- Bill? Psiu, Bill? – sussurrei, e ele me olhou. Nunca havia reparado, mas ele possuía belos olhos. – Por que a Mandy tá olhando tanto pra cá?

A verdade é que isto me estava encomodando muito. Talvez não fosse para mim, poderia ser para o Tom, que já havia voltado para seu lugar atrás de mim e parecia dormir, mas eu me sentia, no mínimo, vigiada.

- Desde que você a pegou, ela ficou apaixonadinha por você. Você não lembra? – ele respondeu.

- Eu peguei ela? – perguntei meio em choque. Ela era bonita, mas não tinha nada além de cabelo na cabeça, assim como a maioria das garotas do colégio.

- Ah, fala sério, Georg! Você pegou metade da população feminina desse colégio! – Tom levantou a cabeça, meio revoltado. – A outra metade, eu que peguei.

“Eu sou uma vadia!”, pensei. “Ah não, sou homem. Sou só pegador mesmo.”

- E eu e o Bill? – Gustav se manifestou.

- As que vocês pegaram, eu e o Georg também pegamos. – Tom respondeu, sorrindo orgulhoso.

- Eu sou um pegador, então? – tentei assimilar as informações. Como garota, botava medo em todos os garotos; Como garoto, eu pegava todas?

- Isso aí. Na verdade, nós somos. – Tom esticou a mão e, como eu fiquei sem saber o que fazer, ele pegou a minha e me fez fazer um tipo de cumprimento estranho. – Cara, vai buscar sua memória em casa.

- Se eu pudesse, já tinha ido. – falei para dentro e voltei a prestar atenção na aula.

Alguns minutos depois, a aula acabou e fomos liberados para o intervalo. Nós quatro, assim como todos os demais alunos, saímos em direção à cantina, procurando algo para comer.

De fato, Bill, Gustav, Tom e eu éramos populares entre as garotas. Não entre todas, claro, porque haviam algumas que nos olhavam com a mesma cara que eu fazia ao olhar os três garotos; Ou seja, um olhar que diz “estranhos”. Mas tirando estas, as outras passavam sorrindo para nós e, algumas, até piscando.

Já perto da cantina, Ashley apareceu na minha frente e abriu um sorriso discreto. Logo em seguida, saiu sem dizer nenhuma palavra.

- Não acredito que eu peguei ela. – pensei em voz alta.

- O QUÊ? – Tom me parou, surpreso.

- Quando isso, Georg? – Bill perguntou, no mesmo estado.

- Foi ontem? Por que você não contou antes? – Gustav também estava chocado.

- Eu não peguei? – estava confusa.

- Você acabou de dizer que sim. – Bill disse.

- Eu não lembro. – expliquei. – Quando ela chegou toda... Eu achei que...

- Ela tava te enrolando, Georg. – Gustav disse.

- É, tudo porque ela sabia que você é doido por ela. – Tom manifestou-se, ainda chocado.

Eu era apaixonado por ela? Tinha descoberto que tinha até mau gosto pra garotas. Alguém me acorda desse pesadelo.

- Vocês falaram que eu pego todas. Vocês confundiram a minha cabeça. – falei com uma careta. – Ficam aí se aproveitando da minha perda de memória para me confundir.

- Na verdade, Georg, você não é pegador. – Tom começou sério. – Você é gay e nós estávamos tentando te mudar, mas o seu verdadeiro eu fala sempre mais alto.

“Eu? Gay? Com esse corpão? Tendo um...”, cortei meu pensamento antes que começasse a pensar o que não devia com o meu eu masculino. Bill e Gustav tentavam segurar o riso enquanto Tom se mantinha sério.

- É? E quem eu estou pegando? Você, Tom? – perguntei divertido, fazendo Bill e Gustav rirem.

- Sai pra lá, Georg. Não curto essa fruta, não. – Tom falou com uma careta para mim.

- Ah Tom, mas eu te quero, vem cá. – falei com cara sedutora, tentando puxá-lo para perto de mim, mas ele saiu correndo para se esconder atrás de Bill e Gustav, que estavam quase rolando de rir.

- Nunca mais faça aquilo de volta, Georg! – Tom falou depois de um tempo. – Se eu tiver pesadelos com você esta noite...

- Então eu não peguei a Ashley? – perguntei, mudando de assunto.

- Não. – Tom respondeu.

- Não sabemos. – Bill completou. – Ontem vocês dois saíram para “conversar”. – ele fez aspas com a mão.

- E como o bonitão aí perdeu a memória, nós só ficamos na curiosidade. – Tom terminou.

- E eu queria pegar ela? – perguntei.

- Claro! Você é apaixonado por ela faz anos. – Gustav respondeu.

- Mesmo?

- Sério Georg, essa sua perda de memória tá me irritando profundamente. – Tom disse sério, fazendo eu, Bill e Gustav rirmos.