Lips Of Deceit escrita por Victims


Capítulo 2
I Can't Trust Anyone


Notas iniciais do capítulo

Como eu recebi muitas notas sobre o último capítulo, resolvi postar esse ainda hoje! Olha como eu sou boazinha *-* hauahuahauhau, espero que gostem fiz com muito amor -q
nha :3



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POV Erika.


Acordei mais ou menos 15h00min no domingo. Simplesmente passei o sábado inteiro presa dentro do meu quarto fazendo qualquer coisa que me tirasse daquela mórbida realidade. Levantei já retirando o pequeno e azulado pijama do Space Jam entrando debaixo do chuveiro rapidamente. Depois da ducha engoli algumas torradas e botei uma regata roxa com shorts, surrados prendendo as madeixas ruivas com um lenço preto. Fui até a sala de encontro com a minha mãe que estava a assistir algum programa vago de culinária.


–Mamãe?


– Sim? – Respondeu sem nem ao menos desgrudar os olhos da televisão.


– Eu queria saber... – Cocei a cabeça. – Poderia me emprestar uns quinze dólares?


– E onde foi parar o resto da sua mesada? – Não podia contar que essa abasteceu meu estoque de cigarros.


– Eu... Comprei umas tintas novas, tava precisando.


– E agora eu tenho que sustentar a sua irresponsabilidade? Achei que já tinha passado dessa idade Erika. – Ela virou-se impaciente me encarando por alguns segundos.


– É importante mãe, por favor, depois você descontada minha mesada! – Cheguei a implorar, sapateando algumas vezes.


Ela suspirou pesado e fechou os olhos por alguns segundos, francamente essa mania irritante de ser chata demais já estava me irritando, acha que assim ganharei alguma disciplina. Sem se dar ao trabalho de considerar minha sugestão mandou uma de suas patadas deixando-me sem reação.


– Quer dinheiro extra? Arruma um emprego! Eu por acaso tenho cara de caixa registradora? Acha que dinheiro nasce em árvore para você gastar com seus caprichos pessoais? Argh! Erika eu não sei mais o que fazer com você! – Gesticulando alto bateu as palmas das mãos nas pernas encerrando o assunto.


Com raiva deixei a casa sem me dar ao trabalho de avisar qualquer coisa, eu iria cumprir minha promessa para Lucy com ou sem dinheiro. Se pudesse, já teria mandado minha mãe para o inferno um milhão de vezes! Cansei de sentir na pele seu olhar de desaprovação e ar de descrença. É como se eu fosse a filha bastarda, a ovelha negra da família quando no fundo a única coisa que fiz foi não ser do jeito que ela queria. Não sou a representante do comitê estudantil, mal consigo botar um salto sem me desequilibrar e quebrar um osso e nunca fui voluntária para uma instituição de caridade. Da onde ela tirou tudo isso? Carmem.


Ainda lembro quando ela recebeu sua carta de aprovação na Universidade de Yale. Todos da família a parabenizavam com grande brilho no olhar, até nossos tios de Los Angeles vieram para uma pequena confraternização de despedida que mamãe fizera para ela.


Flash Black On


– Parabéns, sua filha tem um futuro brilhante! – Tio Richard apertava a mão de mamãe que ainda sorridente estufava o peito para receber os elogios. – É uma pena não podermos ver isso nas outras duas.

– Lucy tem um estado de saúde crítico, talvez seja impossível para ela se locomover daqui a alguns anos. – Ela respondeu ainda firme, mesmo que há machucara um pouco. – Ainda sim é uma garota muito inteligente e com certeza achará algo que combine com ela.

– Sim! De fato, mas não é sobre a Lucy que falo Madeleine. – Richard diminuíra seu tom de voz como se não quisesse que mais ninguém o ouvisse. Mal sabia ele que eu mesma estava bem perto de ambos. – Convenhamos em termos de filhas você não deu tanta sorte assim.

Vi apenas mamãe assentir com a cabeça e completar por fim:

– Eu sinceramente não vejo futuro para Erika. Pintar?! Onde essa garota acha que vai parar meu Deus?


Flash Back Off


Andei ainda com mais raiva sobre a rua, deixei que meus músculos extravasassem a raiva através do exercício. Quando dei por mim já estava correndo em pleno central Park sem ao menos saber para onde ia. A leve brisa tardia aliviava a pressão do sol sobre minha pele. Não sou de toda branca, apresento algumas partes bem moreninhas por ficar vagamundeando pela rua o dia todo. Parei resgatando um pouco de ar que faltara, apoiando-me sobre os joelhos. Andei mais algum pedaço saindo do meio do parque e chegando a rua central da Main Street. Avistei uma loja de livros perto da esquina, era velha com certo ar de antiquário. A faixada era composta por altas vidraças contornadas por molduras de verniz, luminárias góticas dependuravam-se perto da porta de madeira maciça com a placa “open” escancarada em seu meio. O ar era convidativo e sem delongas resolvi entrar, não estava fazendo nada mesmo não é?


Passei por várias estantes, algumas muito empoeiradas irritando meu nariz. Um lencinho de vez enquando não fazia mal. Achei alguns livros sobre voodo e magia negra, acabei por folheá-los por um bom tempo. Continuei a zanzar pelos corredores apertados até que algo chamou verdadeiramente minha atenção. Um livro bem velho e desgastado com capa de couro puído. Na sua frente letras bordadas intitulavam “Lendas e contos da era mitológica”. Não preciso dizer que certo arrepio passou pela minha nuca como uma vontade incontrolável de tê-lo. Procurei a etiqueta de preço na contra capa e vi que aquela raridade só custava dez pratas! Provavelmente fora esquecido ali nos fundos da loja e ignorado por todos os pouquíssimos compradores que já passaram por lá. Olhei de esguia para o caixa onde um senhor gordo de cabeça grisalha passava as páginas de uma revista qualquer sem nem ao menos notar minha presença. Sem pensar duas vezes botei o livro embaixo do braço e voltei o percurso vagarosamente para não fazer barulho no assoalho de madeira. Chegando perto da porta o coração aliviou percebendo o triunfo do pequeno furto. Pena que esse mesmo durou pouco.

Assim que passei pela abertura do portar uma fina campainha disparou assustando o cara do balcão que mesmo se perdendo por alguns segundos, levantou e correu até o meio do salão focando os olhos tontos em cima de mim. Fodeu.


– O que pensa que está fazendo sua pivetinha? O que tem ai no braço? – ele cuspiu as palavras enquanto caminhava firmemente em minha direção.


É, deu merda. Achei que pelo menos esse ia ser fácil. Fiquei parada por um tempo olhando o velho se aproximar, mas assim que o fez virei de costas e impulsionei o corpo para uma fuga. Tarde, muito tarde. Mesmo pesando mais de uns oitenta quilos, ele agarrou meu pulso com certa agilidade e força exagerada, desequilibrando-me e derrubando em meio a calçada.


– Atrevida! Passa logo isso pra cá se não quiser apanhar aqui mesmo garota nojenta! Eu vou chamar a polícia! – Gelei. Se minha mãe tivesse que me pegar na cadeia mais uma vez, seria reformatória na certa. Por outro lado, aquele livro era importante, não só pra mim. Agarrei-o com mais força encolhendo a cabeça entre o peito, não sei o que estava fazendo, mas ia dar um jeito de sair dali.


– Finalmente! Te procurei por toda parte! Achou o livro que te pedi? – Uma voz masculina soou atrás de mim. Não me mexi, logicamente não era comigo. – Erika! Anda levanta! Vai ficar pagando mico? – Subi vagarosamente os olhos até uma sombra alta que se estendida por metade da calçada. Por causa do sol não conseguia focar exatamente em sua face, só que algo cintilou bem na linha inferior de seus lábios, dois pequenos brilhos refletindo o sol.


– Desculpe por isso, essa minha irmã é meio tapa. – o garoto sorriu para o velho maluco e entregou uma nota de vinte dólares para o mesmo. – Fica com o troco, eu só vou levar ela antes que se meta em mais problemas. – Sua mão puxou meu braço delicadamente me fazendo levantar. Assim que pus me de pé pude reparar nas exatas feições do garoto, ele sorria tranquilamente direcionando os olhos cor de rubi para mim. Era aquele garoto de sexta, Zachary.


– Segura essa menina, ela é muito tonta. – Reclamando ainda, o velho voltou para os fundos da loja deixando que Zachary me conduzisse para onde bem entendesse.


Fomos até um pequeno café do outro lado da rua nos afastando das pessoas que se aglomeraram por causa da confusão. Mesmo estando um pouco envergonhada, passei com o nariz empinado mostrando total despreocupação com o dia completamente normal, para mim, claro.


– O que você pensa que estava fazendo? - Lancei no mesmo momento em que nos sentamos.


– Talvez, te ajudando?


– Eu não pedi ajuda.


– Mas precisava. – Ainda relaxado foleou o pequeno cardápio em cima da mesinha de vidro sem me dar muita atenção. – O livro é tão importante assim?


– Não é da sua conta. – Trinquei os dentes quando ele sorriu novamente fazendo uma irritante cara de satisfação.


– Calma, eu só tava na lanchonete ali do lado quando ouvi a maior algazarra. Infelizmente percebi que era você e resolvi salvar a sua pele. Não fiz nada demais!


– Se meter a bonzinho já é alguma coisa Zachary.


– Então você lembra meu nome é? Pode me chamar de Zacky.


– Tô me fodendo pro seu nome. – Levantei simplesmente irritada com sua presença. – Vô nessa.


– Não mereço nem um obrigado? Me custou vinte dólares. – Tenho certeza de perceber certa diversão em seu comentário, para meu maior desgosto ele estava se divertindo com aquilo.


– Eu não queria nem um centavo! – comentei já partindo pisando extremamente pesado no asfalto, acho que pude sentir a cidade tremer a cada passo.


– Hey! Relaxa, porque é tão esquentadinha? – Senti ele se aproximar por trás e começar a andar ao meu lado. Que porra, ele não se tocava? Era muito irritante, idiota e sonso. Não ia conseguir nada sendo simpático comigo além de um soco no meio do estômago.


– Porque você torra a minha paciência!


– Não sou tão ruim assim, geralmente as pessoas gostam de mim.


Revirei os olhos e freei. Encarei-o por algum tempo que continuou com os lábios cerrados e levemente arqueados como um sorriso travesso e inocente. Ele gesticulou para que continuássemos caminhando e assim fiz até metade do caminho. Ele tagarelou bastante falando sobre coisas aleatórias, as quais fiz questão de ignorar. Algumas coisas cheguei a pescar no ar, como o fato de ele ter uma banda, adorar comida mexicana e ser amigo de algum Johnny ou Jonathan lá da escola. O restou entrou por um ouvido e saiu pelo outro.


– É aqui! – Falei quase como um alívio por avistar minha casa de taboas amarelas. – Pode me largar agora.


– Tudo bem, só queria garantir que não ia fazer alguma estupidez no caminho. – ele deu de ombros e encostou-se à cerca de madeira ao seu lado. – Te vejo amanha?


– Pro meu azar, sim. – Falei jogando um sorriso sínico e piscando algumas vezes antes de correr para o gramado da frente, de longe já havia avistado Lucy sentada em sua cadeira de rodas mexendo nas jardineiras.


– Hey anjo, cuidando dos seus bebês? – Beijei o topo de sua cabeça sendo recebida com o mais sincero e caloroso sorriso. – Trouxe isso para você. Provavelmente vai achar algumas histórias que eu já te contei, mas... Muito melhor narradas.


– Você trouxe! – Ela agarrou o livro com espontânea felicidade e entusiasmo. – É a melhor irmã do mundo! – Se tem algo que eu faço é cumprir minhas promessas.


– Que nada, você merece. O que está fazendo aqui?


– Acredita que Anita desabrochou em menos de quatro dias?! – Sim, Lucy dava nome a cada uma de suas flores, era seu passatempo favorito ficar no jardim cuidando e até falando com elas. – Para uma flor de lis isso é rápido demais! – ela sorria empolgada com a notícia.


– Isso é porque você dá muito carinho para elas. – Aproximei o rosto da jardineira colorida sentindo o perfume misto de tantas fragrâncias exóticas.


– Também consegui mudas novas, Tonny trouxe umas para mim, vem ver! – Demos a volta pela casa chegando na lateral onde no meio de alguns arbustos estava um pequeno broto de cor avermelha, era frágil e solitário parecia até acanhado.


– Qual é essa?


Lucy sorridente respondeu – Essa é uma tulipa vermelha do Arizona, espécie rara pelas redondezas segundo Tonny. Ele disse que ela demora muito para vingar, e que geralmente é solitária nascendo apenas uma por vez. – Levantou os olhos castanhos achocolatados para mim ainda mais empolgada. – Mas quando desabrocha é uma das mais lindas e perfumadas tulipas da região. É como se depois de todos os problemas que ela enfrenta para se adaptar ao solo que não a pertence, ela ainda consegue mostrar sua verdadeira beleza e provar seu verdadeiro valor.


– Puxa, é realmente fantástica! Já escolheu um nome para ela?


Ela assentiu com a cabeça segurando minha mão.


– Sim, Erika.


POV Zacky.


Não é como se eu gostasse de levar patada de uma baixinha mal criada, mas de certo modo fiquei curioso com a garota. Era pequena e feroz, quieta e atrevida. Eu juro que mesmo estudando na Marina High School quase a minha vida toda, nunca havia reparado nela. Esquisito não ter visto-a com algum grupo de amigos ou garotas do colégio, achei que pelo porte seria uma daquelas meninas que ficam andando atrás de Marcy. Mas o que posso dizer? Só apareço naquele lugar literalmente para estudar e ver o Johnny, pode cair uma montanha lá dentro que eu nunca ficarei sabendo, passo a maior parte do tempo com os garotos da banda, ou na rua ou na porta do colégio deles. Enfim, simplesmente achei algo para passar o tempo enquanto não estiver babando na aula de história.


Observei-a se distanciar apressadamente até parar do lado de uma pequena garotinha sentada em algo... Seria uma cadeira de rodas? Acho que sim, eram até bastante idênticas, tirando que o cabelo de Erika era de um vermelho mais intenso. Agachou e entregou o livro para a garota que em pouco tempo abraçou-a apertadamente. De fato, uma cena de partir o coração. Fiz uma ideia errada dela no início, achei que era só uma garota mesquinha e cara de pau tentado roubar por prazer. Com certeza tinha um motivo mais forte que isso, mas quem sou eu para me meter? Virei às costas e fui embora, agora com mais firmeza em minhas expectativas. Ela ainda esconde muita coisa.


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Notas finais do capítulo

E então, o que estão achando? :3