Abri os olhos e logo percebi que estava em pânico. Minhas mãos tremiam, eu suava descontroladamente e não parava de chorar. Quis gritar, mas minha voz havia se escondido. Meus olhos estavam abertos mas eu não conseguia enxergar nada. Era como estar presa no meu próprio corpo, sem que eu pudesse dominá-lo. Senti uma dormência na garganta, eu finalmente estava gritando.

– Anjo, calma. Foi só um pesadelo. - Consegui enxergar o rosto de Beck, rapidamente me joguei em seus braços.

– Beck, por favor, fica comigo hoje. - Lutei contra as lágrimas. Por que um mísero pesadelo estava me deixando tão descontrolada?

– Sempre que quiser Anjo. - Me levantou do sofá e me colocou no seu colo. Encostei a cabeça no seu peito e suspirei.

– Preciso sair, me distrair um pouco e tal.

– Onde quer ir Anjo? - Acariciou meus cabelos e beijou minha testa.

– Não sei, vamos pra um lugar calmo, que tenha bastante espaço e pouca gente. - Sorri.

– Claro Anjo. - Encostou seus lábios nos meus rapidamente. - Sei o lugar perfeito.

Logo estávamos em seu carro, com duas malas pequenas de roupa e equipamentos para acampar. Depois que o Beck apareceu eu não tive mais a mesma rotina, nada de faculdade, nada de emprego, nada de vida normal. Ele conseguiu bagunçar tudo em poucos dias e eu tinha medo do que poderia fazer comigo, do quanto poderia me machucar, me decepcionar quando "quebrasse meu coração". Me perdi nesses pensamentos por um longo tempo.

– No que está pensando Anjo?

– Na bagunça que você fez em mim. - Abaixei a cabeça. Não queria que ele percebesse o quanto significava para mim. Expressar sentimentos é a maior fraqueza de qualquer pessoa, e comigo não era diferente. Eu sabia que poderia perdê-lo caso não demonstrasse tudo que eu sentia, mas o meu orgulho era grande demais.

Beck não falou nada, seu rosto ficou sombrio de repente. Estava concentrado na estrada, mordia o lábio inferior. O sol bateu em teu rosto e consegui ver todos os seus traços: seu queixo pontudo e ao mesmo tempo perfeitamente arredondado; os lábios de formato perfeito em linha reta; o nariz de tamanho médio, ideal para seu rosto; os olhos de um verde intenso que estavam frios e completamente irresistíveis. Desci o olhar para os músculos de seu braço, a pele clara do teu pescoço, a blusa colada no teu peito. Beck era meu ponto fraco. Cada centímetro do teu corpo causava uma sensação diferente em mim. Cada palavra que saia da sua boca me causava calafrios, o seu cheiro me entorpecia e eu me viciava em cada beijo seu. Não conseguia mais imaginar a vida sem ele. Esse era o perigo.

– Acho que fomos rápidos demais. Nos conhecemos a poucos dias e já estamos tão íntimos. Quero dizer... Você já dormiu comigo, me viu sem blusa e coisas assim, realmente rápido demais.

– O que quer dizer com isso? - Diminuiu a velocidade do carro.

– Quero dizer que, já que insiste em entrar na minha vida, faça o favor de não me abandonar tão cedo. - Abaixei a cabeça e sorri. Beck estacionou o carro em uma clareira. Eu escutava o barulho do mar... Estávamos no litoral? Como Beck conseguiu chegar lá tão rápido?

– Anjo, quantas vezes vou ter que te dizer que não vou te deixar? Confie em mim. - Puxou meu rosto levemente e encostou teus lábios nos meus. Tudo de repente ficou confuso, eu não sabia o que estava pensando, não sabia como controlar o que sentia. Apenas o beijei, já estava acostumada com os frios na barriga e as borboletas no estômago que ele me causava. Terminamos o beijo de uma forma lenta, com vários sorrisos, risadas e selinhos. - Vamos montar o acampamento aqui.

– Pode me explicar porque você já tinha uma mala de roupas suas no carro? - Sai do carro dando risada.

– Eu já planejava sequestrar você. - Sorriu e tirou as coisas do porta malas. - Quer dar uma volta? Pode ir enquanto eu monto a barraca. - Ri alto quando vi Beck segurando toda a bagagem de uma só vez, segurei seu rosto e beijei rapidamente seus lábios.

Eu nunca confiei no meu sentido de direção, então fui seguindo o barulho do mar. O dia estava nublado, porém com a temperatura perfeita. Continuei andando e desviando de qualquer planta ou inseto que eu encontrasse na minha frente. Logo cheguei na praia, o vento passou por mim trazendo um cheiro delicioso de maresia. O barulho das ondas se quebrando me tranquilizava. Dei alguns passos e fechei os olhos, apenas sentindo o vento bagunçar meus cabelos. Minha mente estava vagando, relembrando todos os momentos com Beck até agora. Se aquela viagem tinha a intenção de me fazer esquecer o sonho com o Taylor, tinha conseguido. Dei mais alguns passos em direção ao mar, me sentindo extremamente confortável. Logo senti alguém me abraçando por trás, passando os dedos no meu pescoço, nos meus cabelos, no meu rosto... Me encolhi e aproveitei ao máximo o abraço, querendo sempre estar mais perto. Beck beijou minha bochecha e apontou para o pôr do sol.

– Esse lugar é especial pra mim. O pôr do sol é sempre mais bonito visto desse lado da praia, mas a maioria das pessoas acham perigoso vir aqui por causa das ondas e os surfistas acham a água gelada demais. Eu ficava horas e horas aqui, pensando em uma forma de ir falar com você, de te dizer quem eu sou. Tem muita coisa sobre mim que você não sabe Anjo, não sou o tipo de cara ideal para você. Não sou bom, não sou justo. É por isso que preciso que me conheça bem, pra ver se vale a pena continuar comigo.

Senti meu corpo ficar tenso. Beck falava baixo no meu ouvido e isso deixava o clima ainda mais misterioso. Suspirei e apertei os braços de Beck em mim. Eu o queria, não podia mais negar, e para isso teria que aceitar teus erros, assim como ele aceitava os meus.

– Pode me contar.

Beck sentou na areia e eu sentei entre suas pernas, encostei a cabeça em seu ombro e fechei os olhos.

– Lembra quando você leu um livro chamado Sussurro? - Ele riu baixinho. - Lembra de toda a história? Dos anjos, nefilins, arcanjos...

Reconheci o nome do livro e logo toda a história voltou à minha mente.

– A pena... - Falei baixinho.

Beck ficou em silêncio. Os meus pensamentos estavam certos.

– Beck, você não pode ser um anjo, isso não existe.

– Anjo...

– Não! Não me chame desse jeito. Isso não existe, não existe! Para de tentar me confundir.

– As tatuagens, as penas, tudo que tem acontecido... Não acha estranho isso?

– Tudo que tem acontecido o que? Você machucou o Kevin, Beck? Me diz, o que mais você fez?

– Belle, calma, não fui eu, eu te juro. Acho que foi um nefilim. Eu sou um anjo caído, esse colar que você ta usando era meu colar de arcanjo. Eu não sabia como te contar então gravei as palavras nele, achei que fosse ajudar. - Passei o dedo no colar de asa de anjo que eu usava desde o dia em que o achei, as palavras "anjo-caído" pareciam queimar o meu dedo agora. - Não espero que entenda tudo agora, eu posso ir te explicando com o passar dos dias.

– Consegue colocar imagens e visões na minha cabeça? - Talvez Beck fosse mais perigoso do que eu imaginava.

– Não, você controla muito bem sua mente. Eu me tornei seu anjo da guarda quando você chegou em Fresno. Lembra que na primeira semana aqui quase sofreu um acidente de carro? Eu te salvei, se é que podemos dizer assim. Depois você começou a namorar o Taylor, ele é um nefilim. O meu nefilim. Conseguiu fazer você desistir de um anjo da guarda, ele te fez falar que era independente e sabia se cuidar sozinha, lembra? Naquele momento eu voltei a ser anjo caído e você ficou desprotegida. Mas eu estava apaixonado por ti, não desisti de vigiar você. Tentei ser o mais invisível possível, mas eu precisava de ti, precisava ficar perto, sentir você. Entende? Sei que é confuso, mas por favor, entenda que eu só quero proteger você, só isso. - Beck me abraçou forte e beijou minha cabeça.

– Meu ex namorado é o seu nefilim? Vai me dizer que assim como Patch e Nora você também precisa me matar pra virar humano?

– Não exatamente, até onde eu sei.

Fechei os olhos. Eu teria muitas coisas para pensar agora.