Leka: Ciudad Sin Fe escrita por Scorpion


Capítulo 14
Quatorze.




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14.

Só por essa noite ele se permite ser egoísta e que o “mudar o mundo” espere, só por essa noite.

I

O martelo da juíza Malone bate contra a base de madeira logo depois de dar sua sentença.

Dois policiais escoltam Frank Iero para fora da sala, enquanto este só pode se mover debilmente. Havia ficado impressionado. Com os olhos muito abertos, a boca muito cerrada e o corpo tenso. Em nenhum momento havia se sentido assim. Nenhuma outra sentença tinha o peso emocional do que a que tinha acabado de ser determinada.

Frank Iero tinha liberdade condicional.

II

Mikey Way tinha provas finais.

As provas finais mais importantes de sua vida. Se conseguisse alcançar a nota poderia se graduar com base nela e não teria que fazer tese, só o exame profissional.

Mikey se sentia emocionado e assustado pela idéia de terminar seus estudos. As aulas da faculdade parecem muito seguras em comparação ao mundo real onde as oportunidades são escassas, a competência mata e de segurança resta muito pouco, especialmente em Leka.

Felizmente Mikey é um aluno destacado e continuara com o mestrado em outra faculdade, em outra cidade, sob a tutela de um de seus melhores professores que já havia o convidado a participar de sua equipe de trabalho.

Por isso agora desfrutava da solidão em casa, graças ao abandono de Bob, que já havia ligado para dizer que estava bem, que as coisas com seus pais melhoraram e que os visitaria quando fosse possível. Bob, no final das contas, era um bom cara e deu a experiência a Mikey para poder confiar no instinto de seu irmão, que ainda perecia inocente mas que mostrava ter a capacidade de ver através das pessoas e suas verdadeiras intenções.

Sua mãe havia saído para fazer compras e Gerard continuava no trabalho.

O apartamento para ele só. E ainda que os barulhos parecidos com estalos lhe façam tremer ele prefere se concentrar em seus livros e só tentar sugar todo o conhecimento possível.

Lamentavelmente o telefone faz sua aparição e o toque constante lhe faz ter que correr até a sala para poder atender.

–Diga?

–Gerard?

–Não, Mikey. Gerard está trabalhando, mas não demora. Quer que eu lhe passe alguma mensagem?

–Sim, bom... –Mikey escuta como a respiração da outra pessoa se agita. A voz parece desconhecia, mas é nasal demais para saber de quem é. –Diga-o... Que o verei logo.

–Claro, mas, quem é?

–Sou Frank, Mikey.

Então Mikey aceita a mensagem e diz “até logo”. Ainda sentia muito.

Muito por prejudicar a única pessoa que fez Gerard radiante. Não tem valor para perguntar ao seu irmão por ele, apesar de que sabe que o faria muito feliz. Não tem voz para continuar com a conversa. Não tem consciência para fingir que todos os horríveis pensamentos contra ele foram um equivoco.

Mikey errou, mas ter que aceitar os erros não é tão difícil.

A tarefa pesada é emenda-los.

Mikey tem medo. É um irmão ruim, mas poderia mudar.

É questão de fechar os olhos, respirar fundo, e se propor.

III

Jacob é um homem de aproximadamente cinquenta anos, com duas filhas e uma esposa que vende comida para fora de casa. Ele tem um turno exatamente igual ao de Gerard e uma pequena loja de estofados quando não havia conseguido o trabalho.

Gerard lhe conheceu quando o homem teve um acidente e fraturou o pulso. Estiveram a ponto de despedi-lo, mas David Thurson entendeu quando o de cabelos negros defendeu o, até então, desconhecido homem. Afinal de contas, havia sido um acidente e era injusto que alguém fosse despedido só por não ser de aço.

A partir de então, e depois dos dias de descanso de Jacob, com benefícios garantidos, o homem teve confiança e agradecia a Gerard Way, que parecia um eficiente fantasma no lugar.

Quando Jacob lhe contou sobre seu antigo trabalho o de cabelos negros teve os olhos iluminados.

–Você... Pode fazer telas?

–Os marcos de madeira com o tecido para pintar? –Pergunta o homem.

–Exatamente.

–Claro que sim.

–E quanto custaria?

Jacob Ulmer mudou a vida.

Talvez fosse pouco mas, semanas depois, quando sua filha mais nova ficou doente, não teve que se preocupar tanto pelo custo do medicamento, Gerard havia pedido duas dezenas e havia dado a metade como adiantamento. Suas prestações ajudaram, e parecia que no trabalho todos estavam com um bom humor contagiável, talvez por seus supervisor, David Thurson, com uma nova mentalidade positiva.

IV

–Estou em casa!

Mikey deixa o escritório e os livros. Sai de seu quarto e encontra seu irmão farejando a geladeira.

–Hey Mikey! –Exclama sorrindo quando o vê.

–Hey, Gee.

Gerard volta a atenção para a geladeira, mas não há muito onde procurar.

–Mamãe foi fazer compras. –Anuncia o menor e isso enche Gerard de esperança.

–Ok, vou esperar.

Então vira e olha para seu irmão, que tem a cabeça baixa e parece evitar seu olhar. Sabe que Mikey está em provas finais, e em mais de uma ocasião havia tido que levar o jantar de seu irmão menor, já que este não se movida dessa cadeira mais que para tomar banho, dormir e sair para trabalhar.

Por isso se surpreende ao vê-lo ali. Sem se mover e aparentemente consternado, mas ali.

–O que foi? –Finalmente pergunta, e finalmente Mikey se atreve a lhe olhar.

–Ligaram pra você esta tarde.

–Que?

–Disse que viria logo.

–Mikey. –Sorri. –Quem era?

–Frank.

Então Mikey olha seu irmão abrir os olhos e sorrir. Sorris de uma forma tão agradável, espontânea, e enorme que Mikey não se lembra da ultima vez que o viu sorrir assim.

–Realmente. –Começa Mikey. –Você está muito apaixonado por ele, não é?

–Mikey...

O rosto de felicidade perpetua cai.

–Gerard, eu não entendia... Suponho que continuo sem entender bem.

–Ele é uma boa pessoa, Mike. –Assegura. –É bom, me inspira, me apoia. O amor pelo que ele é, e o que eu sou por tê-lo junto a mim.

Gerard não o vê vir, mas Mikey lança os braços ao redor de seu pescoço e abraça seu irmão mais velho, que não devida ao corresponder, ainda que não entenda o gesto.

–Me dói aceitar que alguém mais cuide de você. –Murmura contra seu ouvido. Então Gerard escuta um soluço e aperta contra seu corpo seu irmão mais novo. –Sempre havia sido eu, Gee. Você é meu irmãozinho.

–Mikey, me deixa crescer. –Sussurra. –Me deixa ser o irmão mais velho.

–Me desculpe Gee, não devia ter me intrometido. Eu te superprotegi tanto...

–Sei que não confia em mim Mike.

–Confio. –O separa e Gerard pode ver seu irmão mais novo com lagrimas escorrendo através de suas bochechas. –Agora sei que você é um “menino grande”, e eu voltarei a ser o “irmãozinho”, ok?

Gerard assente com a cabeça.

–Me perdoa.

–Eu te amo. –O beija nos lábios. Um só contato que dura uns poucos segundos para depois envolver o fino corpo de seu irmãozinho.

–Também te amo, Gee.

Se a vida fosse outra
E a morte chegasse
Então te amaria
Hoje, amanha...
Para sempre...
Ainda (*)

O momento é interrompido quando se escuta a chave entrando na nova fechadura da nova porta.

–Mamãe. –Murmura Mikey.

–E o jantar.

Se separam e sorri, e ambos volta para a porta esperando ver Donna. Mas a vista lhes surpreende quando sua mãe chega sem sacolas.

–Olhem o que encontrei! –Grita então a mulher entrando no apartamento e permitindo o passo a um garoto de cabelos negros que carrega sacolas com alimentos e outros produtos necessários para o dia a dia. É de baixa estatura, pele pálida, lábios finos e bochechas coradas. É um garoto que sorri apenas e olha para Gerard.

E Gerard lhe olha. E no mesmo momento em que o viu colocar um pé em sua casa sua respiração se cortou. E se sua mãe o via era porque não era uma simples aparição.

Era real.

Frank era real e estava em sua casa.

Estava...

Livre.

Então não lhe importava as compras, ou a porta aberta, ele correu para lhe abraçar, porque poderia ser uma grande alucinação. Só queria lhe tocar e saber que o que vivia nesse momento era verdade.

Que Frank estava livre e que estava com ele.

V

Frank não notou, mas estava chorando.

Ao longo de suas vidas havia tido muitas entradas a e saídas na prisão, mas pela primeira vez esta parecia ser uma chegada, finalmente, a um lar.

Por isso, e sem sequer perceber, chorou contra o ombro de Gerard, apenas conseguindo deixar as sacolas no chão. Se abraçou a ele como se sua vida dependesse disso, como se fosse a única solução para todos os problemas do mundo. E realmente foi, durante esses segundos. Abraça-lo foi para Frank a resposta de todas as perguntas e a cura para todas as doenças.

–Frank. –Lança seu nome com um suspiro e Frank só pode chorar mais forte.

Porque se sente como se o ar fosse mais fresco, as cores mais brilhantes e a vida mais feliz.

Havia imaginado o momento desde que as palavras da juíza foram assimiladas por sua mente. Imaginou mil encontros e o que nesse momento poderia sentir, mas nada se compara com o tremendo golpe de seu coração e a vontade de abraça-lo e nunca mais deixa-lo ir.

Frank Iero está em casa.

–Eu te amo.

–Está em casa, com a pessoa que ama e preparado para mudar o mundo.

–Mikey, me ajude com o jantar!

Mas os momentos não são eternos, então o abraço termina e ainda que os lábios queimem para se beijar Gerard se contem por seu irmão, mas mais ainda por sua mãe.

Ela não sabe da profundidade da amizade de Gerard com Frank, e ainda que seja suspeito ela nunca havia perguntado. Gerard leva Frank para a sala de jantar, empurrando-o pelas costas.

–Se vocês preferirem garotos, -Disse Donna virando na cozinha para poder olha-los. –podem deixar de lado o jantar e ir para o quarto.

Mikey cuspiu a água que bebia e Frank sorriu timidamente, querendo se esconder atrás do Way maior.

–Mamãe... –Começa Gerard, todo bochechas coras e com a mão direita nas primeiras mechas de cabelos para puxar.

–Não pense que sou idiota Gerard.

Frank se assusta porque não tinha pensando que o reencontro deixaria Donna irritada pelas preferências sexuais de seu filho.

–Mamãe, me deixa explicar...

–Uma mãe sempre espera coisas. Coisas simples. –Olha para Gerard e sorri. Seus olhos claros se inundam de lagrimas e o coração de Gerard se parte. –Que seu filho cresça, que seja bom. Que tenha uma boa esposa com lindos filhos.

–Mãe. –Dessa vez Mikey sussurra. Calmo e recuperado coloca uma mão sobre o ombro de sua mãe e esta acaricia a pele de seu pequeno.

–Eu tive que ser uma mão muito forte. Uma mãe nunca espera ver seu filho sofrer, imerso no mundo das drogas. Não se supõe que a vida seria assim. –A primeira lagrima cai. –Mas então ele chega, -Olha para Frank. –quando eu não acreditava que meu filho voltaria a sorrir. Afinal de contas, uma mãe só espera que seu filho seja feliz.

Então Donna solta seu filho menor e avança até tocar o rosto molhado de Gerard. Beija suas bochechas e o acolhe entre os braços, como se continuasse sente esse pequenino garoto de cabelos negros com medo do escuro. O sente contra seu peito e pode ver o com o pijama azul e o lençol amarelo, lhe pedindo pra dormir com ela.

–Eu serei a mãe mais feliz do mundo se você estiver contente, meu amor. –Sussurra.

E não sobram palavra para Gerard, só lagrimas e uma dor no peito pela ansiedade.

Frank Iero permanece ao seu lado e sorri tentando limpar as lagrimas com sua pele. Quando teve a visita de Gerard no consultório de Sam havia dito que havia sido o melhor dia de sua vida.

Definitivamente, o momento havia sido superado com facilidade.

–Então vamos jantar.

VI

O jantar não havia sido muito elaborado, mas havia sido a melhor comida que Frank havia provado em um ano. Não. A melhor em toda sua vida.

Agora estava sobre a cama de Gerard. No pequeno quarto cheio de desenhos, e cavaletes de pinturas. De lado, mas frente a frente, com os dedos entrelaçados.

Frank sorria.

–Você é lindo. –Sussurrou para Gerard e este sorriu se aproximando mais até que tocou com seu nariz o de Frank.

–E agora? –Perguntou sem deixar de sorrir.

–Agora o que? –Sussurra.

–O que vai fazer agora?

–Bom. –Sobre o sobre o volume da voz. –Quero voltar para a cadeia e ajudar Sam com o pessoa, e também, gostaria de conseguir um emprego melhor. Gostaria de ajudar esse centro para viciados em drogas que você mencionou, e o orfanato...

–Frank. –Um dedo sobre seus lábios impede o menor de continuar. –Parece que há muito o que fazer.

–Não podemos só nos acomodar e esperar que as coisas mudem.

Gerard lhe beijou nos lábios e Frank sorriu. O contato foi tão delicado que ao se separarem sentiram também uma cócega deliciosa.

–Frank, -Sussurra e lhe olha diretamente nos olhos. –Por hoje. Só por esta noite se permita ser egoísta e que o “mudar o mundo” espere, só por esta noite.

Frank então sorri e se abraça muito mais forte a ele. Esconde seu rosto na cavidade que deixa o pescoço e o obro de Gerard e inala com força o cheiro mais encantador que havia conhecido.

–Eu te amo.

–Eu também te amo.

Então fecha os olhos e só pensa nele.

Por uma noite.

Por essa noite, Frank Iero, se permite ser egoísta e desfrutar o momento.

–Mas amanha, -Murmura quase dormindo. –mudaremos o mundo.

–O faremos.

Foi o sono mais quente, reconfortante e assombroso de sua vida.

No próximo...

15.

E no final.

E no final...

Não há final. É outra forma de começar.

Quando se vira a folha terá outra limpa.

Quando um capitulo termina, outro está para começar.


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Notas finais do capítulo

* Por siempre - Mario Benedetti