sem nenhuma escrita ou desenho. Franziu o cenho enquanto pegou o resto dos livros e colocou todos juntos aos outros, exceto pelo qual tinha a capa diferente. Analisou-o por completo, frente e verso. Levou as pontas dos dedos até a capa e sentiu a textura grossa, em seguida direcionou seus dedos a ponta da capa e a abriu. Ficou ainda mais intrigada com as seguintes palavras escritas em letras bordadas: “Á paixão desconhecida, á arte incompreendida, á surpresa indefinida.” O papel e a caligrafia não pareciam terem sido impressos e pela espessura das letras e pela textura da tinta, parecia que havia sido escrito por uma caneta tinteiro. Começou a folhear o livro, e teve uma grande surpresa ao perceber que eram apenas imagens, estas que a fizeram lembrar quem era o dono do livro. “Naruto...” Murmurou soltando um sorriso singelo. Sem fechar, sem parar de sorrir ou tirar os olhos do livro, saiu caminhando calmamente de seu quarto.

-------------- xx --------------

Já estava caminhando por horas, depressa, nervoso, sem saber para onde ir. Queria refrescar a mente para poder pensar direito, mas nada o acalmava. “Se aquele idiota fosse mais inteligente e quieto não estaria morto!” Dizia para si mesmo. “Ou será que estaria? Ele não sabia meus propósitos, mas e se ele disse alguma coisa? Não, já teriam vindo atrás da gente. Ou será que não? Não importa, se o bastardo não veio até nós então usarei este tempo a meu favor. Aquele desgraçado vai pagar. O filho da mãe vai pagar por cada dia que me fez sofrer, por cada gota de sangue que derramou dos meus pais. Ele errou ao me recrutar. Ele errou ao se dar ao privilégio da ironia. Mas ele errou ainda mais ao ensinar o assassino dele a matar.” Seus cintilantes olhos azuis flamejavam de raiva, tristeza e remorso. Remorso por sentir toda esta enorme raiva, tristeza por tudo que sofreu. Porém seus olhos mudaram ao pousarem sobre uma cena diferente. Agora, as orbes azuis já não estavam tão cheias de raiva assim, porém a tristeza dividia o espaço com a ternura que nascia e com uma leve alegria. A ternura pela doce e linda imagem daquela garota de cabelos róseos sentada sob uma árvore, adormecida e com um livro especial em seu colo, o livro que ele havia lhe emprestado. A tristeza por estar envolvido nas vagas lembranças dos momentos felizes que teve com seus pais e por sentir não tê-la conhecido em outras condições. A alegria pelo fato de que aquele cabelo rosado... aquele sorriso... aquela personalidade provocadora... aquela garota, o fazia sair de sua realidade, o fazia esquecer-se por um minuto de sua personalidade assassina, o fazia sentir-se confortável, o acalmava.

Caminhou calmamente até a direção da rosada e se agachou ao tamanho dela. Olhou para o céu e notou que o sol já estava se pondo. As nuvens grossas no céu só tornavam o azul mais fechado. “Faz tanto tempo assim que estou andando por aí?” Se perguntou olhando ao redor, não havia ninguém, já deviam ter ido para suas casas ou seus quartos. Voltou sua atenção para a garota a sua frente. Ficou a admirando por um tempo, observando seus traços leves e expressivos, a maneira serena como dormia. Cogitou a ideia de acariciar-lhe o rosto e uma fina voz dizia que não seria correto, mas ignorou – como sempre – totalmente esta voz e levou sua mão ao rosto da garota. Passou os dedos de leve em suas bochechas levemente vermelhas e macias. Sorriu singelamente. “Por que esta garota me afeta tanto? Porque sinto este desejo maluco por ela?” Se perguntou retirando a mão de seu rosto. A medida que recuou a mão sentiu uma gota de água em seu braço. Olhou para o céu e sentiu mais gotas em sua face. Tirou o livro do colo da garota e o guardou em seu bolso. Virou-se de costas para ela e cuidadosamente colocou as mãos dela envolta de seu pescoço e de uma forma mais firme segurou suas pernas, contrapondo o corpo dela com o seu. Não queria a acordar. Sentiu a leve respiração dela em seu ouvido. Pode sentir o ritmo de suas batidas cardíacas. Levantou-se e começou a caminhar para fora do chuvisco. Iria a levar para o quarto dela, não seria bom que pegasse um resfriado ou dormisse fora de sua cama. Uma brisa passou por entre eles, levando consigo um profundo suspiro e aquilo que atordoava o garoto. Enfim a calmaria reconfortante da chuva começou.

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Notas finais do capítulo

Então, este capítulo foi bastante explicativo, por isso tão grande, era necessário que fosse bem detalhado. Espero que tenham gostado! Ah, e pobre Hinata, parece que Naruto se esqueceu completamente dela.
Agora, uma explicação melhor sobre quem é "ele" que foi morto no capítulo passado: "ele" era um assassino como Naruto e Sasuke, da mesma organização, mas ele conseguiu informações sobre o chefe que iria vender ou usar como chantagem, mas quando finalmente foi livre foi morto porque o chefe descobriu que ele sabia coisas de mais. Naruto e Sasuke pretendiam arrancar informações dele.
Sobre o livro que Naruto emprestou para Sakura, mais detalhes só virão a frente.
Fiquem atentos, isto é como uma teia de aranha, os menores detalhes podem ser os maiores.
Até o próximo capítulo meus queridos leitores, e não se esqueçam de me perguntar algo se estiverem com dúvidas, responderei com prazer - se puder.
Ja ne (: