Leah escrita por Jane Viesseli


Capítulo 6
A Família Cullen




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Naquela noite, Leah teve uma noite de sono extremamente agradável, ainda mais do que o normal e, quando amanheceu, ela não pôde deixar de se lembrar do lindo sonho que tivera com o falecido pai, onde ele lhe pedia para tentar seguir em frente, tentar romper todas aquelas lembranças e ser feliz com Lucian… Espere, por que raios ele lhe pedia para ficar com Lucian? Nem sequer conhecia o rapaz.

― Isso é um absurdo! – pensa ela, saltando da cama no segundo seguinte.

Longe dali, na hospedaria, o trio cherokee também usufruiu de uma ótima noite de sono, com Hana e Kiary num quarto, e Lucian sozinho em outro. Pela primeira vez em décadas, estavam dormindo sem medo de serem atacados durante o sono, podendo relaxar inteiramente e dormir uma noite inteira, despreocupados com turnos de vigia.

Quando os primeiros raios de Sol adentraram a janela do quarto de Lucian, ele desperta e se levanta. Ainda cambaleando, se dirige ao banheiro e, depois de lavar o rosto com uma boa quantidade de água gelada, fitou sua imagem no pequeno espelho do local. O lobo trajava a mesma calça do dia anterior, porém, agora sem camisa e de cabelos soltos, o que evidenciava a aparência juvenil que carregava há anos.

Ela fecha os olhos por alguns segundos e pela primeira vez, agradeceu aos céus pela constante presença de vampiros em sua vida, pois o fizeram congelar no tempo e preservar sua juventude para conhecer Leah, muitos anos depois. Afinal, uma garota tão bonita não iria se interessar por um velho decrépito…

Lucian sai do quarto apressadamente, entrega a chave de seu quarto na recepção e procura um local agradável no exterior do prédio para se deitar e sentir os raios de Sol em sua pele, antes que o tempo fechasse novamente sobre a cidade. Um gramado perto à hospedaria parecia o lugar ideal e, sem pensar muito, Lucian se deita sobre a grama e fecha os olhos, deixando que a parte despida de seu corpo aproveitasse a manhã de Sol.

O tempo passa rapidamente. Kiary é a segunda a acordar e ansiosamente procura pelo seu alfa, o encontrando em poucos minutos. Ela se aproxima lentamente, mesmo sabendo que teria sua presença notada, e se deita ao lado de Lucian, depositando o dedo indicador em seu abdômen e deslizando-o pelos contornos masculinos que tanto desejava para si.

― Bom dia, Lucian, com saudades de casa?

― Por que você acha que estou como um lagarto tomando Sol? É claro que é saudade de casa, saudades daquela região quente, do Sol queimando em minha cabeça, do chão queimando a sola dos pés… Agora, você poderia parar de se aproveitar de mim? – questiona, mudando de assunto de repente e agarrando a mão da menina com força, fazendo-a parar com o que fazia.

― Vai me dizer que não sente nada quando o acaricio assim? – Deita-se sobre o tronco do rapaz. – Fale sério, Lucian, aquela história de imprinting não pode ter sido verdade.

― Foi verdade. – Pausa. – E saia de cima de mim. Sempre soubemos que não fomos criados um para o outro, que um dia o imprinting chegaria… Não se iluda comigo, Kiary, pois nunca incentivei sua atração por mim, você é minha irmã de bando e a respeito como tal. Agora vamos nos arrumar para irmos à casa de Sam, ele nos apresentará aos aliados hoje.

― Curto e grosso, como sempre – sussurra ela após a saída do alfa –, mas eu não quero ser apenas a sua irmã de bando.

O Sol já estava a pino quando os Filhos da Lua se encontraram com o bando quileute – utilizando a mesma roupa do dia anterior – e juntos foram para o lugar do encontro. Os lobos corriam apressados, sendo seguidos com apenas um pouco de diferença pelo trio cherokee, fazendo Seth imaginar à que velocidade eles poderiam correr se estivessem realmente transformados.

Não mais do que eu, garanto!— vociferou Leah

Chegamos— anuncia Jacob à Lucian.

O bando diminui a velocidade, parando próxima a margem de um riacho, onde os Cullens já os aguardavam do outro lado. Lucian e Hana param logo atrás dos lobos, ofegantes, preferindo percorrer o restante do caminho lentamente, deixando que somente Kiary – que não conteve a curiosidade – seguisse em frente e corresse até a margem, onde parou subitamente ao sentir o cheiro adocicado da família Cullen.

― Oh meu Deus! – Os encara assustada, confirmando suas suspeitas através da pele pálida e da beleza estonteante. – Lucian, acho melhor você não se aproximar.

― Tarde demais já estou aqui – brinca sarcástico –, o que…

O cheiro doce invade as narinas de Lucian, fazendo-o trincar os dentes e interromper “seja lá o que” que estivesse prestes a dizer, somente para encarar a família do outro lado do riacho. Sua musculatura se tensiona exageradamente, fazendo seu tronco a arcar e assumir uma posição de defesa, e seus punhos se fecham com força, tentando conter a fera dentro de si a todo custo. Ele precisava se segurar, prevalecer sobre os seus impulsos, ou o tratado com os quileutes se encerraria ali mesmo.

As garotas recuam prontamente, posicionando-se atrás do alfa como apoio, apenas esperando por uma ordem. Eles não tinham medo, o que sentiam era um profundo ódio e uma imensa vontade de ceder aos seus instintos e retalhá-los ali mesmo.

― Vocês são aliados de vampiros? – rosna o alfa entre dentes, cuspindo a última palavra com nojo. – Por que nos trouxeram aqui? Não fazem ideia da força sobrenatural que estou fazendo para conter minha transformação.

Os Cullens demonstram preocupação e rapidamente se agrupam como um pequeno pelotão de guerra. O perigo era nítido e Jacob não hesitou em saltar para o outro lado a fim de proteger Reneesme, ordenando a Leah e Seth que cercassem os Filhos da Lua por trás, caso precisassem pará-los… Carlisle encara Edward suplicante, implorando silenciosamente que ele, o único da família que podia ler mentes, roubava as informações de Jake e compartilhasse com o restante da família, esclarecendo toda aquela situação.

― Eles, eles – gagueja Edward –, são Filhos da Lua…

― Céus! – exclama o doutor, preocupado. – O que vocês fizeram?

― Sam disse que não correremos perigo – traduz Edward –, que eles estão dispostos a seguir as regras estabelecidas somente para terem um lugar para morar e que uma das regras é justamente respeitar os aliados dos quileutes.

Os lobos sentiam a tensão no ar, crescendo como uma erva daninha, será que aquilo terminaria em briga? E se brigassem, quem ganharia? Seth se atreveria a lutar contra Hana, se ela decidisse proteger o irmão?

― Não vai terminar em briga – resmunga Lucian, ao pescar o pensamento do bando –, mas eles não são meus aliados. Vou respeitá-los pelo bem de nosso acordo, porém, não irei tolerá-los como aliados, não aceitarei ajuda deles e não estenderei a mão quando me pedirem. – Encara Carlisle furioso. – E permaneçam longe de mim se quiserem ficar neste mundo!

― Medo – relata Hana, que observava os Cullens atentamente. – Estão tensos e provavelmente cogitando sobre o que faremos a seguir. – Dá um sorriso torto. – Eles são todos iguais.

― Ela é sensitiva – lança Alice –, provavelmente vem de uma linhagem sanguínea muito forte.

― Pode ter certeza que não é só ela. – Sorri Lucian, debochado.

Quanta ameaça, quanta adrenalina! Os olhos de Leah corriam do bando para os Cullens e depois para o trio, a garota não queria perder nada daquele excitante acontecimento, pois nem mesmo a visita dos Volturis tinha sido tão emocionante quanto àquele encontro.

Edward encara os cherokee cuidadosamente, sondando a mente de cada um. O alfa logo sente algo invadir sua mente, era como um incômodo, como se alguém estivesse cutucando o seu cérebro e remexendo seus pensamentos igual a uma sopa. Ele corre os olhos pelos vampiros e encara intensamente os olhos do leitor de mentes, e na sequência, um rosnar doloroso ressoa em meio à família Cullen, pouco antes de Edward cair ao chão e se debater com as mãos na cabeça, grunhindo pela dor que lhe era aplicada.

― Edward – chama Bella –, o que está acontecendo, meu amor!

― Pai – grita Nessie numa voz chorosa.

O vampiro não conseguia pronunciar palavra alguma, seu maxilar estava travado pela dor que havia se alojado em seu crânio e que não parecia querer parar. Tudo o que pôde fazer, diante de tanta incapacidade, foi lançar um olhar indicando a fonte do ataque: Lucian.

Os olhos se voltam para o lobisomem furioso, que grunhia enquanto fortes espasmos balançavam o seu tórax, indicando que ‘o monstro’ estava prestes a sair. De seus punhos vertiam pequenas linhas de sangue devido às garras que já começavam a sobressair e a entrar na palma de sua mão, tornando toda aquela cena realmente aterrorizante.

― Saia da minha cabeça sanguessuga – rosna Lucian em um tom grave e poderoso, fazendo com que os pelos de Leah se arrepiassem –, você está abusando de meu autocontrole!

― Jasper, faça alguma coisa – suplica Alice tentando ajudar o irmão caído.

O vampiro foca sua habilidade com sentimentos sobre o alfa, que logo começa a responder à onda de calmaria que lhe era aplicada. Os espasmos começam a diminuir até se tornarem nulos, os músculos relaxam, o maxilar se destrava e os olhos se desviam de Edward, cessando instantaneamente o ataque mental.

― Não fique se gabando loirinho – diz Lucian para Jasper –, se continuar a me mandar ficar calmo em pensamento, como se eu fosse um cãozinho, faço essa sua carinha enjoativamente bonita em pedaços. – Vira-se para Sam. – Meu recado já está dado, os respeitaremos por serem seus aliados, mas não serão os nossos.

O lupino se retira, adentrando a floresta novamente. Kiary observa a retirada do alfa, notando atentamente quando Leah se desgarrara do bando para segui-lo. O que aquela garota estava planejando? Independente do que fosse, precisava fazer algo a respeito.

Na floresta, Lucian sentia ser seguido, entretanto, somente quando julgou que estava longe o suficiente dos Cullens, parou para verificar. De início, não conseguiu reconhecer quem era o enorme lobo cinza, tentou se lembrar de todos os lobos que vira em sua chegada à La Push, dando-se conta que, aquele lobo em especial, não estava presente naquela ocasião… Lucian caminha até ele, observando seus olhos atentamente e percebendo que sim, realmente eram os mesmos olhos.

Está olhando o que idiota?

Ele não respondeu, apenas continuou a observar, parecendo não ter lido seus pensamentos.

― Leah?

Quem mais seria? Não está me ouvindo te chamar a um tempão?

― Desculpe Leah, mas se quiser conversar terá que voltar a forma humana. Não posso invadir sua cabeça, lembra?

A loba não pôde deixar de se surpreender, afinal, ele havia levado sua opinião em consideração. Normalmente as pessoas a ignoravam e atropelavam suas opiniões, e, por isso, a atitude de Lucian a impressionou imensamente, fazendo-a escolher retornar a forma humana sem qualquer reclamação ou resistência.

O animal recua alguns metros, escondendo-se atrás de um grupo de árvores, para minutos depois, a garota tomar o seu lugar e retornar em seu jeito “Leah” de se vestir. Ela se aproxima de Lucian, que havia sentado sobre um tronco qualquer e parecia absorto em pensamentos, enquanto brincava com uma pequena flor em suas mãos.

― Ei – chama ela –, tudo bem com você?

― Tudo bem, eu acho. Você veio até aqui para ver se estou bem?

― Sim, quero dizer, eu acho que sim… Não é todo dia que alguém se descontrola apenas por estar diante de vampiros.

― Eu os odeio e eles fedem. – Leah ri, apesar de não ter sido uma piada. – A propósito, você é linda em sua forma de lobo.

― Me poupe – retruca, fazendo uma careta debochada –, odeio ser uma loba e se pudesse escolher, já teria me livrado desses genes há muito tempo.

― Por quê?

― Por nada… Isso não lhe diz respeito!

Lucian sorri sem graça. Pingos de chuva caem subitamente em seu rosto, pegando-o de surpresa e fazendo-o olhar para o céu, quando o tempo havia mudado? Durante a confusão no riacho, talvez? Precisava sair dali rapidamente, antes que a chuva começasse a piorar.

― Lucian, o que faz na chuva? – pergunta Hana ao passar pelo local, com Seth. – Saia daí agora mesmo e procure um lugar coberto.

Por um momento, Leah teve vontade de xingá-la, quem ela pensava que era? A mãe dele? Lucian se levanta do assento improvisado a fim de obedecê-la, deixando Leah embasbacada, afinal, por que ele estava seguindo as ordens da fedelha? Quem era o alfa afinal? Aqueles irmãos eram realmente estranhos…

Depois de alguns passos, Lucian se se recorda da flor em suas mãos e retorna, fazendo Leah estreitar os olhos com desconfiança.

― Não se mova – pede suavemente, ajeitando a pequena flor atrás da orelha da quileute. – Como imaginei. – Sorri. – Esta flor não está à altura de sua beleza, ela é inferior…

Ah, meu Deus! Ele fizera de novo, com apenas algumas palavras e um gesto doce, Lucian novamente a desarmou totalmente. Leah nada responde, apenas observava o rapaz sorridente partir, enquanto buscava responder a irritante pergunta que martelava em sua cabeça: ele estava realmente a levando em consideração? Ou tudo isso não passava de ilusão?

Talvez devesse perguntar isso diretamente a ele.

 


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Notas finais do capítulo

PS: Fica aqui um pedido de desculpas as fãs do Edward, por ter sido malvada com ele, rs. No próximo capítulo Leah exigirá uma resposta para sua pergunta, mas Lucian parece não se sentir muito bem, o que estará acontecendo com nosso mais novo lobo preferido? E o que Leah fará a respeito? Não perca o próximo capítulo: "Conversa a sós"