For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 2
II - Antipática




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Já fazia bem uns dez minutos que eu estava na sala e ninguém chegava. Só então me dei conta que era intervalo. Até disso eu havia me esquecido. Propositalmente.

Coloquei meu mp3 player para que os dez minutos restantes do intervalo passassem mais rápido. Por um momento pensei se estava prendendo o professor na sala por minha causa. Mas isso não me incomodou muito. Se ele quisesse, que fosse fazer o intervalo dele.

Deu tempo de ouvir apenas três músicas até que o pessoal começasse a entrar na sala. Desliguei o mp3, não por vontade, mas pra não perder nenhum detalhe da primeira aula. Geralmente tinham avisos importantes dos professores.Depois de umas cinco meninas e dois meninos entrarem na sala, me pareceu que os trinta e três alunos restantes irromperam de uma só vez.

Eles já sabiam seus lugares, então logo todos estavam em seus lugares, com exceção a duas meninas que pararam no lugar ao meu lado. Conversaram baixinho entre elas, e algo me disse que era sobre mim.Preferi não encará-las, pois estava com a cara tão fechada que ganharia a antipatia de mais duas logo ali.

_ Er... Oi. – Começou uma delas.

Virei para ela sem emoção. A outra havia se sentado na próxima bancada ao lado.

_ Eu acho que você está no lugar do Aquiles...

Mas que petulância. Defendendo o lugar do namoradinho.

_ O professor foi quem me indicou o lugar. – respondi e voltei minha atenção para a mochila.

Coloquei-a sobre meu colo e comecei a abrir o zíper.

_ Qual é seu nome? – ela perguntou, e tive certeza que não era pra me conhecer, mas para argumentar com o professor.

_ Amélia Cristina. – Respondi já perdendo a paciência e ela percebeu.

Ela foi falar com o professor. Conversaram por uns instantes, então o professor resolveu anunciar:

_ Pessoal, cuidado que agora temos uma aluna nova...

Sim, apresentação perfeita. Só faltou acrescentar “Não se aproximem dela!!!”.

_ Então os lugares estão diferentes. – Ele deu uma olhada na lista por ter esquecido meu nome – Da Amélia Cristina pra frente, vocês devem pular um lugar pra frente.

Ouvi gente reclamando, bufando e até xingando.

Que bacana. Estava na minha quarta aula do ano e já era odiada por destruir parcerias de anos anteriores...

A menina que reivindicava o lugar do namorado sentou-se na outra bancada, e a amiga dela foi para a segunda bancada da esquerda.

Ela não dirigiu o olhar a mim, creio que pelo mesmo motivo que eu no nosso primeiro contato.Parecia que os ânimos estavam se acalmando.

Chegaram mais alguns garotos atrasados. Reconheci os três que participaram da minha lesão corporal.Separaram-se pela sala e demoraram a encontrar seus lugares, devido à nova disposição do local desencadeada pela nova aluna. Eu.

_ Bom, então agora minha parceira é a aluna nova...

Eu não estava nem um pouco a fim de encarar quem quer que tivesse sentado ao meu lado.

_ Hum. – confirmei sem me virar.

_ Lembra de mim?

“Ah não...”

Como não lembraria? Era o par de olhos mais verdes que eu já havia visto...

_ Como não lembraria? Você quase quebrou meu nariz faz quarenta minutos.

Voltei para meu material. Tirei meu fichário da mochila.

_ Ah, não fui eu quem chutou... Foi o... Ah, melhor não criar intrigas, não é?

Pela voz dele, notava-se que estava sorridente. Mas como eu simplesmente o ignorei, então não tenho certeza. Provavelmente sim, afinal ele estava sentado com a garota que fora abatida por uma bola de futebol na aula de educação física. Se eu mesma me achava ridícula naquela situação, imagine ele...

Tirei meu estojo da bolsa ainda encarando a lousa vazia. Pensei que uma dose de ignorância o afastaria de mim. Mas ele ainda não parecia satisfeito.

_ Não seria “fazem quarenta minutos”? Afinal, quarenta é plural, não é?

Senti uma pontada no coração ao ouvir “fazem quarenta minutos”. Geralmente erros de concordância me causavam mais emoção do que as próprias pessoas.

Estava na cara que ele era um retardado. Como ele fora admitido no vestibular? Estava eu questionando a capacidade do meu parceiro de química, quando ele me tirou dos devaneios:

_ Eu sei que aprendemos isso... Mas eu sempre me confundo se aprendemos “faz quarenta minutos” ou “fazem quarenta minutos”...

Continuei quieta, na esperança que ele fosse louco e estivesse falando sozinho.

_ Aí eu me baseio no verbo “passar”. Afinal, “passou quarenta minutos” é errado, enquanto “passaram quarenta minutos” é o correto, não é?

Por que ele estava discutindo gramática comigo?

Minha paciência se extinguiu. O cara era um idiota e por pouco não havia afundado meu nariz no rosto. Será que uma humilhante aula de concordância o faria calar a boca?

_ O verbo "fazer", quando indica tempo, não tem sujeito, o que não ocorre com o verbo "passar", pois de fato, os minutos passam. – “seu idiota”.

Disparei ainda sem me voltar na direção dele, tentando ser o mais ofensiva possível.Ele ficou quieto, e agradeci em pensamento por afastar mais um chato.

_ Ahn, tem razão! Legal. Qual o seu nome mesmo?

Por que o professor não começava logo a aula?

_ Amélia Cristina. – respondi com a maior má vontade.

_ Eu sou o Aquiles. Prefere que te chame de Amélia, de Cristina ou de Amélia Cristina mesmo?

_ Prefiro que não me chame. – deixei escapar.

Dessa vez não tinha como ele não perceber que eu estava irritada.

_ Ah, vai ter que escolher um dos três, afinal, seremos parceiros até o fim do ano...

Mas que moleque mais incoveniente...

Felizmente, a ponto de evitar outra lesão corporal, o professor iniciou com a aula. Ou melhor, com o discurso.Falou sobre os livros, as provas, sobre os trabalhos, que graças a Deus seriam individuais, sobre faltas e atrasos.

Pelo jeito estava tudo ali. Então, ainda faltando dez minutos para terminar a aula, dispensou a turma.

O pessoal saiu numa fúria tão grande, que deu pra perceber que ninguém ali além de mim gostava de química.

_ Ei, Bia, você já conheceu a Cris?

Meu pescoço enrijeceu. Me obriguei a encará-lo pela primeira vez na aula. O infeliz se dera o direito de me arrumar um apelido? E pior, estava me apresentando às amiguinhas nojentas?

_ Ah conheci sim, eu pensei que ela tinha sentado no lugar errado e vim perguntar pra ela... E aí Cris, tá gostando da escola nova?

“NÃO!!!” Senti vontade de gritar até fazê-la correr.

_ Hum-hum.

A “Bia” era a tal namoradinha.

_ De que ETE você veio? – perguntou alegremente, ou falsamente, não sei.

Eu estava muito concentrada numa forma de acabar com a conversa.

_ Júlio de Mesquita...

_ Ah, aqui é bem maior, não é? – continuou alegre.

_ Sim. Até daqui a pouco.

Saí desembalada para o banheiro. Só queria despistá-los.

Entrei no banheiro do bloco que estávamos mesmo, que era o dois. E estava vazio, por ser o menor. Tinha 3 cubículos e apenas 1 pia.

Parei em frente a pia e observei meu reflexo. Minha aparência continuava relaxada como sempre. Meus cabelos compridos e volumosos estavam presos num coque bem firme na nuca. Passei a usá-los assim, parecendo uma velha depois do último insulto que recebi de Thiago. Ele gostava do tom castanho escuro que brilhava com um tom avermelhado no sol.Ele disse que a única coisa que gostava em mim era o meu cabelo depois de... Enfim, eu preferia nem lembrar.

Meus olhos também castanhos, um pouco mais claros, também pareciam ter um brilho acaju na luz forte. Eles eram bem expressivos. Por isso conseguia afastar as pessoas tão facilmente. Meu desprezo era visível.

Eu estava usando óculos, que eram só para descanso. Mas eu me sentia protegida atrás da armação de aço quadrada.Tirei-o e limpei na barra da blusa. Coloquei de volta e decidi que já estava na hora da aula. Era a última, o sofrimento estava prestes a acabar. Por hoje.

Continua


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