Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

YOOOOOOOOO, I'M BAACK! FINALMENTE LIVRE DAQUILO QUE EU CHAMO DE ESCOLA!!!
Então meu leitores, já deu pra perceber que estou animada, não é? Estou enfim de férias (que foram na sexta passada, mas ainda não tinha terminado de escrever) e vou voltar a meu tempo normal de postar, desculpem a demora, mas tive que estudar pra passar de ano né?! Em compensação, estourei o limite de novo e este capítulo tem um pouco mais que cinco mil palavras, maas, acho que vão gostar. Digamos que se concentra apenas em dois personagens dessa vez.
Enfim, pensei em falar mais coisas pra vocês, mas agora deu um branco e se eu lembrar eu digo mais tarde ok?
Boa leitura, (:
*Aaah, queria dar mais do que boas vindas aos meus leitores novos, não se sintam acanhados a comentar, eu não mordo ;P*



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Capítulo 12

A chuva fina prosseguia suavemente, como o toque terno de uma mãe carinhosa. A lua prateada estava escondida por trás das nuvens negras, mas mesmo assim, sua luz metálica era refletida por entre o nevoeiro. Num clima assim, era de se esperar que os alunos estivessem em seus quartos, ou pelo menos dentro do colégio, e considerando o fato de que era final de semana, metade do colégio estava em casa.
Assim como enfermeiros, sobravam poucos monitores – que por algum milagre aceitavam os plantões, já que nenhum ser humano adulto com algum nível de vida social queria passar o final de semana vigiando alguns delinquentes que, na maioria das vezes, ficava no colégio para atormentar -, estes que faziam seu trabalho mal feito, nem se dando ao trabalho de prestar atenção direito ao que estava acontecendo. Por isto, nem imaginavam que dois alunos estavam do lado de fora do prédio, na chuva.

Um garoto loiro tinha em suas costas uma garota de estranhos cabelos róseos, que estava aparentemente dormindo. Embora a chuva estivesse fina, foi o suficiente para deixa-lo consideravelmente molhado, assim como a garota. A parte do jardim onde estavam era um pouco distante do prédio principal e o fato de que o loiro caminhava a passadas curtas só agravava a situação. Ele não queria acordar a garota, e se perguntava como ela ainda não havia despertado com a chuva e com o balanço do andar.

Cessou seus passos diante de um obstáculo: um declínio na grama, ou simplesmente um morrinho. Não era nada de mais, era comum ter algumas elevações e declínios no solo, não seria difícil de descer se não fosse o fato de que a chuva deixou a grama escorregadia e que ele carregava alguém em suas costas. Ficou parado diante o impasse. Conhecendo-se bem, sabia que era desastrado o suficiente para acabar escorregando com a garota e tudo, dando de cara no chão e por fim a machucando. Levantou o pé direito até o vazio do morrinho, abaixando-o vagarosamente. Aproximou seu corpo um pouco mais do mini precipício. Deslizou vagarosamente seu pé esquerdo para mais perto do declínio e sentiu um peso tomar conta da parte direita de seu corpo, desequilibrando-o. Num passo rápido, recuou sua perna direita e voltou o corpo para o lugar inicial. Um rastro de água da chuva transpassou entre outras que tomavam seu rosto, seguindo o caminho de seu nariz e por fim escorreu pela ponta e caiu. O garoto, até então, estava cabisbaixo, até que levantou sua cabeça, olhou para o céu e novamente para o morrinho no chão. Girou a cabeça para olhar o rosto adormecido da garota, seu semblante era pacífico, e parecia que ela dormia um sono profundo. Novamente olhou para o morrinho e em seguida direcionou o olhar para seus tênis molhados e barrentos. Suspirou profundo e começou a praguejar baixo. Pensava em colocar a garota no chão, mas provavelmente ela acordaria e seria muito trabalhoso explicar tudo. Pensou em acorda-la para descer, mas isso seria grosseiro e estragaria o momento, afinal, ela estava lendo o livro que ele havia lhe emprestado. Olhou para os lados, a procura de alguém que pudesse lhe ajudar, mas qual idiota estaria andando na chuva?! Digo, além dele?! Afinal, era por uma boa causa. Esqueceu a intenção de procurar por alguém e decidiu procurar por algo que pudesse o ajudar, mas não viu nada além de árvores. Havia apenas mais uma alternativa, que seria se arriscar e tentar descer. Mas, e se escorregasse? Talvez acorda-la seja melhor... Mas, iria encanta-la se a levasse, assim, para seu quarto. Se caísse, bom, seria uma maneira ruim de acorda-la, mas teria uma explicação melhor do que se a acordasse. Estava resolvido, tentaria descer, afinal, poderia dar certo e não cair. Com o semblante apreensivo, aproximou seu corpo um pouco mais do mini precipício. Tinha o cenho franzido e mordia o lábio inferior enquanto levava hesitantemente, ora a perna esquerda, ora a perna direita, ao morrinho, até que sentiu o corpo da garota escorregar um pouco e suas mãos afrouxarem. Tentou mover os dedos para levantar um pouco mais o corpo delicado dela, mas não sentiu nada, nem dedos, nem mão, nem braço. “Maravilha! Agora meus braços estão dormentes. Será que dá para piorar? Onde está o teme quando se precisa dele?!” Bufou baixo, ainda tentando descer ao menos uma perna.

Com a mente concentrada demais em descer o declínio – e sem sentir nada nos braços – não notou quando um pequeno galho trazido pelo vento da chuva se chocou contra a perna da garota, que involuntariamente deu um pique inesperado que por sua vez assustou a rosada e despertou-a de seu sono. Ainda embriagada da dormência, abriu os olhos vagarosamente. As orbes verdes ainda estavam embaçadas e não tinham a noção de tempo e lugar, assim como seu cérebro. Tentou abrir mais os olhos e enxergar melhor o local a sua volta, mas ainda estava muito sonolenta para isso. Conseguiu apenas ver um borrão amarelo a sua frente e borrões mesclados de verde e marrom a sua volta. De instinto, a rosada imaginou que estivesse em sua cama e que aquilo a que estava agarrada fosse seu amado cachorrinho de pelúcia – do qual a garota tem o péssimo hábito de mordiscar a orelha felpuda –, Rex. O tal tinha o pelo de cor caramelo dourado, parecido com o tom que aparecia a sua frente, o que, para ela, serviu para constatar mais ainda que fosse seu cachorrinho. Obviamente, sentia que algo molhado caia sobre ela, mas não levou em conta. Provavelmente pelo fato de estar mais concentrada no dourado hipnotizante à sua frente do que qualquer outra coisa notável, e pelo fato – o mais provável – de estar quase que em um estado sonâmbulo.

Entre esse meio tempo, o garoto loiro continuava a travar sua guerra contra seu mais novo inimigo declarado: o bendito morrinho. Pela sua expressão, era possível notar – é gentil dizer notar, podia-se ver a um km de distância – o tremendo esforço que fazia, as veias saltitavam em sua testa, mordia a língua que estava ligeiramente para o lado de fora e era complicado de diferenciar o que era suor ou gotas da chuva em seu rosto. Insistia freneticamente em descer aquele declínio de terra. No início, era apenas por falta de opção, mas agora era uma questão de orgulho. Na cabeça – oca – do loiro, aquele morro o desafiara e ele não poderia perder. Esforçava-se ao máximo em não deixar a garota de cabelos rosados cair, enfrentando os choques que se recebe quando se move um músculo dormente, mas a dor não era nada já que havia sido treinando para suportar muito mais do que isso. Também dividia seu esforço em completar a descida de sua perna esquerda, que agora para a sua enorme felicidade, já se encontrava no meio do percurso do declínio. Sorria vitorioso, aquele morrinho maldito havia perdido dessa vez, pena que o sorriso secou ao sentir que os braços, que estavam entorno de seu pescoço, se fecharam aconchegantemente mais, e logo após, um formigamento em sua orelha e um aperto em seu estômago, fazendo arrepiar-se da cabeça aos pés.

A garota de cabelos rosados se sentia confortável onde estava, sentindo o calor emanado do que para ela era sua cama, e quis aconchegar-se mais, apertando suavemente o suposto Rex. Com isso, aproximou-se mais daquele dourado, podendo sentir o cheiro gostoso vindo do pescoço de “seu animalzinho”. Sua respiração estava calma e, a este ponto, já se era percebida pelo garoto. Deixou o perfume entrar suavemente pelas suas narinas e aconchegou melhor sua cabeça no eixo do pescoço do que seria o animal. Ao fazer esse movimento, roçou sua face nos cabelos dourados e sentiu a ponta da orelha do loiro. Inconscientemente, achando ser a orelha de pelúcia, levou primeiro os lábios, roçando-os delicadamente, causando fortes arrepios no garoto. Agora levava melhor a boca, para terminar de atingir seu objetivo.

O garoto loiro, bastante surpreso com o que estava acontecendo – e bastante corado –, de imediato virou o rosto em 180°, e de canto de olho tentava entender o que estava acontecendo, mas isso sem nem ao menos recuar seu pé, que agora quase encontrava com o chão, seu tão ansiado objetivo. Rapidamente, examinou o semblante da garota e não encontrou nada além de calmaria e olhos fechados. “E-Ela ainda está dormindo?” Perguntou-se, admirado.

–-S-Sakura...? – pensou alto, alto de mais, sem se preocupar mais com o declínio abaixo ou com o volume de voz que falou.

A garota, que até aquele momento parecia estar mais dormindo do que consciente, despertou-se de vez com a voz rente ao seu ouvido. Inicialmente, abriu os olhos vagarosamente e sem entender onde estava, mas dessa vez, a sua visão embaçada foi embora mais rápido devido o susto que tomou com o barulho, e conseguiu enxergar melhor o que havia a sua frente. Enxergou um rosto bronzeado, olhos azuis e um cabelo loiro. “Hein...? Mas o q... E-Esse rosto é familiar...” Então até aí já tinha tomado noção de tempo, agora faltava apenas tomar noção de espaço. Rodou os olhos ao seu redor e percebeu que estava no jardim. Sentiu pingos caírem sobre si e notou que era chuva. “Mas o que diabos eu estou fazendo no jardim?!” Perguntou mentalmente a si mesma, quando olhou novamente para frente e examinou melhor o rosto que havia visto anteriormente, mas agora viu um detalhe antes omitido, três marquinhas na bochecha daquele rosto. Aquilo o entregara. “E-Espera, não pode ser... Naruto?! O que eu estou fazendo com o Naruto no meio do jardim?!” Sua mente estava a mil, mas ainda havia mais coisas por vir. Para complicar ainda mais a situação, reparou que estava em uma situação... meio que... Constrangedora. Definitivamente, a situação em que se encontrava com o loiro era constrangedora, tanto que tomou um enorme susto ao perceber o que estava fazendo e que a face do garoto estava rubra. Um susto tão grande que gritou e se desequilibrou um pouco dos braços que a seguravam, quase caindo para trás. Tudo isso aconteceu em um piscar de olhos.

Naruto, ao ver que a garota estava acordando, tentou acalma-la, mas foi em vão. Ela assustou-se tremendamente, e começou a debater-se, quase caindo para trás, desequilibrando assim ambos.

–-S-Sakura-san, calma, se não...

Nem ao menos completou sua frase e imediatamente voltou sua atenção para frente, onde a sua perna que já estava quase no chão, se desequilibrou toda, balançando pra lá e pra cá. Naruto tentava segurar Sakura e ainda se manter em pé, mas fazer isso quando só um dos seus pés está de encontro com o chão é complicado. Tentar fazer voltar à estabilidade seria em vão se a garota a suas costas não parasse de balançar, e o que ele temia aconteceu. Com o balanço, a rosada acabou jogando seu peso para trás, quase os derrubando de costas, mas para voltar à segurança ela voltou seu peso contra o corpo de Naruto, que se mantinha em pé por um milagre, mas com isso estava tudo acabado. Ele não aguentou mais e sua perna não conseguiu terminar de alcançar o chão. Pendeu para frente com força, e levando a garota consigo, caiu de cara no chão. Sakura não esperava por isso, consequentemente foi um susto que a fez gritar e se segurar ainda mais ao garoto que a carregava. Tudo isso já era esperado pelo garoto, a queda e a dor que provavelmente viria depois, mas o que não estava nos planos dele era que aquele morrinho não fosse suportar tanta bagunça e que rompesse. Ao sentir que a terra abaixo de si estava rachando, ele imediatamente olhou para frente e viu que já estavam perto de encontrarem com o chão molhado e escorregadio, e que ficaria pior agora com mais terra molhada. Fechou os olhos e segurou a garota com mais força, era muito provável que iriam rolar naquele lamaçal. “Droga!” pensou o loiro “O uniforme estava tão limpinho!”.

E assim aconteceu. Assim que se chocaram com o chão, Sakura que antes estava atrás de Naruto, ficou por cima do loiro, criando peso por cima dele e consequentemente os fazendo escorregar mais e para piorar a situação, o terreno naquela parte era íngreme. Ambos procuraram segurar-se um no outro, mas era quase que impossível. A medida que rolavam, sentiam o terreno cada vez mais inclinado e molhado. Arranhões surgiam por seus corpos devido aos galhos secos no chão que passavam por eles violentamente, rasgando roupas e pele. O que vestiam de cor branca se tornou marrom e úmido. Perguntavam-se quando tudo aquilo iria parar, já que apesar de tudo estar acontecendo tão rapidamente, para eles era como um século. Gemiam a cada rasgo feito por galhos e pedras encontrados no caminho. Sakura sentiu uma dor maior vinda de sua perna, mas aquela foi amenizada pelas outras que vinham tão seguidamente. Conhecia bem aquele pedaço do jardim, era uma área em que havia plantado várias cerejeiras e seu extenso terreno era completamente inclinado. Andando por ali que acabou encontrando a área abandonada que tanto gostava. Se seguisse até o fim do jardim, encontraria os fundos do colégio.

Um grande e espesso tronco de árvore foi avistado pelo garoto loiro, e Sakura estava a sua frente, então seria ela que receberia a pancada. Considerando a velocidade que estavam, aquilo seria capaz de quebrar-lhe uma costela. Ele sabia que o corpo da garota não seria forte o suficiente para aguentar um impacto deste tamanho, mas ele sabia que o seu sim, afinal, ele havia sido treinado para suportar muitas coisas, até piores que isso. Enquanto estava na organização, havia recebido tratamentos que aumentaram sua resistência, mesmo que isso causasse dor, mesmo que ele fosse apenas uma criança. Lembrou-se por um instante das salas escuras onde médicos precariamente injetavam substancias em suas veias, em todos que estavam ali. Aquilo só o fazia sentir mais raiva de seu chefe, que o fez sofrer, que fez todos sofrerem... De repente, escutou um gemido vindo de Sakura, que agora já havia conseguido abraçar seu corpo, e voltou sua atenção ao que deveria fazer. Aproveitou o impulso que tinham tomado ao passar por um galho maior e rolou por cima do corpo da garota, e fez bem a tempo, porque em fração de segundos sentiu algo duro bater contra suas costas e imediatamente a dor surgiu em seus ossos. O tronco era grande o suficiente para obstruir a passagem, impedindo que rolassem mais e o impacto da batida fez com que galhos secos das árvores caíssem sobre eles. Com o baque da parada, o corpo de Sakura foi jogado com força contra o de Naruto, aumentando um pouco mais a dor do garoto. Este havia batido também o braço direito levado pela velocidade contra o tronco, e seu braço esquerdo se encontrava embaixo do corpo delicado da rosada. Gemeu um pouco de dor, abriu os olhos e piscou várias vezes se acostumando com a luz do local. Continuava a chover. Articulou com os dedos de ambas as mãos procurando algum osso quebrado, mas felizmente, nada foi encontrado. Afastou os cascalhos e sujeiras por cima de si. Com o cenho franzido, olhou para seu lado esquerdo e viu o rosto arranhado da garota próximo ao seu. Ela ainda mantinha os olhos fechados. Por um segundo, esqueceu-se completamente de seu estado deplorável e contemplou aquela face, mas logo retornou a realidade e se perguntou se ela estaria desmaiada. Um suspiro de alívio veio quando a viu abrir os olhos, lentamente. As orbes verdes cintilavam em conjunto as orbes azuis, refletindo a pouca luminosidade da lua escondida entre as nuvens. “N-Naruto...” Ela balbuciou, mas logo voltou o rosto para baixo. Era possível ver dor pela expressão da garota, o que a fez levar sua mão esquerda até sua perna.

Delicadamente, o garoto loiro tirou seu braço de baixo do corpo ferido da garota que por sua vez rolou um pouco para o lado, dando espaço para ambos se levantarem. Inicialmente, Naruto sentiu dores por todos os lados do corpo, mas sabia que não havia quebrado nada, conhecia-se. Mesmo assim, parecia que suas articulações estavam enferrujadas. Ainda esticado no chão, girou os punhos e alongou seus braços, causando dor e o fazendo gemer um pouco. Olhou para seus braços e arranhões era o que não faltava. Estava todo sujo de terra e as mangas de seu uniforme estavam todas rasgadas. Olhou para a garota ao seu lado e a aparência dela era a mesma. Tinha galhos e sujeiras dos cabelos aos pés. Levou a mão até o tronco ao seu lado e se esforçou para ao menos sentar-se. Mesmo com a endorfina liberada pela adrenalina do momento, a dor que sentia podia ser considerada irritante, fora o fato que seu corpo estava enrijecido. Abafou os gemidos de dor enquanto erguia seu corpo e quando enfim conseguiu, logo escorou naquele tronco, um pouco ofegante do esforço.

–-Sakura-san, você está bem? – perguntou aflito.

–-Naruto... Você está todo machucado... – estava realmente preocupada.

–-Esta falando desses arranhões? – sorriu de si mesmo, procurando acalma-la – Isso não é nada, não se preocupe. E quanto a você, está bem?

–-S-Sim, são só os arranhões também... – disse sorrindo falsamente enquanto sentava com um pouco de dificuldade – Mas, Naruto, o que estava fazendo comigo? – um tom ameaçador começava a surgir em sua voz.

–-Ah, bem... – levou mão à nuca, estava envergonhado – E-Eu meio que estava andando por aqui e... Sabe, te encontrei e... e... Sakura-san...

–-O que foi? Porque está me olhando com essa cara de assustado? E-Está me assustando...

–-Você está sangrando.

–-O que? Não pode! – perguntou ligeiramente surpresa.

–-Sua perna, está escorrendo sangue da sua perna. – disse se aproximando da rosada, agora parecia estar sério.

Sakura olhou para sua perna esquerda e assim como o loiro havia dito, uma linha de sangue percorria sua pele branca. Não estava assustada como deveria, estava surpresa e preocupada. Ergueu um pedaço de sua saia e encontrou a fonte do sangue: dois de seus três pontos estavam abertos. Com certeza, algum galho havia os cortado ou simplesmente não aguentaram e romperam. Por sorte ainda havia um ponto intacto, mas mesmo assim, a região do ferimento estava machucada, assim como todo o seu corpo. Ela já sabia bem que sua perna com os pontos havia se ferido com a queda, já havia sentido a dor, mas não pensou que fosse tão sério, não ligou, não quis falar nada para Naruto, não queria ter que inventar uma desculpa pelos pontos, não queria nem se quer lembrar-se deles, mas assim como somos ensinados desde criança: nem sempre o queremos acontece. Porém, este era o seu menor problema, se não fosse rápido a enfermaria, correria o risco de pegar alguma infecção. E com o corpo naquele estado, não conseguiria chegar ao prédio – que não estava perto – tão cedo e Naruto estava aparentemente da mesma forma. Sentiu uma pontinha de medo brotar no seu coração, já era noitinha. “Será que Hinata não sentiu minha falta?” Se perguntou quando sentiu uma mão em sua perna, no local machucado. Era Naruto.

–-Na-Naruto, o que está fazendo? – virou-se para ele, um pouco assustada.

–-Precisamos cuidar desta ferida. Temos que enfaixar. – disse estendendo a faixa negra que costumava usar na testa. Seu tom de voz era calmo, queria tranquiliza-la.

–-Mas... – Sakura era teimosa, entretanto, sabia que deveria ceder – Tudo bem, mas deixe que eu faça isso ok?

–-Mas você está toda machucada e...

–-Naruto, eu já sou crescidinha. – replicou engatinhando para o lado do rapaz, querendo se apoiar no tronco.

–-T-Tudo bem... – ele a seguiu com os olhos com uma expressão boba.

–-Obrigada. – disse mais carinhosa enquanto pegava a faixa da mão do garoto.

Assim que terminou de enfaixar o local machucado, deu uma olhada superficial sobre seus locais feridos. Havia um ou dois arranhões mais profundos, felizmente os outros não eram tão graves. Suas roupas estavam rasgadas e seus cabelos extremamente bagunçados. Havia um corte que passou por um pedaço de seu nariz e de sua bochecha que deixaria cicatriz. Nada era grave, com a exceção de sua perna. Sentiu Naruto se mover ao seu lado, ele estava se levantando e surpreendentemente não tinha tantas dificuldades quanto uma pessoa teria se estivesse no lugar dele.

–-Não sente dor? – a pergunta surgiu da garota que o olhava de baixo para cima.

–-Nah, sou bastante resistente! – respondeu com um sorriso aberto.

Sakura sorriu gentilmente em resposta enquanto se apoiava no tronco para levantar, mas diferente do garoto, ela não era tão resistente assim. Com bastante dificuldade conseguiu erguer o corpo, mas uma tontura súbita e rápida passou por sua cabeça, fazendo-a desequilibrar e cambalear para trás, por pouco não caindo novamente no chão apenas por ter conseguido prender a mão no tronco. Balançou a cabeça e deu dois leves tapas em suas bochechas. Notou que Naruto a olhava confuso, um pouco perdido. Sabia a pergunta que viria.

–-Não se preocupe, eu estou bem. Também posso ser bem resistente! – sorriu abertamente, fazendo seu habitual gesto com os braços enquanto disfarçava as dores.

–-Sakura-san, eu diria que você está mais pra teimosa. – brincou.

–-O que disse? – olhou assustadoramente para o garoto ao lado.

–-N-Nada. – Naruto suava frio, percebeu que aquela não foi uma boa escolha de adjetivo – Sakura-san, você é assustadora e forte como uma monstrenga. – disse de um jeito tão inaudível que, por sorte, a garota não foi capaz de escutar – Mas, mudando de assunto, consegue andar?

–-Bom, ainda tenho minhas pernas, não? – o loiro não pareceu contente com a resposta, e a rosada notou – D-Desculpe, não deveria ter falado assim com você, afinal só quer me ajudar – ela parecia sentir-se culpada.

–-Não tem problema, eu não me importo. Então, vamos? Temos que chegar logo no prédio, afinal esta chuva esta piorando, e temos que cuidar desta sua ferida antes que pegue uma infecção.

–-Sim, temos de ir. – disse um tanto preocupada, sabia que seria uma longa e dolorida caminhada. Seria complicado explicar tudo isso a Hinata.

O garoto loiro foi à frente, descendo aquele terreno íngreme devagar, tomando cuidado para não escorregar e acontecer o mesmo que antes. A garota de cabelos rosados seguia atrás mancando. Estava mais difícil do que imaginava. As feridas em sua outra perna estavam dificultando mais ainda, e o latente do corte em sua perna esquerda estava começando a irritar. Se não bastasse, a grama estava muito escorregadia e o céu estava escuro. Um vento gélido transpassou pelos jovens quando Sakura perdeu o equilíbrio e acabou cambaleando para frente. Tentou manter a estabilidade, mas a dor a traiu naquele momento. Sentiu uma fincada em sua perna magoada e perdeu o equilíbrio de vez. Tropeçou em seus próprios pés e só não começou a rolar novamente no chão porque caiu em cima das costas de Naruto que estava a sua frente, e com o declínio do local, ele estava abaixo dela.

–-Oye, você me disse que conseguia andar. - ele disse enquanto segurava melhor a garota, ainda de costas.

–-E-Eu só escorreguei. – Sakura não iria admitir dor de jeito nenhum.

–-Não seja tão teimosa. – repreendeu a garota puxando-a para suas costas, voltando a carrega-la – Não devia fazer esse esforço se não vai ficar pior. Vamos, eu te carrego.

–-Não! – sentiu um leve rubor em suas bochechas e enrijeceu o corpo, evitando que ele a pegasse – Eu posso andar, você também esta ferido, não quero forçar mais suas costas e ser um peso. Você já fez muito por mim por hoje.

–-Eu não me importo de te ajudar, eu fico feliz com isso. Vamos Sakura-san, você sabe que não vai conseguir andar! – ele disse em um tom de apelo.

–- Mas... T-Tudo bem – disse relaxando os músculos, sabia que teria de ceder – Mas tente não cair de novo! Estamos todos sujos de lama por sua culpa. – podia estar com ferida, mas seu orgulho não.

–-Ai, essa doeu. – ele riu – Mas eu vou querer uma recompensa. – assim que terminou de ajeitar a garota nas costas, ele começou a caminhar.

–-Não sei...

–-Ah, vamos Sakura-san, eu te tirei da chuva para não ficar doente e é assim que você retribui?

–-Correção, você me tirou da chuva pra rolarmos e acabarmos todos esfolados, fora o fato de que com certeza vamos pegar um resfriado. Mas tudo bem, o que você quer? – ela dizia enquanto passava seus braços entorno o pescoço do garoto e seu tom era baixo, já que estava rente ao ouvido dele.

–-Quero que me fale porque gosta de bancar a durona. Ás vezes é bom ser gentil sabia?

–-Hey, eu sou gentil! – ela percebeu o quão sem gentileza soou o jeito que falou – Quer dizer, eu posso ser muito gentil sabia?

–-Sei... – respondeu entre risos abafados.

–-Bom, – suspirou profundamente – eu simplesmente não gosto que as pessoas me levem como inútil ou que façam as coisas por mim. Desde pequena tenho muitos criados que realizam as coisas por mim, e por isso muitos me subestimam, me tachando de inútil, apenas uma garotinha mimada filhinha de papai, mas eu não sou assim, e eu quero provar que não sou. Não gosto de ser um fardo pra ninguém, por isso me esforço. – dizia firmemente, mas acabou sendo levada pela emoção e pendeu a cabeça para o lado – Mesmo que muitas vezes seja em vão... – completou tristemente, com a voz fraca.

Naruto não disse nenhuma palavra, escutou tudo calado e não poderia e sabia que não devia dizer algo. Notou que a pergunta havia tocado em uma ferida. Ele percebeu que a garota agora precisava de algo que a reconfortasse, e nada melhor que o silêncio. Apenas dignou-se a dizer algumas palavras:

–-Você é uma garota forte, Sakura.

Ao ouvir essas palavras, a rosada apertou um pouco mais seus braços entorno do pescoço de Naruto, e aconchegou melhor sua cabeça no ombro dele. O rubor tomava conta de sua face, e seu estomago parecia meio que formigar, mas ela não ligava, aquilo estava sendo reconfortante.

–------------- xx --------------

A garota de cabelos violetas estava senta até aquela hora. Ao seu lado uma pilha de livros. Estava bem vestida e perfumada. Três copos de vidros com uma aparente espuma de suco no fundo estava ao lado dos livros. Seu rosto era triste, decepcionado e frustrado. Mesmo com a chuva, ela ainda não havia saído da mesa. Por sorte tinha um guarda-sol – que agora era guarda-chuva – a protegendo. A serenidade do local só a deixava mais triste. “Parece que ele não vem...” pensou “É melhor eu voltar para o quarto”. Pegou os materiais de cima da mesa e saiu na chuva em direção ao corredor não tão distante. Caminhou a passos lentos, sem se importar de molhar. Por fim deixou aquela área finalmente sozinha, e caminhou de volta para seu quarto. Tinha vontade de chorar, mas não queria fazer isso em público. Estava tão distraída com o bolo que levou que nem percebeu dois olhos ônix a acompanhando. O garoto estava parado em frente ao bebedouro, mas a garota estava tão cabisbaixa que ele foi capaz de nota-la consideravelmente. Isso seria normal, é claro, se não fosse sua fama de gelo.

–------------- xx --------------

Progrediam devagar, mas agora já era possível enxergar as luzes do prédio. A chuva não era mais um incomodo, mas o clima úmido tornava um pouco difícil de respirar. Era inevitável acabar fungando, e ás vezes isso trazia algumas risadas. Conversaram um pouco durante o percurso, mas agora o silêncio era mais presente do que árvores por ali. Naruto, por sua vez, não aguentou aquela calmaria e a quebrou:

–-Então, o que achou?

–-Perdão...? – ela estava meio perdida.

–-Do livro, o que achou do livro que eu te emprestei?

–-Aah, porque não foi mais específico?

–-Você o viu certo? Quando eu te encontrei mais cedo, você esta dormindo com ele no colo.

–-E-Eu adormeci? – ela começou a corar.

–-Como uma menininha. – provocou-a, com um sorriso de canto.

–-Hey! E o que você estava fazendo por aqui?

–-O mesmo que você, tirando a parte dos livros.

–-E porque não me deixou lá onde eu estava? – apesar do jeito de perguntar, sua voz era calma – Não que eu esteja reclamando, mas não é usual as pessoas fazerem coisas assim.

–-Começou a chover e eu não queria que você pegasse um resfriado. – ela corou ao ouvir a resposta – Mas, você ainda não me respondeu.

–-Bom, eu fiquei curiosa quando me entregou, mas tinha decido ler depois. Então hoje, eu o vi em uma pilha de outros livros e resolvi lê-lo, mas em um lugar mais confortável, estava no quarto já há muito tempo. O livro é realmente interessante, as imagens são cheias de textura, cores, realmente representam algo.

–-Que bom que gostou.

–-Mas algumas parecem tristes... Naruto, quem era o autor?

–-Não pensei que você reparar tanto... – suspirou – Era do meu pai.

–-Ah, me desculpe, eu não sabia...

–-Não tem problema. Meu pai gostava de pintar nos horários vagos. As pinturas dele traziam alegria para mim e para minha mãe, mesmo que algumas sejam um pouco tristes. Você não parecia alegre quando te vi, naquela noite que te emprestei o livro, quis te dar algo pra alegrar um pouco, – a garota ficou altamente corada com essas palavras. O garoto virou um pouco a cabeça para enxergar de canto o rosto da garota. Sorria gentilmente para ela. – afinal, sorrir faz bem! – terminou com um sorriso enorme.

–-Tem razão, - um sorriso singelo já brotava em seu rosto – sorrir faz bem. Mas, sabe, bem que faz sentido.

–-O que, Sakura-san?

–-Você ter um livro, oras. Você não parece ser do tipo que lê. Faz sentido seu livro ser de imagens. – disse brincando, com pose de orgulhosa.

–-Sakura-san, você é malvada comigo. – ele disse em um muxoxo manhoso, ela riu da reação dele e voltou a segurar firme em volta de seu pescoço.

Então seguiram assim, durante a chuva. Naruto quase caindo muitas vezes e levando broncas de Sakura. Ambos rindo de suas próprias bobeiras. Parecia que se conheciam desde muito tempo. Aqueles arranhões e dores pelo corpo? Não pareciam incomodar mais nenhum dos dois, a amizade que surgia abafava qualquer outra coisa. Enfim, rolar pelos galhos secos serviu para trazer a proximidade entre os dois. Algo que ambos gostavam.

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Notas finais do capítulo

Bom, foi meio clichê este capítulo, mas não me culpem, perdi minha inspiração com as provas. Mas, enfim, gostaram do jeito que Naruto tem se aproximado de Sakura? Sutilmente a coisa vai!
Então, se tiver algo erro de português, coerência, é só dizer nos comentários.
Ja nee (: