Mestre e Comandante escrita por americangods


Capítulo 6
Capítulo 5 - Liara




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Liara

“Encontrar a doutora T’soni é sua prioridade, Comandante” Hackett, holovid, 6 horas atrás.

Eu sei.

Essa sempre foi a sua prioridade.

– Comandante – uma oficial jovem, 20 e poucos anos a chamava. Pele escura, sotaque britânico. Ao lado dela um homem de cabelo raspado que vira conversando com Vega há pouco – Meu nome é Samantha Traynor, eu sou a especialista em comunicação da Normandy e esse é o tenente Steve Cortez, ele é mecânico mais inteligente e o melhor piloto da Aliança – ela sorri.

– Não diga isso ao Joker – fala Cortez. Ele também sorri, e isso chama a atenção de Shepard. Há alguma coisa ali, escondida e enterrada. O que era? Os olhos dele... pensa ela.

Culpa.

Ela sabe como é isso. Sempre foi boa em ler pessoas. Mais fácil ainda era ler pessoas que se pareciam com aquela que encontrava toda vez pela manhã quando se olhava no espelho.

Ele estende a mão para ela e Shepard retribui. Faz o mesmo com Traynor.

– É uma honra, Comandante – diz ela.

Shepard olha no fundo dos olhos deles e diz:

– A honra é minha, oficiais – ela vê o sorriso crescer ainda mais na mulher que parece ter ascendência indiana. Os dois batem continência e se despedem.

Isso aconteceu várias vezes durante as últimas horas. Todo mundo chegava até ela, se apresentava e dizia que era uma honra, um sonho, um desejo realizado estar ali com ela. Tem que manter a social com todos eles, dizer que ela sente o mesmo e que tem certeza que vão trabalhar muito bem juntos.

Ela realmente pensava isso, mas as palavras não saiam tão verdadeiras quanto queria. Só podia pensar na Terra, em Anderson e Liara. Suas maiores preocupações. Pelo menos estava a caminho de encontrar uma delas.

Começa a pensar também em todos os seus amigos e companheiros. Garrus, Tali, Miranda, Grunt. Se pergunta onde eles estão, se estão vivos ou se já foram vítimas dos Reapers. Mensagens vinham de todos os cantos da galáxia acusando o avistamento ou ataque de gigantescas espaçonaves similares à Sovereign, mas por enquanto eram os humanos e os batarians que estavam levando os maiores golpes.

– Comandante – John 117. Era o que estava escrito na tag da roupa dele. Será que o homem não tinha sobrenome? – Cortana e EDI gostariam de falar com você.

– Estou no meio da preparação para a missão, Master Chief – ela esquece de usar John.

Isso significa cai fora, me deixe sozinha.

– É importante.

Ela fecha os olhos, suspira e xinga alguma coisa em sua língua natal que espera que John não entenda.

Os dois pegam o elevador e vão até a área do arsenal e cargas. John não diz nada no caminho. Era um homem silencioso, de poucas palavras. Teve que se esforçar muito pra arrancar alguma coisa dele meses atrás. Aos poucos foi conseguindo. Hoje ele já conseguia falar três sentenças por hora, se você tivesse sorte.

Cortana conseguia o fazer falar mais do que isso. Oito sentenças por hora, talvez. Tinha alguma coisa entre eles, concluiu Shepard certa vez. Similar ao que havia entre EDI e Joker, só que num nível diferente. Não haviam insinuações ou piadinhas, parecia um relacionamento mais profundo e sério do que isso.

Quando a porta do elevador abriu as duas estavam projetadas sobre as mesas principais do arsenal. Cortana com seu corpo humanoide, EDI com aquele símbolo.

– Comandante – disse Cortana – é bom revê-la.

Não tiveram oportunidade de conversar muito quando chegou à Normandy. O que sabia dela era das conversas de meses atrás. Não lembrava de muita coisa, no entanto.

– Digo o mesmo, Cortana – não há sorriso no seu rosto cansado. Ela resolve ir direto ao assunto: – Sobre o que vocês queriam conversar?

Chief vai até uma das mesas e tira um pano negro que a cobria.

– Isso – Cortana diz no momento que o pano voa longe. Havia uma sincronia de ações e pensamentos entre aqueles dois impressionante. Shepard olha para o conteúdo na mesa – sua nova armadura, Comandante.

Era uma armadura Spartan.

– Como isso é possível? – Pergunta ela, levantando o capacete contra a luz. Ele não tem visor, diferente do capacete de Chief, com aquele visou dourado que mais parecia um alvo para tiros. – Isso não é tecnologia... – Ela não lembra o nome.

– Forerunner – diz John.

– É uma longa história. Nossas armaduras foram atualizadas com o tempo, a medida que fazíamos engenharia reversa na tecnologia Covenant. A Irmandade botou as mãos na tecnologia Forerunner muito antes do que nós. Nos primeiros anos sofremos uma grande desvantagem, – explicou Cortana – mas eventualmente conseguimos reverter o processo e adaptar à nossa tecnologia. Enviei os projetos para o Conselheiro Anderson assim que você foi... afastada. Eles desenvolveram esse protótipo em segredo.

Andromeda deixa o capacete sobre a mesa e percorre o peitoral com as mãos. Há um símbolo N7 em relevo ali, assim como em sua armadura oficial. Do lado esquerdo do peito, uma tag.

Comandante Shepard.

– Anderson nunca perdeu a fé em você – disse Cortana – sabia que um dia você precisaria disso. Mandou que fosse preparada e moldada para a senhora, e para a senhora somente. Não existe outra igual a ela na galáxia. Une tecnologia Forerunner com a tecnologia Prothean que vocês já possuem em suas peças.

– Eu queria uma mas não rolou – disse James Vega, se aproximando dela.

– Como ela veio parar aqui?

Não fazia sentido a armadura estar na Normandy. Não é como se a nave estivesse esperando por Shepard. A própria equipe da Normandy não era a oficial, muitos dos oficiais foram entrando ali assim que o ataque começou. Além deles só os que trabalhavam na reconstrução da nave e os que já estavam previamente atribuídos para servir nela, que eram poucos. Alenko, Chakwas, Joker, pelo que ela sabe.

– Quando o ataque começou todo mundo começou a evacuar a Frota. O laboratório ficou vazio. Recebi uma mensagem da azulzinha, de começo não entendi porcaria alguma, mas ela me convenceu. Ela pode ser muito persuasiva – diz Vega, olhando para Cortana. – Então eu carreguei a armadura até aqui. Com canibais na minha cola. Eu estava sem armas. Foi uma cena bem patética, Comandante. Espero que não precise fazer alguma coisa parecida no futuro.

Ela riu.

– Não vai, tenente. E obrigada. Você também, Cortana.

– John insistiu – diz ela, olhando para o amigo.

Ele está em outra mesa, mexendo em sua própria armadura. Continuava com a mesma cor, verde. O capacete com visor dourado.

– Comandante – diz ele – a Mjolnir é um pouco diferente das suas armaduras tradicionais. Se precisar de ajuda sobre o seu funcionamento básico é só pedir.

– De fato há alguns detalhes que você precisa ser interada, Comandante. Principalmente em relação à escudos, camada de gel, reentrada atmosférica, reinserção no slipspace...

– Você disse reinserção no slipspace? Isso pode saltar por um Mass Relay?

– Sim e não. Você não pode saltar, afinal ela não possui um núcleo de Elemento Zero nem é capaz de produzir campos Mass Effect em quantidade o bastante para realizar o salto, mas numa situação hipotética em que você seja programada para ser projetada de um Relay para outro, você teoricamente pode fazer esse salto.

– Teoricamente?

– Significa que não foi testado, Shepard – diz EDI – podemos arranjar isso, se você quiser.

– Perdão EDI, mas você quer arriscar a vida da Comandante com isso? – perguntou Cortana, assustada.

– Foi uma piada.

– Influência do Joker. Acostume-se – Shepard diz à IA azul.

– Agora a parte mais legal – diz James, se aproximando da mesa, segurando o capacete em direção à Shepard – ela é customizada assim como as nossas. Posso colocar outra cor para você, se quiser.

– Eu preferiria terminar a explicação, tenente – disse Cortana.

Uma tontura leve em seu corpo.

– Faremos isso em seguida, Cortana. Vou subir para minha cabine. Podemos conversar lá. Mande alguém levar o jantar para mim também, por favor.

Ainda estava exausta. Por mais que a conversa sobre a armadura tivesse tirado-a de suas preocupações, a segurança de uma certa asari não saia da sua cabeça. Nem a de Anderson.

Nem a de todas as pessoas na Terra.

Shepard da as costas aos dois homens e as IAs. Chega até o elevador, que milagrosamente está parado naquele andar. Não precisaria esperar nada. Ela toca no console, a porta abre. Antes de subir vira-se para James.

– Vermelha, tenente. Eu quero ela vermelha.

– – 

O Mantis que encontrou no caminho em suas mãos. A respiração longa, o rifle apoiado em um caixote, ela atrás dele, mirando, sua mão boa no gatilho, a outra, levantada, dedos abertos. O ar saindo pelas suas narinas. Um capacete negro com o símbolo da Cerberus centralizado em sua mira telescópica. Ela aperta o gatilho. O encontro entre as duas linhas da mira exatamente no logo da organização terrorista. Capacete racha, a cabeça do homem simplesmente some, carne e metal voando. Shepard não sente nada. Remorso algum. A mão fecha em um punho. Ela não precisa falar nada. Seus companheiros começam a atirar. Os soldados da Cerberus sendo abatidos como gado por ela, Kaidan, John e Vega.

Costumava ser sempre ela e mais dois. Sempre foi assim. Mas não quis deixar John 117 de fora. E ele insistiu. Eu prometi para o almirante, senhora. Ela pensa se essa coisa de protetor vai pegar mesmo ou era só por agora. Não queria alguém se preocupando com ela, nem se arriscando desnecessariamente como ele fez na Terra. Jogou-se a frente de dez canibais para salvá-la.

Eles marcham rapidamente até os corpos. Alguns Makos pertencentes a Estação de Pesquisa de Marte abandonados. Corpos de oficiais da Aliança espalhados pela areia terrosa do planeta.

Uma dúzia de Cerberus. Três oficiais da Aliança, uns poucos cientistas. Nunca tiveram qualquer chance.

– O que a Cerberus está fazendo em Marte? – Pergunta Kaidan.

– Não sei – responde ela, achando que a pergunta fora para si.

E foi.

– Você não sabe?

– Porque eu saberia, Kaidan? Eu não estou mais com eles, se é isso que você está sugerindo.

– Não é... – ele parece arrependido de ter falado aquilo – mas nós temos uma organização terrorista invadindo o nosso principal centro de pesquisas. Só estou dizendo que isso pode levantar suspeitas...

Ele não estava arrependido.

Uma pequena formação rochosa perto deles. Alguém poderia se esconder ali. Um cerberus! Ela percebe a presença do homem antes mesmo dele conseguir apontar o rifle para quem estava em sua linha de tiro: Kaidan Alenko.

Ela arremessa uma singularidade no soldado. A esfera de energia passou ao lado de um Kaidan assustado, que finalmente entende a reação de sua comandante quando vira-se para ver que destino levou o ataque. Ela se aproxima do homem lutando contra a força da singularidade, saca sua espingarda e atira.

– O que mais eu preciso fazer para você acreditar em mim, Major? – pergunta a mulher dentro da armadura Spartan vermelha.

– Eu... me desculpe, senhora.

Ele não a chamava assim desde... Feros? Deus, faz tanto tempo assim?

Não importa.

– Rápido, temos que achar Liara – diz ela, ignorando o Major.

Vega faz alguns comentários durante a caminhada até a entrada do Centro de Pesquisa. Ela se sente obrigada a responder todos eles amigavelmente porque Alenko passa a manter um silêncio sacro, e bem, John também não era muito de falar.

Chief toca na porta e um holograma de Cortana aparece. Ela hackeia a porta em questão de segundos e eles entram. Está tudo escuro, eles ligam as luzes das armas e aguardam o elevador chegar até o andar superior. Levam dois minutos.

Se Garrus estivesse ali faria alguma piadinha.

Aonde você está, Vakarian?

Quando chegavam em Marte receberam a notícia do ataque à Palaven. Parte do planeta já havia sido dominada, reduzindo a potência militar da Hierarquia Turian a uma mera piada. Um formigueiro que você pisa em cima, vê desabar e aquelas formiguinhas indefesas correndo para todos os lados.

Você pode pisar em todas elas, se essa for sua vontade. Acabar com a existência de todas elas, vindo de cima, com uma força tão descomunal que elas jamais vão entender.

Garrus...

Não. Ele era Garrus Vakarian, o Arcanjo. O fiel companheiro de Shepard. Seu melhor amigo. Não seriam Reapers que o parariam.

Ele era só isso, não é?

Um amigo.

A porta do elevador abre e eles escutam barulhos de tiros, depois de alguma outra coisa. Passos, metal sendo pisado. Uma mulher de vestes brancas, pele azul correndo por uma passarela. Desvia de tiros, um deles acertando seu escudo cinético. Ela joga uma singularidade em seus atacantes. Três cerberus presos pelas forças do universo, totalmente indefesos.

As ironias da vida.

Liara joga uma distorção neles. A explosão biótica arremessa os homens longe, o som dos corpos deles se chocando contra alguma coisa e então o silêncio.

Ela saca a arma e aponta em direção de Shepard. Não reconhece ela com aquela armadura. O olhar assustado dela. Será que foi sua armadura? Será que foi Chief e Vega, porque bem, os dois eram gigantes.

Ela finalmente abaixa a arma, reconhecendo Kaidan. A asari usa algumas caixas para descer até eles. Ainda se mantém apreensiva ao ver uma coisa avermelhada correndo em sua direção. O capacete da espartana N7 vai parar em algum lugar do chão.

Andromeda sentindo novamente aqueles lábios, depois de tanto tempo, depois de pensar tanto no pior. Ela se sente viva, e isso é algo muito estranho de se sentir após ver tanta morte em um só dia.


Ela se afasta, envergonhada pelos três companheiros terem visto isso. Vega tinha a cara de que ia zoá-la muito por isso. Viu-o colocando apelido em diversas pessoas durante a viagem. Cortez era Esteban. Traynor era Escova, sabe-se lá porquê. Joker era Pernas, o que ela achou meio de mau gosto, mas o próprio Jeff levou na esportiva e passou a chamar Vega de Esteróides.

A asari deita a cabeça sobre a armadura dela.

– Eu fiquei preocupada com você... as notícias da Terra são as piores possíveis.

– Estava de castigo, mas fui liberada – o primeiro sorriso verdadeiro que ela dá em muito tempo. Beija o rosto dela, sua mão levantando delicadamente o queixo da asari até que aqueles dois olhos azuis focassem nela e em nada mais. Ficam algum tempo assim até a realidade voltar a bater.

– Vocês são o resgate? – Pergunta a asari.

A resposta é um sorriso da ruiva.

– Armadura vermelha, Dro? Nem para vir de branco?

– É a minha cor, você sabe.

– É. É a sua cor – Liara passa a mão sobre os fios ruivos dela.

– É... senhoras, desculpem interromper mas... – diz Vega. – Reapers. Fim do mundo. Lembram?

– Certo... eu... desculpem-me – diz Liara, finalmente percebendo a plateia. Aquele jeitinho inocente e envergonhado que ela tinha quando a conheceu. O jeitinho que ela perdeu quando Shepard morreu – o Crucible. É por isso que estão aqui, não é?

– Também – diz Shepard.

– Crucible?

– A descoberta dos Arquivos de Marte. É esse o nome que deram? – Perguntou Kaidan.

– Exato. Encontrei ele essa informação em meio aos dados sobre os Protheans. A informação estava... enterrada, quase que como se não fosse para ser achada nunca. Imagino que fizeram isso para que nem os Reapers pudessem encontrá-la. Só alguém desesperado para viver cavaria tão a fundo para encontrar alguma coisa que o salvasse. Nós, orgânicos.

– O que é o Crucible? – Perguntou Shepard.

– A nossa última esperança.

– –

Os Arquivos eram obeliscos gigantescos, maiores que muitas construções. Lembravam um pouco o Beacon que Shepard encontrou em Eden Prime, só que em proporções gigantescas. Onde tudo começou... Onde ela viu as imagens de morte, de um povo inteiro sendo erradicado por algo infinitamente superior.


Devia haver uma quantidade de informação absurda ali dentro, pensou Shepard. Cabos, interfaces e hologramas ligados à eles. Os consoles e computadores distribuídos por toda a extensão em volta dos obeliscos.

Liara vai até o console principal para começar o processo de extração. Kaidan e Master Chief checam o perímetro enquanto Shepard vai até a asari.

A ruiva olha para os lados, vê os dois companheiros armados e checando todos os cantos, a asari no computador, o silêncio à sua volta. Alguma coisa errada. Encontraram poucos cerberus no caminho, não tendo problema algum em livrar-se deles.

– Vega – chama ela pelo rádio – alguma coisa ai do seu lado?

Mandara ele de volta para o transporte. Achou melhor que alguém cuidasse de suas costas e o tenente parecia competente o bastante para se virar sozinho – apesar do protesto por não poder acompanhá-los.

– Negativo, comandante. Eu chequei os mapas. Há uma plataforma de pouso próximo dos arquivos. Vou levar a shuttle para lá, poderemos sair mais rápido daqui. A conversa na battlenet é que os Reapers estão vindo para Marte.

– Entendido, tenente. Não vamos demorar – ela desliga o radio e vai até Liara. A asari está com uma expressão estranha no rosto.

– Não é possível – ela murmura.

– Liara, o que foi?

Aquela sensação de novo. Não estavam sozinhos.

– Kaidan, John! Reagrupar.

Ela saca a espingarda e se prepara para...

Illusive Man?

– Shepard – ela sabia que ainda ouviria aquela voz. O assunto entre eles ainda não havia terminado. Não depois dela explodir a base dos Coletores.

– Alguém está apagando os arquivos! – Grita a asari.

O holograma azulado sendo projetado de um dos computadores. Tamanho real. O homem era maior que Shepard, vestia as roupas caras de sempre. O cigarro na mão. Sempre um cigarro na mão. Ele vai até ela, a projeção azulada iluminando o rosto claro da comandante.

John se junta a ela e Liara, vai até a asari e deixa que Cortana a ajude. A projeção dela, também azul, trabalhando ao lado de Liara. Kaidan ainda estava do outro lado da sala. Droga, Kaidan! Alguma coisa ia acontecer. Ela precisava de todos eles ali.

– Você... – ela abaixa a arma, lutando contra a vontade de atirar no holograma mesmo sabendo que nada adiantaria.

– Os protheans eram uma raça fascinante – o homem fala aquilo como se fosse uma mera constatação – olhe o que eles deixaram para nós. O legado deles aqui, escondido durante milênios. E a Aliança aqui por apenas 30 anos... o que eles foram capazes de descobrir nesse tempo? Quanto mais há aqui escondido, Shepard? Quantas tecnologias, quantas respostas?

– O que você quer aqui?

– O que eu sempre quis, Shepard. Esses arquivos escondem a informação para solucionar a ameaça dos Reapers.

– Sei qual é a sua solução – lembrou dos soldados Cerberus. Vega viu que o capacete de um deles estava caído, foi checar o corpo e falou algum xingamento em espanhol, virando o rosto em seguida. Quando Shepard foi averiguar... um husk. – Transformar humanos em Reapers não vai nos ajudar em nada, Illusive Man. Você está criando monstros.

– Não monstros. Eles estão sendo melhorados. Há uma grande diferença. É isso que nos separa, Shepard – ele faz uma pausa, solta uma baforada de cigarro holográfica na face dela – aonde você vê um meio de destruir eu vejo um meio de controlar. Imagine o quão poderosa se tornaria a humanidade se nós controlássemos o poder dos Reapers.

Ela não conseguia acreditar naquilo. Illusive Man havia ido longe demais.

– As pessoas na Terra estão morrendo! Como você pode pensar em controlar esses monstros? Como você pretende fazer isso?

– Comandante! – Gritou Cortana – ele está apagando todos os dados dos arquivos!

– Com ela – diz a projeção, olhando para Liara e... Cortana?

A comandante demora até entender. Quando ouve o barulho é tarde demais.

– John! Liara! Cuidado!

Alguma coisa pula entre eles. Figura humanoide, uma mulher humana, talvez. Muito rápida, um borrão se movimentando com graça e precisão. A agilidade e a força dela é incrível. É capaz de empurrar John para longe e nocautear Liara. Mesmo os tiros disparados por Kaidan não parecem surtir efeito algum. As balas ricocheteando nos cabelos negros dela.

A mulher enterra a sua omnitool nos computadores e as luzes dos obeliscos vão se apagando.

– Adeus, Shepard – diz o homem. A comandante sequer ouve. Liara estava no chão, incapacitada. A estranha mulher roubando os dados. Master Chief se levantando.

A mulher se afasta do console e se joga sobre Shepard. A omnitool dela vira uma navalha. A lâmina alaranjada vindo em direção da Comandante. Centímetros, milímetros. O seu escudo reluzindo um brilho amarelo e jogando a mulher longe.

O que foi isso?

Era para o seu escudo cinético ter sido dilacerado pelo ataque da mulher.

Uma mensagem em sua tela. Cortana. A voz suplicante da mulher. Ela roubou os arquivos, ela me capturou!

A armadura verde de Master Chief se aproximando dela, a levantando, e deixando ela sozinha. O espartano correu em direção da mulher. Shepard procura por Liara, não sabendo o que fazer. Ia atrás da mulher? Ajudava a asari?

A sua companheira é levantada por Alenko. Comandante, preciso de ajuda! A voz de Chief soando em seu rádio. Preocupação no tom de voz. As palavras estranhas, incertas, como se aquilo fosse algo novo para ele. Teria ele se preocupado tanto assim na vida antes?


Era Cortana a responsável por fazer o gigante despertar alguma emoção?

Liara. A missão. Os Reapers. Ela toma sua decisão. Deixa a asari e vai atrás de Chief. Os seis meses parada e o estresse das últimas horas não ajudam em nada seu corpo. Demora um pouco para alcançar o ritmo do homem. Era incrível, ele era tão maior e pesado do que ela mas mesmo assim tão mais rápido.


E ela era campeã dos 400m na Academia.

Uma coisa, no entanto, a surpreende. Não está cansada. Seus músculos não parecem sequer ser forçados. Ela salta sobre uma coluna caída e o impacto em suas pernas é mínimo. Cortana lhe explicara das funcionalidades básicas às mais complexas da armadura. Isso, se ela lembra bem, e se sua mente está 100% durante uma perseguição louca por solo marciano, se devia à bodysuit, aquele traje preto e fino que cobria seu corpo inteiro e onde era inserida de fato a armadura.

Haviam algumas diferenças entre a dela, vermelha, e a verde de John. Primeiro porque a tecnologia da realidade de Chief não podia ser totalmente encontrada na dela, precisando substituir muitos dos componentes para fabricar o exoesqueleto. A sua bodysuit negra, por exemplo, recebendo menos partes armaduradas do que a original para dar a ela mais mobilidade, e por também por não ter um corpo preparado para suportar o peso da original.

Mesmo que os implantes usados na sua reconstrução pela Cerberus fossem eficientes ao ponto dela não quebrar o braço ao segurar um krogan em queda – algo que aconteceu na base do Coletores –, eles não seriam o bastante para permitir uma mobilidade decente com um simulacro perfeito da Mjolnir de John.

Ela consegue alcançá-lo. As centenas de vitórias nos 400 metros finalmente fazendo efeito. A precisão dele é assustadora. Estão correndo, desviando de obstáculos – e eventualmente tiros – e as rajadas que ele dispara são perfeitas.

A fugitiva sequer se importa com os tiros. Não há um escudo protegendo-a. Os tiros batem direto nela, atravessam sua roupa e carne e... ela é um robô! Por isso aquela agilidade toda, o ritmo alucinante que conseguiu colocar na fuga e o pouco caso que fazia com o dano recebido.

Uma shuttle da Cerberus lá longe tenta atingir a vermelha. Eles acertam, mas são repelidos pelo escudo da armadura. A dróide fugitiva chega até uma escada levando ao espaçoporto, e quando Shepard vai preparar uma singularidade para acertá-la, a mulher simplesmente pula 6 metros para cima e desaparece da visão deles.

John subitamente para em frente a escada. Ele junta as duas mãos e abaixa-se um pouco. A ruiva entendeu a estratégia dele. E não gostou. Não lhe agradava ser arremessada por aí. Mas era a alternativa que eles tinham para manter ao menos alguém próximo da fugitiva.

Shepard salta sobre o homem, seu pé direito no apoio criado pelas duas mãos juntas dele. Como isso é possível? Ele não pode ter tanta força assim! Seu corpo subindo, subindo, a escada prateada chegando cada vez mais ao seu fim. Ela passa os 6 metros, projetando seu corpo para frente e tocando o solo do andar superior rolando no chão.

A shuttle da Cerberus e a dróide apontando armas para ela. As rajadas chegando. O rosto de Cortana, preocupada em seu visor. Comandante! Suplica ela. Shepard não pode fazer nada agora. Corre para a proteção mais próxima, as centenas de tiros atingindo seus escudos e os repelindo instantaneamente. Sente os impactos no titânio da armadura algumas vezes até se esconder atrás de uma shuttle desativada.

– Vega! Onde está você? Eles vão fugir!

O tenente usava o Kodiak, uma shuttle armada com canhões básicos. Eles ao menos poderiam atrasar a fuga do veículo inimigo, caso ele estivesse por perto. Ele não devia estar.

Droga!

– Atrás de você, Comandante – a voz dele ressoando em seu capacete. Ela olha para trás, a Kodiak descendo em alta velocidade em direção ao porto.

A velocidade era muito alta para ele aterrissar. O que ele está fazendo?

A Kodiak se choca com o veículo da Cerberus, que rodopia algumas vezes no ar até despencar na direção dela. Andromeda se afasta o máximo que pode da sua proteção, pensa em pular par ao andar de baixo, mas não há mais tempo. A shuttle caindo em sua direção.

Master Chief ao seu resgate, de novo. Ele a força ao chão, ele ajoelhado, ela quase isso, os braços dele em volta dela, segurando-a com força. Ele grita alguma coisa. Travar a armadura? O que ele queria dizer.

Andromeda, concentre-se! Diz ela para si mesma. Cortana, lá em sua cabine, lhe explicando sobre as funções básicas. Ela só precisa dizer, gritar, sussurrar, como quiser, para sua armadura travar. Recomenda-se que ela faça isso próxima ao chão, ou muito bem apoiada nele.

Ela grita, mandando a armadura travar, não acreditando que isso de fato vá acontecer. Chief fazendo peso sobre ela, os braços vermelhos dela cruzados, protegendo seu capacete. A shuttle a poucos metros deles, o impacto, a frente do veículo sendo amassada como papel por ela, Chief e os escudos de travamento. A nave empina e é arremessada por cima deles, caindo e deslizando metros para trás.

Quando ela toma pleno conhecimento do que aconteceu Liara e Kaidan estão subindo as escadas. A porta da shuttle abre, soldados da Cerberus correndo chamuscados e caindo em seguida. Estavam todos mortos. O próprio veículo começa a incandescer.

Levanta, não acreditando no que aconteceu. Chief atrás dela, uma das mãos sobre seu ombro, depois largando-a e indo em direção ao veículo abatido.

Procura nos céus por James e o Kodiak. Está sobrevoando a plataforma procurando um local para pousar.

– Temos que sair daqui logo, Comandante! – Bem lá ao fundo, descendo no horizonte amarelado de Marte está um Reaper. Eles chegaram.

De novo...

Liara T’soni na sua frente, se certificando que sua humana estava intacta, sã e salva, que aquela nave se chocando contra ela não causou nada se não uma dor muito forte nos braços de sua comandante.

Eu estou bem, Liara, ela está quase dizendo isso, seus lábios moldando as sílabas quando o visor do capacete é manchado com sangue púrpura.


Os olhos verdes da comandante arregalados vendo o corpo inerte da asari cair sobre si. Um ferimento de bala nas costas e saindo pelo peito. O dela, intocável, protegido pela armadura. O tiro atravessara a asari e sua barreira biótica sem dificuldade.


Andromeda Shepard perde o chão. Pela primeira vez na vida ela não sabe o que fazer. Liara ferida em seus braços, talvez já morta. Ele não tem forças para checar os sinais vitais dela com a omnitool, as suas sinapses bloqueando qualquer ação e reação enviada pelo seu cérebro. Kaidan ao seu lado, ordenando que colocasse a asari no chão. Ela só pode olhar para ele, deixar a gravidade tomar seu corpo e desabar, sem força ou vontade alguma. Liara nos braços de Kaidan, medigel sendo administrado no ferimento.

De que adianta? Ela está morta! O pensamento mórbido passando pela sua cabeça, desaparecendo assim que os espasmos resultados do gel médico e suas doses de adrenalina atingem o corpo da asari de pele azul.

Ela olha para frente. Dezenas daquela mulher androide, apontando pistolas para a comandante. Uma delas diferente das demais. O seu corpo carbonizado, sem pele nem cabelo, apenas um simulacro de ambos metalizado. Decoys. Chief luta com ela. Os dois são incrivelmente fortes. O impacto de cada soco e chute levando o outro metros para trás. As imagens-decoys atirando em nada, uma gravação ou projeção para enganar os inimigos.

Uma armadura vermelha avançando em direção da dróide, atravessando as imagens fake dela. Os campos de mass effect que seguravam as projeções se dissipando toda vez que atravessados. O robô está caído depois do último golpe do espartano.

Andromeda usa uma onda de choque para levantar a dróide indefesa no ar. Energia escura puxando-a de encontro à comandante. Sua mão esquerda comandando a energia, a direita pegando e apontando a espingarda. Nós precisamos dela inteira, Shepard. Acha que já ouviu isso antes. Algumas vezes. EDI repetindo isso em looping desde que ela iniciou o ataque à dróide. A IA sabia o que ela faria. Ela sabia que Andromeda Shepard nem sempre era aquela paragon de perdão e compreensão. As vezes ela era só uma pessoa muito irritada, não ligando para ordens nem ninguém. Uma renegada.

Sua espingarda sendo arrancada de sua mão. John.

– Nós precisamos dela intacta, Comandante Shepard. Ela tem a informação. E Cortana. – a voz dele é calma, mas assertiva. Quase didático, pausado, tentando fazer com que ela absorvesse cada palavra com cuidado, refletindo ao final de cada uma delas.

Meio metro separando sua mão esquerda da dróide envolta de energia biótica. Mais um pouco e pode esganar o pescoço dela. Os olhos azulados da dróide brilhando, lembrando os de uma pessoa que conheceu tempos atrás. Um homem para quem os fins justificavam os meios.

– Eu vou te matar, Jack Harper – ela pronuncia o nome de Illusive Man, imaginando que aquilo o tinha pego de surpresa, ele lá, sentado em sua cadeira enquanto assistia aquilo tudo. A imagem mental que ela tem dessa cena.

Aqueles olhos bizarros dele arregalando, uma expressão de medo que nunca vira em seu rosto, mas que na sua simulação imaginativa é deliciosa. Liara descobrira sua identidade verdadeira quando tomaram a base do Shadow Broker. Nunca usou-a contra ele. Nunca revelou à Aliança, mesmo quando estava presa. Illusive Man à usou, mas também trouxe ela de volta a vida. Ela soube apreciar isso. Ela soube compreender as razões dele, porque ela era exatamente assim anos atrás. Até conhecer Tali, Wrex, Garrus. E Liara.

Mais um Reaper no horizonte. Sons de destruição lá longe. Mais uma estação de pesquisa sendo destruída por eles. Precisavam sair dali logo, levar Liara à baia médica.

Ela esquece que não há nenhum médico na Normandy.

Master Chief tocando em seu braço, querendo que ela o abaixe, deixe a dróide desabar desativada no chão.

– Eu vou destruir você, Harper – sua mão fechando em um punho e a energia biótica estrangulando o pescoço da robô até a cabeça dela separar do corpo. As duas partes caem no chão.

Ela volta para socorrer Liara. Ela respira com dificuldade. Mas respira. Kaidan cuidando da asari. Ela não consegue dizer nada para ele. Não consegue agradecer por aquele momentâneo lapso de razão que teve e que ela não. Ainda haviam feridas abertas entre os dois.

A Normandy se aproximando deles, ficando ao lado da plataforma de pouso. Ela entra no Kodiak de Vega carregando Liara, Alenko em seguida. Chief por último, segurando as duas partes da robô.

O simulacro de boca da dróide desativada aberta. Como se um espasmo de dor tivesse passado por ali antes de ser privada de sua consciência quântica.

– Joker, estamos deixando o sistema. Trace o curso para a Cidadela. Precisamos levar Liara para um hospital.


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Notas finais do capítulo

Geralmente sou mais descritivo quanto a objetos e personagens em meus originais, mas como se trata de uma obra totalmente visual (na verdade duas, Mass Effect e Halo), estou me permitindo ser mais conciso nas descrições.
Se alguém não tiver saco para dar uma procurada em personagem/objeto na internet, dê um toque que eu volto a ser mais descritivo :D
Ah, a armadura Spartan N7 seria semelhante à de Chief em Halo 4, embora ela vá ser mudada mais para frente.
Read & Review, seus lindos (mesmo que você esteja lendo isso 5 anos no futuro - eu vou adorar abrir um email com um review mesmo assim)



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