Leah escrita por Jane Viesseli


Capítulo 11
Um Sonho Estranho




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Leah retorna exausta de mais uma patrulha. Já fazia mais de uma semana que estava fugindo do cherokee e isso a estava deixando péssima.

No início, fugia dele com sucesso durante o dia e tinha noites muito agradáveis em seu quarto, que estava repleto do cheiro dele. Ela se deitava na cama e abraçava fortemente o travesseiro sentindo o cheiro embriagante de Lucian, que se fixara ali.

Entretanto, com o passar dos dias, o cheiro do lobo foi desaparecendo de seu travesseiro e de seu quarto, o que acarretou num estranho vazio em seu peito. E ainda tinha os sonhos, os estranhos sonhos que lhe acompanhavam todas as noites, aumentando gravemente a sensação de perda. Apesar de não admitir em voz alta, aquela era uma situação difícil de aguentar, ela queria vê-lo, queria tocar suas mãos, queria cheirá-lo novamente.

― Você é um lobisomem experiente, por que não me encontra? – retruca para si mesma. – Eu não posso vê-lo, mas você pode vir até mim… Por favor, venha até mim…

Seu coração se aperta fortemente, fazendo seus olhos lagrimejarem. Agora ela tinha certeza: estava se apaixonando por Lucian. Podia não ter tido um imprinting por ele e conhecê-lo há pouco tempo, mas ele já se fazia presente em seu coração e ela sentia saudades… Saudades das discussões, saudades do sorriso magnífico, saudades do formigamento e do arrepio que sentia quando ele a tocava, saudades de sua voz, saudades dele.

E como se não bastasse a sua própria agonia, ainda tinha o pobre Seth, que também se sentia péssimo pela decisão dos alfas. O jovem lobo não concordava com a ordem de Jacob, mas suas explicações não tinham sido suficientes para fazer o alfa mudar de ideia. Seth recebeu, em alto e bom som, uma ordem para não revelar nada a Hana e se manter longe de Lucian, para não ter seus pensamentos lidos. Porém, guardar aquele maldito segredo o estava deixando em pedaços, pois sabia não ser certo com Leah e muito menos com Lucian, que sofreria devido ao imprinting.

De certa forma, Leah se sentia culpada pelo estado do irmão caçula. Ela engole o nó que se formava em sua garganta e adormece pensando em Lucian, e, mais uma vez, o estranho sonho se surge para lhe fazer companhia…

Em seus sonhos, ela sempre está sozinha na clareira, completamente sozinha. O sol entra timidamente através das árvores e os pássaros cantam alegremente por entre os galhos, a brisa tocava o seu rosto como se a acariciasse, mas nada disso fazia-a esquecer do fato de estar só.

Uma voz masculina chama seu nome e, ao se virar, encontra seu pai acompanhado de Sam. Eles a chamam para mais perto, contudo, antes que pudesse alcançá-los, suas imagens começam a desaparecer. Leah já esperava por isso, pois acontecia todas as noites… Até aí tudo fazia sentido, a loba sabia que se tratava das grandes perdas de sua vida, o que vinha a seguir era o que a deixava realmente preocupada.

A doce risada de uma criança cobre todo o ambiente, sibilando como sinos e logo a imagem do pequeno menino aparece correndo entre as árvores, parecendo ter aproximadamente seis anos. Seu sorriso gracioso e inocente a hipnotizavam. Quem era ele? Leah não sabia, apenas o achava muito familiar…

O garoto de pele morena e cabelos rebeldes corria de uma árvore a outra. Parecia querer brincar, pois a olhava a todo instante, e, para não desapontá-lo, a loba corre até ele, que trata logo de fugir aos risos.

No princípio, Leah achava esta parte do sonho divertida, as gargalhadas da criança eram contagiantes e brincar com ele a fazia feliz. Entretanto, depois de algumas noites vivenciando aquele mesmo cenário, a quileute parou de se envolver, pois, como em todas as vezes, enquanto brincavam o Sol desaparecia da clareira, deixando uma sinistra névoa em seu lugar.

O menino para repentinamente, estava diante do bando quileute. Ele a olha aterrorizado e corre em sua direção atrás de refúgio, mas a distância entre eles parecia não ter fim, era como se nunca diminuísse. Leah abre os braços incentivando-o a continuar, o medo daquela criança agora a tomava de uma forma doentia, ela tinha que ajudá-lo, tinha que salvá-lo…

“Fique longe dele” – ordenava Jacob, que agora estava ao seu lado direito.

“Fique longe dele” – repetia Sam em seu lado esquerdo.

Era algo desesperador, que colocava muita pressão em sua cabeça. Leah olha a criança aflita, que ainda tentava fugir do restante do bando, lágrimas escorriam pelos seus pequenos olhinhos, ele estava desesperado e isso lhe cortava o coração, ela temia pela vida daquele menino.

Envolvida pelo cenário e por todo aquele sentimento, a quileute arranca em uma corrida, pretendendo salvá-lo a qualquer custo, contudo, do outro lado, os membros do bando repetem o seu gesto e também começam a avançar. A essa altura, os lábios do menino repetiam sempre a mesma palavra, mas, pela falta de som, ela não sabia o que ele dizia.

Tudo o que restou para a loba, foi continuar em sua corrida sem nunca conseguir alcançá-lo e ver seus irmãos de bando atacarem o pobre menino, até que tudo desaparecesse numa fumaça negra. E este era o momento em que sempre acordava…

Espere? Por que não havia acordado ainda? Leah não entendia o porquê de ainda sonhar, porque, se não lhe falhava a memória, não faltava mais nada para acontecer.

A silhueta de um enorme lobo surge em meio à névoa. Ele se aproximava cada vez mais, deixando nítido a sua pelagem cinzenta e chocando a quileute, pois não se tratava de um lobo e sim, de uma loba.

“Você… Sou eu?” – pergunta abismada.

“Sim, eu sou você” – responde a loba se sentando.

“Como?”

“Eu sou você, sou o seu lado lobo e estou aqui para lhe dizer algo importante.”

“Diga” – incentiva.

“Como tudo que a rodeia: lobisomens, lobos gigantes, vampiros e imprinting, este sonho foi gerado pela força mítica que a rodeia… Tudo em seu sonho possui um significado, se referem a coisas que perdeu e, a última, trata-se de algo que corre o risco de perder. Se você deixar que esta perda se concretize, nunca mais poderá voltar atrás, nunca mais irá se curar… Não haverá saída para você, pois como toda perda, ela será definitiva!”

“Do que está falando? O que eu posso perder? Nem sequer conheço aquela criança.”

“Você não pode perdê-lo, não pode deixá-lo escapar de suas mãos, não deixe que as lendas quileutes devorem você ou a sua felicidade, Leah! Lute por ela, lute por sua vida!”

A loba se levanta, irritada, e logo aparecem Sam e Jacob em suas formas lupinas, cercando-a e a ameaçando com intensos rosnados. Porém, ela parecia querer lutar, não pretendia se dar por vencida tão facilmente e, por isso, rosnava de volta e os confrontava com bastante rebeldia.

“Lute Leah!” – grita a loba. – “Você pode… Eu sou você e sei que você pode! Lute contra eles, você é uma guerreira! Lute contra eles!”

Sam avança contra a loba, mordendo seu pescoço enquanto, simultaneamente, Jacob pressionava sua perna traseira entre os dentes afiados. Ela não conseguia se livrar dos dois alfas, mas, ainda assim, se debatia e continuava a gritar:

“Você não nasceu para ser pisoteada, erga essa cabeça e lute. Essa perda não pode se concretizar, não pode!”

Leah abre os olhos de repente, estava em seu quarto novamente. O sonho havia acabado, mas, diferente das outras vezes, o sentimento que preenchia seu coração não era o de perda e sim, o de esperança, de vontade de lutar, apesar dela não saber pelo quê devia lutar. Quem era aquela criança, afinal?

― Leah…

― O que você quer, Seth? – pergunta preocupada, ao ver o irmão na soleira da porta, com olheiras tão grandes ao redor dos olhos, que a faziam ter certeza de que não dormia há dias.

― Jake marcou uma reunião na casa do Sam. É urgente.

― Do que se trata?

― A Lua Cheia é esta semana!

Leah pula da cama rapidamente, aquela realmente era uma reunião importante, visto que seria a primeira Lua Cheia do trio cherokee em La Push. Ela para diante de sua cômoda e, tomando coragem, abre a primeira gaveta, onde reencontra suas esquecidas joias e maquiagens – quase todas já vencidas.

A quileute apanha sua escova e penteia o cabelo rebelde, o que a faz notar que eles realmente estavam péssimos, como Lucian podia achá-la bonita? Finalmente as coisas pareciam fazer sentido para ela, as peças começavam a se encaixar, Lucian a amava do jeito que era, parecendo uma garota ou não, com os cabelos parecendo uma moita ou não, ele sempre a admirava e sorria quando a via… Era por ele que teria que lutar!

Os irmãos Clearwater caminham juntos até a casa de Sam e, quando chegam, percebem os olhares curiosos em direção a Leah. Ela estava diferente, não havia mudanças muito significativas, mas era possível notar que estava diferente: de cabelos escovados, um batom nude e uma corrente de prata no pescoço.

Lucian e Hana estavam acomodados no sofá e Kiary no braço do móvel, ao lado do alfa. Ele se levanta assim que avista a imagem da quileute, porém, os olhares rígidos do bando a levam a se sentar longe dele. Leah, mesmo sentando-se longe, mantinha sua cabeça erguida e encarava Sam com intensidade, desafiando-o tão intensamente quanto a loba em seu sonho.

Nunca mais seria pisoteada!

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. E ai, vocês arriscam um palpite sobre aquele menino? Quem será ele?
Próximo Capítulo: Evitando a Última Perda
Leah não quer mais viver na solidão e na amargura e resolve enfrentar a voz do alfa para não deixar que sua última perda se concretize... Será que ela consegue?