Lips Of Deceit escrita por Victims


Capítulo 13
Tarnished Mirror


Notas iniciais do capítulo

Sentiram minha falta? :> ahuahuha Consegui um tmepinho para escrever esse pra vocês! Ele é grande então podem festejar, é pra compensar um pouco o outro que eu particularmente não gostei muito >:
mas caaalma que ainda tem muuita coisa pela frente!
para as leitoras novas : muito obrigada por estarem aqui!
Boa leitura :D



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POV Erika.



Não conseguia me situar direito na escola, parece que todo o meu cuidado para passar despercebida durante esse pequeno momento de crise interna de nada adiantou, minha cabeça estava atordoada não só com probleminhas bobos pessoais, mas também com o novo tratamento intensivo que Lucy teria que fazer, mamãe até aceitou outro turno no escritório para conseguir um aumento e assim arcar com as despesas. Só eu continuava a mesma inútil de sempre, a mesma garota repulsiva e sem futuro com quem me deparo diariamente ao olhar no espelho. Quantas vezes já tinha pensado em mandar tudo para o espaço? Simplesmente desaparecer e deixar que minha mãe concentrasse toda sua atenção a alguém que de fato precisava? Talvez até para Lucy seria melhor não ter tão mal exemplo como eu em casa, as coisas pareciam desmoronar aos poucos. Eu havia passado por Zachary algumas vezes no corredor, mas ele simplesmente fingia não me notar. Estranho era eu me sentir mal por isso como se esperasse sua aproximação a qualquer hora, já Tyler por outro lado resolveu grudar no meu calcanhar assim que os vastos corredores da escola começaram a se acalmar, ele tinha notado meu afastamento de Zachary e com isso exalava triunfo e contentamento. Um sorriso exorbitante se abriu para mim como o que ele usava para tirar o fôlego das garotas que o rondavam, entretanto o resultado foi bem diferente do que ele esperava.


– O que foi agora? – Perguntei cansada sem o mínimo ânimo de enfrenta-lo.


– Pequena comemoração particular, tá afim de se juntar? – Ele apoiou um dos perfeitamente definidos braços no topo do meu armário inclinando-se para frente. Agarrei a barra da fina camisa social branca listrada que eu usava tentando conter as palavras.


– Não, ainda consigo sentir o cheiro de Marcy vindo de você, está muito intoxicado para me interessar. – Ele gargalhou e passou o outro braço livre por minha cintura me puxando para frente. Sério, mesmo com alguma meia dúzia de alunos zanzando pelo corredor ele não sentia vergonha do que ficava fazendo?


– Nós já conversamos sobre isso, se você quiser será o seu cheiro empreguinado na minha camiseta... – O sorriso se estendeu ainda mais malicioso. – Ou por baixo dela.


– Marcy não liga de você ficar me assediando no meio da aula? – Disse desagarrando de seus braços e jogando a mochila nas costas.


– Temos um trato.


– Trato? – Fiquei curiosa e permaneci por mais alguns segundos. – Que trato? – Seus olhos passaram por mim tão brincalhões que quis perfura-los com o resto das unhas roídas que tinha nas mãos.


– Eu posso fazer o que quiser com você desde que isso não atinja a nossa imagem de casalzinho perfeito, em troca ela pode fazer o que quiser com você desde que não me atrapalhe. – Depois de digerir as palavras encarei-o abestada arqueando o máximo que podia das sobrancelhas.


– E a minha opinião sobre isso tudo simplesmente não existe?


– Você tem o direito de permanecer calada, até porque nas suas atuais condições duvido que queira arrumar briga com aquela garota. – Tyler inclinou o queixo para a sala em que Marcy se encontrava. – Mas relaxa, comigo a coisa é diferente.


– Esse é o problema. – Revirei os olhos. No fundo o fato deles me usarem como um simples objeto de divertimento pessoal não me surpreendia mais. Eu com certeza não devia valer mais que isso, acho que até o interesse de algumas pessoas por mim não passam do mesmo que Marcy e Tyler tem, estaria Zachary nessa categoria também? Queria que não, ele parecia ser o único a me ver de verdade. Não percebi que já estava encarando o chão por um longo tempo, mas percebi que Tyler se encontrava surpreso com algo.


– É melhor você ir para a sala ou vai ficar para fora de novo. Francamente, não sei por que ainda frequenta a escola Erika, tenho quase certeza que é apenas para poder estar no mesmo espaço que eu pelo menos uma vez por dia. – Sei que o tom de Tyler era apenas de descontração estranhamente fazendo uma brincadeira que não fosse tão amarga. Em outras circunstâncias teria mandado-o a merda ou algo do tipo só que hoje eu simplesmente queria voltar para a minha sala de cabeça baixa, pensar que em questão de horas já estaria fora daqui. – Wells? – Seus olhos demonstravam preocupação, não havia notado que ficara aérea por certo tempo de novo apenas de olhos abaixados. Não podia demonstrar como realmente estava me sentindo, talvez Tyler só se sentiria mais vitorioso se me visse para baixo.


– T-tá tudo bem, eu vou pra minha sala, para de me perturbar. – Mesmo não convencido ele me largou. Tyler poder ter toda essa pinta de durão, mas sei que na verdade é um cara muito preocupado e qualquer coisinha de errada comigo ele dava um jeito de saber, e se pudesse, ajudava indiretamente nunca se metendo no meio.


Infelizmente essa aula era a de história, e assim como nos últimos dias Zachary daria um jeito de se sentar longe de mim. Na verdade depois que eu assustei o espinhento de trás fiquei completamente sozinha, todas as carteiras que tinham algum contato direto com a minha estavam vazias, a turma toda tentava dividir o mesmo espaço a partir da quarta fileira me deixando sozinha na quinta com apenas dois alunos nas extremidades da sexta. Patético, fechei os olhos e deitei a cabeça na mesa afagando-a com meus braços em uma tentativa inútil de repelir todos os burburinhos que começaram quando Zacky se sentou na primeira carteira perto de Cloe, uma das puxas-saco de Marcy. Risinhos debochados, comentários sarcásticos e tudo o mais que podia me atingir diretamente foi dito pelos alunos da sala sem se preocuparem em serem discretos. Eram tiros em minha direção, marteladas e socos, mas eu me mantinha calada, deitada como se estivesse dormindo. Coloco os fones escondidos por baixo da cabeleira ruiva e todos os comentários somem, me parabenizo mentalmente por ter lembrado deles.


Saio da sala e me assusto com o ronco alto que meu estômago da, por sair atrasada de casa acabei não tomando café nenhum, e também não havia trago nada de casa. Suspirei e catei o material de desenho encaixando-o cuidadosamente debaixo do braço, April veio a aula, porém acabou fugindo bem cedo por algum motivo totalmente desconhecido, se a vadia tivesse me chamado eu teria ido junto, mas agora são raras as vezes que ela me convida por achar que assim estarei saindo do meu próprio plano de não ser expulsa. Distraída, caminho lentamente até o jardim da frente e quando chego a grande entrada de ferro da porta principal de Marina High School Johnny surgi por trás e abraça meus ombros sem a mínima cerimônia.


– Não é por aqui que você vai. – Ele diz tentando me arrastar para o outro lado, mas eu não me movo.


– Que porra é essa? Me larga! – Grunhi com o solavanco que johnny deu para me arrastar.


– Não, eu estou indo para o refeitório e você vai comigo. – Tentei socar o tampo de sua cabeça e ele segurou minha mão. – Perdeu o juízo ou andou bebendo sem mim? – Falou calmamente.


– Não quero entrar naquele lugar! É tão cheio de...


– Gente? – Ele completa duvidoso.


– Sim! Gente que eu não suporto.


– Mas Zacky tá lá!


– Mais um motivo para NÃO ir. – Consigo soltar meu braço das garras do anão que para bruscamente me fitando desentendido.


– Ainda com isso Erika? Pelo amor de Deus, para de ser teimosa! Pensa: Vocês estavam bêbados! - Johnny gesticula alto como se desenhasse os detalhes de algumas coisas.


– Isso não é desculpa para ele ter feito o que fez!


– Tentado te beijar? – ruborizei por alguns segundos. – Erika, a cada dois segundo um cara tenta beijar uma garota do nada. Você realmente achou isso grande coisa? Acho que você tá fazendo essa tempestade toda porque no fundo também queria ele. – Ele sorriu no final da frase e dessa vez o coque pegou exatamente em sua testa num golpe perfeito. – AAAI CAPETA PORQUE FEZ ISSO?! – Ele esfregava as mãos no local avermelhada no topo da cabeça.


– PARA DE FALAR MERDA! ESSE ASSUNTO NÃO TE INTERESSA E... – Meu estômago roncou de novo e dessa vez duas vezes mais alto, de novo senti o rosto queimar e a expressão indignada de Johnny se iluminou em um sorriso travesso.


– Com fome? Que tal terminarmos de conversar no refeitório?


– Não! Eu não to com fome.


– Aham, então é a nova marcha nupcial que a sua barriga está tentando compor? – Ele riu de novo e eu queria soca-lo novamente. – Vamos lá, não precisamos sentar com Zacky, a gente fica longe e eu te pago o almoço, que tal? – Os olhos castanhos do pequeno pareciam bem convidativos assim como as dobras de seu sorriso fraternal, assenti a seu convite ainda um pouco desconfiada, o que não foi surpresa para Johnny. Ele passou o braço pelo meu guiando o caminho pela frente, ao atravessar as salas chegamos a grande porta azulada de metal do refeitório, engoli em seco quando entramos; A longa bancada plástica que comporta as refeições estava lotada de alunos de todos os anos, nem todas as mesas estavam cheias, porém ocupadas com grupinhos muito restritos a ponto de mesmo que o número de lugares vagos seja o dobre do de ocupantes ninguém pode se quer passar perto sem ser de fato convidado. A conversa alta e diversos gêneros musicais eram desnorteantes, assim como o trânsito inquieto de pessoas que se espremiam nos cantos do salão para poderem comer em paz. Novamente fui quase que empurrada até o balcão de comida, passei os olhos por todos os conteúdos chegando à conclusão de que quanto menos comesse mais rápido sairia daquele lugar. Catei apenas um bolinho de chocolate qualquer também não querendo que o nanico tivesse despesas demais por minha conta, já basta ser um estorvo para a própria família, não preciso ser para os colegas também. Conseguimos nos sentar na ponta de uma mesa ocupada apenas por dois garotos do terceiro B que não se importaram de dividir, joguei o caderno e estojo do lado esquerdo e abri a embalagem de plástico já mordiscando a pequena cobertura de glacê marrom que encapava a parte de cima do bolinho, Johnny pegara dois sanduíches de atum e mais uma garrafa gigante de Soda.


– Conheço um cara capaz de matar por um desses. – Johnny disse brincalhão e eu não entendi a piada de imediato, também depois que o fiz resolvi ignorar.


– Se quiser falar alguma coisa, seja rápido porque assim que eu engolir isso aqui vou vazar. – Disse sem encara-lo.


– Erika, eu só tô pedindo pra você pegar leve com o Zacky, ele também tá encucado com essa história. E quer saber? Pra mim os dois estão sendo muito idiotas! Se você não quer dar uns pegas nele, beleza só falar e ele vai continuar sendo o mesmo gordo atrapalhado de sempre. Zachary nunca tentaria fazer nada que você não queira, ele é gay demais pra isso. – Não entendo como respeitar uma garota pode ser considerado gay, mas se for mesmo assim na concepção masculina eu diria que Tyler é o cara mais macho que eu conheço.


– Ele não parece estar muito preocupado com isso. – Falo pensando na atitude dele nos últimos dias, porém a imagem de seu rosto rosado correndo atrás do carro de minha mãe também passa pelos meus olhos. – Pelo menos não agora...


– Não é você que sempre pede por espaço? – As sobrancelhas de Johnny quase se juntam e ele passa o polegar pela maçã cautelosa do rosto. – Ele só tá jogando de acordo com as suas regras.


– Haaa... Agora ele se preocupa com as regras? – Digo irônica e amaço o papel melado de cobertura na minha mão.


– Erika as pessoas erram! E mesmo assim, que garoto nesse mundo teria tanta paciência para aguentar todas elas até agora? Eu não sei o problema de Zachary, só sei que ele parece querer ser seu amigo. – Penso no modo como Zachary é incrivelmente gentil e surpreendente e sinto ainda mais raiva. Raiva por saber que as palavras de Johnny faziam sentido, antes eu só queria um motivo para repelir Zacky de vez da minha vida, e agora que tenho estou pensando em voltar atrás e ter a oportunidade de gastar mais tempo sendo importunada por ele. QUAL O MEU PROBLEMA?


– Então é essa vadia que estava dando em cima do meu namorado Clô? – Como um relincho de cavalo a voz de Marcy Freeman atraiu minha atenção para seus olhos azuis coberto de desprezo.


– Exatamente, eu vi essa coisinha se jogando pra cima dele antes da aula amiga, é claro que não podia deixar ela levar vantagem. – Os cabelos curtos e frisados de Cloe estavam sendo enrolados pela ponta de seu dedo indicador banhado em esmalte pink.


– Não sei se sinto pena dele por ter passado mais de cinco segundos olhando para sua cara de peixe morto, ou se sinto pena de você por achar que um dia ele cometeria o mesmo erro de se envolver com alguém de tão baixo nível. – A voz alta e chamativa de Marcy atraiu boa parte da atenção das pessoas do refeitório a nossa volta, as vozes começaram a cochichar e já pude sentir o arrepio na espinha que sentia quando as coisas esquentavam para o meu lado.


– Do que ela tá falando Erika? – Johnny perguntou em um sopro escondendo os lábios com a palma da mão.


– Ela só não se conforma de ser o a boneca reserva quando Tyler corre atrás de algo mais interessante. – Cloe cospe tão venenosa quando a amiga. Essas duas andam tempo de mais juntas. Ri amargamente das palavras dela e tentei encara-las com o mesmo desprezo e indiferença.


– Você realmente acha que eu ia perder meu tempo correndo atrás daquele perturbado? – Gritinhos incrédulos soaram ao redor de nós, para as garotas, chamar Tyler de algo menos que perfeito era quase um crime nacional. – Até onde eu sei quem tá pegando os restos aqui é você não é Freeman? – O sorriso superior desapareceu em seus lábios banhadas de gloss e até suas bochechas adquiriram um tom vermelho mais intenso que de seu blush.


– Isso é bobagem, todo mundo sabe que ele sempre foi louquinho pela Marcy, mas também quem não é? – Cloe forçou uma risada descontraída mas quando se viu sozinha parou e olho Marcy com olhinhos caídos.


– Como eu disse, ele cometeu um erro. Mas agora as chances disso acontecer de novo são nulas. – Os lábios dela cerraram bem rentes e pude ver seu delicado nariz franzir algumas vezes. Por algum momento olhei para Johnny que parecia bem atento a discussão olhando tão fixamente como o resto dos alunos.


– Se é assim, porque veio aqui perder seu tempo enchendo o meu saco? – Impaciente adquiri o tom mais áspero de costume mesmo sabendo que era contraindicado para Marcy.


– Para deixar bem claro uma coisa Erika Wells. – Os olhos se estreitaram e sua mão foi até a bandeja de Johnny catando o enorme copo de soda e imprevisivelmente derramando todo o conteúdo contra o meu rosto. O jato frio do líquido borbulhante arrepiou cada centímetro do meu corpo, cheguei a engasgar algumas vezes sentido que um pouco havia entrado nas narinas. A camisa social ficou encharcada e transparente marcando as linhas do meu tronco e exibindo os detalhes do sutiã preto liso por baixo dela, ainda não conseguia abrir os olhos devido à ardência incessante pelo golpe desprevenido. - Não importa o tipo de vadia que chegar perto dele, eu sempre estarei acima. Espero que tenha entendido com todas as letras querida. – Mesmo não enxergando, pude sentir o sorriso cítrico em seus lábios, tentei abrir os olhos a primeira vez e pude ver vultos por toda a parte, esses agora se acompanhavam de risos diversos e até alguns dedos apontados em minha direção. Uma pequena passagem se abriu e as duas meninas saíram triunfantemente esvoaçando seus cabelos. Consegui focalizar os olhos finalmente e passei-os por toda a roda que me cercava morrendo de raiva, vergonha e ódio. Eu sabia que além de ter sido humilhada publicamente por Marcy eu estava muito exposta com a roupa molhada, levantei brutamente jogando a cadeira de metal do refeitório para trás e procurando alguma saída entre as pessoas.


– Idiota, olha com quem ela foi se meter... Tinha que ser problemática mesmo. – Ouvi algum garoto dizer por trás de mim.


– Cansou de roubar objetos pra roubar namorados Erika? – Outra voz dessa vez feminina soou por perto. Fechei os punhos em uma tentativa de me acalmar e continuei a tentar passar pelos corpos, porém ninguém me dava passagem de propósito.


– CALEM A BOCA! – Ouvi Johnny gritar e se levantar tão bruscamente quanto eu, senti que o baixinho viria atrás de mim e o desespero apertou, eu estava muito envergonhada para encarar alguém desse jeito.


– Será que ela já deu em cima do meu? – Duas outras cochichavam encarando-me com muita raiva. Perdi a paciência e acabei por empurrar dois meninos derrubando um no chão e conseguindo me espremer pelos corpos.


– Erika! – A voz de Johnny apareceu uma última vez antes de eu me afundar em direção a porta. Enquanto levantava a cabeça a procura da saída meus olhos foram atraído para alguém. O coração doeu ainda mais, senti o corpo cambalear, mas por sorte não me desequilibrei. Um Par de esmeraldas vivas me encaravam com muito espanto e algo mais... Decepção? A boca entreaberta só complementava a incredulidade com ele me encarava. Não queria que ele me visse desse jeito, não queria que ele presenciasse essa humilhação. Minha garganta contraiu de um modo que nenhuma palavra poderia sair por ali, agora a sensação de que ele me enxergava era de longe torturante. Forcei o corpo a continuar sua caminhada até a saída me desvencilhando do olhar pesado de Zachary. Cheguei ao corredor e não consegui achar para onde ir, as coisas passavam rápido pelo meu campo de visão e sem pensar mais acabei parando na enfermaria. A portinhola cor de ferrugem estava fechada entretanto uma placa feita a mão em letras desenhas convidava a qualquer aluno a entrar. Assim que pisei no assoalho branco do pequeno recinto uma mulher de mais ou menos 1,60m de altura apareceu com um sorriso aconchegante em minha direção.


– em que posso ajudar? – Eu nem ao menos fazia ideia de quem era a nova enfermeira, mas senti uma vontade súbita de ficar perto dela apenas pelo modo gentil com que me recebera.


– E-eu... – respirei fundo para formar as palavras certas. – Preciso de alguma coisa seca. – Ela assentiu com a cabeça e graciosamente me puxou pelo braço até uma cadeira no canto da sala.


– O que aconteceu com você querida? – Balancei a cabeça como uma criança, mostrando que não queria falar sobre o assunto e ela pacientemente concordou. – Mas está sentindo alguma coisa? Se machucou? – Repeti o gesto e ela pousou sua mão sobre meu ombro em um gesto reconfortante. – vou pegar alguma coisa para você, deve ter alguma peça que te sirva no ‘‘achados e perdidos”. – Ela fez um pequeno coque nos cabelos castanhos e saiu da sala me deixando sozinha com o silêncio corrosivo. Cocei os olhos com toda a força possível impossibilitando-os de derramar qualquer coisa contra a minha vontade. Não era primeira vez que Marcy fazia alguma coisa desse gênero comigo, então não tinha o porquê de ficar abalada. Encostei a cabeça na parede finalmente me permitindo fraquejar, fechei os olhos e abracei meu próprio corpo para acalmar os tremores do frio enquanto os minutos passavam demoradamente. A porta se abriu e eu me botei ereta novamente, esfreguei as mãos só de pensar em ter algo quente para vestir mas quando voltei o olhar para a porta toda a onda de pânico e vergonha regurgitaram em mim. Era Zachary e não a enfermeira, ele me encarou cuidadosamente sem expressar o mínimo pesar, apenas fitando meu rosto. Não consegui manter meu olhar e o abaixei reparando em suas mãos, ele segurava alguma coisa mas a escondia atrás do corpo.


– Você esqueceu isso na mesa. – ele esticou meu estojo e caderno apoiando-os na mesa da enfermeira bem ao meu lado. – Achei que fosse querer de volta. – Continuei muda apenas olhando para o chão todo respingado de soda. O silêncio predominou e sem estar disposto a ir embora Zacky se sentou em um dos leitos um pouco mais distante de mim.


– Vai embora. – Sibilei mantendo a voz em tom neutro.


– O que aconteceu no refeitório? – ele perguntou e diferente de mim mantinha os olhos cravados em meu rosto.


– Não é da sua conta.


– Você só tem essa resposta? – Silêncio.


– Marcy é uma víbora vagabunda surtada. Fim da história. – Disse cruzando os braços sobre o peito em uma posição defensiva.


– Porque ela fica te marcando por causa do Tyler? Porque ela te acha uma ameaça ao relacionamento deles?


– Por causa dessa obsessão dele. Para não ser tachada de corna ela prefere jogar a culpa em cima de mim e faz todo um teatrinho para a escola.


– Mas você o repulsa, ela devia saber disso... – As palavras de Zachary já haviam me levado ao limite, eu queria aquele irritante longe daqui. Não me segurava mais nem media as palavras, simplesmente queria jogar tudo pra fora de uma vez e ver se ele caia na real.


– Eu já namorei aquele psicopata, ok? Sim, já fui apaixonada nele Zachary, já tive um lindo conto de fadas do lado da pessoa mais sádica do mundo, e sabe por que isso a incomoda tanto? Porque ela nunca teve essa oportunidade mesmo estando de quatro por ele! Isso é compreensível pra você não é? – Fitei-o com a pior carranca que consegui arrumar. – Agora o que não entendo é que caralhos você tá aqui fazendo um histórico da minha vida se isso não vai acrescentar nada na sua! Se já satisfez sua curiosidade pessoal VAZA! – Agora podia vez as emoções que ele lutava tanto para esconder. Surpresa, confusão e não sei por que mas jurava ver um traço de mágoa. Será que o fato de eu ter namorado Tyler era tão preocupante assim? Zachary se levantou, fez um pequeno gesto com a cabeça e se retirou sem dizer mais nada, nesse momento eu me perguntava o que havia feito para merecer tudo isso. Abaixei a cabeça mais uma vez, porém sem fazer questão de levanta-la quando a enfermeira passou apressada pela porta.


Antes de sair pequei meu material de desenho e o encarei por longos minutos apenas desejando saber o porquê tudo aquilo importava para ele, se a resposta estava clara na minha cara eu não podia dizer. Sabe, quanto mais perto ficamos de algo, mais difícil fica vê-lo, e ultimamente Zachary tem estado em tantos lugares que não o reconheço mais.


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Notas finais do capítulo

Ok, alguém tem noção do que vem por ai ? HAUHAUHAU (6) prevejo sangue -qqq principlamente o meu -qq