Trecho do capítulo anterior:

Orochimaru dirigiu-se ao grande salão do trono, onde Kabuto o estava aguardando para dar-lhe as boas novas.

– E então? Como está a guerra civil? - questionou o mago tranquilamente.

– Apesar de resistentes a guarda real e o povo estão começando a ceder. - respondeu o jovem de cabelos brancos dando um sorriso cínico.

– Ótimo. Logo não só este reino, mas todo o país do fogo será meu. - vangloriou-se Orochimaru, enquanto sentava-se no trono, e em seguida apanhava a coroa sobre a almofada na cadeira que havia ao lado, e colocava-a em sua cabeça, dando um sorriso cruel.

Neste momento adentraram o grande salão, dois guardas de Orochimaru que carregavam um objeto comprido escondido sob um manto negro.

– Ele foi encontrado, majestade. - disse um dos guardas retirando o manto negro e revelando um grandioso espelho.

O objeto tinha o formato de um pentágono, era emoldurado com uma moldura feita de cobre, a qual continha as extremidades arredondadas, nela havia variadas formas esculpidas entre arabescos, folhas e olhos rubros que pareciam piscar, devido ao seu intenso brilho. O vidro do espelho apesar de ser totalmente negro, refletia todo o ambiente para o qual estava voltado.

Os olhos do mago brilharam ao se deparar com o estranho objeto. Maravilhado Orochimaru levantou-se de seu trono e aproximou-se do espelho negro.

– Então é este o... - começou Kabuto reconhecendo o objeto.

– Lendário Espelho Premonitório dos Uchihas. - completou o mago satisfeito.

– Então ele existe mesmo, não era somente uma lenda. - comentou o jovem de cabelos brancos surpreso.

– Meu caro Kabuto, as lendas tem sempre um fundo de verdade. - replicou Orochimaru calmamente - E felizmente para mim me aliei a feiticeiros habilidosos.

– Mas como os feiticeiros da Akatsuki conseguiram adentrar o clã isolado dos magos Uchiha? - questionou Kabuto - Isso é praticamente impossível.

– Não para nós. - disse um jovem de cabelos louro compridos presos em um rabo de cavalo, adentrando o salão, juntamente com mais oito pessoas. Todos vestiam longas túnicas pretas, das quais seis possuíam nuvens vermelhas costuradas nelas - E não só conseguimos como lhe trouxemos um presente, senhor Orochimaru. - vangloriou-se.

– Não fale como se fosse o líder do grupo, Deidara. - comentou um homem de aparência incomum, sarcasticamente. Sua pele era acinzentada, ele possuía guelras e olhos de tubarão.

– Não enche, Kisame. Só estava informando nossos feitos ao senhor Orochimaru. - rebateu Deidara com raiva.

– Que presente me trouxeram? - perguntou o mago curioso, ignorando a discussão entre os dois feiticeiros.

– Konan. - disse um jovem de cabelos alaranjados, dirigindo-se à única mulher do grupo que se encontrava ao seu lado. Era uma bela jovem que possuía cabelos arroxeados curtos e olhos em tom mel. Ela assentiu e dirigiu-se a duas pessoas que estavam um pouco atrás, cujas cabeças se encontravam cobertas com capuzes negros.

Uma delas possuía uma altura mediana e a outra era menor.

Konan empurrou levemente as duas para a frente e retirou os capuzes, revelando seus rostos.

Assim que fitou a face pálida dos dois garotos de cabelos negros, o sorriso de Orochimaru se escancarou. Tratavam-se de um adolescente e um menino de mais ou menos 8 anos de idade. Eles se pareciam muito. O garoto mais velho possuía cabelos compridos, presos em um rabo de cavalo, enquanto o outro, possuía os cabelos mais curtos, arrepiados na parte de trás.

– Quem são esses garotos? - perguntou Kabuto.

– Os filhos de Fugaku Uchiha, líder do clã Uchiha. - respondeu o mago satisfeito.

Neste capítulo:

Conforme caminhava, Naruto observava as luzes bruxuleantes produzidas pelas tochas que se encontravam dispostas em alpendres presos às paredes da passagem, tentando encontrar uma forma de contar sua história aos dois garotos que seguiam seus passos.

Passara uns 20 minutos desde que eles haviam entrado naquele lugar, durante o trajeto Shino e Kiba puderam notar que o garoto louro os guiava através de várias curvas, e parecia que quanto mais eles andavam mais eram condicionados para baixo, já que podiam sentir a leve inclinação do chão conforme caminhavam.

Dessa forma os garotos podiam imaginar que Naruto falava a verdade e estava mesmo os guiando para as masmorras, onde se encontravam presos Hinata e seu pai.

– E então não ia nos contar sua versão dos fatos? - perguntou Kiba impaciente com o silêncio do louro.

– É que não sei bem como começar... - respondeu Naruto sinceramente olhando de esguelha para o garoto de cabelos castanhos.

– Que tal pelo começo? - zombou Kiba.

– Quer parar de ser irritante, Kiba? Deixe-o em paz. – indagou Shino seriamente, fazendo com que o garoto se calasse instantaneamente e fizesse uma cara emburrada.

Naruto não mentira, ele realmente não sabia por onde começar sua história, nunca havia contado seu passado a ninguém, além do mais era muito doloroso recordar-se dos terríveis momentos que viveu em sua antiga vila, por isso era tão difícil para ele contar tudo àqueles garotos.

Mas o garoto bem sabia que se não o fizesse dificilmente conquistaria sua confiança. E ele queria mais do que tudo provar a eles que não estava de acordo com os planos de Orochimaru. E que estava disposto a ajudar Hinata.

O olhar decepcionado da doce menina não saía de sua mente. Ele não queria mais ver esse tipo de expressão em sua face, e só havia um jeito de começar a provar que estava do lado dela. Contando a verdade a seus amigos.

Então Naruto respirou profundamente e decidindo contar o que se passara, começou a falar.

– Eu nasci em uma vila próxima a Konoha, a Vila do Redemoinho (Uzushiogakure). – começou o louro um tanto apreensivo – Minha mãe pertencia a um poderoso clã de magos do fogo, os Uzumakis, já meu pai pertence a um clã de magos do relâmpago, os Namikaze, por isso eu posso usar a magia do fogo azul, que é uma técnica que une as habilidades dos dois clãs, como vocês viram. – explicou Naruto recordando-se de quando ajudara os garotos a se livrarem das cobras de Orochimaru, enquanto Shino e Kiba se mantinham em silêncio, ouvindo tudo o que ele falava.

– E foi por isso que Orochimaru veio atrás de mim. Ele é um poderoso feiticeiro cientista, que tem como objetivo unir magias raras e roubá-las para si, a fim de se tornar ainda mais poderoso. – continuou Naruto tomando um tom de voz mais sombrio - Um dia estava jantando com meus pais quando ele e Kabuto apareceram e fizeram uma proposta a eles para me entregar em troca de deixar a vila em paz.

– E eles te entregaram? – perguntou Kiba.

– Não, eles nunca fariam isso. – disse Naruto seriamente sentindo-se ofendido pela pergunta do garoto – Eles lutaram por mim. No entanto sua luta resultou na destruição de nossa casa que ficou tomada pelo fogo. Meus pais e eu conseguimos sair, mas fora dela encontramos muitas casas destruídas, Orochimaru fez algumas pessoas da vila de refém, enrolando-as com suas cobras venenosas. – contava o garoto com o semblante amargurado, o qual não era visto pelos dois meninos que o seguiam em silêncio – Então minha mãe sussurrou para que meu pai fugisse comigo e a deixasse para trás, enfrentando-os sozinha. Meu pai possui uma magia poderosa pertencente ao extinto clã dos magos relâmpago que lhe permite transportar-se de um lugar para o outro rapidamente. – explicou Naruto.

– Então sua mãe também poderia ter fugido com vocês. – comentou Kiba, não conseguindo resistir.

– Sim, meu pai e eu imploramos para que ela fosse conosco, no entanto ela apenas disse que “apesar de que não devemos medir esforços para salvar aqueles que amamos, de nada adianta se essa ajuda for manchada com sangue inocente” – disse o louro com lágrimas em seus olhos – Ela quis se sacrificar para ajudar os habitantes da vila. Meu pai quis ficar ao seu lado, mas ela lembrou-lhe que ele deveria me proteger, então meu pai não teve outra escolha senão deixá-la e fugir comigo. Essa foi a última vez que vi minha mãe.

– Sinto muito. – comentou Shino seriamente com sinceridade.

– Deve ter sido muito duro pra você. – acrescentou Kiba, sentindo compaixão.

Naruto não respondeu aos comentários dos garotos, mas um pequeno sorriso tristonho se formou em seus lábios. Tomando fôlego, ele continuou seu relato.

– Meu pai e eu fugimos para a floresta, onde ficamos alguns dias, sem ter para onde ir. Até que meu pai conseguiu contatar seu antigo mestre e amigo e nos refugiamos em sua casa. Ele se chama Jiraya, é um homem bem engraçado, me tratava como um verdadeiro neto. Ficamos em sua casa por mais de um mês. No entanto um dia, quando saí sozinho para a floresta fui capturado por Kabuto que me levou ao esconderijo de Orochimaru. Meu pai tentou me salvar, mas foi capturado também e assim Orochimaru tem me obrigado a participar de seu plano em troca de poupar a vida de meu pai. Foi por isso que menti para vocês. – disse o garoto sentindo-se envergonhado.

– E o mestre do seu pai? Ele deve ser poderoso, né? Por que não ajudou vocês? – indagou o garoto de cabelos castanhos.

– Não sei. Desde que fui capturado por Kabuto não o vi mais. – respondeu Naruto seriamente – Estou arrependido por não ter contado tudo a Hinata quando tive tempo, mas meu pai... não queria que nada de mal acontecesse a ele. – explicou o garoto com a voz embargada.

– Eu entendo, mas problema é que esse tal de Orochimaru não parece ser nada confiável. – comentou Shino seriamente – Ele foi capaz de enganar o rei e a todos do reino fingindo ser uma princesa, duvido que ele cumpra a promessa de não fazer nada a seu pai mesmo que você o ajude.

Os olhos de Naruto se arregalaram ao ouvir as palavras do garoto de armadura.

–Tem razão. – concordou o louro se sentindo culpado - Fui covarde, mas lembrei-me das palavras de minha mãe, não vou deixar que meu medo me impeça de ajudar Hinata, por isso vou fazer o que é certo, irei salvá-la. – disse ele com convicção surpreendendo Shino e Kiba - E depois tentarei de todas as formas, ajudar meu pai, não aceitarei mais as chantagens de Orochimaru. Dattebayo! – terminou formando um punho com sua mão erguida, em sinal de confiança.

– Acredito em suas palavras. – disse o garoto de armadura seriamente – E quanto a você, Kiba, acha que podemos confiar em Naruto? – perguntou voltando-se ao garoto de cabelos castanhos.

– Confio no seu julgamento, Shino. – disse Kiba seriamente – E você, Akamaru? – o garoto voltou-se ao pequeno cão branco que caminhava ao seu lado em silêncio, até o momento.

Akamaru soltou um leve latido, como se estivesse concordando com seu companheiro.

Um sorriso animado se formou nos lábios de Naruto.

– Obrigado pela confiança. Prometo fazer jus a ela. E agora? Prontos para salvar a princesa? – perguntou olhando para trás lançando um sorriso sugestivo para os dois garotos, que olharam surpresos para frente dele, notando que enfim o caminho havia terminado.

– É aqui? – perguntou Kiba observando a parede à frente deles.

– Sim. – respondeu o louro satisfeito – Olhem por este duto de ar e poderão comprovar com seus próprios olhos.

Naruto deu espaço para que os garotos pudessem passar a sua frente e olhar através do orifício da parede. Kiba e Shino viram que de fato estavam nas masmorras, ao observar o corredor cheio de portas de metal. Mesmo nunca estando nessa área do castelo eles sabiam sua descrição através do pai de Shino que já levara alguns contraventores para ela.

– Então podemos sair para procurar Hinata? – perguntou Kiba ansioso para rever sua preciosa amiga.

Mas antes que Naruto respondesse, os garotos ouviram o som de passos se aproximando.

Kiba e Shino continuaram observando através do duto de ar, enquanto que o louro se manteve atrás impossibilitado de ver alguma coisa, mas com os ouvidos bem atentos.

– Aqui estamos... seu novo lar. – disse uma voz irônica que Naruto logo reconheceu como sendo a de Kabuto, seguida de um rangido enferrujado que o garoto imaginou que fosse uma porta se abrindo.

– E quanto a Sasuke? – perguntou uma voz jovial que o garoto não conhecia.

– Acha que somos tolos? Seu irmão é nosso trunfo. Pensa que não sabemos que ele foi a razão para você ter vindo junto com a Akatsuki? – ironizou Kabuto.

– Desculpa, Itachi. Se eu não tivesse insistido para que você me desse aulas na floresta... talvez nossos pais ainda... – disse uma voz infantil chorosa.

– Não foi sua culpa, Sasuke. Você não mandou aqueles feiticeiros a nossa vila. – interveio Itachi.

– Mas...

– Vai dar tudo certo. Não se preocupe irei te proteger. – disse o jovem calmamente.

– Vamos parar com sentimentalismos que tenho coisas mais importantes a resolver. – disse Kabuto de forma brusca – Vamos entre aí.

Naruto pode ouvir o som de passos cambaleantes, parecia que Kabuto havia empurrado o jovem para dentro da cela, e em seguida ouvi o som da porta ser fechada bruscamente.

– Se tentar alguma coisa, já sabe o que acontecerá com seu irmão. – ameaçou Kabuto – Sei que ao contrário de você ele ainda não despertou seus poderes.

– Não vou fazer nada. – disse Itachi simplesmente.

– Certo. Bem quanto a você não quero ter preocupações desnecessárias, então vai ficar na mesma cela do rei e a princesa. – disse Kabuto.

Ao ouvir isso os três garotos se sobressaltaram, mas mantiveram-se em silêncio esperando o que viria a seguir. Escutaram o som de outra porta que parecia estar próxima se abrindo.

– Entre aí! – ao dizer isso ouviram o som de algo batendo contra o chão, Naruto cogitou que com certeza deveria ser o menino que havia sido empurrado pelo cruel mago de óculos.

– O que significa isso, Kabuto? – o louro reconheceu a voz de Hiashi.

– Apenas trouxe um companheiro de cela para vocês.

– Kiba e Shino estão bem? – quando ouviu a voz da princesa Naruto sentiu seu coração estremecer.

– Devem estar. Todo o povo está ansiosamente aguardando o pronunciamento do novo rei. – responde Kabuto com uma voz cínica.

– E... quanto a Naruto? – perguntou a garota timidamente.

Os olhos do louro se arregalaram, ele surpreendeu-se por Hinata ainda ter consideração com ele.

– Por que se preocupar com alguém que traiu sua confiança? – perguntou o mago ironicamente.

– Naruto não parece ser uma pessoa má. – disse a princesa com uma voz gentil e sincera que comoveu Naruto profundamente.

– Não se engane princesa, todo ser humano tem sua face má. Um dia você aprenderá isso. – rebateu Kabuto cruelmente.

– Não diga coisas desnecessárias a Hinata. – esbravejou Hiashi.

– Não pode manter sua filha à margem da maldade desse mundo para sempre, majestade. Isto não é um conto de fadas. – disse, soltando uma longa risada e fechando a porta. - Quando chegar o momento nos veremos novamente. – acrescentou com sua voz cínica.

E assim Naruto só pode ouvir seus passos afastando-se cada vez mais.

Quando não podiam mais ouvi-los Kiba e Shino voltaram-se para ele.

– Conseguiram ver alguma coisa? – perguntou o louro baixinho.

– Só conseguimos vê-los do tronco para baixo, o único rosto que conseguimos ver foi daquele garoto de cabelos negros que parecia se chamar Sasuke. – comentou Kiba.

– O que pretende fazer agora? – perguntou Shino seriamente a Naruto.

O louro fechou seus olhos momentaneamente, concentrando-se e pensando em tudo o que ouviu, abriu-os com confiança e encarou os dois garotos à sua frente.

– Me ouçam com atenção...