Leah escrita por Jane Viesseli


Capítulo 10
Acerto de Contas




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― Você está bem? – pergunta Lucian, encostando o queixo na cabeça de Leah.

― Nunca estive melhor! – responde arisca, soltando-se dele e abrindo distância entre seus corpos.

― Pensei que estivesse magoada, ou sei lá… Chorando.

― Pensou errado.

A verdade é que ela queria se derramar em lágrimas, porém, se segurou, como sempre fazia para não voltar a ser a garotinha chorona que era. Precisava ser forte para aguentar as duras pancadas que o destino teimava em lhe dar.

Um uivo se espalha por toda La Push. Jacob chamava pelo seu bando e parecia ser urgente.

― O alfa me chama, tenho que ir.

Leah corre em direção à floresta sem se despedir, e quando já estava fora de vista, retira suas roupas e explode em sua forma cinzenta de lobo. Ela tentava ao máximo manter seu rápido primeiro encontro fora de seus pensamentos, mas suas pernas pareciam não querer responder corretamente aos seus comandos, em consequência dos beijos de Lucian.

Ele te beijou? — retruca Jacob.

Isso não é da sua conta Jake — rebate –, o que está acontecendo de tão urgente?

Venha para a clareira e explicaremos.

“Explicaremos”? Isso só queria dizer uma coisa: Sam estava junto.

A loba cinzenta chega à clareira e encontra os dois bandos unidos, organizados em um círculo, a encarando impacientes. Ela toma o seu lugar na formação e suspira profundamente, incomodada pelos estranhos olhares que lhe lançavam.

Cheguei! Alguém pode me dizer do que se trata?

Sam quer que você fique longe de Lucian — revela Jake.

E quem é ele para querer algo de mim? — revira os olhos.

Nós conversamos e achamos que Lucian está te usando para ficar definitivamente em La Push. Seth teve um imprinting pela garota e por isso ela ganhou o direito de permanecer aqui, mas ele não. Como você não pode ter um imprinting…

Obrigada pela parte que me toca — interrompe Leah, ofendida.

Não comece. Como eu ia dizendo: já que você não pode ter um imprinting, achamos que Lucian está te usando para ficar aqui permanentemente.

Quanta besteira, Jacob. Mesmo que eu tente me afastar, quem garante que ele se afastará de mim? Afinal, ele é que teve o imprinting.

Esse imprinting pode ser falso, apenas para nos enganar… Para te enganar!

Não é falso, eu sei disso — responde com convicção –, parece até que não sou digna de ser amada! Aposto que essas ideias retardadas vieram do Sam, não é?

Leah encara o lobo negro do outro lado do círculo. Ele não podia ouvi-la diretamente, visto que não era mais o seu alfa, mas tinha certeza que ela o estava xingando muito, tamanha era a intensidade de seus rosnados e seu olhar.

Saiba que eu sou completamente contra isso, Leah — revela Seth, amuado em seu lugar.

Seth, você não está ajudando— rosna Jake, fazendo o garoto se encolher. – Sam disse para não se encontrar mais com ele.

Mande Sam ir se ferrar! — vociferou Leah, ainda encarando o lobo negro. – Ele não manda em mim. Por que ele não vai cuidar da minha querida priminha e do filhote fedorento deles, e me deixa em paz?

Leah estamos fazendo isso para o seu bem!

Mentira! — encara Jacob. Você é apenas um mente fraca, que se deixou levar pelos argumentos de Sam. E ele — acusa, voltando a olhar para Sam –, não sei por que está querendo fazer isso, mas é um pedido ridículo.

Olhe como fala comigo garota!!! — grita Jacob, usando de sua autoridade alfa.

A voz do líder, carregada de sua magia alfa, faz as pernas da loba cederem e seu corpo ser atirado ao chão. Seth tenta se aproximar da irmã, mas outra ordem alfa o mandou ficar onde estava, o impedindo de fazer qualquer coisa por ela. Algo estava errado, muito errado, mas Leah não conseguia identificar o que era.

Jacob ordena, com todas as suas forças de líder, que dali em diante ela ficasse longe de Lucian, e ela se via obrigada a obedecer. Era completamente impossível se opor as ordens de alguém que nasceu para ser um alfa, os poderes de liderança de Jacob eram fortes demais para serem combatidos!

Sinto muito por isso — sussurra Seth entristecido.

Na praia, Lucian estranha o repentino chamado do bando, porém, aproveita seu novo momento de solidão para acertar um assunto pendente.

Assim que Leah se colocou fora de vista, o cherokee corre as areias de La Push a procura do turista loiro, o mesmo que outrora ofendeu a quileute com suas palavras mal intencionadas. Ele estava surfando, no fim das contas, deixando à Lucian, apenas a opção de esperar.

Um tempo depois, com sua sede de surf saciada e o corpo relativamente cansado pelo exercício, o homem de cabelos claros sai água, acenando para as poucas garotas do local e devolvendo a praia que lhe havia sido emprestada. Ele segue em direção ao seu carro, sozinho, adentrando o estacionamento quase deserto, devido ao entardecer que se aproximava, o instante perfeito para que o cherokee pudesse abordá-lo.

― Oi, lembra-se de mim? – começa Lucian com um sorriso suspeito nos lábios, antes que ele pudesse alcançar o próprio veículo.

― Se não é o garanhão da praia – zomba –, estava fazendo caridade com aquela garota? Você é corajoso, hein? Seu lugar no céu já está garantido.

Lucian sente a fera se enfurecer dentro de si, como aquele cretino oxigenado ousava falar de sua Leah daquela forma? Suas mãos começam a tremer e ele as esconde no bolso da calça. O turista provavelmente tinha um nome, mas o cherokee não se importou em descobrir qual era, afinal, um ser tão desprezível quanto aquele merecia permanecer no anonimato e, consequentemente, ser esquecido. Isso não significava que sairia impune, é claro, ele certamente pagaria pelo que fez, mas não seria pelas garras do lobisomem, seria pelas mãos de sua forma humana, onde poderia sentir a adrenalina inundar o seu corpo ao arrebentar aquele homem.

― Pois é. – Força um sorriso. – Você me disse para encontrar alguém que parecesse uma garota… Eu conheço algumas bem bonitinhas, aqui da reserva. Tem interesse?

― Agora sim você está falando minha língua. – Sorri satisfeito.

Bingo! O ratinho correu em direção a ratoeira.

Lucian olha rapidamente ao redor, reconhecendo prontamente o velho caminhão de Carlos, um dos pescadores com quem trabalhou. A traseira estava fechada, mas não trancada, e aquele parecia ser o lugar ideal para ensinar uma lição a um homem tosco e ignorante.

Sem muita dificuldade, o cherokee o conduz para perto do caminhão, com o pretexto de ser aquele o lugar de encontro para “uns bons amassos”. Um movimento acabou levando a outro, pois, afoito com a hipótese de apalpar algumas nativas e aumentar sua lista de corpos desfrutados, o turista anônimo adentra a caçamba do caminhão sem pestanejar.

― Elas chegaram! – alerta Lucian, seguindo logo atrás dele, fazendo com que o loiro virasse prontamente e desse de cara com seu punho fechado.

Ele cambaleia para o canto mais interno da carreta, sentindo o rosto latejar com o impacto e o olho direito fiar turvo, devido ao golpe forte e certeiro. E sem pensar muito, antes que qualquer coisa pudesse ser pronunciada ou pensada, Lucian se aproxima de seu réu e o toma pela camisa, obrigando-o a levantar.

― Isso é pra você aprender a respeitar a minha garota!

Lucian soca uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze vezes, e quando cai em si, percebe que o rosto em que batia já estava inconsciente e bastante deformado, tão coberto de sangue que era impossível acreditar numa recuperação rápida. Ele analisa o corpo esparramado no chão e cospe sobre ele de forma presunçosa, o cherokee não conseguira descontar toda a sua fúria, mas aquilo já era o suficiente para se conformar.

― Era apanhar agora ou morrer na Lua Cheia. – Se justifica para o corpo desacordado, convencendo-se de aquele era o método mais civilizado de resolver a situação, já que a outra opção envolvia garras, dentes afiados, muito sangue, testemunhas gritando e chorando, e tripas por toda parte.

O cherokee sai do caminhão com um salto e um sorrisinho abusado no rosto, dando de cara com o dono do veículo. Por um momento a cor desapareceu de seu rosto e seus olhos se arregalaram, com medo de ser julgado mal por tal brutalidade.

― Olá Lucian, o que fazia ai dentro? – pergunta desconfiado.

― Me desculpe Sr. Carlos, mas tive de ensinar uma lição a um imbecil que ofendeu minha garota. Eu não seria eu mesmo, se deixasse essa afronta passar impune!

― Fez bem, rapaz, fez muito bem. – Sorri o velho Carlos, fazendo graciosas covinhas surgirem em suas bochechas já marcadas pela idade. – Você é um homem de honra e princípios, eu gosto disso… Pode ir agora, filho, eu me encarrego de limpar a sujeira – sussurra de maneira conspiratória.

― Obrigado Sr. Carlos.

O apoio do velho pescador foi uma grande surpresa para Lucian, mas, de alguma forma, ele estava feliz pelo respeito que, aos poucos, ganhava dos moradores da reserva. E agora, com sua pendência já faturada, só lhe restava se encontrar com Leah novamente…

O restante do entardecer passa apressado e logo a escuridão da noite toma conta da reserva. Lucian não havia encontrado Leah em lugar algum e tudo aquilo era muito estranho, pois até mesmo Seth parecia estar se esquivando. Ele retorna para a casa dos Clearwater, onde estivera até então, mas ela também não estava lá. Estaria na patrulha, talvez? Era a alternativa mais aceitável que conseguia pensar para tão repentino sumiço.

Pacientemente, Lucian recolhe seus pertences da casa Clearwater, despede-se de Sue e volta para a hospedaria, porque não fazia sentido abusar daquela hospitalidade ainda mais, quando já estava nitidamente curado.

Ainda na recepção, enquanto pegava as chaves de seu quarto, Lucian sentia ser observado. Ele olha em direção ao bosque e avista a forma embaçada de um lobo na escuridão, seria Leah? Era difícil saber, o vento não estava a seu favor e a noite o ludibriava, tornando impossível sentir o seu cheiro ou reconhecer sua cor. Tudo era vago.

Me desculpe— pensa Leah, antes de ser chamada de volta a patrulha.

Lucian vê o lobo partir e por um momento se arrepende de não ter lido seus pensamentos. Ele prometeu a Leah que não invadiria a sua mente e, como não tinha certeza de quem era, preferiu não arriscar, tornando o lamento da loba cinzenta inaudível ao seu destinatário!

Minutos depois, já no quarto, uma sensação de incômodo começa a atormentá-lo. Aquele cômodo não parecia mais tão confortável como era no começo de sua estadia, como se faltasse algo ali, algo importante e insubstituível… Faltava o cheiro de seu imprinting, o cheiro de sua loba.

O cherokee se deita na cama com os pensamentos rodopiando em sua mente, e, ao adormecer, sonha com Leah. ♥


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Notas finais do capítulo

Opaa!! Ai está a tão esperada surra do turista oxigenado, espero que tenham gostado, ou melhor, espero tê-lo arrebentado bastante ¬¬

Próximo Capítulo: Um Sonho Estranho
Desde que ordenaram que ficasse longe do cherokee, Leah tem tido um estranho sonho todas as noites. Aquilo queria lhe dizer algo, mas ela não fazia ideia do que era...