Saul olhou para mim e deu um sorriso envergonhado. Eu podia ter sorrido também, mas resolvi dizer outra coisa:

- Por que você fez isso?! – perguntei me soltando de seus braços – Eu ainda estou brava contigo!

- Ué – Saul riu – Se você não quisesse não teria continuado

.- Cala a boca! – ri.

Sentei-me no sofá abraçando minhas pernas. Saul se sentou ao meu lado e não disse nada. Eu não sabia o que dizer, e provavelmente o menino também não. Após de alguns segundos em silêncio Saul falou:

- É... – o menino deu uma pequena risada - Eu ainda sou quase perfeito?

Prendi a respiração surpresa:

- Você ouviu?! – peguei uma almofada do sofá e joguei nele – Sua mãe não te ensinou que é feio ouvir conversa do outros?!

- A culpa é do Steven - Saul riu - Ele que me chamou!

- Eu vou acabar com a vida desse moleque! – levantei do sofá – Quando ele volta?

- Sei lá, talvez...

Saul foi interrompido quando a porta de entrada foi aberta, era Steven.

- Você! – disse eu apontando para a cara do garoto que tinha acabado de entrar na sala – VOCÊ! SEU VERME! EU VOU TE PEGAR!

O menino saiu correndo quando me viu indo em sua direção. Ele pulou por cima do sofá e foi correndo para seu quarto, e eu fui logo atrás. Steven quase conseguiu fechar a porta, mas cheguei antes e o empurrei, e em cada pausa de minhas palavras eu dava pequenos socos no braço do garoto:

- Por que você contou à ele? Você me prometeu!

- Ai! Calma! - disse Steven cobrindo seu rosto - Calma aí Demi!

- Calma aí o caralho! Falei que eu ia acabar com a sua vida se você contasse para alguém!

Saí pelo quarto à procura de algo pesado para jogar em Steven, peguei um livro que estava no chão e o levantei com as mãos acima de minha cabeça. Quando eu ia descer com o livro na cara do menino, Saul apareceu atrás de mim e segurou minhas mãos dizendo:

- Calma aí, nervosinha.

- É, calma aí! - disse Steven rindo - Sua maluca.

- Está bem, está bem! Estou calma, está tudo bem... Mais tarde eu acerto contigo Steven! - apontei para o rosto do loiro - Vocês nasceram para me irritar, né? - disse por fim dando uma risada e colocando o livro em cima da cama.

- É, mais ou menos - Saul riu.

Steven e eu rimos também.

- Ei - chamei os dois meninos - Vocês tem grana? 

Os garotos balançaram suas cabeças positivamente:

- Pra que?

- Vamos comer um hamburgão? Deu uma vontade sinistra.

Saí do quarto em direção à porta de entrada, Saul veio logo atrás junto com Steven:

- Gorda. - o garoto loiro me provocou.

- Cala a boca seu boiola. - disse-lhe rindo pegando minha bicicleta - Vamos logo.

__

Chegamos numa lanchonete que se chamava Meat&Fries, era a predileta de Steven. Escolhemos uma mesa e nos sentamos. Passado alguns segundos uma garçonete veio anotar nossos pedidos:

- Eu vou querer um X triplo com fritas e milk shake de chocolate - Steven disse à moça.

- Sim - disse a garçonete anotando o pedido - Mais alguma coisa?

- Eu quero a mesma coisa - Saul disse.

- Ah, eu também - falei para a mulher.

- Tudo bem, daqui a pouco trago o pedido de vocês - disse a garçonete dando meia volta.

Steven e Saul a acompanharam com o olhar, provavelmente olhando para a bunda da moça. Eu ri e disse:

- Nojentos!

Na espera de nosso pedido avistei uma figura abominável entrando na lanchonete, essa figura usava um vestido apertado e salto alto, ela exibia seu longo e ondulado cabelo vermelho, sim, Lindsay estava vindo em nossa direção, “Puta que pariu! Só me faltava essa!” pensei.

- Olá, olá queridos amigos! – disse a vadia apoiando seus braços na mesa em que estávamos sentados – Como vão?

- Já estivemos melhores... – respondi.

Lindsay me encarou e Steven interveio:

- Ah! Oi Lindsay... É... Estamos bem – o menino forçou um sorriso – E você? O que faz aqui?

- É! – me intrometi – O que faz aqui?

Saul me deu um leve chute por debaixo da mesa. Olhei para ele zangada e como resposta o menino me lançou um olhar que provavelmente dizia para eu ficar quieta. Lindsay entortou o queixo (como ela sempre fazia) e respirou:

- Eu vim aqui para avisar a estes meninos que o Roger está esperando lá fora...

- Uh! Sério? Vamos Steven! – disse Saul se levantando – Demi, a gente já volta ok?

- Fazer o que né?

A garçonete chegou com os nossos pedidos e os colocou na mesa, lhe agradeci e ela voltou para o balcão. Lindsay deu um gemido e se sentou à mesa, pegando uma batata frita de minha bandeja.

- Quem é Roger? – perguntei à ruiva.

- Não deveria te dizer... Mas como você é uma trouxinha não vai fazer mal te contar... 

Ignorei a provocação e a deixei continuar:

-... Ele é... Digamos... O entregador de pacotes entende? Seus amiguinhos adoram! – disse Lindsay dando uma risada.

- Ah ta... – respondi – Acho que agora você já pode ir, já deu o seu recado. Tchauzinho, queridinha, vá logo antes que alguém roube o seu posto na esquina.

Lindsay entortou mais uma vez seu queixo e disse apontando seu dedo indicador para mim:

- Tome cuidado com o que fala sua pirralha! Estou com o saco cheio de você! Eu vou...

- Ou o que? – a interrompi e dei uma risada debochada – Vai mandar o seu cafetão vir atrás de mim?

A ruiva levantou-se da mesa e disse num tom alto:

- Como é que é?!

- Quer que eu escreva? – levantei-me da mesa também.

Lindsay riu e colocou suas mãos na cintura:

- Demi, Demi, Demi, Demi... Olhe só para você – a ruiva olhou para mim de cima a baixo – Uma esfarrapada, que anda de bicicleta, usa só tênis, anda com esse cabelo sem sal... Você é quase um menino! Nenhum ser humano vai te querer! – a vadia deu uma risada.

- Cala a sua boca! Você não sabe o que está falando.

- A não? Eu em uma, única e somente noite, levei esse seu amiguinho, Saul, para a cama... E você fez o que? – Lindsay fez uma pausa irônica e riu – Ah é... NADA!

Ao ouvir aquilo, respirei fundo e tentei não pular no pescoço daquela menina:

- Sabe por que eu não fiz nada? – cheguei bem perto de Lindsay – Porque eu não sou uma vagabunda que sai dando para deus e o mundo! Eu não sou uma coitada que quer atenção! Eu não sou uma desocupada que nem você!

- Agora chega! – Lindsay pegou um milk shake que estava sobre a mesa e jogou no meu rosto.

Levei um susto com o impacto do sorvete em minha cara, tirei o líquido de meus olhos e pensei: “É agora que essa vadia vai apanhar!”