Madness escrita por Ayame Kioshi


Capítulo 5
V. Primeiro beijo.




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Um mês tinha se passado desde aquele dia do ataque de Ryuuzaki. Eu fui para a casa dele para ver como ele estava. Bati na porta, ninguém atendeu. Mesmo assim, eu conseguia ouvir a voz de Watari conversando com L. Entrei na casa e esperei sentada na cadeira de Ryuuzaki, fitando seu computador. Comecei a mexer sem a permissão dele e vasculhei seus documentos. De início, não via nada interessante, até que vi uma pasta escrito "Não clique". Não obedeci e cliquei. Logo, outra pasta onde tinha a mesma coisa escrita. Cliquei novamente.

Por fim, achei uma pasta escrita "Diário do L - dias de loucura". Ri baixo, porque nunca imaginaria que ele faria um diário.

E agora, abria ou não? Olhei para os lados e consegui ouvir a voz de Ryuuzaki falando com Watari no quarto. Ouvi pequenos trechos como "eu estou", "sei dizer", "me ajude". Não sabia que queria ouvir a conversa ou ler seu diário. Hesitei.

Acabei optando por abrir o diário. Um texto gigante abriu e preencheu a tela toda, me grudei na tela e comecei a ler o mais rápido possível.

"Aqui faço o primeiro relatório do meu cotidiano durante essas semanas. De início, devo esclarecer que o nome 'diário' não é realmente apropriado para o assunto retratado. Ou talvez até seja, mas eu não gosto desse nome nem um pouco.

Qual foi o motivo de meu desaparecimento inesperado nas investigações? De minha incoerência quase assustadora? Quatro letras, milhares de significados. Sentido somente por aqueles que pedem para ficar que nem eu.

Amor."

Parei de ler, estava boquiaberta por dois motivos. Mas a pergunta que não queria calar era: Ryuuzaki apaixonado? Por quem? Respirei fundo e voltei a ler.

"Sim, amor. Quem diria, o grande detetive L se apaixonando por uma mulher, isso soa meio estranho, não é?

Vou contar um pouco mais. Depois de anos isolado de todos, sem expressar nada de meus sentimentos para ninguém, eu preciso desabafar.

A garota é extrovertida e engraçada. É daquele tipo de garota que admira cada movimento que faz... que se admira, acima de tudo. É orgulhosa, está de bem consigo mesma. Tem os sorrisos mais bonitos e sinceros que qualquer homem já viu em toda vida. Admito que também fico encantado ao ver seus movimentos.

Seus cabelos loiros tem um tom no qual parece dourado. Em qualquer giro ou pulo que dá - ou até mesmo ao virar seu olhar para algo - posso ver seus fios voando e mostrando a bela cor que carregam. O brilho de seus olhos é cativante. Um olhar e você se apaixona na certa. Nunca sei a cor exata deles, mas é linda do mesmo jeito.

O corpo é escultural, bem definido. Impossível não reparar nele. Por mais que eu tente, acho que é o que mais vejo. Sou um pervertido não-assumido mesmo. Ela sempre esteve certa."

Cocei os olhos e li a descrição da garota novamente. O que mais me chamou a atenção foi a última frase que havia lido. Eu vivia chamando Ryuuzaki de pervertido.

Abri uma gaveta e achei milhares de doces. Peguei um pirulito e fixei meus olhos na tela novamente. Isso é melhor que livro de drama adolescente!

"Geralmente, usa roupas do estilo gótico lolita. Prende uma mecha de seu cabelo em cada lado, deixando-o um pouco mais infantil. Nunca parei pra ver se usava alguma maquiagem. Ela parece ser a garota perfeita, não?

Pois eu também pensava assim.

Ela se ilude muito fácil. Cai de amores pelo primeiro que a faz feliz. Já namorou um grande 'vilão' conhecido por todos nós: Kira. Acho que não dava pra chamar aquilo de namoro.

Os dois provavelmente não sabem, mas eu os observava cada minuto. Ela o amava, já ele não correspondia. Só a usava. Eu já havia tentado avisar milhares de vezes, mas pra quê dar ouvidos para o pervertido que só pensa em seu corpo?"

Terminei o pirulito e coloquei o palito no lixo, abrindo a gaveta denovo e pegando outro. Aquilo estava interessante.

Desci um pouco e encontrei partes mais importantes. Logo eles acabariam de conversar.

"Então, depois de duas decepções seguidas, acabei no estado que estou. Delírios e alucinações que me perseguem por causa daquela garota.

Por causa de Amane Misa."

Caí pra trás.

Eu já imaginava que a culpa de Ryuuzaki estar assim era por minha culpa, mas nunca cogitei a hipótese de ele estar apaixonado por mim. Senti uma lástima de repente.

Olhei para a porta de Ryuuzaki e queria ir até ele e pedir desculpas, mas ele saberia que eu li seu diário. Desci mais um pouco e continuei lendo do mesmo jeito.

"Parece que foi ontem quando senti seu abraço. Eu não estava em condições de ter uma conversa normal com ninguém, então fiquei quieto. Seu abraço me esquentava e me confortava, me sentia tão bem aconchegado em seus braços. Dava a impressão que ela era minha namorada, porque só queria meu bem. Dava a impressão que me amava.

Digo tudo que não consigo dizer pessoalmente aqui. Sou antisocial e tímido, nunca consiguiria falar tais coisas que estou escrevendo".

A porta do quarto de Ryuuzaki abriu. Fechei o documento na hora e me virei para Watari desesperadamente. Ele apontou para o quarto, indicando que eu podia entrar. Fui até lá e fechei a porta.

Vi o rosto de Ryuuzaki cheio de lágrimas, estava sentado no chão abraçado em seus joelhos, um pouco curvado pra frente. Pareceu não notar que tinha acabado de entrar.

– Ryuu-kun. - Falei docilmente e me abaixei até ele. Dei o sorriso mais sincero que podia naquele momento. Seus olhos brilharam. - Tudo bem com você agora? Fiquei preocupada.

Não me respondeu, mas permanecia a me olhar. Comecei a secar suas lágrimas, desmanchando o sorriso. Afaguei seus cabelos.

– Eu acho que sim. - Conseguiu responder. Sua voz estava baixa. - É bom saber que se preocupou. Fico feliz.

– Li seu diário. - Admiti. Ryuuzaki desviou o olhar. - Por favor, não fique bravo comigo.

– Eu não estou bravo com você. Já imaginava que ia ler. - Ele colocou o polegar no canto da boca, como sempre fazia.

– Desculpe-me. - Me aproximei um pouco dele. - Desculpe por te fazer sofrer tanto. Isso não acontecerá denovo.

– Como garante? - Ryuuzaki diminuia o tom da voz a cada fala. - Eu agora tenho medo. Medo que eu enlouqueça denovo e acabe saindo do controle. Não quero magoar Watari, mas ao mesmo tempo quero permanecer bem. Não sei mais o que fazer.

– Eu cuidarei de você. - Falei enquanto tirava a mão de seu cabelo e passava-a no rosto dele. - Eu prometo.

– Mentira. - Sua voz virou um sussurro. - Você já tinha prometido isso uma vez. Eu acabei tendo um ataque, você se assustou e ficou sem me ver por um mês. Isso dói. Ser abandonado dói, Misa.

Fiquei sem resposta.

– Eu imaginava isso. - Suspirou. - Pode ir embora. Como eu havia dito antes, você vai acabar me abandonando novamente. Vá, prometo não sentir sua falta.

– Ryuuzaki, eu não quero ir embora... - Falei em lágrimas. - Eu prometo que vou cuidar de você dessa vez! Eu amo você!

– Você não me ama, Misa. - Falou friamente. - Leu meu diário e ficou comovida, esse amor já passa. Em breve você se apaixona por alguém melhor que eu... é sempre assim.

Abracei Ryuuzaki com força. Ele estava tentando parecer um cara frio comigo, mas eu sabia que por dentro estava magoado. E, afinal, pessoas frias geralmente são assim por mágoas. Ele fechou os olhos e cerrou os punhos. Segurei as lágrimas.

– Você ainda tem namorado, Misa. - Sussurrou em meu ouvido. - Pare de fazer isso comigo.

– Eu não tenho mais. Nós terminamos, eu pensei que já havia te falado. - Interrompi o abraço e o olhei. Ele percebeu as lágrimas em meu rosto e colocou a mão em meu rosto, secando-as. Não conseguiu sorrir.

Ryuuzaki pegou um papelzinho e começou a escrever. Evitei ver o que era, provavelmente ia ser pra mim mesmo. Segurou minha mão e colocou o papelzinho nela. Eu o peguei e abri.

"Tem coisas que não consigo dizer, só escrever. Estou perdidamente apaixonado por você, mesmo depois de tudo."

Quando tirei os olhos do papel, coloquei minhas mãos em seus ombros, empurrando-o pra trás. Ele ficou deitado no chão, eu fiquei em cima. Ele me puxou para si e aproximou seu rosto ao meu, dando um leve beijo em meus lábios. Pude ouvir as batidas de seu coração. Aprofundei o beijo e Ryuuzaki me envolveu em seus braços.

– Então, você será meu terceiro namorado? - Interrompi o beijo e perguntei.

– Não, não serei. - Respondeu.


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