F R A G I L E escrita por Scorpion


Capítulo 8
08. Realidade.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro eu queria pedir desculpas as meninas que apareceram com a esperança de que eu fosse postar.
O caso é: eu não dormi em casa, fiquei lá mesmoa na casa da minha namorada e eu não tinha o outro capitulo, só tinha o do post de ontem mesmo. Então... Desculpem de verdade.
E tambem, sóa apareceu metade u.u
Não ia ter post de qualquer forma. qqq IUHASIDUHDASIUASD
VÃO LER! O post de hoje é... HM q



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08. Realidade.


As gotas batiam constantemente sobre o asfalto, minha janela estava aberta e em frente a ele meu corpo sentia a fresca brisas, assim como o quente abraço da chuva sobre meu rosto.

Tremi. Não sei se pelo frio de fevereiro ou talvez porque a voz de meu locutor favorito explodiu resvalando entre as quatro paredes de meu apartamento. Fechei a janela e me sentei ao lado do radio, o qual estava colocado ao lado de minha cama, em uma pequena mesa de madeira cor ocre [n/t: é uma variação do marrom].

Junto a mim descansava meus instrumentos. Escuto sua voz suave enquanto levanto a mange de meu suéter cinza.

-Boa noite, bem vindos a Romance a meia noite, sou Frank Iero e desta vez teremos um programa cheio de amor; amor doce e correspondido...

“Amor, te amo, e com que pouco se conforma. Com duas simples palavras seus olhos se iluminam e sua boca se transforma num sorriso. Amor, te chamo amor, e com que pouco me pressentia o elixir da felicidade em um beijo terno. Amor, te conto meu sonho, onde sempre está você, e com que simplicidade te faço suspirar. Amor, horas lhe faltam a noite, dias lhe faltam em minha vida para lhe agradar, para me encher de você.

Amor, que palavra mais patética. Não explica, não complementa, não reduz o que as borboletas em meu interior querem dizer. Te amo. Que frase mais banal, mas o senti no preciso instante em que te vi...”

Sorriu e coro ao mesmo tempo. Me lembro de seus olhos brilhando cada vez que lê uma de suas criações, e a forma que segura com suavidade o microfone.

“Só umas horas ao seu lado e já aprendi suas frações, já reconheço suas manias e posso prever suas reações”.

Quero descobrir mais. Descobrir o verdadeiro Frank Iero...

-Para você, doce amor, Bryan Adams, Everything I do I do it for you...

Volto a sorrir antes de colocar, com a ajuda de minha bocam o torniquete ao redor de meu braço, fazendo uma ligeira pressão.

Sei que é estúpido pensa-lo. Sei que é ainda mais estúpido deseja-lo. Mas sou estúpido, é minha natureza e minha realidade. Sou um estúpido porque acredito que havia dedicado essa musica para mim.

Inverto cada instante de consciência em pensamentos dedicados a você. É estúpido, mas sonhar me mantém com vida...

A dose está na seringa. Ainda tenho medo de agulhas e enterra-la em meu braço é uma clara amostra de masoquismo, mas não há outro modo.

O liquido transparente termina e minha mão que treme retira com lentidão a água de meu interior. Sinto o frio, ao mesmo tempo em que o ardor provocado pela substancia que agora percorre minhas veias. Gemo com suavidade perante minha triste realidade...

You know it’s true
Everything I do I do it for you... (*)

A música continua sendo escutada, e acompanhado pelo soar da guitarra, retiro com pressa o elástico para em seguida colocar uma bolinha de algodão molhada com álcool. A prendo com um esparadrapo e dobro meu braço contra o peito.

Suspiro.

Toda uma rotina.

Desde os seis anos cumprindo um tratamento obrigado, imposto desde aquele triste dia, até que minha respiração pare e meu coração deixe de bater.

Meu medo de agulhas, apesar de vê-las com uma frequência anormal, não diminui nem um pouco e, ainda que seja eu quem cumpra com a injeção intravenosa, não posso evitar estremecer perante a expectativa de ter aquele afiado objeto abrindo pouco a pouco, tecido por tecido, meu corpo até entrar em minha circulação. Minha mãe me ensinou aos doze anos como colocar o torniquete por mim mesmo, achar a veia, e a forma em que a agulha devia perfurar minha pele. “Como um aviãozinho”, dizia minha mãe me explicando com um sorriso.

Mas nunca encontrei o “bonito” ou “positivo” de estar me injetando a cada duas semanas, e em casos de hemorragia no momento do acidente.

Continuo sem encontrar o bonito ao ir ao hospital todo mês, para novos estudos que sempre determinam o mesmo. Sou hemofílico e nunca, jamais, poderei deixar de ser. Estou farto de ir a hospitais. Estou farto das enfermeiras que usam suas mesmas palavras, dizendo-me que não doerá quando pega uma amostra sanguínea. Estou farto de escutar o hematólogo dizendo que a hemofilia está indo em um curso leve, que eu deveria estar muito orgulhoso.

Mas não estou...

-“E o que você acha de tirarmos um descanso? O que acha de deixarmos de nos amar como o fazemos e só fingimos que o mundo continua girando, apesar de não nos olharmos todas as manhas ao acordar. O que acha d’eu esquecer de seu sorriso, de seus beijos e de teu riso? O que acharia se eu morresse e não voltar por ti, o que acha d’eu ir. O que pensa se um dia o que senti se perde no vazio.
O que acha?
O que acharia se alguém chegar ao fim do arco-iris...”

-Thank you, nos disse Dido na seguinte canção aqui em romance a meia noite. Thank you, thank you...

E aqui está meu esquecimento. Minha forma de deixar tudo para trás e que a pequena picada que sinto em meu braço desapareça. Sua voz, sua poesia e seus suspiros são a medicina suficiente para mim. Remédio, não para meu corpo, pois esse não me importa muito é só emprestado, de qualquer forma.

Meu Frank é o remédio para minha torcida, abandonada e podre alma. Arranca de mim sorrisos e olhares cristalinos. Libero lagrimas apressadas sob a chave da frieza e indiferença.

Quando sua voz me envolve meu mundo parece muito pacicifco. Quando seu vocábulo chega a meus ouvidos sou quem sempre quis ser. Outro ser humano mais. Com lagrimas, com riso. Normal...

I want to thank you for giving me the best day of my life
Oh just to be with you is having the best day of my life. (**)

Mais melodias vieram depois dessa. E mais versos seguiram os anteriores, mais imaginários olhos brilhantes, e mais suspiros se deixaram escutar até que terminou com seu acostumado “Boa noite”.

Desliguei o radio e deixei minha cabeça cair sobre o travesseiro. Fechei os olhos.

Mas não aconteceu mais nada.

Virava bagunçando os lençóis de minha cama, mas não conseguia dormir.

Faltava algo. Um calor que não era do meu pijama, um cheiro que não era do meu cabelo, e um corpo que não podia ser substituído pelo travesseiro.

“Duas noites abraçando seu corpo e já sinto sua falta. Duas noites em sua cama e meu corpo já a clama como sua proprietária”.

Não. Meia hora depois me convenci que não, não podia. Não podia dormir sem ver esses olhos fechados com suavidade, sem escutar a profunda respiração...

Não podia.

O que mais podia fazer?

Chamei um taxi. Em quinze minutos estava em frente a estação de radio. Paguei ao taxista de pele escura e colocando melhor o cachecol cinza ao redor de meu nu pescoço tentei entrar nas instalações.

Mas, claro, eu já não estava com Frank, e o guarda na porta não tinha porque me deixar entrar. Era de minha altura, olhos marrons e um espesso bigado castanho sobre seus lábios que se movia de cima para baixo quando falava.

-Mas, por favor, tenho que ver...

-Não, desculpe. Já lhe disse que sem passe não posso permitir sua entrada.

-Mas...

A noite estava muito fria e eu já não tinha mais argumentos contra o cansado segurança. Ele só estava realizando seu trabalho e tinha que aceitar.

Sorri e agradeci.

-Me desculpe pela chateação. –Disse e me virei, não sem antes escutar um “Boa noite” dito pelo homem cujo o crachá aparecia o nome “Carlos”.

Começaria a tortura psicológica, depois da aceitação, mas escutei alguém gritando meu nome.

-Gerard!

Girei e topei com uns olhos azuis e um corpo agitado se dobrando para apoiar as mãos sobre os joelhos, respirando com dificuldade.

-Gerard... –Murmurou sem ar.

-Bob, calma, respira. –Lhe disse preocupado.

Ele me sorriu e começou a respirar com mais calma depois de fechar os olhos e estirar os braços. Eu também sorri sentindo a frieza do ambiente se impregnando na ponta de meu nariz. Certamente ela estaria muito vermelha.

-Olá Gerard, o que faz por aqui?

-Vim ver Frank. –Respondi com a voz se estrangulando entre meu cachecol. –Mas não me deixaram entrar.

-Eu te vi. Imaginei que tinha vindo por isso. –Me disse Bob colocando suas mãos dentro do bolso de sua calça. –Por isso quis vir e te dizer que Frank já se foi.

-Oh. –Pronunciei decepcionado. –Bom, então... Melhor eu ir, está frio e... Bom, suponho que não era tão importante vê-lo...

-Tem certeza? Poderia te levar a sua... –A boca de Bob deixou de abrir para falar. Fechou os lábios fazendo pressão enquanto tirava seu olhar do meu, que nesse momento lhe olhava com curiosidade, e porque não dizer com esperança? Esperança de poder voltar a dormir entre seus braços.

-Poderia me levar ao seu apartamento? –Perguntei com a voz de um garotinho esperando sua visita a sorveteria.

-Eu, bom, eu... Não acho que seja necessário...

-Não tenho carro. –Disse com um sorriso.

Vi as bochechas de Bob corar e não pude deduzir se de verdade era por conta do vento frio da noite.

Sem dizer mais nada assentiu e entrou em um carro azul, o soube quando parou e observei o interior do mesmo. Não pude o ver bem antes, estava estacionado em um canto debaixo de uma arvore. As luzes do alarme se acenderam e foi a forma em que pude ver que se tratava de um carro, aquela mancha escura. Nossa viagem foi estranhamente silenciosa. E o resolto porque Bob não era alguém calado, ao menos quando fui a estação, na cabine de controle me contou varias coisas de sua vida em menos de 10 minutos.

Agora só olhava fixamente o caminho molhado depois da chuva, sem fazer movimentos aparente, acentuando o movimento de seu peito ao respirar ou quando piscava.

-Bob...

-Talvez não esteja em casa. –Falou me interrompendo, desta vez virando sua cabeça para me olhar. –Talvez Frank não esteja. Ele... Costuma sair depois do trabalho.

-Oh... Sempre o faz?

-Na noite em que você chegou com ele não fez. –Seu olhar voltou a se perder no caminho, tentando conduzir com o trafego mínimo.

-Não importa. –Desenhei em meu rosto um sorriso. –O esperarei...

-Frank Iero é um personagem, não?

Não respondi. Só lhe olhei encostando minhas costas na porta para poder lhe olhar melhor.

-Cada vez que entra nessa cabine é como se convertesse em outra pessoa, sabe? Com sua poesia, suas palavras doces, e as dedicatórias. É outra pessoa... Frank Iero é uma farsa.

-Frank é Frank. –Disse tentando defendê-lo e tentando convencer a mim mesmo. Tentando fazer com que as palavras de Bob não me afetassem. Tentando...

-Sim. –Sorriu. –Frank é Frank.

O carro parou. Sem notar já estava em frente ao seu prédio.

-Por isso. –O cinto ficou solto e suas mãos deixaram o volante para serem colocadas sobre suas pernas. Me olhou. –Por isso não se apaixone por Frank Iero. –Me sorriu. –Você é uma boa pessoa, Gerard.

-Eu... –Havia um nó em minha garganta e um intenso calor em meu corpo.

-Gerard.

Lhe olhei sentindo com força aquele calor se instalando em meu interior.

-Não se apaixone por Frank Iero, o personagem, a farsa... Não o faça...

Abri meus olhos com surpresa. Não entendi suas palavras de primeira.

Me dava pânico me por a analisa-las. Em minha cabeça o amor louco, cego, devoto pelo locutor de radio, se escondia daquelas palavras. Temeroso por aquele... Conselho? Advertência?

Assenti com preocupação, com medo, com um calor ainda me abraçando.

Bob me sorriu e sem esperar que eu entrasse no prédio arrancou com velocidade.

Fechei meus pensamentos.

Não duvidaria. Não analisaria. Não perguntaria.

Amor devoto.

Eterna devoção.

* * *

O porteiro me sorriu.

-O senhor Iero não se encontra, senhor. –Disse me reconhecendo.

-Queria entrar e lhe esperar, claro, se eu puder.

-Claro que sim senhor. Informo ao senhor Iero que o senhor está lhe esperando?

-Não. –Sorri. –Quero que seja uma surpresa.

O homem lançou uma gargalhada que por pouco me contagia.

-Sempre é senhor.

Não entendi, mas meu cérebro tinha a firme advertência de não me colocar a analisar nenhuma frase suspeita ou indireta recebida.

 Subi as escadas até chegar ao terceiro piso. Me dirigi até o final do corredor para me deixar cair me encostando na parede , fazendo de companheiro uma pequena palmeira colocada em um redondo pote de cor melão.

Os minutos passavam e minha cabeça se concentrava só nos sons ao meu redor. Percebia o ruído de minha respiração, os batimentos de meu coração, e até podia escutar o movimento de meus cílios.

Fechei os olhos e estirei os pés. Algo me dizia que tinha que ir, que não ia voltar. Outra voz me dizia que não gostaria do que teria para ver. Outras mais me advertiam da mentira, mas não queria acreditar.

Não posso duvidar do que sinto por ele. Não posso colocar em duvida o que mais aprecio na vida. O que na verdade me deu a vida...

O som do elevador se deixa escutar. Meu interior sorri ao imagina-lo perto.

Escuto murmúrios. Risos que se abafam em sons úmidos.

Volto a fechar os olhos instantes.

“Não. Não. Não. Não.”

Passos torpes que se arrastam pelo piso de mármore branco.

Duas sombras se tornam visíveis.

“Não. Não. Não. Não.”

Um corpo empurra o outro contra a parede.

Se beijam.

“Não. Não. Não. Não.”

Mãos, pernas, línguas que se entrelaçam.

Fracos gemidos.

“Não. Não. Não. Não.”

E meu Frank sendo iluminado pela tênue luz do corredor, empurrando esse homem ruivo que não para de gemer. Uma de suas mãos se colaram entre a calça de Frank, mas este o para.

-Vamos para dentro... –Tenta sussurrar, mas sua voz é forte, sensual.

O homem sorriu e voltou a beijar.

“Não. Não. Não. Não.”

Me coloquei de pé. Com dignidade. Não sei de quem a peguei emprestada.

Quando a porta se abre o locutor me olha com um sorriso. O cara de cabelos vermelhos também o faz.

“Frank Iero é uma farsa.”

Não existe meu maravilhoso poeta? Não existe o guerreiro do amor?

O garoto de cabelo cor de corvo segura o ruivo pelos cabelos e, sem deixar de me olhar com um sorriso terrível, lhe beija com paixão. Suas línguas saem para fora, e enquanto o homem se perde no mar de sensações Frank continua me olhando com esses inquietantes olhos verdes. Porque esta noite eles brilham como esmeraldas.

Permaneço em pé, paralisado. Sem poder acreditar. Sem querer acreditar.

Pensar que sou o único. Que poderia ser.

Em que me baseio!?

Nem sequer tentou me procurar, nem sequer... Não somos nada. Não me deve nada, não me prometeu a vida inteira juntos, nem me jurou seu amor incondicional.

Não se entregou a mim. Não fomos um laço inquebrável.

Não é meu.

Não fizemos amor. Fizemos sexo.

“Não se apaixone por Frank Iero, o personagem, a farsa... Não o faça.”

Foi como descobrir a verdade mais obvia, mas a mais cruel.

Foi como... Sabe que Papai Noel não existe, ou que a fada dos dentes nunca me visitou. Foi como abrir os olhos e arrancar meu coração.

Foi dar senti a frase “a verdade dói”.

Dói. Dói muito. Aqui em meu peito...

O homem se separa de Frank para me olhar com desprezo.

-Quem é? –Perguntou.

-Ninguém. –Seu sorriso cínico voltou. Pego o sujeito pela jaqueta para empurra-lo. A enorme porta se fechou e meus joelhos me deixaram cair.

Como fui tão estúpido! Como pude continuar me iludindo!?

Como não pude ver antes. Queria sexo. O teve, e me deixou ir.

Justamente como Jason, o homem com quem fodeu no banheiro. Só era isso, não Frank?

Já não sirvo. Já...

As lagrimas me rasgam a pele. Furiosas escorrem por minhas bochechas e meus punhos cerram.

“Não se apaixone... O personagem, a farsa...”

-Bob... –sussurro com minha voz soluçante.

Meu pranto aumenta. Meu desespero cresce sem medidas. Quero gritar, me atirar pela janela por ser tão estúpido. Quero beijar seus lábios e esquecê-lo...

-Bob, me apaixonei pela farsa, pelo personagem, me apaixonei e esta noite estou decepcionado. Esta noite meu coração desmoronou e minha alma só o despreza... –Sussurro com os olhos fechados.  –Mas se a farsa me decepcionou, porque continuo desejando-o? Porque continuo querendo-o como o faço? Porque continuo o desejando?

... Porque seja quem seja Frank Iero, o Frank. Locutor, ser humano, ou extraterrestre, o amor.

O amo...

Amor devoto...


(*)Everything I do (I do it for You ) - Bryan Adams
(**)Thank You - Dido


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Notas finais do capítulo

Sinto pessoas correndo atras do Frank com tochas em 3... 2... 1... UYGADSUYGDSUYGDSUYADSG
Não matem ele agora ):
Ainda tem MUITA fic pela frente!
Até mais lindas *-*