Spirit escrita por Hanko


Capítulo 5
Capítulo 5.


Notas iniciais do capítulo

Oi você que ainda acompanha Spirit. Vai ler. ♥



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‘’Eu o olhei, petrificado, assustado, pasmo e ofegante.

O loiro deu um sorriso satisfeito ao ver o meu estado de choque.

- Agora acredita em mim…?’’

Eu estava tão perturbado que tudo que consegui fazer foi acenar a cabeça positivamente de um jeito meio retardado.

- Ótimo. – ele disse, com um sorriso satisfeito. – Agora, acorde.

- O quê? – perguntei, com um tom confuso. O que ele queria dizer?

‘’- Falei pra você acordar.’’

E no segundo seguinte eu estava esparramado no sofá, com metade do corpo caindo pra fora, enrolado como em um casulo nas cobertas,  o rosto cheio de baba seca – que nojo, eu tinha babado -, e a televisão sintonizada em um canal que estava fora do ar.

O  celular marcava 3h26 da manhã.

Resmunguei um palavrão, desligando a TV, me enrolando melhor nas cobertas e voltando à posição anterior – era muita mão de obra me levantar e ir até a minha cama -. Um sonho. Tinha sido uma merda de um sonho.

Pelo menos foi isso que eu julguei ter sido, até a manhã seguinte, quando vi que aquele anel que eu tinha encontrado no meu sonho estava no meu dedo, e, para meu total espanto, que meu lábio estava inchado e com um belo corte.

Eu não me preocuparia nem um pouco com aquele corte, se ele não estivesse situado exatamente onde o loiro mordera, na noite anterior. No que eu acreditava ser um sonho. No que deveria ter sido um sonho.

Quando vi, foi como se eu não conseguisse me sustentar de pé, e me sentei no chão, abraçando os joelhos, sentindo cada parte do meu corpo tremer.

Eu não estava sonhando.

Andei em círculos pela sala, impaciente. Já deveria ter chegado. Olhei no relógio – que parecia estar em um complô contra mim - pela milésima vez. Não, não. Ainda faltava um tempo para o horário combinado. Repeti pela décima vez que ficar olhando para o relógio não ia adiantar nada.

 Eu estava nervoso, isso era fato. Quero dizer, não era como se eu fosse experiente naquele ramo. Eu nunca havia chamado uma pessoa daquele tipo para a minha casa – sinceramente, eu, em toda a minha vida, jamais cheguei a pensar que teria contato com gente assim, então estava um pouco… Assustado? Nervoso? Ansioso? Receoso? Tudo aquilo junto?

Ah, não me culpem. O quê diabos eu poderia esperar de uma pessoa daquelas?

Como eu deveria recebê-la?

‘’Ah, aí está você. Entre, por favor. Eu sou o Yuu. Pode deixar seu crucifixo e a sua bíblia ali no criado mudo. Se precisar de copos pra água benta, é só avisar. Bem, como você tem… Digamos… Uma visão privilegiada, que tal?, me diga se eu por acaso for esbarrar em alguém, sim? A última coisa que quero é ofender uma alma penada.’’

Ou então quem sabe:

‘’Eu sou o Yuu, muito prazer. Por favor, entre. Aceita um café? Tem alguém aí com você? Posso lhe oferecer um café também?’’

Eu não tinha a mínima ideia de que tipo de pessoa é uma pessoa que tem dons para ver o sobrenatural. Eu nem ao menos sabia que existia um ramo comercial a partir dessas pessoas, muito menos que elas tinham sua própria seção na lista telefônica e nos classificados do jornal, então liguei para a pessoa cujo anúncio me assustou menos.

Mas, agora, eu me perguntava se já não era exagero da minha parte chamar uma pessoa com a suposta capacidade de se comunicar com os mortos pra ir até a minha casa.

Talvez eu estivesse passando um pouco dos limites com aquilo, mas afinal, eu estava desesperado e enlouquecendo, então,  o que custava tentar, não é? Não era como se desse pra piorar.

Pft, quem eu estou tentando enganar?

SHIROYAMA YUU, ISSO É ESTAR ABAIXO DO FUNDO DO POÇO.

Definitivamente, era estupidez. Yutaka já tinha me dito que aquilo era só coisa da minha cabeça, então logo mais as coisas deveriam voltar ao normal.

Ri sozinho.

Eu era um idiota. Fantasmas não existiam.

Talvez eu devesse cancelar aquela… Visita?, para assim chamar aquela palhaçada em que eu tinha me metido.

É, cancelar.

Cancelar definitivamente seria uma boa.

Eu já estava indo atrás do telefone quando a campainha tocou. Suspirei. Tarde demais.

Abri a porta com um pouco de receio do tipo de pessoa que estaria do outro lado.

- Acho que é um pouco tarde pra desistir, Aoi-san. – ele disse, sorrindo.

Me engasguei com ar quando ele terminou a frase.

- Como sabia que…?

- Eu apenas sei. – retrucou, dando os ombros. – Eu sou o Nao. Desculpe a demora.

Respondi que não tinha problema e dei espaço para que ele entrasse, enquanto o olhava, surpreso. Diferente de tudo que eu esperara ou imaginara – e acredite, minha imaginação alcançou alturas inimagináveis -, Nao era perfeitamente… Normal. A franja descolorida batia um pouco antes dos olhos e os óculos e as roupas não se pareciam nem um pouco com as de uma pessoa que vê espiritos – embora eu não tenha a mínima ideia de como seja o guarda-roupa de uma pessoa que vê espíritos -.

Quero dizer, seria perfeitamente normal se não levássemos em conta o fato de seu olho esquerdo era metade preto e metade de uma cor cinza extremamente clara.

Era bonito – se eu não me enganava, o nome daquilo era heterocromia -, mas ainda assim um pouco assustador.

- Fique a vontade, não tem ninguém aqui.

Ele entrou na sala e parou no meio dela.

- Tem alguém aqui, sim.

Foi o que bastou para que eu me grudasse atrás de Nao, como se aquele olho colorido dele pudesse me proteger de alguma coisa que eu nem ao menos podia ver ou saber se era real, assustado como uma menininha de 12 anos e olhando para todos os lados como se estivesse esperando o próprio diabo pular de algum canto e me agarrar.

Ele girou lentamente no lugar, com os olhos fechados, como se estivesse muito concentrado – e eu, claro, ridiculamente grudado em seu encalço.

- É estranho. – disse, baixinho, para si mesmo. Fomos até a cozinha. – Não está aqui também. – voltamos para a sala, Nao parecia um pouco confuso. – Você disse que ele aparece do nada e depois desaparece do nada também, não é? – assenti. – Me conte essa história direito, por favor.

E então eu lhe contei sobre a história dos armários batendos, da primeira aparição do loiro, de como desde então ele aparecia e desaparecia e de como ele cismava em dizer que aquela casa era dele e que eu devia ir embora. Contei tudo, até o sonho que no fim não era um sonho, na noite anterior.

Enquanto eu terminava de falar, ele levantou a cabeça bruscamente, saiu correndo na direção do meu quarto, e eu o segui, confuso.

- Achei. – sussurrou, parado dois passos a dentro do quarto, mas não era como se estivesse falando comigo, e eu me grudei nele outra vez, enquanto olhava para todos os lados, sem ver nada. Se virou na minha direção, e eu me assustei ao ver que a parte cinza de seu olho brilhava em uma cor vermelho-sangue.

Talvez, só talvez, não fosse heterocromia.

- Está aqui. – murmurou.

- Aqui?! – perguntei, quase tendo um troço.

- Sim.

- AQUI?

- É.

- Tudo bem mas… AQUI??????????????????????? DENTRO DO MEU QUARTO?! – gritei, quase me mijando de medo.

O espírito esteve o tempo todo NA PORRA DO MEU QUARTO?!

Nao me olhou de canto, como se todo o meu escândalo estivesse começando a lhe dar dor de cabeça.

- Aoi-san, se importa de sair por uns minutos, apenas?

Sair?

Ele quer que eu saia?

Pra ficar sozinho lá na sala?

Sozinho, à mercê de todas as outras almas penadas do mundo?

Nem pensar.

- Não tem mais ninguém aqui, Aoi-san. – disse, sem me olhar, outra vez como se pudesse ler meus pensamentos. – O único que posso sentir está aqui dentro. E, mesmo que houvessem outros, não poderiam fazer mal à você.

Suspirei, um pouco mais aliviado.

- E… E.. E esse daí? – perguntei, apontando para dentro do quarto, sem saber exatamente para onde eu deveria apontar.

- Eu não sei. – respondeu.

Ele nem ao menos preciosu pedir outra vez. Fiquei encolhido no sofá, abraçando meus joelhos, esperando quietinho no meu canto que Naoyuki voltasse, cantarolando uma música qualquer, como se isso fosse me proteger de possíveis ataques (?) de espíritos e/ou capetas em pessoa.

Nao apareceu alguns minutos depois, sentando-se na poltrona do outro lado, exatamente de frente para mim.

- E então…?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

- Você disse que ele cismava em dizer que era real quando você lhe dizia que não era,  não é?

-… Sim. Por quê? O que ele é?

Naoyuki tornou a ficar em silêncio.

-… Eu não sei. – disse, por fim, com um suspiro. – Já pensei em todas as possibilidades, mas nenhuma delas faz sentido.

Como se algo nessa história toda fizesse sentido.

- O que quer dizer?

- Ele não está morto, - disse – mas tampouco está vivo. É estranho, eu não sei direito. É como se… Ele estivesse nos dois planos.

-… Planos? – perguntei, no ápice da minha ignorância.

- O plano dos vivos e o plano dos mortos. – explicou. – É como se ele estivesse preso no meio dos dois. Eu nunca vi algo assim. É como se ele estivesse em alguma linha entre a vida e a morte, entende?

- E é por isso que eu posso vê-lo, mesmo que só de vez em quando?

- Não, não tem muita relação. – respondeu. – Ele ainda é só uma alma, e tecnicamente, ao menos que você também possuísse o ‘’dom’’, não poderia vê-lo. E você não tem o ‘’dom’’.

Me senti meio inferiorizado por ele ver e entender tanto de um universo que para mim era invisivel.

- Como sabe que não tenho esse tal dom?

- Eu saberia se você tivesse. É confuso, porque é como se você tivesse algo que levantasse só parte do véu que separa esses dois mundos.

- Não entendi.

- Você tem a TV à cabo, mas só pouquíssimos canais não são bloqueados.

Ah.

Comparação estranha.

- Ah. – murmurei. – Entendi.

- Na visão dele, ele segue todos os dias, como se estivesse vivendo normalmente. Tem a ilusão de que segue sua rotina básica, acordando pela manhã, indo trabalhar e etc., como se não soubesse o que aconteceu com ele. Mas quando perguntei seu nome, não soube me responder.

-Então ele não se lembra quem ele é?

- Aparentemente, não.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Aquilo tudo… Aquilo tudo era loucura.

- É pelo fato dele estar supostamente preso entre esses dois planos que ele pode me tocar?

- Talvez. – respondeu, incerto, olhando para o anel que eu deixara em cima da mesa. – Você falou do anel. Estava usando ele quando ele te beijou, no sonho?

- Estava, sim. Por quê?

Os olhos de Naoyuki ficaram vagos, abruptamente.

-  Ele usa um anel igual. – sibilou, antes de me olhar. - Esse anel é dele. Provavelmente seja algo de grande valor sentimental. E usá-lo faz com que a ligação entre vocês seja plena. Você já podia vê-lo, mas o véu não estava levantado o bastante para que pudesse tocá-lo, também. O anel levanta o que falta do véu que o cobre. –  disse, falando como se estivesse esquecido que eu estava ali e que entendia apenas parte de tudo o que ele dizia. – Qualquer não-dotado que use esse anel poderá vê-lo e interagir fisicamente com ele.  Você precisa dar um jeito de descobrir o que aconteceu com ele.

Eu?

EU?

- Eu?! – exclamei.

- Sim, Aoi-san. Você precisa ajudá-lo. Não dá pra deixar a alma de uma pessoa que não está nem viva nem morta vagando por aí.

Ah, eu tinha cara de Sam e Dean Winchester agora, de certo.

Tinha cara de exorcista, de pai de santo, de padre Quevedo.

- É você que tem esse tal dom e entende desse papo de sobrenatural, então por quê diabos eu?

- Porque precisa ser você. – ele respondeu, simplesmente. – Tem que ser você a pessoa à ajudá-lo.

- E como eu vou fazer isso, mesmo?

- Não sei. Cada caso varia. É por isso que você precisa descobrir o que aconteceu com ele. – seu olho ainda brilhava daquele jeito meio assustador, só que menos. Seus olhos fitaram o relógio na mesa de centro e ele se levantou, fazendo uma reverência. – Preciso ir, Aoi-san.

Me levantei também.

- E se ele tentar me fazer mal?

- Ele não tem força pra isso. E, se por acaso você não quiser que ele te toque, ele não tocará. Ele poderá tentar, mas sua mão irá atravessar seu corpo como se fosse ar.

Fiquei em silêncio enquanto ele ia para a porta.

- Isso é loucura.

Nao me olhou com um sorriso.

- É mesmo.

E foi embora.

Suspirei, me atirando no sofá e olhando o anel que continuava no meio da mesa de centro, pensando em tudo que tinha me sido contado naquela última hora. Aquele loiro precisava de ajuda, segundo N*ao. Mas eu não queria me ver ainda mais enrolado naquela confusão que estava deixando minha vida um verdadeiro caos.

Peguei o anel com cuidado, como se ele pudesse me machucar, e fiquei brincando com ele nas minhas mãos.

Será que eu devia…?

‘’- Porque precisa ser você. – ele respondeu, simplesmente. – Tem que ser você a pessoa à ajudá-lo.’’

Suspirei, me levantando e olhando na direção do meu quarto por alguns instantes. Acabei por enfiar o anel dentro do bolso, dando as costas para a porta e saindo correndo do apartamento, batendo a porta, dando à mim mesmo a desculpa de que iria dar uma volta.

‘’Porque precisa ser você.’’

Não.

Eu não podia.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ia ser maior, mas eu não me aguentei e resolvi postar do jeito que tava mesmo. Deixa pro próximo capítulo. /tapa
Btw, se virem algum ''N*ao'', que passou despercebido por mim, me avisem. É que toda vez que eu escrevia ''Nao'' o Word insistia em corrigir automaticamente pra ''Não''. E-É
E eu quero os reviews lindos e maravilhosos de vocês ou então taco-lhe água benta no Uruha até ele sumir (?).
Tsc, tsc. Eu sempre virada nas minhas ameaças. Um dia eu devia tentar pedir com jeitinho, só pra variar. Q
ENFINES, o próximo vem logo (e o logo pode ser mais logo ainda dependendo dos reviews :333).
Até o próximo ~!
Hanko ~