– LISTING! – ouvi uma voz aguda gritar, seguido de um barulho muito alto.

Acordei rápido devido ao enorme susto que havia levado. Olhei em volta e muitas pessoas me encaravam, todas elas com cara de riso, inclusive Bill, Tom e Gustav. O sorriso do Bill era tão bonito que eu quase fiquei parada olhando para ele. Não conseguia entender como eu nunca havia reparado na beleza desse garoto antes.

– Lamento atrapalhar a “hora do soninho” – a professora fez aspas com as mãos –, mas os seus roncos estão atrapalhando a minha aula. Vá lavar esse rosto para acordar.

Levantei relutante e segui me arrastando para fora da sala. Os corredores estavam vazios e silenciosos, me deixando com vontade de sentar em um canto e dormir até o final da manhã.

Quase havia entrado no banheiro feminino, mas percebi a tempo de mudar. Não era minha primeira vez no banheiro masculino e ele era exatamente como me lembrava, sendo que não era muito diferete do feminino, então me sentia mais familiarizada com o ambiente, que estava vazio, assim como os corredores.

Após lavar meu rosto, me lembrei que não havia ido ao banheiro naquela manhã nem mesmo para escovar os dentes, e começei a sentir a vontade de urinar vindo. Era estranho, porque mesmo que eu quisesse “segurar” para ir em casa, por exemplo, eu não conseguiria. Era agora ou agora.

Depois de conseguir fazer o devia sem grandes problemas, segui novamente até a pia. No espelho havia um pedaço de papel grudado, que não estava ali 2 minutos antes. No papel estava escrito somente uma frase: “Você está no banheiro errado, Georg. Ou Mariana, como preferir.”

– Essa não. – deixei escapar e corri até a porta do banheiro. Não havia nem sinal de gente por ali. Aquele bilhete era para mim, não tinha como não ser. Eu era Mariana.

Arranquei o bilhete e o joguei fora, após amassar bem. Quem quer que fosse que havia colocado o bilhete no espelho, sabia que eu era, na verdade, uma garota. Mas quem?

Voltei desanimada para a sala de aula, intrigada com o bilhete. Estava mais acordada e pensativa do que o normal, o que preocupou um pouco.

– Tem certeza que está tudo bem? – Bill perguntou. Além de ser lindo, era fofo. Que isso, Mariana, pare! Você está no corpo de um garoto, não pode ficar pensando essas coisas!

– Sim. – respondi e abri meu caderno, fingindo que iria copiar o conteúdo que estava no quadro.

Exatamente na folha em que iria escrever coisas aleatórias, havia outro bilhete grudado. “Espero que esteja gostando de ser homem”. Olhei para trás, pois talvez fosse uma brincadeira sem graça do Tom, mas ele dormia com seu boné sob o rosto. Essas coisas a professora não vê, não é?!

– Bill, alguém mexeu no meu caderno enquanto eu estava no banheiro? – perguntei. Se alguém havia mexido, só podia ter feito nesse intervalo de tempo, já que antes, eu estava dormindo sobre ele.

– Não, Georg. Por quê? – ele franziu a testa.

– Nada, não. É que tem umas coisas escritas, mas deve ter sido o Tom outro dia. – menti.

Folheei o caderno à procura de mais destes bilhetes misteriosos, mas aparentemente não tinha mais nenhum lá. Eu precisava descobrir de onde eles estavam vindo e quem estava mandando. Como alguém poderia saber que eu não era o Georg por dentro se todos me conheciam como sendo ele?