POV Erika.

– Eu já disse, nunca que Black Label Society supera Mudvayne. – Zacky argumentou em tom de descrença.

– Cala a boca Zachary, não é só porque você sabe arranhar uma guitarra que é o especialista musical. – Ele gargalhou e deu um peteleco no pé da minha orelha. – Owtch! Que p...

Antes que pudesse falar alguma coisa Zacky roubou minha mochila e saiu em disparada pelos corredores, minha sorte era que o porpeta não tinha muito folego e um pouco antes da sala de aula eu o alcancei e começamos uma patética lutinha no meio do corredor.

– Admita que meu gosto musical é melhor que o seu Erika Wells, e assim eu penso em te soltar. – Ele dizia rindo enquanto segurava meus dois pulsos em minhas costas. Fazer o que se ele era grande e forte? Bufei irritada e parei de me debater devido a canseira. Ele ainda sorria e me encarava como um lobo faminto, irritada quase acertei um chute em suas partes e por pouco ele escapou.

– Me solta agora ou quando fizer isso mais tarde vai desejar nunca ter nascido com um saco no meio das pernas. – Ele revirou os olhos e gargalhou, vendo que eu não ia ceder me soltou relutante e começou a correr em outra direção.

Eu estava prestes a persegui-lo, mas algo mais forte me puxou contra um dos armários do corredor. O rosto de Tyler refletia amargura e descontentamento me fitando profundamente. Fiquei surpresa no início, porém tratei de arrumar uma expressão mais adequada a aquela situação, nojo.

– Agora vai ficar de melação com o seu novo namoradinho pra me provocar Erika? Você sabe que isso é perigoso não é? – Ele continuou a segurar meu braço no início mas optou por me arrastar até um lugar mais reservado.

– Cala essa boca, Zachary não é meu namorado.

– Então você continua a mesma vadia não é? – Ele sorriu amargamente.

– Diferente de você Tyler, não é todo mundo que se aproxima de mim para tentar me comer. – Fitei-o bravamente e seus lábios se arquearam do jeito mais sedutor possível.

– E diferente de mim, não é todo mundo que consegue. – Engoli em seco suas palavras, mas não perdi a pose. – Sabe que quando quiser uma segunda dose eu posso dar um jeito pra você.

– Se tem algo que eu quero de você e distância, achei que isso tinha ficado claro. – Tentei me desvencilhar de seu corpo e Tyler apenas me prensou ainda mais. – E nunca mais toque nesse assunto Dawkins, você sabe muito bem o que aconteceu naquele dia...

– Não é o pião que decide quando o jogo termina. – Ele sorriu e roçou os lábios carnudos no pé da minha orelha.

– Eu não sou seu brinquedo. – Tentei empurra-lo.

– Virou no dia em que eu preguei os olhos em você. Porque essa repulsa toda por mim? Conheço milhares de garotas que dariam a vida para estar no seu lugar.

– Porque você fodeu a minha vida.

– Sabe que não foi só isso que eu fodi. – Ele sorriu e eu não suportei. Passou-me pela cabeça soca-lo ali mesmo, era o que eu mais queria, senti todos os músculos do meu corpo se contraírem e preparar para o baque, só que antes disso a voz da última pessoa que eu queria ali soou estridente perto da gente.

– TYLER! Quantas vezes eu vou ter que dizer para você para de se meter com essa... Escória. – Marcy se aproximou fuzilando-nos com o olhar. Tyler soltou meu maxilar e com isso me fez despencar até o chão. A mão fina de Marcy me suspendeu novamente e suas unhas arranharam minha garganta quando a mesma me puxou pela gola da blusa. – Atrevida, como ousa dar em cima do meu namorado? Acha que assim alguém vai parar de cuspir no chão que você pisa? – Ela riu irônica e cruelmente. – Eu não sei o que ele vê em você, provavelmente pena não é? Ou então você só esteja sei lá... Dando pra ele? É o sexo que você quer?

– Cala a boca Marcy, solta a garota... Não se mete no que não é do seu bico. – Tyler impaciente puxou o braço de Marcy forçando-a a me largar. Minhas pernas tremiam e o suor escorreu pelas têmporas. – Você lembra do combinado?

– Mas... Essa ai não presta, e...

– Cala a porra da boca garota idiota! – A voz de Tyler se exaltou e vi Marcy se encolher. – Eu disse que você não ia se meter nos meus assuntos com ela!

– Mas você me prometeu que não ia interferir no que eu quisesse fazer com ela também! – Ambos gritavam e discutiam como se eu fosse algum tipo de brinquedo sem dono. Fiquei com raiva, mas devido ao recente ataque duplo do casal infernal eu mal me movia. – E como acha que vamos parecer um casal exemplar se você fica ai agarrando essa merda por todos os cantos?! - Eles estavam descontrolados, consegui me esgueirar nos armários e assim ficar de pé. A sensação do corpo pesado e a fraqueza iminente faziam-me querer desmaiar como no outro dia. As imagens distorcidas de Tyler passavam pela minha cabeça, o churrasco, ele levando meu corpo quase desacordado para o quarto...

O sinal bateu e eles pararam de gritar um com o outro. Encararam-se e Tyler sussurrou algo para que fossem para a aula, antes de darem as mão e praticamente vestirem máscaras com rostos felizes e apaixonados, Marcy olhou para mim uma última vez e sibilou em voz silenciosa: Você tá fodida.

***

Encontrei Zachary no intervalo, mas ele parecia estar preocupado com outros assuntos não me dando muita bola. Usei a aula de história para me recompor e com sorte ninguém perceberia meu real estado, consegui terminar o desenho de algumas sereias devorando carcaças de marinheiros em uma bahia qualquer na aula de Inglês sendo repreendida pela falta de interesse na matéria. Tyler e Marcy não me encheram o saco no resto do dia pois estavam ocupados demais fingindo serem um casal apaixonado. Por quê? Marcy sempre gostou de atenção Tyler e popularidade. Já Tyler também tem muito a ganhar namorando a filha de um dos maiores magnatas da Califórnia. Eu sei lá, não queria entende-los... Só queria passar minha tarde em paz, até que avistei Zachary no estacionamento. Ele me viu e percebeu minha aproximação parecendo relutante, seus olhos se recusavam a encarar os meus enquanto seus dedos batucavam nervosamente em cima do capô do carro.

– Viado, você me deixou sozinha no corredor! – Brinquei e soltei um sorriso sem jeito para ele. – Quase fico sem a minha mochila...

– Você tava ocupada demais com o Dawkins, não quis atrapalhar. – Ele falou girando uma das argolinhas do lábio. Então ele tinha visto a briga e simplesmente me deixou lá quase sendo massacrada? Fervi por dentro. Queria cuspir mil e um xingamentos na cara de Zachary, é claro que antes de dizer algo ele percebeu a vermelhidão no meu rosto. – Não precisa ficar com vergonha, eu só voltei para saber onde você tinha se enfiado e vi ele lá agarrado em você. Quando vocês iam... Sabe, eu voltei pra não atrapalhar. – ESSA BOLOTA AMBULANTE ACHOU MESMO QUE EU IA BEIJAR O DAWKINS?!

– Você é retardado assim mesmo ou a bacia de bolinhos do refeitório tem mexido com a sua cabeça? – Endureci o maxilar fazendo com que as palavras saíssem mais ásperas. Ele se remexeu intrigado e passou a mão algumas vezes pelos lábios carnudos.

– Cara eu não tenho nada contra você gostar dele, só achei que teria um gosto mais exigente. Sério, o escroto e ridículo do Dawkins? – Zachary pareceu arrependido por demonstrar tanta raiva na mesma frase. – Argh. Esquece Erika, não vou me meter na sua vida... Você mesma me pediu isso.

– EU. NÃO. GOSTO. DO. TYLER. – A pausa excessiva parecia apropriada para aquele cabeça dura. Respirei fundo algumas vezes tentando controlar a fome de sangue que crescia por dentro. – Olha Zachary, eu não te devo explicações por nada nesse mundo. Acontece que eu tenho sim uma relação com Tyler, em que ele acha que eu sou... Sei lá a boneca inflável dele. – Me arrependi do termo usado, mas preferi passar batida. – A questão é: Isso não é recíproco. Eu... Eu passei por algo o qual não gosto de comentar com ninguém. – Idiota, porque eu estava contando isso pra ele? Eu não queria, nunca havia falado para ninguém, nem mesmo April, entretanto eu mal podia me controlar agora. – E Tyler foi a causa para um dos meus maiores pesadelos uma vez que fingiu ser uma pessoa legal só para se aproveitar de mim. – Suspirei derrotada. – Zachary, eu não to pronta para falar sobre isso, eu só queria que você entendesse...

– Eu quero entender Erika, eu preciso entender! Você não tem noção do quanto eu quero! – Ele se aproximou rapidamente e passou a palma de suas mãos pelos meus braços levemente, senti uma pontada de arrepio subir pela coluna e ruborizei um pouco, tratei de abaixar a cabeça na mesma hora.

– P-por que isso é tão importante para você? – Minha voz saiu mais fraca.

– Porque... – Ele ficou tão incomodado quanto eu e baixou o olhar para o chão. – Porque eu tenho que saber se vale a pena lutar... – A última frase saiu tão baixa que eu fiquei em dúvida se não seria apenas um pensamento meu. Zachary suspirou e passou os braços em volta do meu pescoço puxando-me para seu tronco. Ele era quente e seu corpo tão grande em contraste com o meu que me fez sentir embalada, protegida. Sua cabeça apoiou no topo da minha e senti o timbre de sua voz quando falou. – Se esse cara encostar o dedo em você de novo eu vou soca-lo tanto que vão pensar que foi atropelado pela marcha americana, está bem? – Assenti fechando os olhos por alguns segundos.

De repente alguma coisa estalou em minha cabeça, alarme vermelho! Empurrei Zachary para trás sentindo meu corpo todo se aquecer, eu estava vermelha dos pés a cabeça e sua expressão era de dúvida.

– Eu não te dei permissão para me abraçar! E também não preciso da sua ajuda com o Dawkins, eu sei me virar! – Zacky gargalhou e então balançou a cabeça.

– Isso vai ser difícil... – Ele disse abrindo a porta do passageiro para mim.

– O que? – Perguntei passando por ele tentando esconder meu rosto com o cabelo.

– Nada não. – Ele sorriu para mim antes de fechar a porta. – Uma coisa que eu estou querendo.

Preferi não tentar entender, era perigoso demais. Até porque se fosse assim eu poderia querer a mesma coisa.