Estávamos no meio do caminho para o bar. Eram umas oito horas da noite, já escurinho, mas com muita gente nas calçadas. O céu estava sem nuvens, dava para ver poucas estrelas, e não fazia frio, foi uma noite quente.

Descendo a rua, eu estava andando em cima do meio fio tentando me equilibrar, sempre que ameaçava em cair, Saul me segurava, ele estava à minha direita. Steven andava saltitante à minha esquerda:

- Demi... - Steven disse- Eu nunca vi a sua mãe... Ela trabalha o dia inteiro?

- Praticamente- respondi sorrindo- Ela vai de manhã para o restaurante e vem pra casa na hora do almoço, mas logo depois ela volta para o trabalho, ficando por lá até umas seis ou sete horas da noite.

- Hm... Então por que ela não estava lá na hora em que a gente foi te buscar?

- Hoje a minha mãe teve que ficar até mais tarde, está acontecendo uma festa naquele restaurante, e ela teve que servir...

- Ah... Você fic... - Saul parou de falar para me segurar- Você fica sozinha o dia inteiro?

- Sim- respondi depois de me equilibrar de novo sobre o meio fio- A maioria das vezes é legal ficar sozinha, mas tem hora que é um saco... Minha bicicleta me ajuda nas horas de tédio.

- Minha bicicleta também me ajuda muito- disse Saul sorrindo- Às vezes eu participo de umas competições, sabe?

- Sim, já te vi em uma... Você corr...

Quase falei para Saul que o tinha observado, mas cortei a minha frase ao meio. Parecia não ter muita importância a observação, mas isso me deixava constrangida, não sabia bem o porquê, então tentei evitar falar sobre isso.

- Ahn... Quero dizer... É...- tentei corrigir a minha frase- Eu já vi uma competição dessas... São bem maneiras... Os ciclistas correm rápido mesmo...

- É- Saul sorriu de lado- São legais pra cacete.

Não sei se ele entendeu o que eu havia dito na primeira frase, podia jurar que Saul sabia do que eu estava falando, mas no momento seguinte já não tinha certeza... Era meio difícil decifrar aquele menino:

- São legais mesmo!- Steven exclamou- Slash já ganhou várias, Demi, você tem que ver!

Concordei com um sorriso:

- Bem- Steven parou e disse- É logo ali na frente!

Aquele bar parecia legal, do lado de fora estavam várias pessoas, umas crianças e umas adultas. Parecia que no boteco rolava de tudo.

- Mas, meninos...- iniciei a minha pergunta- Só pode entrar aqui quem tem mais de 21 anos não é?

- Sim, mas relaxe, a gente tem tudo no esquema.

Fomos andando até o bar, quando nós fomos chegando mais perto, avistei Phill, o dono da loja de discos. Nos aproximamos dele:

- E aí garotos!- disse Phill dando tapinhas nas costas dos meninos- E garotinha... Demi, não é?

Fiz que sim com a cabeça e sorri. Phill disse para entrarmos logo porque o lugar estava começando a encher. Passamos sem problemas pela segurança, podíamos ter 12 e 13 anos, mas não parecíamos criançinhas. Saul e Steven até que eram altos para a idade, eu era só um pouquinho menor do que eles.

Entrando no local, uma luz vermelha encheu o aposento, várias mesas estavam distribuídas em diversos lugares. Lá tinha um palquinho com os instrumentos já em posição. Garçons passavam para lá e para cá. Observei aquele ambiente todo. “Gostei!” Logo que olhei para o balcão das bebidas, Steven estava sentado em um dos bancos pedindo algum drinque para o barman que estava atrás do balcão. Ri e fui até ele:

- Já, Steven?

- Claro! Temos que aproveitar, Demi!

Steven pediu uma bebida para mim também. Logo Saul se juntou a nós e pediu outra para ele. Começamos a jogar conversa fora, estava tudo legal até que uma mulher... Não, corrigindo: Até que uma menina de vestido curto e de cabelos vermelhos apareceu entre mim e Saul:

- OOOOOOOOOOOOIIIII Slash! Como vaaai?

Disse a menina ruiva se jogando pra cima de Saul:

- Ah, oi Lindsay- Slash sorriu- Estou bem... Conhece a Demi?

Saul apontou para mim e eu dei um “Oi” seco à menina. Lindsay só olhou para mim e me deu um sorrisinho falso, que logo se transformou em cara de desprezo. Virei para Steven e abri a boca, fingindo que eu estava vomitando, e o menino riu junto comigo.

Nossas risadas foram cortadas pela voz de alguém que falava pelo microfone lá do palco. O tablado ficava no final do aposento. Estávamos sentados ao balcão, e atrás de nós não tinha nada, era de livre movimentação. Logo depois tinham algumas fileiras de mesas, postes de poledance e sofás, em seguida havia o palco.

Eu não entendi o que o cara do microfone tinha falado, mas concerteza ele estava introduzindo a banda que ia entrar no tablado. Disse a Steven que eu ia para a frente do palco. Me levantei e fui até lá.

A banda começou a tocar e eu me sentei em um banco vazio que havia por perto. Eles estavam fazendo um cover da música Rock And Roll do Led Zeppelin, era muito legal, comecei a cantar junto e até pensei em chamar Saul para ver aquilo, mas lembrei-me que ele estava com aquela ruivinha oferecida. Então pensei em procurar Steven, mas ele não sairia daquele balcão de jeito nenhum... “Foda-se” Pensei. “Vou ficar aqui curtindo sozinha... já sou acostumada a isso mesmo...” “It’s been a long time, been a long time, been a long lonely, lonely, lonely, lonely, lonely time…” Levantei e comecei a dançar.

Passados uns 40 a 50 minutos de apresentação, resolvi ir ao banheiro, que ficava do lado do balcão. Passei por lá e vi que Steven estava conversando com uma mulher, não avistei Saul... Mas não dei muita importância e entrei logo no banheiro.

Lavei o rosto e fiz um gargarejo com água. Eu tinha ingerido algumas bebidas que os garçons me serviram (disseram que eram por cortesia da casa), gargarejei porque não queria que o cheiro de álcool ficasse em minha boca... por causa da minha mãe.

Uma mulher loira e bonita entrou no banheiro e começou a falar comigo:

- Mas menina, que roupa é essa?- Disse a mulher vindo até mim, tentando ajeitar a minha blusa, na certa ela estava bêbada- Deixe eu te ajudar.

A mulher louca começou a dobrar a minha blusa, fazendo com que a minha barriga ficasse para fora. Deu uma bagunçada no meu cabelo, jogando ele de lado:

- Ei!!- protestei- O que você está fazendo???!

- Fique quieta, eu sei o que eu estou fazendo, docinho. Você é linda, tem que se valorizar- Ela sorriu de um jeito louco para mim- Aqui, tome isto. Vá para o box do banheiro e se divirta.

Ela estendeu um pacote de papel branco com alguma coisa dentro para mim. Não deu nem tempo de pensar e a moça me empurrou para o box e fechou a porta:

- Me avise quando terminar, lindinha!

“Louca” pensei. Já que não havia saída, resolvi abri o pacote e ver o que tinha dentro... Era tipo um pó... Pó branco... Eu sabia o que era aquilo... Cocaína.