Leah escrita por Jane Viesseli


Capítulo 18
A Caminho do Segundo Encontro




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Os dois dias que se seguiram passaram-se lentamente, para a angústia de Leah, que sentia que algo importante aconteceria. O céu permanecera tão nublado e o tempo tão chuvoso, que os irmãos cherokees mal puderam sentir a influência da Lua em seu último dia de transformação. E vendo por este ângulo, eles estavam até gostando do clima chuvoso da região.

Na data marcada para o segundo encontro, o tempo estava estável e com uma pequenina chance de Sol. O dia mal amanhece e Lucian já batia à porta dos Clearwater, fazendo um Seth bastante sonolento ir atendê-la, pois havia acabado de retornar de uma ronda e bastante exausto.

Sue aparece logo atrás do filho, contente pelo aparecimento do cherokee, que não podia negar ser muito charmoso. Lucian estava um rapaz de fazer inveja naquela manhã, com os cabelos presos num coque muito mal feito e que, com o sobretudo ao estilo rockeiro, o deixava com um ar mais rebelde e desordeiro, basicamente o sonho de qualquer garota louca por um badboy. Por baixo do sobretudo, vestia uma blusa de gola alta branca, usava calças jeans escuras e tênis pretos, que julgou serem suficientes para perambular por aí.

― Bom dia, Lucian, o que faz aqui tão cedo? – pergunta a mulher, sorrindo.

― Vim buscar a Leah, vamos para um encontro.

Lucian abre um largo sorriso, fazendo a mulher se derreter em felicidade. Seth olha para a mãe sorridente e revira os olhos, não acreditando que ela também estava caindo nos encantos daquele sorriso.

― Ela está dormindo, vai ser um inferno se nós a acordarmos – resmunga Seth bocejando.

― Oh, é verdade. Ela sempre acorda de mau humor! – exclama Sue.

― Se me permite, Sra. Clearwater, gostaria de acordá-la eu mesmo.

― Claro, querido, faça o que achar melhor.

― Vai dormir moleque. – Esfrega o cabelo de Seth ao passar pela porta. – Você fica de muito mau humor quando está com sono – debocha.

O cherokee adentra o quarto de Leah sem bater e fecha a porta atrás de si, respirando fundo. O cheiro dela estava em toda parte e seus pulmões pareciam entorpecidos pela maravilhosa fragrância de canela. Ele se aproxima da cama onde Leah ressonava tranquila, coberta até a cabeça como se estivesse em um casulo. O quarto escurecido não o impedia de vê-la perfeitamente e, puxando a coberta de seu rosto, se aproxima de seu ouvido:

― Bom dia minha loba, está na hora de acordar.

― Sai daqui, Seth, ou vou te bater de novo – resmunga ela.

― Se você não quer acordar por bem, vai ter que ser por mal – ameaça ele, com um sorriso zombeteiro nos lábios.

― Vai embora – resmunga, ainda sem se dar conta de quem estava a chamava.

Lucian abre as janelas, deixando a claridade entrar no cômodo e fazendo Leah resmungar em protesto. O cherokee retorna para a cama e começa a cutucar a barriga da loba com o indicador.

― Vamos lá, Leah, está um lindo dia, acorde, acorde, acorde...

― Que droga – pragueja ela. – Sai daqui, Seth, seu imbecil. – Senta-se de repente, socando o rosto de Lucian.

― Oh meu Deus! – Ri. – O que foi isso? Que recepção foi essa?

Leah arregala os olhos ao se dar conta de quem estava ali. Por que tinha que ser tão descontrolada? Ela fica boquiaberta por alguns segundos, mas logo retoma a sua pose carrancuda, ao vê-lo achar graça em toda a situação.

― Culpa sua, isso é maneira de me acordar? – resmunga.

― Você não quis colaborar, se tivesse preferido acordar por bem o tratamento seria muito melhor... Ande logo, troque de roupa e vamos sair. – Sai do quarto, sorrindo.

Definitivamente o soco não havia doido e, por alguma razão, a quileute se sentia estranha naquela manhã, pois se considerando tão mal humorada como de costume. Ela veste uma roupa qualquer, ajeita os cabelos de uma forma que a fizesse parecer civilizada, escolhe uma ou duas joias e passa o batom com cheirinho de chocolate que Lucian elogiara no outro dia.

Estava pronta para sair!

― Você está linda, como sempre – elogia ao vê-la.

Era inacreditável como ele se alegrava e se rendia com tão pouco. Leah sabia que não estava grande coisa, que não tinha tanto ânimo para se arrumar como antigamente e não pôde deixar de imaginar como ele reagiria se um dia a visse arrumada de verdade.

― Não volte tarde, Leah – orienta Sue.

Leah olha para a mãe e revira os olhos, saindo da casa sem responder e deixando, mais uma vez, a mulher magoada para trás. Lucian, que somente observava a cena, sorri levemente para Sue numa tentativa de consolá-la, mas não sabendo ao certo se funcionaria.

― Cuide dela por mim, Lucian, pois já não posso alcançá-la mais – confessa, deixando uma lágrima escorrer de seus olhos. – Eu perdi minha filha por causa de nossas lendas.

O cherokee assente com a cabeça e sai atrás de Leah, que o aguardava distraída do lado de fora. Ele se aproxima com passos largos e impacientes, vira a loba rapidamente e a segura pelos ombros, obrigando-a a olhá-lo.

― Não devia tratá-la assim, ela é sua mãe.

― Ela só me enche a paciência!

― Não, Leah, ela está preocupada com você desde que se tornou uma loba e ficou rebelde.

― Está me censurando? – pergunta incrédula.

― Não, pois gosto de você do jeito que é. Só quero que entenda que você a magoa toda vez que a ignora... Vi isso na mente dela.

― Está inventando tudo isso – defende-se ela, sentindo o peso de suas palavras.

― Não estou inventando, confira por si só...

Lucian envolve a cintura de Leah com uma mão e segura sua nuca com a outra, colando suas testas e fechando os olhos. Ele a orienta a fazer o mesmo e assim que ela obedece, começa a ouvir a voz feminina e inconfundível em sua cabeça, a voz de sua mãe: “Deus, eu não sei mais o que fazer pela minha menininha, sinto tanta falta dela. Ainda lembro como ela sorria e me abraçava toda vez que lhe comprava um presente. Como tenho saudades do seu sorriso, de vê-la feliz, de cuidar dela... Nem mesmo de mãe ela me chama mais... Deus, por favor, cuide da minha menina!”.

A oração silenciosa de Sue era captada e transmitida para Leah através do dom de Lucian. Ele se afasta da quileute, que mantinha os olhos fechados e prendia a respiração, sentindo-se um monstro por agredir a mãe daquela forma durante tantos anos, afinal, ela não era culpada por nada do que lhe aconteceu... Seus olhos queriam verter água, mas ela se segurava, seu orgulho ainda não lhe permitia chorar.

― Pode me esperar aqui? – diz ela, finalmente respirando. – Esqueci uma coisa lá dentro...

Leah não espera uma resposta e volta correndo para a casa, abrindo a porta bruscamente e deparando-se com a mulher sentada no sofá, chorando. Sue se levanta e enxuga as lágrimas com as costas das mãos, tentando sorrir para a filha.

― Esqueci de dizer – começa a loba sem graça –, vou sair com o Lucian, é um encontro. – Hesita. – Vou tentar não voltar tarde. – Dá as costas para sair novamente, mas congela no batente da porta. – Até mais... Mãe!

A quileute sai apressada, deixando a mãe com privacidade suficiente para cair de joelhos e chorar alegremente, não acreditando que sua garotinha estava retornando, aos poucos. Sue sabia que, a partir daquele momento, ela tinha muito o que agradecer a Deus e que, provavelmente, ficaria devendo muito a Lucian...

Leah se aproxima de Lucian e ambos caminham floresta adentro, não demorando muito para que o lobo diminuísse a distância entre eles e enlaçasse suas mãos.

― Por que fez aquilo? Por que me deixou ouvir os pensamentos dela?

― Eu vou ser sempre o que você precisar... Vou ser seu amigo quando quiser desabafar, um galanteador quando precisar de elogios, um fiel escudeiro quando for batalhar, um guerreiro quando precisar ser defendida, um disciplinador quando fizer algo errado e o seu homem, quando precisar ser amada!

O rosto de Leah se incendeia de vergonha, aquilo parecia tão prematuro: “seu homem”. Mas não podia deixar de gostar da ideia, até porque, sabia e reconhecia o quão bonito ele era.

― Precisa estar tão perto de uma pessoa assim, para lhe transmitir os pensamentos de alguém?

― Não, na verdade só preciso tocá-la. Eu é que estava me aproveitando da situação. – Leah ri, enquanto o arrastava por um trajeto desconhecido na floresta. – Vamos aonde?

― Tem uma campina muito legal nesta direção, descobri em uma ronda.

― Já mostrou este lugar para alguém ou eu serei o primeiro convidado a apreciar?

― Será o primeiro, afinal, para quem mais eu mostraria este lugar? – pergunta sarcástica.

― Aos seus amigos, sei lá, o pessoal do bando...

― O bando é apenas o bando, e não tenho amigos desde que me transformei em loba.

― Você é uma pessoa legal, deveria tentar fazer amigos – diz ele, deixando-a incomodada e irritada –, com um pouquinho de esforço você consegue...

― Falou o senhor “tenho muitos amigos”. – Solta a mão do rapaz, furiosa. – Por que você não se esforça mais para fazer amizades também? Até onde sei, você chamou somente uma pessoa de amigo em toda a sua vida... Como era mesmo o nome dele? – Estala os dedos, tentando se lembrar. – Ah, lembrei, é Piatã...

Leah encara o cherokee, furiosa, mas é desarmada pelo olhar angustiante que ele lhe lança subitamente. Ela se repreende mentalmente, sabendo que sua agressividade a fizera falar demais. O que faria agora?

― Como sabe disso? – pergunta ele com olhos tristes.

― Você fala demais quando está doente, foi assim que descobri – responde num sussurro, já se arrependendo de ter tocado no assunto.

Lucian dá um sorriso torto, enfia as mãos no bolso do sobretudo e continua a caminhar em silêncio. Seu andar era acelerado e a distância entre eles aumentava a cada segundo, fazendo Leah se apressar, se quisesse realmente alcançá-lo.

― Ei – chama sem obter resposta. – Ei... Eu sei que está me escutando...

O cherokee não respondia, apenas continuava a caminhar na direção que julgava ser da campina. A loba sente um aperto no peito, por que ele não atendia ao seu chamado? A floresta logo chega ao fim, dando início a maravilhosa campina que Leah planejava levá-lo, mas Lucian parecia não prestar atenção à paisagem, parecia estar absorto em seus pensamentos.

― Ei – grita Leah –, Lucian...

O corpo do cherokee trava de repente e se volta para a loba, que o olhava receosa. Era a primeira vez que ela o chamava pelo nome e certamente isso não passou despercebido.

― Repete?

― O quê? – pergunta confusa.

― Do que você me chamou agora a pouco... Poderia repetir?

― Lu-Lucian – gagueja ela, fazendo-o dar um sorriso fraco. – Me desculpe pelo que disse. Hana mencionou que era um assunto desagradável, mas eu acabei falando demais.

Lucian respira fundo e olha ao redor, a campina era realmente bonita e recoberta de flores. A brisa que passava por ela era suave e ele logo sente as palavras subirem até sua boca, como se fossem bolhas na superfície. Seus instintos pareciam querer revelar seu passado, mas seus lábios estavam pressionados com certa força, tentando conter as palavras de saírem.

O cherokee puxa uma grande quantidade de ar e pensa por alguns instantes, decidindo, por fim, por contar tudo, pois se pretendia ficar ao lado de Leah, não poderia haver segredos entre eles.

― Eu não consigo ter amigos, tenho medo disso. – Volta-se para Leah, com os olhos angustiados novamente. – O único homem que chamei de amigo em toda minha vida, morreu... E fui eu quem o matou!


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Notas finais do capítulo

Chegou a hora de descobrirmos um pouco mais sobre o passado de nosso mais novo lobo preferido e junto com esta grande revelação, o próximo capítulo virá acompanhado do segundo trailer da fanfic... Próximo capítulo: O Passado de Lucian