"O Inimigo

A juventude não foi mais que um temporal,

Aqui e ali por sóis ardentes trespassado;

As chuvas e os trovôes causaram dano tal

Que em meu pomar não resta um fruto sazonado."(As flores do mal,Charles Baudelaire)

A tempestade caía com toda sua força, terrível, ameaçadora. Pedra do Dragão estava envolta em escuridão e terror. Rhaella gritava de dor enquanto a irmã ou irmão de Viserys saía de seu ventre. Em um dos compartimentos, Rhaenys se encolhia em sua cama, cobrindo as orelhas para tentar evitar o som do sofrimento de sua avó. A porta do seu quarto se abriu e uma pequena figura de cabelos prateados se esgueirou até onde ela estava, apoiando a cabeça em seu colo.

_Tudo vai ficar bem, não é Rhaenys?

_Sim. Talvez não hoje, mas algum dia, tudo vai dar certo.

_Eu ouço as pessoas falando. Sobre o papai. Sobre Rhaegar. Até mesmo Aegon. Eles não podem estar falando a verdade, não é Rhaenys?

Rhaenys estremeceu. Podia ser mais nova, mas Viserys era tão vulnerável. Ela passou a mão pelos seus cabelos, tentando confortá-lo.

_Em breve terás um irmão. Ou irmã. Uma bela criança, com nossos cabelos e nossos olhos. Um Targaryen. Seremos três, como nas histórias. O dragão tem três cabeças.

_Conte-me uma história. - Ordenou Viserys. E assim ela o fez. Contou sobre a Antiga Valíria, sobre a conquista de Westeros e os herois de sua casa. Viserys adormeceu e finalmente relaxou. Mas Rhaenys não conseguia dormir. A tempestade não acabara, mas diminuíra, e Rhaella estava em silêncio. Mas o fantasma de todo aquele terror ainda a atormentava. "Só tenho três anos" choramingou "E meu pobre tio tem apenas cinco anos. O que será de nós, meus deuses? E essa pobre criança, chegada no meio da tormenta, sem pai, avós, tios ou tias. O que será do sangue do dragão?"

Rhaenys achou que devia ter dormido, pois lembrava de acordar. Viserys estava acordado, sentado ao lado da janela. Logo viu que havia algo de errado. As lágrimas brilhavam em seu rosto.

_Viserys? O que houve? - a princesinha saltou de sua cama e correu a abraçá-lo.

_Mamãe. Minha mãe. Ela... ela...

Ele não precisava dizer mais nadas. E nem o poderia, pois os soluços alcançaram sua garganta.

E ali estavam os dois, duas crianças indefesas, pequenas, cujo mundo acabara de ruir.

Mais tarde, Rhaenys foi ao quarto de sua avó. Ela ainda estava lá. Pálida, com os cabelos despenteados e os lábios entreabertos. Tudo nela ainda gritava dor. A posição de seu corpo, de suas pálpebras. Um choro fraco chamou sua atenção.

Era o bebê. Uma menina. Pálida e franzina, de olhos tão violetas quanto os do irmão. Alguns finos fios de cabelo prateado já enfeitavam sua cabeça. Rhaenys esticou-se e pegou-a nos braços. Tão pequena e delicada, a garotinha despertou sua compaixão. Então lembrou-se do nome que a vó queria dar a ela. "Se for menino, Jaehaerys, terceiro do seu nome. Se for menina..."

_Daenerys.