Acordei com o avião aterrissando. Já era de noite, estava escurecendo.  Desci do avião, e fui pegar minha maça como os outros passageiros. Não trouxe tudo o que tinha em Londres, deixei algumas coisas lá, Liz e Mand poderiam guardar ou pegar algo pra elas.

Paguei o táxi com o pouco dinheiro que eu tinha. Fui para minha antiga casa, no caminho vi um casal de mãos dadas andando pela calçada, e então lembrei de Niall, não tinha pensado nele até aquele momento. Quando cheguei em casa percebi que estava do mesmo jeitinho de quando eu e Mand fomos embora.

Entrei pelo portão dos fundos ( que estava caindo aos pedaços) passei e vi que as luzes estavam acesas, provavelmente meu pai e minha tia ainda estavam acordados. Bati na porta e quem abriu foi minha Tia. Quando ela me viu não soube o que falar, a única coisa que fez foi abrir um enorme sorriso e me abraçar.

-Oi pra você tambem tia. – falei retribuindo o abraço.

Ela riu.

-Você tá tão crescida, onde está sua irmã? – ela perguntou.

-Em Londres.  – respondi.

-E por que ela não veio?

-Ela tá indo tão bem na faculdade, não podia se prejudicar agora. – falei justificando.

-Hum...tudo bem....você deve estar com fome, entre, entre. – ela falou pegando minha mala e me trazendo para dentro de casa.

-E onde está meu pai? – perguntei.

-Ele está na sala, como sempre vendo TV, recebeu alta do Hospital hoje de manha. – ela falou.

Eu sorri e fui até meu pai, queria tanto abraça-lo. Ele estava do mesmo jeito, cabelo grisalho, seus óculos, parecendo um velhinho. Quando o vi sentado na poltrona sorri. Fui até ele correndo e o abraçei.

-MARINA! – ele falou me abraçando forte.

Eu o olhei e sorri, eu estava com tanta saudade dele.

Nós ficamos todos ali, na sala por toda a noite. No dia seguinte quando acordei vi meu celular no meu lado, lembrei que não mexi nele desde que cheguei em casa. Quando vi o visor havia 13 ligações perdidas e 7 mensagens, tudo de Mand e Liz.

Comecei a lê-las e uma mensagem de Mand me chamou a atenção ‘’Como você pode fazer isso? Pensei que confiasse na gente’’, será que ela ficou chateada? Eu fiz o que achei que era certo, não sabia que ela iria ficar tão chateada assim.

Me troquei e liguei para Mand, depois de 2 tentativas conseguir falar com ela.

-Mand? – falei.

-O que você quer? – ela perguntou.

-Por que ficou com raiva? – perguntei.

-Você não podia ter feito isso, custava ter avisado? – ela falou indignada.

-Claro que custava, se eu tivesse avisado você ou Liz todos iriam querer  ir ao aeroporto, eu não ia aguentar. – falei.

Mand ficou em silêncio do outro lado da linha.

-Ele tá mal Mari?... – Mand falou.

Naquele momento percebi que Mand estava preocupada com nosso pai, eu queria que ela estivesse ali conosco.

-Ele disse que tá, mas eu tenho certeza que não.. – falei.

-Cuida dele ok? – Mand falou carinhosamente.

-Pode deixar. – falei sorrindo. – Preciso desligar, a ligação pode sair cara.

-Tudo bem. – Mand falou.

-Té outra hora. – falei

-Até. – Mand falou desligando o telefone.

Meu pai estava mentindo pra mim, ele não estava nada bem, e eu sabia disso. A cada dia que passava ele ficava pior, teve que ir várias vezes ao hospital, teve que raspar a cabeça, e eu soube que era câncer o que ele tinha. Eram remédios e mais remédios, aquilo estava saindo caro.

Foram se passando os dias e se completou 1 mês. De vez em quando eu entrava na internet, via noticias sobre os meninos, e em algumas fotos Liz, Nicole, Eric e Mand também estavam. Eles pareciam tão bem. Resolvi entrar no meu twitter, fazia meses que eu não mexia nele.

Meu número de followers cresceu mais um pouco, mas dessas vez ficou instável, parece que esqueceram de mim, ainda bem. Quando abri minhas mentions ainda tinham xingamentos, provocações e tudo mais, comecei a lê-las e dessa vez não me senti tão mal, acho que me acostumei a ter pessoas me odiando.

 Fiquei lendo e a única coisa que pensava era ‘’como algumas pessoas podiam ser tão cruéis?’’. Fiquei lendo, e lendo, até vi uma que dizia ‘’fiquei sabendo que você gosta de desenhar, e que seu pai está doente, por que não desenha a roupa do velório dele?’’ aquilo era realmente rude, me deixou muito mal. Tudo bem elas me odiarem, mas não precisavam chegar ao ponto de falar sobre o meu pai. Vi que Niall postou ‘’tentando’’, será que aquilo era em relação a mim? Fiquei lembrando do quando ele terminou comigo,

Eu já estava me esquecendo de Londres, eu estava quase 3 meses em casa. O natal estava chegando, e parece que eu iria comemorar com meu pai e minha Tia.

-Queria podemos conversar? – falou meu pai.

-Claro. – respondi.

Ele estava tão pálido, com uma fisionomia preocupada e cansada.

-E Londres? – ele perguntou sério.

-Que tem Londres?

-Sua faculdade. – ele respondeu.

-Eu tranquei a matrícula, quando puder eu volto. – falei.

-Você não devia ter feito isso. – ele disse.

-Por que não? Você precisa de mim aqui. – falei.

-Você sabe muito bem que pessoas morrem.. – ele começou a falar.

-Pai para.. – falei.

-Não Marina. Você sabe muito bem que isso pode acontecer comigo, você não devia ter largado a sua vida por minha causa! – ele falou começando a tossir.

-Pai.. – comecei.

-Você sabe o que eu tenho não sabe? – ele perguntou, e naquele momento eu soube ao que ele se referia.

Eu assenti com a cabeça.

-Já estou no estágio final, pode acontecer a qualquer momento.  –ele falou.

-Por que você não está no hospital? Lá você tem uma assessoria melhor do que tem em casa. – eu disse.

-Seu posso morrer a qualquer momento, quero que seja em casa. – ele falou

Quando ouvi aquilo não aguentei e comecei a chorar. Ele estava de cadeiras de roda, estava fraco e não conseguia ficar em pé. Meu pai estava tão frágil, tão indefeso. O abraçei forte.

Ele me olhou e suspirou.

-Você está tão linda... –meu pai disse. – Cuide bem da sua irmã.

Parecia que meu pai estava se despedindo, aquilo era realmente triste, então tentei quebrar o clima tenso que estava. Enxuguei as lágrimas e tentei sorrir.

-Amanhã é natal pai. Temos que ficar bem. – falei.

Depois disso fomos dormir.

No dia seguinte, acordei com minha Tia me olhando.

-Isso não é legal. – falei abrindo os olhos.

Minha tia não disse nada, ela estava séria. Muito séria.

-Precisamos conversar. – ela falou.

-Aconteceu algo? – perguntei.

Ela assentiu com a cabeça e começou a chorar.

-Ele..?..o meu pai ele...? – comecei a falar nervosa.

Minha tia assentiu com a cabeça. E eu sem saber o que fazer, sem saber o que falar fiquei em estado de choque.

Chorando eu perguntei a ela:

-Foi agora?

-Sinceramente eu não sei queria, ele....ele...faleceu dormindo. – ela falou chorando.

Me levantei da cama e fiquei sem ação. Botei a mão na cabeça e comecei a chorar mais ainda. Eu estava sentindo um turbilhão de coisas, tristeza, raiva por causa dessa maldita doença, culpa por não ter chegado antes e cuidado mais dele, angústia. Enfim, eu estava mal, muito mal. E Mand? Como eu iria contar a ela?

Naquele dia, me troquei e fui com minha tia até o hospital. Quem cuidou dos papéis foi ela, eu não estava em condições.  Quando cheguei em casa tomei coragem e liguei para Mand.

-Mari? E ai? Tudo bom? – ela falava alegre no telefone.

-Mand. – comecei a falar. Percebi que estava rouca, e com a voz estranha.

-Mari você tá bem? – ela perguntou.

-Mand você tá sozinha? – falei.

-Não, eu to a Liz e o Liam, por que? – ela dizia.

-Senta em algum lugar, e longe deles; - falei séria.

-OK. –ela respondeu. – tá bem, já pode falar.

-Mand...é...não sei como dizer isso. – comecei.

-É algo com o nosso pai?

Respirei fundo, e de olhos fechados eu disse:

-Ele morreu.

Mand ficou em silêncio do outro lado da linha.