"NÃO, DEMI, NÃO!" Pensei balançado a cabeça para os lados "Mas e se... NÃO, DEMI!".

Encostei-me na parede do box daquele banheiro imundo:

- Docinho!? Vamos logo!- Aquela loira doida ainda estava lá me pressionando! Por que ela não calava a boca?

"Merda, merda, merda". Passei a mão sobre minha cabeça:

- J... Já estou indo!

- Relaxe, bonitinha- disse a mulher com uma voz fina e pastosa- É como andar de bicicleta!

Bicicleta!

Nesse instante comecei a me lembrar daquele dia em que eu estava deitada na minha cama, pensando como seriam as drogas. Admiti que elas eram interessantes, mas que também eram ruins. "É como andar de bicicleta... Será?" Aquela moça não deveria ter dito aquilo, pois me atraiu ainda mais, eu sabia que era só um modo de falar, porém não pude deixar de pensar se a sensação de andar de bicicleta fosse parecida com a droga que estava em minhas mãos.

- É só cheirar, amorzinho!- a voz da irritante mulher chegou aos meus ouvidos e ficou retumbando em meu cérebro "Cheirar, cheirar, cheirar..."

"Não Demi!... Cheirar, cheirar, cheirar... NÃO!... Bicicleta, cheirar, cheirar... NÃO!" A moça loira bateu na porta do box, dizendo para eu ir logo "...cheirar, cheirar...". Os meus pensamentos se enroscaram uns aos outros ainda mais "Bicicleta, cocaína, NÃO, cheirar, cocaína, bicicleta, cheirar, cheirar, cheirar cheirar, cheirar...". Não aguentava mais aquela azucrinação na minha mente! "Foda-se!" Então balancei a cabeça freneticamente e aproximei o papel do meu nariz, cobri uma narina com o dedão, respirei fundo e inalei um pouco daquele pó. Tossi quando senti aquela substância entrando em mim, funguei e chacoalhei a cabeça:

- Aargh!

- Pronto, querida?- disse a mulher louca abrindo a porta do box- Agora sim!

A moça deu uns tapinhas em minhas costas e sorriu, foi embora como se aquilo fosse algo que acontecesse com freqüência. Qual era a daquela mulher?

Caminhei até à porta e saí do banheiro. Steven não estava mais no balcão das bebidas, e Saul estava ali perto com Lindsay, aquela ruiva arrogante "Puta!". Resolvi nem dar bola e voltei para a frente do palco.

Até então eu não havia sentido nada que viesse da droga. Sentei-me em um sofá vazio e um garçom serviu-me uma bebida. Olhei em volta e vi que Steven estava vido até mim, completamente bêbado! Assim que ele sentou ao meu lado, senti uma euforia, olhei para ele e disse:

- Vamos dançar, Stevie!

Peguei o menino loiro pelo braço e o arrastei até o meio do aposento. Senti meu coração acelerando, senti bem-estar e alegria, senti um poder tomando conta de mim. Subimos em uma mesa vazia e dançamos como nunca, dançamos como loucos, bêbados e drogados! Algumas pessoas ficaram nos encarando e outras se juntaram a nós. Me senti o máximo.

No meio daquela algazarra, ouvi alguém gritando nossos nomes:

- Demi!? Steven!?- Era Saul.

Vi o garoto correndo em nossa direção. Logo ele tinha puxado Steven para baixo, fazendo-o descer da mesa. Estava esperando Slash me puxar também, mas eu senti uma mão enorme me puxando para o lado oposto em que o menino estava:

- Ah!! Então eu achei você!- ouvi a voz de um homem, ela era familiar...- Qual é o seu nome em?- disse o homem segurando o meu braço.

- Demi, Demi Melton- disse casualmente sem olhar para o rosto do indivíduo. Eu ia começar a dançar de novo, mas o homem apertou o meu braço com força... Estão olhei para sua face e o reconheci. Arregalei meus olhos. Ele era o homem dos olhos cinzentos e medonhos, era o homem que cheirava a tabaco e álcool, era o homem que tentou me pegar!

- Melton?

O cenho triunfante do cara se transformou em um de espanto, como se ele tivesse visto algum fantasma:

- Melton?!- o homem repetiu.

Nesse instante senti outra mão me puxando pelo braço, era a de Saul:

- Vamos, Demi!

Segui Slash e Steven, segurando em suas mãos. Passamos entre a multidão rapidamente. Quando chegamos à porta, olhei de volta para o homem... Ele estava no mesmo lugar, estático, me acompanhando com o olhar assustado. Saímos do bar.

- Cara, vocês parecem dois bebês!- disse Saul nos arrastando pelos pulsos.

- Para onde você está nos levando, Slash?- disse Steven com uma voz arrastada.

- Vou levar para a minha casa, é o jeito né, olhem o estado de vocês! Que sorte que não tem ninguém lá!

Em um minuto chegamos no apartamento de Saul. O menino nos levou para seu quarto e falou para esperarmos lá enquanto ele ia para a cozinha pegar copos d'água. Eu estava mexendo na iguana que havia na escrivaninha quando Steven quebrou o silêncio:

- Ele gosta muito de você- falou ele lentamente com uma voz pastosa- Gosta mesmo... Mesmo, mesmo...

- Quê? Do que você está falando, Stevie?

O garoto não respondeu nada, só se jogou na cama de Saul e dormiu.

Será que ele estava falando sério? "Não, claro que não" Ri. "Ele só está bêbado, Demi..." Nesse momento, eu senti um sono devastador. Toda a euforia tinha passado, toda a alegria e poder foi embora, o compasso de meu coração voltou ao normal, meus olhos começaram a pesar. Senti um enorme cansaço, poderia dormir ali mesmo. Bocejei e senti mais sono ainda. Me joguei na cama ao lado de Steven e ouvi Saul se aproximando. Fechei os olhos e senti um peso na ponta da cama, o garoto sentou nela e suspirou. Não sabia eu dizer se era um suspiro triste ou um alegre... Senti as pontas dos dedos do menino encostando suavemente em meu tornozelo, a mão se mexeu lenta e repetitivamente para um lado e para o outro, fazendo de carinho, aconchegante e sereno... Adormeci.