_Mei! MEI! –gritava Shiro no meio de uma chuva forte.

_Hey, calma, Shiro. Você vai pegar uma gripe desse jeito. –disse Touya colocando uma capa em cima dele.

_Mas se a pirralha ainda não voltou, pra onde foi que ela fugiu?

Pergunto Shiro para si mesmo. Ele estava nervoso e preocupado. Não sabia porquê se sentia assim por uma simples garota, mas sabia que quando mais cedo a encontrasse melhor  seria. Mas onde ela tinha ido? Não poderia ser muito longe dali. O rapaz se aproximou de um rio que passava pela vila enquanto Kaoru e Touya perguntavam aos moradores locais sobre Mei. Talvez fosse apenas um pressentimento, mas Shiro sentia que a menina estava próxima. De repente, ele ouve um barulho estranho vindo atrás de uma árvore. O rapaz prepara-se para atacar.

_Quem está ai? –disse Shiro.

A figura começa a se afastar lentamente da árvore revelando ser um homem que Shiro já conhecera com um sorriso malvado estampado em seu rosto e uma cicatriz gigante no olho esquerdo.

_Najiro?!- surpreende-se o rapaz.

_A quanto tempo, Shiro. Vejo que ainda está trabalhando usando suas dobras. Você continua sendo aquele pivetinho desordeiro e perigoso de sempre? Imagino que sim. –brincou Najiro.

_E você? Continua sendo o mesmo covarde e desonrado de sempre? –retribuiu Shiro- É. Imagino que sim.

_Hehe, pelo visto a sua educação ainda está em aprendizado. Mas tudo bem, porque eu vim resolver outra coisa com você. –disse Najiko malvadamente.

_Nada que venha de você me interessa, Najiko. –disse Shiro friamente.

_É mesmo? Nem mesmo uma certa garota de cabelo castanho avermelhado e olhos prateados?

_O que? –assustou-se o rapaz.

O homem surgiu com um sorriso de satisfação ao ver a expressão de Shiro. O rapaz olhou-o cheio de raiva e fez um movimento de dobra de fogo, porém nada aconteceu apenas uma pequena chama surgiu e evaporou no mesmo instante. Najiko gargalhou altamente até finalmente conseguir se conter e voltou a sua postura original.

_Tsk, Tsk, parece que você ainda não aprendeu, Shiro. Estamos no meio de uma chuva. Água. Seu fogo não vai durar tanto tempo. Já eu, na contra mão... –começou fazendo um movimento com as mãos e tirando água do rio na forma de uma cobra.- posso dobrar o tanto de água que eu quiser.

Shiro trincou os dentes e seu inimigo se satisfez com aquilo.

_Boa noite, moleque. –foram as últimas palavras do inimigo que o rapaz ouviu antes de ser atacado por um chicote d’água e desmaiar.

~~~~~~ ~~~~~

Quando Shiro acordou novamente percebeu que suas mãos estavam amarradas em suas costas com bastante força e que ele se encontrava numa casa de madeira onde algumas gotas da chuva passavam pelos buracos no teto caindo próximo de seu rosto. O rapaz tentou se levantar, mas logo percebeu que suas pernas também estavam amarradas. Sua cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento e mesmo tentando não conseguia queimar a corda que o prendia. Ele ouve alguns passos se aproximarem e quando olha para porta vê Najiko olhando-o com um sorriso cruel.

_Já acordou? –perguntou se aproximando do rapaz sendo acompanhado por dois outros homens. –Para um garoto você é muito resistente. Qualquer outro rapaz já teria adoecido ficando nesse quarto por três horas. Já deve ter sofrido mais do que isso, imagino.

Shiro tremia, mas seu olhar rígido permanecera.

_O-Onde e-está a Mei? –perguntou o rapaz gemendo de frio.

_Ah, você quer dizer a menina? –disse o homem olhando para seus dois homens que se afastaram permitindo Shiro ver a menina no chão do quarto, inconsciente.

Shiro ao vê-la naquele estado urrou bravamente.

_HAHAHA! Nunca imaginei que me divertiria tanto nessa noite. –gargalhou o homem.

_O que você está planejando em fazer, Najiro? Se quer me matar, então o faça, mas deixe ela fora disso.

_Te matar?! HAHAHA! Por favor, me poupe. Se era para te matar por que eu te manteria numa casa abandonada no meio da floresta por três horas? HAHA! Não, meus planos miram em uma outra pessoa. Sua querida irmã Kaoru é quem eu quero. Já enviei uma carta falando sobre o seu seqüestro. Logo ela irá me encontrar no centro da cidade para uma luta.

_Você não vai derrotar minha irmã! Ela é uma dobradora muito bem treinada.

_Ah, mas ai que está a melhor parte. –disse Najiko sorrindo friamente. –Se eu for derrotado, meus homens saberão e explodirão esta casa com a gasolina que foi derramada em cada canto deste lugar até mesmo em você e sua amiguinha.

Shiro trincou os dentes, ele estava mais molhado que antes percebera agora. Najiko começou a gargalhar com aquela expressão do rapaz até finalmente sair do quarto trancando a porta atrás de si. O rapaz mesmo com dor conseguiu se sentar depois de um pouco de esforço. Ele olhou a sua volta. Tinha que achar alguma coisa afiada. Mas não havia nada que se destacasse naquele ambiente escuro e sujo.

_Sh... –ouviu a voz de Mei abafada.

_Mei! Acorde! Você está bem? –gritou Shiro sem resposta.

O garoto se irritou. Não havia jeito. Mesmo sendo muito perigoso usar fogo ele tinha que tentar sair dali e não via outra escolha a não ser usar a dobra de fogo. Shiro fechou os olhos e respirou fundo para se concentrar. Tinha que prestar bem atenção para que as chamas que criasse apenas atingissem a corda e não seu corpo, caso contrário ele e a casa inteira não sobreviveriam até o amanhecer. O garoto começou a meditar um pouco e quando se sentiu preparado começou. Uma minúscula chama surgiu de seu dedo indicador. Ele sentia a corda ficar cada vez mais frouxa, mas não podia se desconcentrar até que suas mãos estivessem totalmente livres. Poderia levar a noite toda, mas ele tinha que tentar para se salvar e o mais importante: tirar Mei daquela confusão toda.

~~~~~~ ~~~~

Enquanto isso Kaoru se preparava para a luta que estava prestes a ter com Najiko. De repente, ela ouve a porta bater e Touya entra surpreso ao vê-la vestindo uma armadura peitoral que cobria suas roupas verdes escuras folgadas e usando uma maquiagem que cobria o rosto todo com um pó branco e realçava seus olhos com aquelas combinação de sombras vermelha e preta.

_Então é assim que uma guerreira Kyoshi se arruma para uma batalha? Eu suspeitei que você era desde hoje cedo, mas faz tempo que não vejo uma desde que a ilha Kyoshi recebeu aquela bomba a uns seis ou sete anos atrás. Enfim...para você estar vestindo isso acredito que você vai mesmo lutar com esse Nabiro.

Perguntou Touya sério. Kaoru o olhou por um instante e depois desviou o olhar pegando um leque de metal perto da janela.

_Não sabe bater não? –disse ela friamente.

Touya se aproximou dela e pegou seu pulso que carregava o leque.

_Olhe, Kaoru. Talvez eu não conheça esse Naboru, mas para ter seqüestrado Shiro e Mei desse jeito ele não me parece alguém muito honesto. Você também já deve saber que ele está planejando alguma se estou certo.

_O nome dele é Najiro e sim, eu já imagino que ele tem algum truque. –disse a moça se livrando da mão de Touya e se afastando apressadamente. –Eu tenho que ir. Se estou certa essa luta pode demorar então não me espere acordado.

Minutos depois, assim que a moça saiu, Touya suspirou e pegou sua manta saindo disfarçadamente do aposento.

               Um pouco longe dali, Kaoru já se aproximava de um pátio quase deserto coberto pela chuva, onde apenas algumas pessoas passavam correndo para chegarem em suas casas logo. A maquiagem da moça já escorria com as gotas de água fazendo-a respingar por seu rosto e cair no chão. Seu cabelo que até então estava preso por um rabo se afrouxava cada vez mais e suas roupas folgadas e molhas grudavam em seu corpo gelado. Najiko ainda não havia chegado, mas Kaoru sentiu passos pesados se aproximando dali.

               _Uma rosa para uma rosa. –disse o homem segurando uma rosa vermelha e sorrindo para a moça.

               _Poupe-me de seus comentários, Najiko. Onde está meu irmão e a amiguinha dele?

               _Ah, você quer dizer o garoto de cabelo castanho e olhos azuis? Por que não o encontra você mesma? –provocou Najiko.

               _Eu te conheço a anos Najiko. Sei que você sempre usa truques contra seus adversários mais ingênuos, mas isso não funciona comigo.

               _Sim, eu sei. Como poderia me esquecer da mulher que destruiu a minha vida? Eu tinha tudo. Riqueza, fama, popularidade... honra. Mas desde o dia em que me confessei para você, você me traiu e me tirou as coisas que eram mais preciosas para mim. –disse ele com um olhar bravo.

               _Os seus modos de ter essas coisas, você sabe tão bem quanto eu, era por causa de seus truques. De sua lábia. Você enchia as pessoas de promessas e sonhos que um dia virariam realidade, mas que não passavam de palavras vazias e egoístas. Eu não destruí sua vida, apenas abri os olhos das pessoas para o que realmente você queria. –disse Kaoru séria.

Najiro riu.

_Esperta como sempre, né Kaoru? Sempre tendo uma resposta para tudo. Mas quem é você para falar de meus truques quando você mesma tem os seus próprios? Desta vez não cometerei o mesmo erro daquela noite e te deixarei escapar. Assim que te derrotar levarei você e seu irmão para a capital, onde vocês irão para o lugar que sempre pertenceram. A cadeia.

Disse o homem formando um chicote d’água e atacando Kaoru que se protege com uma parede. A moça salta a rocha e pega um impulso indo diretamente para onde o inimigo estava. Najiko desvia num simples salto e faz várias gotinhas da chuva flutuarem por um instante até se transformarem em gelo. Ele lança-as em direção a Kaoru que se protege novamente com uma parede de pedra. A parede desce quando a moça percebe que Najiko parou de lançar suas gotas de gelo e corre até ele pegando seu leque de metal. Ela tenta atingi-lo com a arma, mas o homem desvia com saltos leves para trás. Ele ri a cada movimento fracassado de Kaoru atingi-lo, o que a irrita um pouco fazendo-a pisar com força na terra e formar uma parede comprida atrás do inimigo que quando ia dar mais um de seus pulos bate com tudo na pedra e cai no chão. Kaoru se aproxima dele, séria.

_Acabou, Najiko. –disse ela.

De repente, alguma coisa a puxa para trás. Najiko não estava sozinho. Da escuridão da noite aparecem dez homens com armas inclusive um que a tinha pegado e apontava a lâmina da espada em seu pescoço. Najiko levantou-se e se aproximou da moça.

_Não, Kaoru. A noite está apenas começando. –disse sorrindo malvadamente.

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A corda finalmente queimou-se por inteiro. Shiro se livrou dela e em seguida desamarrou seus pés. Ele estava livre, agora tinha que ver Mei. O rapaz se levantou e começou a andar no meio daquele liquido fedido. Assim que a tocou percebeu como sua pele estava gelada. Ela estava mais pálida do que o normal e seu corpo não se movia direito, apenas os lábios que tremiam de frio. Seu cabelo cheirava a gasolina e estava molhado assim como suas roupas que além de largas também tinham partes rasgadas. Shiro olhou a sua volta. Tinha que tirá-la dali, mas antes precisava aquecê-la para que quando saíssem naquela chuva sua situação não piorasse. Olhando um pouco mais de cuidado, o rapaz encontrou um casaco de pele no braço de um sofá ali próximo. O rapaz se levantou e tocou no tecido que apesar de estar um pouco molhado nas pontas poderia esquentar a menina. Shiro pegou o tecido e cobriu Mei. Mesmo dentro daquele casaco imenso a garota ainda gemia.

_Mei. Aguente firme, ok? Eu vou tirar a gente dessa.

Disse Shiro não agüentando vê-la naquele estado. De repente o rapaz sente alguma coisa puxar sua camisa levemente. Ele olha para baixo e percebe que a mão da garota estava segurando-o. Shiro surpreende-se com aquilo e olha para Mei ainda desacordada. Mesmo com seu rosto gelado e seu corpo tremendo ela parecia calma. Seus cabelos escondidos atrás daquele casaco de pele pareciam agora mais avermelhados do que castanhos e sua mão que o segurava pela ponta dos dedos mesmo parecendo fraca não pretendia largar a camisa. Shiro naquela hora percebeu com a menina era mais bonita do que imaginava. Ele não conseguiu se conter e a abraçou tentando aquecê-la. Por que ele se sentia tão estranho perto dela? Por que se importava tanto com ela? Ele não queria soltá-la de seus braços. Queria permanecer ali até o amanhecer, mesmo que aquela casa estivesse em chamas.

_Mei... –disse ele num sussurro.

_Sh...- disse ela inconscientemente. –Shen...

Shiro arregalou os olhos e se afastou. Ela o confundira com outra pessoa. Um outro rapaz. Quem era esse Shen? E por que ela o estava chamando? Shiro sentiu um aperto em seu coração e se levantou afastando-se dela. Ele bateu levemente a cara na parede se sentindo um idiota. O que estava pensando abraçando-a daquele jeito? O que estava acontecendo com ele? De repente o rapaz acorda de seus pensamentos e percebe algo interessante. Percebe que a casa estava vazia, pois nenhum barulho era transmitido. Ele ficara tão preocupado com a menina que se esquecera de fugir. Shiro colocou Mei em seus braços e começou a andar cuidadosamente para a porta. Mesmo a porta estando trancada Shiro consegue derrubá-la com um simples chute e assim que ela cai no chão uma porção de insetos começa a sair das paredes e correr desesperadamente para qualquer outro lugar. O rapaz olha ao redor. O cheiro de gasolina era ainda mais forte nesta parte da casa. Shiro ouve um barulho vindo de fora da casa e se aproxima da janela. Algo estranho estava acontecendo ali. Por que Najiko iria deixar seus reféns numa casa sem ninguém os vigiando? De repente, uma luz vermelha surge de longe e começa a se aproximar da casa rapidamente. Shiro no começo tenta identificar o objeto, mas não se agrada nem um pouco ao descobrir o que aquilo era: uma bola de fogo! O rapaz corre até a porta apressadamente e joga todo seu peso pra cima dela fazendo-a se quebrar. Shiro começa a correr, mas a bola de fogo chega mais rápido e explode a casa atrás do menino. Ele cai no chão com tudo e quase desmaia. Seu corpo estava doendo. Suas costas ardiam e aquela chuva apenas piorava a situação. Suas pernas não estavam respondendo a seu comando e seus braços tampouco. A única coisa boa naquilo tudo era que Mei ainda estava em seus braços. Ela parecia estar dormindo encostada em seu peito que começaram a bater rapidamente. Shiro ouve passos se aproximando deles por trás. Podia ser que os capangas de Najiko tinham percebido que eles sobreviveram? Se esse era o caso, então o rapaz já podia ver o seu fim se aproximando. Os passos ficaram cada vez mais altos até pararem bem ao seu lado.

_Ah, então você encontrou a menina, Shiro!

Ouve-se a voz de Touya surpreso. Shiro suspirou aliviado. Pela primeira vez, ficara feliz  em ouvir a voz do homem.

_Nossa, esse machucado nas suas costas está bem feito. Agora imagino o porquê.

Disse olhando para a casa em chamas próxima.

_Touya... –diz o rapaz rouco. – É bom te ver, mas nos tire daqui logo. Najiko está atrás da minha irmã.

_Ah, tudo bem. Eu já cuidei dele. –falou o homem num toma animado.

FlashBack On

_Suas últimas palavras, minha querida. –brincou o homem olhando sua presa com satisfação.

Kaoru percebe que a espada começa a forçar cada vez mais para dentro. Ela tenta segurar a arma, mas a força do homem que a prendia era incrivelmente forte. A moça olha surpresa para a direção de Najiko.

_Touya?!

_Huh? –pergunta Najiko sem entender. -O que você dis...

De repente uma imensa pedra cai em cima dele. Touya surge das sombras com os braços cruzados e sorri sarcasticamente:

_Você ainda não quer a minha ajuda, Kaoru?

_Eu disse para você não me esperar acordado, Touya. –falou a moça brava.

_Eu sei. Mas não disse para eu não te seguir.

Kaoru bufou. O homem sorriu.

_Então, senhores... –disse Touya estralando os dedos. –Quem quer ser o primeiro a apanhar?

FlashBack Off

_Eu terminei com todos em uns dez minutos, mas o Najiko sumiu enquanto eu lutava com seus companheiros. Deve ter vindo pra cá jogar fogo nesta casa. Ainda bem que eu e Kaoru estávamos procurando vocês perto daqui.

 _Shiro! –ouviu-se a voz da moça. –Então você esta aqui. Graças a Deus.

_Vamos levá-los para a curandeira. Ouvi falar de uma próxima da casa que alugamos em que estamos. –disse Touya pegando Mei e colocando no colo de Kaoru que apesar de não gostar se manteve calada.

Depois o homem pega Shiro com cuidado e os quatro seguem de volta para casa, cansados daquela longa noite.