Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 17
Capitulo 17




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O sol já estava a pino quando decidiram parar para comer. Estava se tornando cansativo e chato caminhar a esmo enquanto tinham que esperar as bruxas aparecerem.

– E se estivermos indo para o lado errado e termos que voltar tudo novamente? – perguntou enquanto se sentava em uma das raízes para descansar.

– Elas fazem portais. Tenho certeza que podem nos levar até elas se quiserem.

O problema é se não quiserem...

Mastigou um pedaço do pão seco engolindo metade da água. Não reparou quanta fome tinha até terminar de engolir o primeiro pedaço. O resto, tinha desaparecido antes que pudesse perceber.

Recostou na árvore fechando os olhos. Ainda estava frio o suficiente para deixa-la confortável. Mas estava cansada demais para ligar.

Quase não tinha dormido na noite passada e queria uma soneca no mínimo só para recuperar as forças. Sentia-se protegida pelo sol que batia fracamente em seu rosto. Enquanto estivesse claro estaria tudo bem.

Jonh estava fazendo uma fogueira para assar a carne se supunha.

Provavelmente seria o suficiente para afastar os animais. Além disso, só seria por alguns minutos. Bocejou e se ajustou para ficar mais confortável e se proteger do vento. Seu corpo foi levado por um lento torpor se aprofundando cada vez mais em seus ossos. Assim adormeceu.

...

Acordou com alguém a balançando.

A primeira coisa que fez foi olhar com medo para o céu. Ainda não estava escuro, mais o sol se punha no horizonte deixando de aquecer a floresta.

Quanto tempo dormi? Quis perguntar, mas as palavras se enrolaram em sua boca de forma que só saiu um murmúrio sonolento.

–Temos que procurar um lugar seguro. Levanta! - ele segurou um dos seus braços a ajudando a se firmar.

Caminharam alguns minutos. Jonh ficava olhando para cima quando a puxou para uma árvore – Sobe primeiro.

Ele fez uma concha com as mãos para que ela alcançasse o primeiro buraco na árvore. Se obrigando a acordar e com o coração pulsando em seu ouvido começou a escalar. Era uma coisa que felizmente estava acostumada, porque gostava, quando tinha tempo, de ver as coisas de cima. Em outra perspectiva.

Algumas lascas entraram em sua unha ligeiramente curta, mas não se importou. Agarrou um galho próximo aos seus braços pulando para ele, a gravidade e o peso do seu corpo tornando a tarefa mais difícil.

Por mais que estivesse preocupada tentou não pensar em Jonh subindo abaixo dela. Estava corando.

Ó deus! Como eu sou ridícula.

Se reprendendo foi subindo cada vez mais lentamente até chegar a um galho grosso onde se sentou respirando forte. Lembrou-se da bolsa que não tinha nem pensado em pegar. Felizmente Jonh estava com ela nas costas enquanto subia.

Ebon começava a escurecer. Podia ver copas de árvores menores se estendendo por todas as direções sem limites.

O ar parecia mais limpo aqui.

Ficou pensando no que Morgan disse. Não estava nem quilômetros perto da Nova Inglaterra. Outra dimensão. Com se tivesse passado por um portal.

A luz que os mantinham seguro se afastava, observou.

De repente, um medo infantil a fez recordar quando era posta na cama para dormir e tinham que desligar o lampião para economizar. Porque os monstros só saiam debaixo da cama quando o fogo era apagado.

­–Por que você acha que as bruxas ainda não apareceram? – perguntou sem ser capaz de abandonar a vista.

Jonh deu de ombros não parecendo tão assustado como ela. Mas porque ele estaria? Ele não tinha a visão delas para assusta-lo. Nem lembranças que o impediam de dormir. Queria ter tido a mesma sorte que ele. Ficou pensando o que seria da sua vida sem aquele lobo para ajuda-la.

Porque ele teria feito isso? Não podia achar nenhuma desculpa que não fosse porque estava caçando. Lobos eram criaturas noturnas não?

A floresta foi se silenciando novamente a lembrando daquela mesma noite. Como uma espécie de aviso do perigo que qualquer ser vivo poderia correr. Esforçou-se em ouvir ao menos uma coruja, mas só o vento cortava por entre as árvores causando sussurros que a faziam tremer dentro do seu casaco cumprido.

–Está com frio?

–Um pouco.

Ele deslizou por entre os galhos ficando atrás dela puxando-a contra ele que estava recostado no tronco da árvore.

Permaneceu calada corando violentamente ouvindo as batidas de tambor vindo de dentro do seu peito. Quase podia sentir as dele também em suas costas e sua respiração um pouco fora do normal.

Deus, eu conheço até sua respiração...

Ficou imóvel não querendo quebrar a frágil trégua de paz que pareciam ter no momento. Não tendo tanta confiança nele ficou afastada tanto quanto podia.

Estava desconfortável ao mesmo tempo em que aquecida. Sua respiração saia em espessas fumaças brancas e ficou entretida com elas consciente dele o tempo todo.

Ele se mexeu um pouco enrolando seus braços entorno de sua cintura a puxando mais para perto. Sentiu seu rosto mais quente.

Era bom ficar desse jeito, pensou, não querendo mentir para si mesma.

Quase tão aconchegante quanto um lar. E depois de tudo o que havia acontecido se sentiu segura nesse abraço protetor. Ficou se perguntando se ele sentia a mesma coisa. No que ele estava pensando...

Agradecida pelo gesto que não só a mantinha aquecida, mas a fazia se esquecer das coisas que a assustavam, cobriu- lhe a mão com a sua protegendo do vento gelado.

–Não pense besteiras.

–Não estou pensando.

–É só uma retribuição.

–Eu sei.

Continuaram calados mais um tempo antes dela se sentir inquieta o bastante com o ensurdecedor barulho do organismo que pulsava sangue e a deixava corada.

– Aquele dia... – suspirou sem saber por que tocar nesse assunto agora - eu não estava tentando causar um golpe de Estado.

– Não? – ele indagou curioso

–Não – confirmou- não sabia que as coisas chegariam naquele ponto. Só sentia uma grande curiosidade pelo assunto. Era para ser só um debate politico.

–Alguém sabia. Os oficiais vermelhos alertaram que ocorreria um começo de rebelião naquele lugar.

Os oficiais vermelhos eram apenas comentados superficialmente durante as aulas do colégio. E nada em livros. Ninguém sabia muito sobre eles.

Eram soldados escolhidos dentre a elite, anônimos, que cuidavam da segurança do governo desde a Epidemia e a Guerra. Não podiam ter família, alguns diziam. Outros, de que eram fanáticos religiosos que acreditavam que o Governo era o representante de Deus na Terra.

A verdade era que ninguém ligava o bastante para ir a fundo.

– Eu fiquei pensando como vocês sabiam a hora certa de entrar.

Ele deu de ombros.

– Tínhamos homens lá dentro que nos mantinham informados pelo rádio. Eles não foram muito cuidadosos.

Ela confirmou com a cabeça pensando em como tinha sido fácil entrar. Mesmo se vestindo como um moleque. E depois tinha acontecido aquilo... Abaixou a cabeça querendo não se lembrar em como seu orgulho tinha sido pisado.

Ele parece ter pensado a mesma coisa porque disse:

– Eu achei que fosse amante de algum duque que tinha sido levada para lá como uma brincadeira.

Ela engoliu em seco. Virou-se para olhar em seu rosto. Ele parecia arrependido. Mas quantas vezes ela tinha errado ao julgar?

–Eu devo parecer uma rameira mesmo. Eu fui confundida duas vezes aquelas noite- tentou manter o bom humor em sua voz.

Ele ficou rígido se sentindo culpado. E era o que ela queria. Que ele ficasse ferido tanto quanto ela.

–Não, você não parece. Provavelmente só vi o que eu queria ver.

–Você queria me ver como uma prostituta?

–Você é... bonita - ela podia ver o cérebro dele trabalhando em tentar achar as palavras - Eu queria ter você. Eu a desejei. E geralmente consigo o que quero.

A confissão a deixou sem palavras. Ficou observando seus olhos na tentativa de ver algo. Que ele tivesse tirando sarro com a cara dela. Ou quisesse a deixar em uma posição vulnerável. Ele estava quase corando com desejo emanando de seus olhos. Lembrou-se dele querendo-a fazer sua amante.

Não se achava bonita. Sempre podia se olhar no espelho e achar um defeito que a fazia se sentir feia. E se isso não fosse suficiente sempre tinha as brincadeiras e os olhares na escola que a tinham a empurrado pra baixo cada vez mais e mais em sua mente. A ponto de achar que ninguém podia estar interessada nela.

A escola tinha sido uma época terrível. E graças a deus tinha acabado.

–Ninguém nunca me acertou tantas vezes em tão pouco tempo.

Sentiu vontade de rir.

–Acho que o treinamento de vocês não é lá grande coisa.

–Não. O mundo não está preparado para enfrentar meninas impulsivas e temperamentais.

–Eu não sou temperamental - socou de leve o braço dele.

–Talvez não temperamental... Algo como um trem desgovernável.

Sorriu de leve a fazendo borbulhar de excitação por dentro.

–Então você tem senso de humor?

–Não quando eu posso evitar - ele fechou a cara.

Pegou se perguntando se essa nova face dele a levaria mesmo embora para ser presa. Se isso tudo era uma mentira.

–Quem é você?

– Como assim?

–Você me deixa confusa - fez uma cara feia para ele- Uma hora é o cara que corre atrás de mim e agora o que faz piadas comigo.

Ele expirou:

– "Haveria um mistério sob a superfície da atividade humana? - recitou- Ou seriam as pessoas exatamente ..."

–"...Como se revelam através de suas ações explicitas?" - sorriu - Você realmente não está fazendo um bom trabalho em me fazer entender você.

Não podia nem exprimir a curiosidade de saber como ele conhecia.

–Nem você. Porque quer me entender?

–Para saber se posso confiar em você - decidiu contar o mais próximo da verdade.

Porque a questão era. Não sabia qual era a verdade. Não podia explicar algo que nunca tinha sentido nem remotamente. Essa atração que a fazia perdoar e confiar. Que produzia calor e estremecimento até a ponta dos seus pés.

Não podendo deixar de notar como se sentia mais leve.

Os olhos dele se desviaram para seus lábios inconscientemente. Esse era um sentimento novo. Ter esse controle sobre uma pessoa.

Uma das mãos de Jonh se soltou da sua cintura e acariciou seu rosto lentamente descendo pelo pescoço e contornando sua nuca fazendo uma suave pressão para se aproximar.

Um comichão de borboletas pareciam prender o ar em seus pulmões E ele estava tão perto que ela podia sentir o cheiro do mesmo sabão que tinha usado mais cedo. Quase podia sentir sua barba loira e curta arranhando seu rosto.

–Me desejou como? –sussurrou incapaz de se afastar.

– Queria – sua voz em um timbre rouco - beija-la até seus lábios ficassem inchados o suficiente para não pensar em nada. Me enterrar em você até que eu fosse o centro de tudo e você fosse minha - inspirou - Te marcar e te ter lá quando eu quisesse, onde quisesse...

Sua voz foi abaixando até que ela só podia olhar para seus lábios enquanto ele pronunciava o minha.

Ele estava falando a verdade? Porque ela queria muito que fosse.

Engoliu desviando os olhos. Se sentindo derreter. Nunca tinha experimentado essas sensações só com palavras... Tentou chacoalhar a cabeça para pensar. Não podia ser tão fácil assim. Mas era...

Ele estava parado a escassos centímetros dela, a observando enquanto brincava com seu cabelo.

Podia sentir seus dedos inquietos. Esperando. Deixando-a escolher. Deixando-a dar o primeiro passo. Ela só precisava se aproximar um pouco mais...

A respiração branca de ambos mesclando no ar.

Havia de novo duas vozinhas brigando dentro dela. Sem saber qual escutar.

Pousou a mão em seu peito. Lutando por ar, incapaz de se separar. Mas antes que pudesse falar, pegou algo com o canto do olho.


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Notas finais do capítulo

Tudo isso em uma árvore....



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