O táxi pegou uma estrada e, alguns minutos depois, parou em frente a uma colina com um grande pinheiro. Eu estava confusa, ali não tinha nada, a não ser sítios e fazendas.

Alyne disse que desceríamos aqui, resolvi não questionar. Pagamos o taxista e descemos.

─ Vamos, temos que subir antes que outra coisa nos ataque. ─ Disse Flavia indo em direção a colina.

─ O que tem lá? Que eu saiba, não tem nada por aqui, e minha mãe deve estar preocupada. ─ Disse eu, lembrando de que minha mãe havia dito para não demorar.

─ Relaxa, depois a avisamos.

Quando chegamos ao pinheiro, levei um susto com o que vi, havia um dragão dormindo enrolado na árvore. Mais essa agora, hoje o meu dia está mais esquisito do que o normal. Alyne chegou perto dele e passou a mão por debaixo de sua cabeça, o dragão soltou jatos de fumaça e deu pra perceber que ele estava gostando do carinho, isso não me deixou nem um pouco mais calma.

─ Como vai Peleu? Nada de anormal por enquanto?

─ Eu estou vendo muita coisa anormal hoje. ─ Eu disse sorrindo.

─ Logo você se acostuma. Vem, temos de falar com Quíron.

Avistei ao longe uma casa de quatro andares, azul, uma infinidade de chalés de cores e formatos diferentes, uma floresta, um campo de morangos que me dava agua na boca, um refeitório ao ar livre, uma arena, uma quadra de areia onde alguns campistas jogavam vôlei e uma caverna com algumas coisas pontudas na frente que me deu arrepios só de pensar em quem moraria lá.

Dirigimos-nos até a grande casa azul, lá tinha um homem com uma camisa estampada de leopardo, bem barrigudo, com cara de um bêbado sem rumo, e ao lado dele estava outro homem sentado em uma cadeira de rodas, eles estavam jogando cartas.

─ Olá Sr. D ─ Disse Flavia se curvando para ele, Eu resolvi fazer o mesmo e Alyne também. ─ Boa tarde Quíron.

─ Boa tarde crianças, vejo que conseguiram traze-la até aqui a salvo. Ótimo trabalho. ─ Disse o homem da cadeira de rodas que, com certeza, era o tal Quíron, o que ele quis dizer com “me trazer aqui”?

─ Oi, eu me chamo Viviane e… eu não entendo, vocês já me conheciam? ─ Disse eu um tanto confusa.

─ Bom, sente- se aqui. ─ Disse ele me mostrando uma cadeira. ─ Meninas, peçam a Rachel que me encontre aqui em 10 minutos.

─ Claro Quíron. ─ Disseram elas e se foram correndo pelo campo, sr. D entrou na casa murmurando algo sobre uma coca diet.

─ Você deve estar bem confusa. Bem, respondendo a sua primeira pergunta, sim, nós já a conhecíamos, estávamos de olho em você para que nada acontecesse, depois eu explico isso direito, tudo bem? ─ Disse ele se virando para mim.

Eu apenas assenti.

─ Você poderia me contar o que houve hoje?

Contei tudo a ele, sobre a festa, o restaurante, as meninas, as empousas e a diretora. Ele me olhava tão atentamente que era impossível não notar seus olhos que pareciam ter mil anos.

─ Você passou por bastante coisa hoje e, pelo que percebi, será ótima em esgrima.

─ Esgrima? ─ Perguntei. Eu estava tão confusa.

─ Sim, bom eu preciso lhe contar uma coisa, você sabe sobre mitologia grega? Deuses, heróis ou monstros?

─ Sim, eu adoro mitologia, tenho uma coleção enorme sobre isso, mas… por quê?

─ Veja bem, os Deuses são imortais e tudo mais que você lê também, eles continuam a existir, muitas pessoas tomaram como mito, mas eles ainda existem.

─ Tanto os Deuses, quanto os… monstros? ─ Senti um frio na espinha só de pensar, eu sempre achei de mais mitologia, porém sabia que era bem perigosa. Ainda assim, estava com um leve sorriso no rosto.

Quíron sorriu. Olhei para o lado e vi uma menina se aproximando, tinha os cabelos ruivos, com uma calça toda pintada de hidrocor, ela chegou perto e sorriu para mim e para Quíron.

─ Oi, sou Rachel. ─ Ela se apresentou.

─ Oi, eu sou Viviane.

─ Rachel, leve-a para ver o vídeo de orientação e depois volte que eu vou precisar falar com vocês. Lembre-se que amanha tem caça-bandeira. E ela precisa treinar.

─ Tudo bem, vem Viviane. ─ Chamou Raquel

Eu a segui entrando em uma sala, algum tempo depois o vídeo terminou e Rachel me levou de volta a casa grande, vinhamos conversando por todo caminho, ela era uma menina muito legal, mas eu me assustei quando ela disse que morava naquela caverna. Como uma menina como ela podia morar lá? Ela me contou sobre tudo o que ela havia passado e sobre ela ser o novo oraculo. Achei tudo muito legal.

E agora eu tinha certeza de mais uma coisa, que me deixou confusa por um instante, Deuses existem e eu sou filha de um deles.