REGRA #22

22. Retirada

Quando nada der resultado aprenda a perder e a retirar-se a tempo substituindo este contato com algum novo projeto. "Se pode ganhar a batalha, lute; se não, retire-se." Mao Tse Tung (Estratégia e Tática)

Claro que sei perder...

Que duras palavras. Mas que eram certas. Hoje as repito constantemente, esperando o auto convencimento, mas é difícil. Este sentimento, que alguma vez foi liberdade e conforto, hoje só é dor e asfixia.

E se o vento hoje sopra ao seu favor

Eu não guardarei rancor...

Seu muito bem que nossa relação era pouco convencional. Era livre.

Se estávamos juntos era porque nós necessitávamos. Era um escape da realidade. Um pouco de paz depois de um chato dia de trabalho. Depois delas, depois do mundo...

Sei que não posso exigir. Que não me deu menos, nem eu te dei demais.

Sei que não houve traição, porque nem sequer tínhamos um compromisso. Você disse que tudo seria sem fidelidade ou falsas promessas. E eu aceitei. Aceitei porque era o melhor. Criamos um perfeito escudo deixando de lado os sentimentos e focando-nos um pouco mais no prazer ou nas conversas depois deste.

Mas agora ja não parece tão certo.

Porque eu me enganei pensando que não te queria. E você me enganou pensando que tudo estaria bem.

–Diga-me o que está acontecendo. -Murmuro recostado sobre suas costas brancas. Seu corpo se agita com suavidade e esse movimento é o único no mundo que me relaxa em instantes.

–Tenho medo. -Sua voz é abafada contra o travesseiro. -Tenho medo de que, ao dizer, tudo se acabe.

Fico em silencio. A perfeição não é eterna.

–Mas tenho que terminar. -Continua virando um pouco tua cabeça, só para olhar-me uns segundos. -Está grávida.

Tudo parou. O tempo, minhas ações, minha voz e minha respiração.

Não lhe respondi, não te olhei. Apenas senti quando me beijou nos lábios superficialmente pela ultima vez. Saíste dessa casa com a jaqueta de couro em mãos.

E eu fiquei olhando o céu estrelado.

Resignado por saber que te perdi.

"Serei um bom perdedor", penso com a voz positiva.

Mas não posso.

Sinto sua falta. E já não ha nada que possa fazer.

Perdi. Te perdi...

END

REGRA #23

23. Buscar o ponto fraco.

Toda pessoa tem uma fraqueza, encontre-a e explore. A maioria deles só buscam o reconhecimento e o carinho como pessoas. Exatamente como você e eu, querido leitor.

"Encontrar o ponto fraco de cada um: esta é a arte de modificar as vontades. É mais destreza que determinação. É saber por onde se pode entrar em cada um. Primeiro há que conhecer o caráter, depois tocar o ponto fraco, insistir nele, pois infalivelmente ficará sem vontade. A arte da prudência (Baltasar Gracián)"

Um par de enfermeiras corria desesperadas. Em frente a ele anunciavam histéricas o que sua companheira de quarto já havia lhe informado e assustadas se apoiavam em seus braços pedindo ajuda. Pedindo pela liberação de suas tarefas com aquele "animal", porque, segundo aquelas mulheres, aquele escondido no quarto 72 não podia ser um humano. Era uma besta que mordia, gritava, e arranhava sem piedade.

O homem de jaleco branco e olhos de esmeralda lhes lançou um olhar, metade era chateação, metade era nojo. Sempre era o mesmo. Ineptas enfermeiras incapazes de conseguir fazer suas atividades diárias. Usando a patética frase: "só com você ele se comporta".

Talvez fosse verdade, mas isso não justificava que assustassem o pequeno. Porque estava ciente dos maus tratos que faziam para esse ser acidentado e esquecido em um hospital publico.

Sem querer escutar mais palavras sem sentido liberou seu asfixiado braço e caminhou pelo largo corredor ate aquele quarto. Seu quarto especial. O único lugar onde tinha alguém por quem voltar. Alguém que importava...

Seu nome era Frank. Pele pálida, estatura baixa, e um terrível acidente que fraturou suas costas, uma perna e muito hematomas por causa do descontrole de uma motocicleta que bateu contra uma arvore. Frank não tinha família, nem amigos, ou ao menos isso foi o que pareceu quando os dias foram passando e ninguém veio visitá-lo. Gerard visitava-o todos os dias por motivos clinico que, ao despertar, mudaram para interesses pessoais quando o garoto de vinte e um anos confirmou sua falta de conhecido. De caráter forte foi difícil aproximar-se dele. Era um garoto "mal" e "rude". Sem sentimentos, ou menos isso dizia ele.

Mas Gerard mostrou-se ser um excelente medico e psicólogo. E com paciência, apoio, conversas ate altas horas da noite e chocolates, conseguiu convencer-lhe de que era humano, e não um robô sem sentimentos.

No final da segunda semana só desejava vê Gerard, e só por Gerard permanecia ali. Para o doutor, seu rebelde paciente era totalmente delicioso. Em todos os aspectos da palavra...

Mas a aproximação era difícil. Afinal de contas, Frank era uma "ferazinha".

O doutor Way abriu a porta lentamente. Seu paciente favorito estava sobre a minúscula cama branca, como um doce anjo. Mas bem sabia que Frankie (como gostava de chamar só para perturbá-lo), era tudo menos doce e angelical. Avançou com passos silenciosos ate a maca do leito, sendo seguido por um par de olhos amendoados que brilhavam em cumplicidade.

–O que aconteceu dessa vez? -Perguntou o médico sentando-se ao seu lado na mínima cama.

–O banho. -Desse o garoto acomodando-se melhor, dando maior espaço a Gerard.

–Mas Frank...

–Começaram a zombar. -Disse sentando-se e encostando as costas no peito de Way. -Elas... -Seus dentes se apertaram. -Começaram a zombar de mim. Disseram que eu era lindo, pequeno, portátil... Inclusive, me perguntou se "tudo" era igual e "pequeno" como eu.

Gerard sorriu com ternura. De seu jaleco tirou um desses chocolates brancos com biscoito, favorito de Frank, e rodeou esse corpo com seus braços atraindo-o ate seu peito e beijando seu rosto. "Frankie e seu orgulho", pensou antes de oferecer o doce ao menor que permanecia com o olhar serio e o corpo ligeiramente tenso.

–Meu chocolate favorito. -Ponderou o menor.

–Eu sei. -Beijou sua bochecha e apertou com mais força.

–Não é justo. -Disse pegando a guloseima. -Conhece meu ponto fraco. E eu não conheço o seu.

Gerard soltou uma alta risada com felicidade. O rosto de Frank girou para olhar seu doutor que mantinha um sorriso límpido e os olhos verdes mais resplandecentes que nunca.

–Pensei que fosse obvio. -Disse o maior. -Meu maior ponto fraco... É você.

Terminou dando um ligeiro beijo nos lábios de Frank, que sorriu depois de canto.

–Cuidado doutor, agora que conheço seu ponto fraco, poderei usá-lo para meus fins diabólicos. -Mencionou alegremente.

E com a seriedade característica de um homem dedicado a ciência e a medicina, o Doutor Gerard Way se limitou a beijar seu paciente mais profundamente. Terminou o contato e sem soltar as suaves bochechas, sussurrou:

–Isso espero, Frankie...

E sorriu.

END

REGRA #24

24. Para comprometidos.

Se é um sedutor comprometido, não recorra ao velho truque de que te deixara mal com seu amante. O sedutor declara que é tudo um êxito, sua relação é perfeita, mas que ele tem algo que ninguém tem. Também funciona com os gays casados e comprometidos.

–Esta?

–Azul demais.

–Este?

–Preto demais.

–Este!?

–É alérgico a lã...

–Chega!

Ray Toro era bastante paciente. Poderia ter recebido um premio pelo ser mais paciente do planeta em varias etapas de sua vida. Bom amigo, risonho, e quase nunca chateado, poderiam considerá-lo com um simples olhar que era uma pessoa simples, tranqüila e amigável. Poucas vezes alguém poderia haver dito que havia escutado um grito sair de sua boca, ou haver visto seus olhos incendiados em um vermelho paixão pela ira. Contudo, neste momento, Frank Iero recebia esse privilégio sem notá-lo, já que seguia correndo por toda a sessão de homens.

–Não, definitivamente acredito que lhe darei esse CD.

E dando saltos como uma lebre em uma pedreira deixou se afastou, deixando seu amigo com um monte de roupa sobre os ombros e com a fúria causada pelo tédio e a indecisão do outro. Já estavam a mais de três horas correndo pela loja de não havia algo que no mínimo o de cabelos negro pudesse gostar. O pior não era que deixou sair sua fúria contida por anos. Não, isso não era o pior. O pior era que o ignorava! Precisava tanto gritar com alguém e sua única vitima o ignorava!

"Maldito Iero com suas malditas compras!"

Sem ter o que fazer deixou o monte de roupas sobre uma estante sob o olhar furioso do funcionário e correu atrás de seu amigo ate a parte dos CDs.

–Olha! Esta é sua banda favorita. -Disse Frank ao sentir a presença de seu amigo ao seu lado e comprovar com um olhar de canto que era um homem com os cabelos desgrenhados.

Ray somente bufou e cruzou os braços.

–Vamos Ray, ajude-me, isto é importante. -Deixou o CD em seu lugar e girou para vê-lo com os olhos amendoados cintilando em um mar de tristeza. Os lábios estavam ligeiramente levantados em um gesto terno e próprio dele. -Tenho que impressioná-lo. É natal...

O de cabelo esponjado não teve mais opção do que deixar cair seus braços em sinal de derrota e suspirar pesadamente. Talvez Frank pudesse ser a pessoa mais indecisa do planeta, mas o humano mais encantador quando queria. Ray se batia mentalmente toda vez que caia sob os encantos desses olhos suaves, mas sempre o fazia. O mais certo é que já estava imune aos seus chutes mentais.

–Talvez leve este. -Frank levantou a edição especial dourada daquela banda que, para Ray, parecia bastante velha, mas genial. Com DVD único e objetos peculiares próprios da banda, um enorme pôster autografado e uma caixa enorme com um desenho abstrato onde tudo vinha embalado. -Sim, definitivamente levarei este. O que acha Ray?

O mencionado correspondeu o sorriso enviado por Frank e assentiu com a cabeça. Enquanto o menor corria entusiasmado ate o caixa para pagar Ray Toro criava um Slogan em sua cabeça.

"Cd edição especial dos Beatles, muito dinheiro.

Aumentar o estresse de um amigo, alguns comprimidos;

Dar um presente ao esposo de seu amor, não tem preço."

Justamente no instante em que o homem sorria, Frankie chegava com uma sacola na mão esquerda.

–Pronto, espero que com isto fique com seus amigos chatos e presumo que deixe meu Gerard solto em casa.

Frank sorriu e Ray riu abertamente.

END