Você sabe o que acontece quando você bebe muita vodca e nenhuma água? Você fica com uma ressaca. Uma daquelas grandes em que você não consegue lembrar nem qual é o seu nome.

Ok, eu me lembro que meu nome é Annabeth, mas em compensação o que aconteceu ontem a noite é apenas um borrão escuro na minha memória. Na verdade, eu realmente não sei se eu quero lembrar o que aconteceu noite passada com ele.

Eu acordei com o barulho do meu celular tocando no criado mudo. Eu o peguei apenas me concentrando em olhar somente para a tela do celular e não na situação na minha cama. Eu olhei o nome na tela para ver quem me ligava. Era meu pai.

– Respire fundo, Annabeth, respire fundo. – eu sussurrei para mim mesma e atendi.

– Hey pai! – eu tentei parecer o mínimo “eu-acabei-de-acordar-com-seu-entiado-na-cama” que eu pude.

– Hey, – ele disse – posso saber onde a senhorita está?

– Claro eu você pode. Estou na casa da Thalia.

– E você não me avisou pois...

– Pois eu... esqueci. E, você sabe, estava tarde. Eu não queria te acordar.

– Hum... – ele disse e eu apenas pedi a Deus para fazê-lo acreditar nisso. – E o Percy, você sabe onde ele está?

Eu congelei.

– Percy? – eu me obriguei para olhar para ele. Ele estava dormindo num sono profundo e... Ai meu Deus, ele estava babando?! – Bem... Eu o vi ontem à noite.

– Ele também não dormiu em casa ontem.

– Não? – eu fingi um tom de surpresa. – Ele deve ter dormido na casa do Luke, então.

– Na casa do Luke, certo?

– Isso, provavelmente.

– Ok, eu vou tentar ligar para ele de novo. – meu pai disse e eu relaxei. – Venha para casa o mais rápido que puder. Sua prima Hannah está aqui.

AI MEU DEUS. O QUÊ?! Isso deve ser provavelmente minha punição por agir tão depravadamente ontem.

– Ok pai, obrigada por avisar. Vejo você em breve.

– Até mais tarde. Te amo, Annie.

– Também te amo, pai. Tchau.

– Tchau.

Eu desliguei o telefone e olhei para baixo. Bom, pelo menos eu estou com minhas roupas de baixo, o que não é a minha pior opção, já eu poderia estar sem elas.

– Percy. – eu disse, mas ele não acordou. – Percy! – eu repeti, dessa vez balançando o braço dele.

– Oi. Er... Bom dia. – ele disse e eu tenho quase certeza que metade do seu imenso cérebro ainda está desligada.

– Oi. – eu respondi me levantando e procurando pelas minhas roupas. Eu achei minha saia perto da cama e meu top numa estante perto da porta. Querido Jesus, o que aconteceu aqui?

– Levante-se, nós temos que ir pra casa. Meu pai me ligou e ele provavelmente irá ligar para você também. – eu ordenei, mas Percy continuou deitado na cama. – Agora, Percy! – eu puxei o lençol. Bem, ele também estava só com a roupa de baixo, igual a mim.

Eu me obriguei a não olhar, encarar e me concentrar em seu corpo. Ah, qual é Annabeth, o que está acontecendo com você?

Ele levantou ainda tentando, assim como eu, compreender o que estava havendo ali ou até mesmo lembrar-se do eu aconteceu ontem.

– Hum... Percy?

– Sim?

– Você... hum... lembra o que aconteceu ontem à noite?

– Sim, eu lembro. – ele respondeu e pareceu um pouco ofendido com minha pergunta.

– E... o que exatamente aconteceu? – eu perguntei sentado-me na cama. – Quero dizer, nós fizemos “aquilo”?

Ele me encarou e chegou um pouco mais perto, segurou meu rosto nas suas mãos e respondeu:

– Sim, nós fizemos. Você não lembra? Eu achei que tinha sido especial... – Percy respondeu lentamente me olhando nos olhos.

– A gente fez. – eu repeti ainda sem acreditar o que uma bebedeira não fazia.

E então Percy, ainda segurando meu rosto entre suas mãos, abriu um sorriso, o típico sorriso maroto apenas digno dele, Percy Jackson.

– Não, a gente não fez nada. Depois de tomar um porre daqueles a única coisa que fizemos foi apagar e dormir feito duas pedras. – ele respondeu ainda rindo.

– PERCY! – eu me afastei e dei um tapa no braço dele – Como você se atreve a brincar com isso? – voltei a dar tapas nele.

– Para! – ele disse levantando os braços para se proteger, mas continuava rindo (eu devo dizer que deixei escapar uma risada também) – Não resisti a fazer essa brincadeira com você.

– Tanto faz. Agora anda, levante-se e se arrume. – eu disse levantando da cama e indo até uma a no quarto onde meu saia top se encontrava e o vesti. Percy fez o mesmo pegando sua calça e a vestido, com uma risada esporádica só para lembrar o quão piadista ele era.

– Cadê minha blusa?

– Deve tá aqui, ó – eu respondi apontando pro meu olho. Ok, coisa de criança? Sim. Coisa antiga? Sim. Mas não é hora para julgamentos.

Ele caminhou até mim para olhar meus olhos de perto.

– Hum, acho que não.

– Jura?

– É sério, cadê? – ele continuou perguntando enquanto eu procurava por meus sapatos.

– Não sei, deve ter ficado na sala junto com meus sapatos. – eu disse indo em direção a porta do quarto e o deixei lá me esperando.

Coloquei a cabeça para fora do quarto de visitas para ver se encontrava algum sinal de Thalia, mas a porta de seu quarto estava fechada, então eu imagino que ela ainda está dormindo. Sai tentando fazer o menor barulho possível e caminhei até a sala. Quando cheguei no final do corredor espiei pelo canto do olho para a cozinha, mas aparentemente ela também não estava lá, então o caminho estava livre para mim.

Andei até o sofá, onde achei a blusa de Percy e um dos meus sapatos e fiquei procurando o outro par quando ouço um barulho vindo da cozinha atrás de mim. Merda, Annabeth, nem pra checar as coisas direito.

Antes que pudesse ter alguma reação ouço passos vindos em minha direção e a voz de Thalia soando acima de mim.

– Procurando por isso? – ela balançou o salto preto em sua mão.

– Thalia! Bom dia! – eu disse com aquele sorrisinho amarelo típico.

– Bom dia senhorita “vou-invadir-sua-casa-no-meio-da-noite-com-um-acompanhante”. A noite foi boa, presumo.

Eu me levantei do chão para pegar o sapato na mão dela e retruquei:

– Foi boa, o quê? A gente só bebeu. – eu apontei para a garrafa de vodca vazia na estante ao lado dela. Ela seguiu meu olhar até a garrafa e não ligou, até ela perceber que era a garrafa bebê-precioso dela.

– Vocês tomaram minha garrafa de Absolut INTEIRA ontem a noite?!

– Er, quanto a isso, a gente pode trazer uma outra pra você depois.

– Espera, quem é a gente mesmo? Você e...

– E depois você vai ver – eu disse puxando o salto da mão dela quando ouvir uma porta abrindo, achando que era Percy. Mas era a porta do quarto dela, e de lá saiu um Luke vestido apenas numa calça de moletom com um cabelo mais desarrumado que um ninho de rato e uma cara de sono.

– Aparentemente, foi você quem teve uma noite boa. – eu disse e caminhei de volta para o quarto de visitas, passando por um Luke um tanto confuso e dando bom dia a ele.

Quando entrei no quarto Percy estava sentando na cama falando com alguém no celular, e eu acho que ele tinha acabado de atender a ligação.

– Alô? Óbvio que é o Percy, quem mais seria? Quem é? Hannah? Olha, a sua prima deve ‘tar em casa, liga pro celular dela então...

Eu ouvi a conversa com os meus olhos arregalados, por que diachos a Hannah ligaria para o Percy?! A não ser que... MERDA, aquela era a capinha do meu celular, não a do dele, que estava em cima da estante onde nossas roupas estavam.

– Percy! – eu o chamei sussurrando e ele me olhou, ainda com meu celular – Seu idiota, esse é o meu celular! Me dá aqui!

Obviamente, ele não tinha percebido ainda a burrada que fizera, então só sobrou pra eu concertar isso. Peguei o celular da mão dele e atendi.

– O que foi, Hannah?

– Isso é jeito de tratar a prima?!

– Oi, prima linda, amor da minha vida, razão do meu viver, o que você deseja a está hora da manhã com minha pessoa?

– Melhor assim...

– Anda logo, o que foi?

– Bom, eu só queria saber onde você estava, mas ai quando o Percy atendeu ficou tudo mais claro... A essa hora da manha e você está com ele? Hum... suspeito, dona Annabeth.

– Suspeito uma porra, esqueceu que eu tenho o infortúnio desprazer de morar com ele? – eu retruquei e ele resmungou um “Ei!” revoltado.

– Pois é, acontece que você nem ele estão em casa, que está na verdade sou eu quem está aqui... Será que o tio Fred sabe que vocês dormiram junt... – eu não dei tempo nem dela terminar.

– Não tem nada o que saber, não aconteceu nada sua pirralha chantageadora.

– Olha como fala comigo, sei muita coisa de você!

– Então vê se consegue manter sua boquinha calada até eu chegar em casa, tá legal? Não aconteceu nada aqui.

– Te vejo em alguns minutos, priminha! – a voz dela disse do outro lado da linha e eu desliguei.

– Sabe, Percy, às vezes sua santa inteligência me surpreende tanto que eu até me pergunto se estou dividindo o teto com um futuro gênio da ciência. – eu ralhei jogando a camisa verde para ele – Custava olhar se era meu celular ou o seu?

– Qual é, eles são iguais!

– É, exceto pela cor da capinha! O meu é cinza, c-i-n-z-a, ok? – eu disse enquanto ele terminava de se vestir.

– Pelo amor de Deus, Annabeth, para quem acabou de acordar seu humor tá muito ruim, viu?

– Já tá pronto? – eu perguntei e ele assentiu – Então vamos. Temos uma pentelha loira que se diz da minha família para enfrentar.

Saímos do quarto e andamos em direção a porta de saída, mas não sem antes ter que passar por Thalia, que comia uma omelete sentada no balcão da cozinha.

– Então esse é seu acompanhante? – ela sussurrou pra mim, com um sorrisinho no rosto.

– É. – eu respondi rápido sem dar tempo para outras perguntas, mas ela continuou:

– Ei, eu lhe emprestei minha casa, você tomou minha vodca. Eu mereço uma explicação.

– Ok, depois eu falo com você, tenho que ir agora. Ah, caso meu pai pergunte, eu dormi aqui, você dormiu aqui, Percy dormiu na casa do Luke, e o Luke também dormiu na casa dele. Ok? – ela assentiu ainda insatisfeita por não fazer seu interrogatório e eu empurrei Percy para fora, rumo ao elevador.

Fizemos o percurso até o carro rapidamente e em silêncio, eu entrei no lugar do motorista e ele sentou no banco ao meu lado. Minha cabeça ainda latejava muito e eu murmurei para mim mesma, mas ele acabou ouvindo:

– Droga de dor de cabeça.

– Chamam isso de ressaca. Sabe, quando você bebe muito.

– Puxa, obrigada Percypédia. – eu disse com um pequeno riso nos lábios.

O resto do caminho foi rápido e eu parei o carro uma esquina antes da nossa casa, e pedi para ele descer.

– Por que eu tenho que descer e ir o resto do caminho a pé?

– 1) eu estou dirigindo 2) eu sai dirigindo ontem e 3) a gente não pode chegar em casa juntos. Agora anda, desce.

Ainda contrariado ele desceu e eu continuei o caminho até minha casa. Assim que cheguei e abri a porta percebi que meus tios já se encontravam na sala conversando com meu pai e Sally. Dei um bom dia a todos e percebi que no canto da sala Hannah estava sentada.

– Bom dia, prima! Quanto tempo não é mesmo? Onde você estava? – eu a fuzilei com os olhos e respondi tentando parecer o mais normal possível.

– Na casa de uma amiga.

– Venha querida, junte-se a nós! – Sally chamou e eu sentei numa cadeira do lado dela – Percy deve estar chegando também.

Percebi o olhar nada discreto de Hannah sobre mim e afirmei;

– É, deve estar.

Ai meu Deus, o que eu fiz para merecer uma prima como Hannah Chase na minha vida?

Como eu vou conseguir suportar ela hoje à noite?!