F R A G I L E escrita por Scorpion


Capítulo 9
09. Sinceridade.


Notas iniciais do capítulo

Já decidiram a ordem da fila para me matar? Ok, mas não comecem agora. Quem vai traduzir o resto da fic? u_u
Pois é. UGASDUYGDUAY
Enfim... Desculpem, ok? Amo vocês suas lindas. Obrigad anovamente por tooodos os reviews lindos! *-*



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09. Sinceridade.


Chorei em seus braços, não sei quanto tempo demorei para contar toda a história. Minha voz se cortava e os soluços não me deixavam continuar. Repeti ao menos cinco vezes a mesma frase, mas ele continuava escutando, limpando minhas lagrimas, e segurando minha mão quando sabia que eu precisava de força para continuar.

Apesar de que em seu olhar lia claramente “Eu te disse”. Nunca o pronunciou. E essa noite dormi com seus braços rodeando-me, protegendo-me toda vez que eu acordava com um novo ataque de medo e pranto.

Sua casa sempre estava aberta para mim, seus braços também. Seu ombro eu poderia me recostar, e uma mão que me dá forças para continuar. Assim é a amizade que Ray me oferece. Minha salvação, minha luz em plena escuridão.

-Um brinde pelos amigos. –Sussurrou ele quando me viu entrar com os olhos vermelhos e tremendo de frio e medo.

-Um brinde por eles. –Respondi horas mais tarde enquanto ele dormia.

 * * *

Voltei a minha adorável rotina.

Nunca devia ter a rompido. Nunca devia me afastar de minha segurança incondicional. Não deveria ter me apaixonado, mas você vê, o dever é difícil de cumprir.

Mikey voltou a me pedir que sorrisse mais, e eu voltei a fazer minha careta que tentava ser um sorriso.

Não me lembro de musicas de Frank Sinatra, e o que menos desejo é cantar.

Parece que tudo voltou a ser como antes, como quando ele não estava. Como deve ser...

Haviam passados alguns dias. Eu perdi a conta quando perdi ele. Mas que insistência a minha se ele nunca foi meu.

E quem ele vai culpar?

Oura lagrima descendo por meu rosto. A enxugo com raiva.

Não quero chorar, me sinto tão doente, tão miserável... Sendo vulnerável o mundo se aproveita de mim...

Mas o que isso me importa se quando não chorava continuava sendo vulnerável, e no final, conseguiu se aproveitar de mim. Pegar o que queria e ir sem dizer adeus.

Sinto que o odeio com a mesma intensidade que lhe amo. Como isso é possível?

Mas a campainha soou me indicando que alguém havia entrado na livraria, o qual me dava um grande alivio, poderia esquecer por uns instantes de seu sorriso, seus olhos e a felicidade que eu tinha em viver minha fantasia condenada.

Levantei o rosto e vi seu sorriso. De todas as pessoas que poderiam atravessar essa porta aquela visita havia sido a mais estranha.

-Olá querido. –Disse e me beijou na bochecha.

-Olá Donna. –Respondi a abraçando.

Suas mãos se agarravam fortemente em minhas costas, e até podia sentir suas longas unhas se grudando em mim. Sua cabeça caiu sobre meu ombro e meu ouvido pode escutar perfeitamente seu pesado suspiro.

-Como está bebê? -Sussurrou sem romper o contato.

-Você pode ser muito irritante quando tenta, mãe.

-Sou sua mãe, é minha obrigação ser.

Escutei seu riso que sempre me contagiava. Afinal de contas Donna não ria muito. Minha lamentável situação não me permitiu fazer o gesto recíproco, então minha mãe teve que se conformar com minhas mãos a apertando com mais força contra meu corpo.

-O que a traz aqui, Donna? –Perguntei afrouxando com suavidade o contato. Ato que minha mãe imitou me deixando livre e com maiores possibilidades de conseguir oxigênio.

-Bom, uma mão não pode sentir falta de seu filho?

-Sim, claro, mas isso não responde minha pergunta, não estamos falando de boas mães Donna, estamos falando de você. –Disse com zombaria.

-Você é um desgraçado, bebê. –Me pegou desprevenido e aproveitando disso pegou uma de minhas bochechas entre seus dedos, me dando um forte beliscão. –Venho falar de negócios Gerard.

-Bem. Me conte.

Minha mãe se encostou sobre o balcão e começou a me relatar os importantes acontecimentos que tinha a vez com sua visita ao contador para a compra de um local para abrir outra livraria. Mas eu só podia olhar para minha mãe sem escutar.

Seus lábios, finos e de cor rosa pálido, vitimas do passar dos anos e do abuso de batom se moviam de cima para baixo. Seus olhos opacos e rodeados de rugas que pareciam teias de aranhas brilhavam com um toque aquoso. Sua pele era pálida e seu cabelo aramado e loiro.

Me lembro que quando garoto gostava de sentir seu cabelo enquanto me cantava uma musica antes de dormir. Fechava meus olhos sentindo a maciez de seu cabelo longo...

-Gerard, estava me escutando?

Pisquei para me libertar de minhas recordações infantis. A confusão se apoderou de mim e minha boca se selou.

-O que você tem filho?

-Nada. –Murmurei.

-Você está com esse olhar. –Sorriu com doçura mostrando em seus aquosos olhos toda a ternura que uma mãe poderia entregar.

Não respondi, porque lancei a pergunta muda sobre “o olhar”.

-Quando sua avó se foi, quando seu pai... Se foi... –Disse o ultimo com o mesmo sentimento de toda a vida. Com dor, com pesar... E eu fechei os olhos como sempre, porque dói em mim também. Porque ainda pesa em mim sua lembrança. Porque ainda sinto falta dele, apesar de tudo. Suponho que sempre fui um masoquista.

-Do que está falando, Donna? –Viro e lhe dou as costas,

-Do olhar de odeio que você tem, Gerard.

-Eu não odiava a vovó. –Disse com uma mão limpando meu rosto. Minhas lagrimas estavam dispostas a atacar. –Eu não odeio o papai...

Suas mãos seguraram meus ombros e com sutileza me fez girar. Meus olhos ardiam. Queria deixar sair as gotas salgadas, mas meu orgulho me impedia de chorar em frente a ele, não outra vez, não por ele...

-Os amava tanto que os odiava por ter te deixado. Odiava que sua avó não estivesse contigo. A odiou quando já não quis abrir seus olhos para ver seus desenhos. –Me sorriu. –Odiou o papai quando ficou na porta te olhando com as malas em seus pés. O odiou quando não te ligou em seu aniversário, o odiou quando não chegou a consolar Mikey quando caiu de sua bicicleta.

Solucei com força. Com uma rapidez me deixei envolver entre seus braços e enterrei meu rosto em seu ombro. Me apertei a minha mãe como quando era um garoto e tinha medo do escuro.

-Quem se foi dessa vez meu amor?

Meu corpo tremia enquanto sentia a mão de Donna acariciando minhas costas de cima para baixo. As lagrimas queimavam minha pele, e a garganta não me servia para falar, estava inútil graças ao enorme nó de sentimentos.

-Quem você ama Gerard?

-Frank... –Soltei antes de gemer de dor ao só pronunciar seu nome. Nome que não havia pronunciado, só em sonhos e em lembranças. Nome maldito que se instalava em minha cabeça. Mas ao repeti-lo foi como o invocar em silencio, como quem chega ao tempo e sussurra o nome de seu Deus, para que lhe ajude, para que lhe incentive, para que não caia sua fé...

Meu pranto se intensifica e minha mãe só me sussurra palavras de carinho, me pedindo sensatez. Me transmitindo paz...

-Mãe... Mãe, o amo tanto! –Gritei com desespero. Me agarrando a suas costas, procurando se calor, sua proteção, o alimento de minha fé.

-Gerard... Tranquilo meu amor. Tudo vai ficar bem querido.

-Não, não, não. –Negava com a cabeça ainda apoiada em seu ombro. –Não irá. Sem ele... Nada ficará bem... Sem ele... –Solucei com agonia. –Sou nada, ele é tudo...

Meu corpo continuou desmoronando em lagrimas e dor, abraçado ao corpo de minha mãe. A mãe que sempre esteve comigo, unidos por um laço mais forte que o sanguíneo ou o carinho que se funda pelo costume de criança. É um laço de sentimentos compreendidos. Me entende com só um olhar em meus olhos, e só em seus braços sinto o calor concedido por uma batalha perdida na guerra da vida.

Estamos juntos desde que me desenvolvia em sua barriga. Juntos nas adversidades e nas alegrias. Juntos todos os Natais, todos os aniversario, e juntos compartilhando lagrimas quando Donald se foi. Juntos cuidando de um bebê, juntos quando este eu tive que cuidar.

-Te amo Gerard. Sempre estarei contigo.

E isso é tudo o que tinha que escutar para me sentir melhor. A única verdade. A única importante nesse momento.

-Eu também te amo Donna. Sempre serei seu bebê e você sempre será minha mãe chata.

-Sempre. –Sussurra perto do meu ouvido e beija minha bochecha. –Meu menino... Sempre...

Nos separamos. Sinto o frio do ambiente e vejo suas bochechas molhadas. Sorrio levemente. Ela limpa sue rosto e eu faço o mesmo com o meu.

-Frank? –Me lançou um doce sorriso. –Quem é Frank?

Desço o olhar e sinto o calor se apoderar de minhas bochechas.

-Era seu... Namorado?

Neguei com a cabeça. A timidez de minha mãe ainda me surpreendia.

Quando tinha 14 anos informei minha sexualidade e ainda que minha mãe tenha ficado vermelha até as orelhas quando decidi falar com meu pai, que já não vivia conosco, Donna foi minha defensora depois de que a palma de Donald se impactara contra minhas bochechas.

-O ama?

-O amo. –Assegurei olhando-a com meus olhos vermelhos. –Mas ele não me ama. Só fui... Ninguém...

-Você é uma grande pessoa Gerard. Qualquer um se apaixonariam por você...

“Não quero que qualquer um se apaixone por mim...
Só quero que Frank Iero o faça”.

Um casal de velhinhos entrou no local fazendo que mãe e filho recuperássemos a postura. Limpei minhas bochechas e mordi meus abios infinitas vezes para me tranquilizar. A mão de Donna segurou a minha enquanto o casal se afastava até as prateleiras do fundo.

-Tenho que ir. Nos vemos depois Gee. –Beijou minha bochecha.

Sorri e a vi partir.

Quem houvesse me visto nunca imaginaria que momentos antes estávamos tendo um momento tão intimo e tão único. Mas não importa que o mundo não saiba. Eu sei, ela sabe e com isso basta.

-Licença jovem, obras de Pablo Neruda?

Sorri ao homem de cabelos brancos e grossas lentes de armações marrom, e por um momento me esqueço de tudo, exceto de Pablo Neruda...

* * *

A campainha deixa sair seu chato som, mais uma vez, me informando que a porta havia sido aberta de novo, apesar de já ter colocado a placa de “fechado”.

Faz dois dias que Mikey havia colocado a campainha e já estou começando a pensar que não é uma boa ideia. Prefiro que Ray me mate de susto com suas misteriosas visitas a morrer de desespero com o irritante sino.

Quando, depois de uns instantes, não escuto passos ou alguma voz minhas suspeitas se tornam maiores que se trata de Ray e suas surpresas, então não me viro para olha-lo, afinal de contas, sempre acabo lançando um grito de uma forma ou de outra.

Continuo varrendo o piso de costas para a entrada, sentindo uma presença. Sabendo que ele estava ali. Sentindo sue olhar cravado em mim.

De repente umas mãos se colocam sobre meus olhos. Deixo cair a vassoura e minha vista se apaga.

-É dia de “visitar o deprimido Gerard”? –Pergunto ao meu atacante, sorrindo um pouco. –Ray, já te disse que estou bem.

As mãos apertam um pouco mais e sinto uma respiração se chocando contra meu pescoço, a quentura de um corpo perto do meu, mas sem roçar, e um cheiro de lavanda.

-Ray? Por favor, chega de jogos, você sabe que não gosto querido. –Disse então para afastar meus dedos e acreditar que continuo sendo vitima de um ataque de meu fiel amigo.

As cócegas que sinto em meu pescoço graças a sua respiração percorre de cima a baixo minha coluna e inesperadamente me dá um beijo na bochecha.

-Ray?

Não sei por que não me afasto. Meu corpo ficou paralisado desde o momento em que senti essa respiração chocando contra minha pele.

-Diabos Ray, está me assustando...

-Pare de falar esse nome. Irei ficar com ciúmes... –Morde o lóbulo de minha orelha.

-Frank... –Deixo sair seguido de um suspiro. Não pergunto, eu afirmo porque reconheço essa voz. Essa voz que se tornou mais conhecida por mim que o numero de dedos que tenho na mão direita...

Está aqui.

Veio para mim.

Está... Aqui...

Minhas pernas tremem, assim como minhas mãos que já estava em seus braços para separa-lo, ou ao menos essa era a desculpa para lhe tocar, mesmo que seja pouco.

Volta a dar um beijo em minha bochecha e eu, como o idiota que sou, volto a suspirar.

Suas mãos deixam meu rosto em liberdade. Seu corpo se afasta do meu e perco toda a quentura. Sua respiração já não colide contra minha pele, e as cócegas que parecia tão boa se afasta de mim.

Meu coração sorri.

Me faz tão bem que ele esteja aqui, ainda que tenha me feito tal mal...

Sometimes I feel good
At times I feel used
I feel you darlin'
Makes me so confused (*)

-O que… Faz aqui? –Pergunto sem virar para lhe ver.

-Queria comprar um livro, então vim a uma livraria. –Escutei seu tom divertido e estou certo de que nesse momento possui um lindo sorriso, que eu não, não vou ver.

-Está fechado. –Digo começando com a limpeza novamente.

-Bem... –Suspirou. –Bob me obrigou a vir, e como prova de que o fiz tenho que levar um livro de Stephen King.

Deixei a vassoura encostada na parede e vou procurar o livro.

-Revelações? Carrie? It? Qual quer? –Perguntava sem o olhar, caminhando de um lado para o outro, até que uma mão segurou com força meu braço.

-Também me fez prometer que falaria contigo. –Me olhou. –E quero que saiba que nunca quebro uma promessa.

Sua voz voltou a ser fria mas era um interessante contraste com seus olhos que destilavam fogo puro.

Fiquei estático hipnotizado pelas chamas em seu olhar, momento em que ele aproveitou para falar.

-Bob me explicou que foi ele quem te levou ao meu apartamento, esta com muita vergonha e se desculpa.

Por quê? Ia perguntar, mas não me atrevia.

-Porque ele sabia o que poderia acontecer. –Continuou o locutor adivinhando meus pensamentos. –Ele gostou de você, o que é incrível se for olhar a personalidade de Bob. Um completo eremita...

Sorriu. Talvez se lembrando desse loiro que eu começava a apreciar sem escalas. Abaixei o olhar e escutei um suspiro por parte de minha doce obsessão, levantei o rosto para lhe olhar.

-Ele... Bem, ele... Bob... –Afastou enfim seus inquietantes olhos esmeraldas dos meus e soltou uma pequena gargalhada. –Ele acredita que você está apaixonado por mim...

Seu riso se tornou estrepitoso, perfurando meus ouvidos, pisoteando meu coração, mandando a merda meus sentimentos, minha dignidade. Tudo.

Quem ama com devoção perde tudo...

Tudo.

Se quebra.

Morre.

Fica podre.

Tudo.

Quem ama com devoção...

Simplesmente vai para a merda...

(*)Fallin' - Alicia Keys


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Notas finais do capítulo

Tão vendo!? Ele não ouve o que o Ray diz... Dá nisso...