REGRA #19

19. No final, o que busca consegue.

Aplique a estatística: de cada cem tentativas pelo menos dez tem que ser acertadas. Com o tempo subirão os resultados.

Fracasso total. Fracasso na noite da caça. E isso só nos deixava uma conclusão: a estatística não estava ao seu lado. Horas gastas ao andar de clube em clube em busca de uma nova conquista e só conseguiu bebidas quando foi convidado por algumas garotas. Mas para que um gay queria bebidas pagas por mulheres... Com certeza poderia ter escolhido algum clube na zona "gay" da cidade. Mas só encontraria traseiros e pênis falsos não ia encontrar algo que valesse a pena ou não estava á vista.

E o seu maior problema, fora sua timidez natural e sua pouca capacidade de socializar, era ser um romântico incurável. Dessas pessoas que sonham com o homem que compartilharia o resto de sua vida. Mas, como encontrá-lo?

Os bons partidos eram heteros. Os outros, não se interessavam por ele. E o que teria de mal? Era muito feio? Muito bobo? Que se passava com ele?

Suspirando voltou a colocar a cabeça sobre a mesa de madeira. Seu trabalho era tedioso. Afinal de contas, quem iria a biblioteca nesses tempos? Assim teria muito tempo para autodestruir-se por ser um patético homem sem amor. Tímido e patético. Oh, e sem amigos...

Sua cabeça voltou a deitar-se contra a mesa de escritório.

-Ola Frank!

O bibliotecário levantou o rosto, mas já sabia a quem pertencia a voz. O único ser humano que não havia se entregado para a invenção da internet.

-Ola Gerard. -Murmurou com a voz cansada. -Já terminou, ou levará livros para casa?

-Só dois. -O garoto sorriu. Frank começou a escrever mecanicamente sem dirigir o olhar a quem havia se tornado seu único e fiel amigo cada dia a partir das cinco da tarde até as oito da noite. -Está triste. -Mencionou o homem.

-Não estou; -Respondeu Frank, mas sem atrever olhá-lo.

-Não vale. -Logo uma mão se colocou sobre a do bibliotecário, apertando com carinho fazendo que esse deixasse de escrever para enfrentar, enfim, o bonito rosto de seu amigo. "Como não havia me dado conta?" -Qualquer coisa que esta passando, não vale a pena perder um lindo sorriso. - Lindo SEU sorriso? Em que momento da sua vida sua "adorável" amizade tomou outro rumo?

-Gee, eu...

-Frank... -A mão se pressionou com mais força á do bibliotecário e ele começou a sentir uma ligeira cócegas nas bochechas. -Quer sair pra tomar algo comigo? -O rosto normalmente pálido do seu amigo estava agora em um tom rosado.

Frank ficou mudo por uns segundos. Comprovando, novamente, que a estatística não estava ao seu favor, porque entre as dezenas de homens que pediu para sair e "tomar algo", justo o que iria aceitar estava em sua frente e não aproveitou.

Mas, a merda as estatísticas! Era uma oportunidade, SUA oportunidade.

-Aceito. -Disse confiante, sorrindo feliz.

Gerard correspondeu ao gesto, beijando lhe a bochecha. Frank entendeu que sonhar não era nada mais que uma perda de tempo...

END

REGRA #20

20. Atrevimento.

Seja atrevido: se pensar, faça. Não diga: "posso te beijar?" Beije-o! Melhor arrepender-se de ter tentado que nunca haver se atrevido!

Tinha apenas duas semanas que havia o conhecido e já lhe parecia assombrosamente fascinante. Fascinante em sua forma de atuar, de vestir, de falar e de cantar, porque tinha uma voz preciosa e graças a ela podia estar ali.

Um amido da escola havia o convidado para fazer parte de uma banda e aqui está. Segurando sua amada guitarra elétrica e perdendo-se no olhar verde do vocal que agora estava muito chateado com o baixista, por quem sabe lá o que.

Só estava atento ao movimento dos lábios do cantor e a forma com que suas bochechas tomavam cor ao gritar com mais histeria. O baixista deixou sobre um amplificador o instrumento e agitando seus braços deixou o lugar que ensaiavam para entrar na casa de seu amigo Ray que amavelmente os emprestava sua garagem.

Ray deixou sua guitarra e foi atrás do chateado Mikey, assim como o baterista que aproveitou a discussão como uma boa desculpa para descansar.

Ficaram finalmente sós. O peito do guitarrista subia e abaixava enquanto olhava Gerard chutar tudo ao seu alcance antes de se deixar cair de joelhos no chão.

-Somos uma droga! -Gritou o vocalista puxando com força mechas de seu escuro cabelo. -Jamais chegares mais longe que esta garagem! Somos uma droga!

O guitarrista de cabelo escuro ajoelhou-se em frente ao desesperado garoto de vinte e tantos anos.

-Fique calmo Gee... -Mencionou sorrindo.

-Não entende Frankie? Isto não é um jogo! Precisamos ser mais profissionais se quisermos chegar a ser famosos. Não estamos aqui para perder tempo e...

-Fique tranqüilo. -Lhe interrompeu sorrindo novamente.

E sem aviso prévio suas mãos se agarram a jaqueta de couro do maior, enquanto seus lábios fizeram pressão conta os desconhecidos.

Gerard tinha aberto os olhos de surpresa mas ao sentir uma casquinha de uma travessa língua em seu lábio inferior sua resposta foi imediata. A fúria e o desespero desapareceram ao sentir esses lábios contra os seus, podendo saborear o hálito quente de seu companheiro de banda.

Os minutos se fizeram curtíssimos e a falta de ar foi uma necessidade obrigada. Se separaram para olharem-se nos olhos. Verde esmeralda e o brilhoso amêndoa colidiram-se.

Gerard sorriu enquanto Frankie sentia o peso da realidade depois da magia.

-Me desculpe Gee... -Corou.

-Mais vale pedir perdão do que permissão, não Frankie?

O guitarrista sorriu.

-Deveria agradecer-me. Fiz com que sua chateação passasse. São rugas que nunca verá.

-E como eu poderia te pagar Frankie?

Ambos sorriram antes de voltar a beijar-se. Antes de voltar a perderem-se em um quente e úmido mundo, onde a fúria e as rugas haviam sido esquecidas dando espaço simplesmente a felicidade e a perda de caloria.

END

REGRA #21

21. Amante e bandido.

É melhor ter um certo ponto de sem-vergonheza, ou canalhice, que se passar por um idiota. Não seja arrogante.

Tudo havia terminado. O culminante momento de prazer, onde extinguíamos em frações de segundo e renascíamos no mesmo instante, chegou ao fim.

Ver sua cara de prazer me enlouquece, teus gemidos são sons extraídos do mais divino dos instrumentos, e tua pele é de uma textura inimaginável, suave e as vezes escorregadia, coberta pela fina capa de suor. Eu amo que me tome com essa delicadeza e romantismo, enquanto sussurra palavras amorosas contra a pele de meu pescoço. Eu adoro fazer amor contigo, mesmo que nunca admita. Mesmo que só finja que é sexo, e por fim, saia pensam em mil coisas menos em ti.

Mas é mentira.

Agora que te vejo dormir, tão calmo e angelical, não posso evitar perder-me na forma de teus cílios, nem meus dedos puderam evitar delinear o contorno de suas suaves bochechas coradas. Teus cabelos negros se espalham sobra a branca almofada e sua suave respiração vai me relaxando justamente quando canta junto ao meu ouvido.

Te amo, e sinto sua falta tanto que deveria dizer lhe, não sei. Porque os sentimentos são verdadeiros, ate que os pronuncie em voz alta, mas esta em minha natureza, ser o amante incondicional, mesmo que indiferente. Nunca romântico. Nunca encantador.

Mas te desejo Gerard. Cada dia mais que o anterior, cada segundo com mais intensidade. És tão lindo que me supera. Tão sublime que me faz sentir que sou pequeno demais e impuro de receber-te cada sexta-feira em minha cama.

Talvez algum dia de minha boca saiam palavras verdadeiras. Você me disse que me ama, eu espero algum dia despertar tão sentimental como você merece. Tão sentimental como não posso ser.

Abre os olhos. O par de esmeraldas que iluminam minha casa. Teus lábios desenham um sorriso e os meus não podem resistir a beijá-los. Um gesto sentimental, mas eu rio para você.

-Acorde. -Me afasto de você. Me coloco de pé e tão nu, de que quando cheguei ao mundo, avanço ate a porta do banheiro. -Tem quinze minutos antes que sua esposa chegue da França. Tens que ir pega-la e depois sua sogra.

Sorri enquanto esfrega os olhos e murmura um apagado "obrigado". Sim, aprendo seu horário, para onde está. Para que, quando estiver com muitas saudades, tenha onde correr com a desculpa de te agarrar.

-Te amo Frankie. -Escuto o fechar da porta.

-"Eu também Gerard" -Respondo em minha cabeça dando um tranco.

Talvez algum dia, Gerard, eu não seja tão covarde...

END