For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 1
I - Antissocial




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_ Ansiosa Mel? – perguntou minha mãe feliz quando parou o carro no estacionamento da escola.

_ Não, deprimida. – respondi.

_ Amélia! Não pode ser tão ruim assim! São apenas adolescentes! – minha mãe começou a ralhar já cansada com a minha atitude reclusa.

_ Tem razão. Até mais tarde! – eu me apressei em dar um beijo na minha mãe evitando nova lição de moral.

Observei minha mãe manobrando e descendo para a saída. Talvez eu pudesse dar a volta e ir embora pra casa.

Aquela escola não era tão rigorosa, logo, não pegariam no meu pé por estar matando aula. Eles entendiam que os alunos daquele lugar eram responsáveis o suficiente para se formarem. Eu havia prestado vestibular para ser aprovada em uma escola da rede. Passei em terceiro lugar. Mas minha dedicação aos estudos havia custado um desastre de vida social. Ou o inverso.

O primeiro ano eu fiz na escola onde passei. O segundo fiz em outra escola da mesma rede. E agora eu mudava pela terceira e última vez.

A razão? A nerd ridícula e motivo de chacotas da Amélia Cristina. Tá, tudo bem, eu realmente não era muito sociável e até um pouco agressiva... Mas não era necessária tanta perseguição.

Chegaram a passar trotes em casa, dizendo coisas obscenas até para minha mãe, mas o pior foi a última brincadeira que fizeram comigo. Dessa eu não queria nem lembrar. Esta era minha última tentativa.

A idéia de entrar numa turma onde todos já se conheciam e já tinham suas panelinhas formadas era desanimadora, mas ainda sim soava mais atraente do que sair mais cedo da aula para não ter de ouvir tanto desaforo.

O máximo que aconteceria comigo pelos próximos meses, seria ser ignorada. O que no momento era o que eu mais queria.

Desci a rampa que levava aos blocos. Ainda era cedo, não havia muita gente. No painel de avisos ao lado do portão do bloco eu peguei meu horário. Estava no 3ºC.

Adentrei o bloco que parecia um grande galpão de dois andares. Subi as escadas e esperei perto da porta. Avistei um banco logo em frente e fui me sentar. Depois pensei em sair dali, provavelmente alguém chegaria e se sentaria ao meu lado. E eu já havia desistido de tentar ser simpática. Pelo contrário, preferia passar despercebida.

Mas não deu tempo. Duas meninas subiram dando altas risadas. Eu também não quis parecer que estava fugindo. Abri um livro e fingi não notar a presença delas.

Sentaram-se ao meu lado e por um instante pararam de falar. Provavelmente me estudando. Apertei o livro e senti meu rosto corar levemente desejando “Não falem comigo... Por favor, me ignorem...”

_ Você é do 3C? – perguntou a que estava mais próxima de mim.

Tinha longos cabelos loiros bem lisos e era muito bonita. Devia ser a garota popular da sala.

_ Sim.

Depois de responder, voltei minha atenção ao livro.

_ Você é nova?

“Infelizmente!”

_ Sim. – respondi novamente, dessa vez sem desgrudar os olhos do livro.

_ Eu sou a Thaís.

_ Oi Thaís. – Olhei rapidamente pra ela, e voltei a ler.

_ E essa é a Camila... O que você está lendo?

Não sei se ela perguntou por ter ficado irritada com a minha apatia, ou se achava que o livro era mesmo tão interessante a ponto de prender mais a minha atenção do que ela.

Olhei para a menina que ela apontou. Também podia ser a menina popular da sala. Talvez fosse a vice menina popular da sala. Tinha os cabelos ainda mais longos que os da amiga mas eram bem negros. E brilhantes. Que inveja.

_ O quarteto de cordas. – voltei para o meu livro.

Ela parou de falar comigo. Pelo tempo que ficaram em silêncio, imaginei que estavam trocando olhares a meu respeito.

Mais pessoas começaram a se juntar ao nosso redor. Algumas outras meninas e meninos vieram falar com as meninas populares da sala. Conversavam alegremente sobre as férias.

Ainda bem que me ignoraram. Eu nem teria sobre o que conversar das minhas férias.

Olhei para o meu relógio de pulso, finalmente fechando o livro. Bufei quando vi que a professora estava cinco minutos atrasada. E isso chamou a atenção de mais uma menina.

_ Ah, oi! Você é nova não é?

Eu já estava pensando em pendurar uma placa no pescoço com o meu nome seguido de “Aluna Nova” em letras garrafais.

_ Sim.

Meu terceiro “sim” em quinze minutos. Dava cerca de um “sim” a cada cinco minutos. Oh não, estava ficando complacente!

_ Eu sou a Rebeca, e você?

Então as meninas populares ainda sentadas ao meu lado se deram conta que não tinham me perguntado isso.

“Ninguém que você queira conhecer...” Pensei, mas não em tom de ameaça, e sim de um bondoso aviso.

_ Amélia Cristina.

_ Prefere que te chamem de Amélia, ou de Cristina? – perguntou risonha.

“Prefiro que não me chamem!” Pensei irritada.

_ Tanto faz.

_ Você veio de onde?

_ De uma outra ETE.

Levantei-me encerrando a conversa. Percebi que a garota ficou estarrecida com o gesto. Melhor, talvez assim ela passasse a me ignorar.

A professora finalmente chegou. Corri para o fundo da sala e me sentei na última carteira, perto das janelas, uma vez que elas ficavam contra a porta.

Era aula de literatura, e pelo que pude perceber, a notícia de que eu não era domesticada já parecia ter se espalhado. Ninguém tratou de conversar comigo novamente.

Depois de muito falar, a professora Rute finalmente falou sobre algo importante. Disse que apresentaríamos seminários sobre os livros da leitura obrigatória da FUVEST. Perfeito, era tudo que eu precisava... Arrumar um grupo.

Será que ela aceitaria um grupo de um?

Felizmente ela só exigiria a lista dos grupos alguns dias depois.

Quando a aula acabou, todos se dirigiram para a quadra. Eu fui a última, lógico. Eu consegui ouvir uma reclamação na turma sobre alguma coisa da aula ser nas quadras externas.

_ Mas hoje era nosso dia de ficar nas internas pô... – reclamou um dos últimos meninos.

_ Depois a gente tem que ver com o professor. – prosseguiu outro.

Eu tive que diminuir ainda mais o passo, para manter uma distância segura de qualquer puxada de assunto.

Chegando na quadra externa, todos se amontoaram ao redor do professor. Não sei se era por ser o primeiro dia de aula, ou se o professor estava mesmo de saco cheio, mas ele simplesmente deu uma bola de futebol aos meninos e uma de vôlei para as meninas e não deu mais atenção à sala.

_ Você vai jogar? – perguntou Thaís meio obrigada.

_ Não. – dei as costas e fui me sentar num gramado perto da quadra vazia de futebol.

Os meninos optaram por jogar na quadra mais ao fundo, então ali eu não corria o risco de ser incomodada.

Coloquei meu mp3 e sentei na grama. Me apoiei para trás com as mãos e fechei os olhos. O sol estava quentinho, e o melhor que eu podia fazer na aula de EF era aproveitá-lo.

Fiquei com medo de dormir, então eu alternava uma música com olhos abertos e outra com olhos fechados.

Estava na quinta musica, eu tinha acabado de fechar os olhos quando senti o impacto.

_ Desculpaaaa!!! – gritou um dos meninos já correndo em minha direção.

Eu pensei que tivesse quebrado o nariz, mas felizmente estava tudo bem. Meus olhos instantaneamente se encheram de lágrima, e a minha camiseta branca ficou manchada com os respingos de lama da bola.

Três garotos correram na minha direção enquanto eu checava meu nariz com ambas as mãos.

_ Ei, machucou? – perguntou o primeiro.

Formaria um belo par com a menina popular. Ele era alto, forte e loiro.

_ Chama o professor... – sugeriu o segundo. Era um moreno baixinho e magricela.

A diferença era gritante, deu até vontade de rir, mas eu estava irritada demais pra isso.

_ Você é a menina nova, não é? – perguntou o terceiro.

Ele era o equilíbrio entre as duas figuras. Não era tão magro nem muito musculoso. Os cabelos negros estavam bagunçados e alguns fios grudados no suor da sua testa.

E tinha incríveis olhos verdes.

Mas estava mais preocupado em saber quem eu era do que em saber se meu nariz estava fraturado.

_ Não precisam chamar ninguém, eu tô ótima! – levantei e deixei a quadra.

Corri para o banheiro e lavei o rosto. Olhei a camiseta respingada de barro sentindo um ódio mortal daquele trio imbecil. Tentei esfregar com um pouco de sabonete, mas só piorou.

Coloquei a blusa do uniforme por cima e a fechei até a gola. Saí do banheiro antes que alguma menina da sala entrasse perguntando o que aconteceu.

Decidi ir para a sala de química aguardar até que começasse a aula. Estava vazia, exceto pelo professor.

_ Posso entrar professor? – perguntei.

_ Entra. – respondeu sem me encarar.

A sala era formada por degraus que subiam até a última fileira. Em cada degrau havia três bancadas com lugar para dois alunos.

Se eu me sentasse na última bancada, ficaria no nível mais alto da sala, e seria vista mais facilmente... Decidi sentar no primeiro nível, do lado contrário da porta, embaixo da janela.

_ Qual o seu nome? – perguntou o professor.

_ Amélia Cristina. – retribui a gentileza de ignorá-lo ao responder.

Ele olhou para a lista de chamada e então apontou a primeira bancada do meio.

_ Então você se senta aqui.

Olhei desanimada para a bancada. Era melhor não discutir com um professor excêntrico. Me levantei e fui para o local indicado.

_ Os lugares são por ordem de chamada. Pra dificultar conversas paralelas.

_ Hum. – murmurei tirando meu caderno da mochila.

O professor parou de falar. Acho que nesse momento ele também se deu conta do quanto eu era desagradável.

Continua


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