A Nova Saga escrita por FehViana, Hawtrey


Capítulo 12
Um Labirinto Terrível




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Numa estrada no meio da noite, sem carro, sem carona e sem saber para onde ir. Eu sou mesmo uma anta. Como não pensei nesses detalhes antes?

─ Bem, para onde vamos?

─ Eu também adoraria saber. Rachel me deu essa mochila com alguns artigos bem uteis. Ela me deu esse mapa também. Como eu falei de um lago, ele vem com a localização dos principais lagos dos Estados Unidos, ou dos mais míticos.

─ Qual o mais próximo?

─ Hum… Lago Michigan.

─ Então vamos direto pra lá. ─ Ele pareceu tão determinado que quase acreditei que tivéssemos um plano.

─ Como? A estação mais próxima fica muito longe. Não temos carona e nem dinheiro.

─ Dinheiro não é problema. ─ Ele abriu a mochila e mostrou um compartimento com, no mínimo, quatrocentos dólares. ─ Rachel também me deu uma ajudinha.

─ Ta, mas não faz diferença sem um taxi passando nessa estrada.

Ele bufou.

─ Você duvida demais de minhas habilidades.

Eu me assustei quando ele se aproximou e me abraçou. Em uma fração de segundo eu vi a estrada de Long Island desaparecer em um borrão negro e frio onde podia ouvir vozes vindas sabe-se lá de onde. Involuntariamente agarrei-me mais a Nico que me abraçou mais forte. Quando minha visão entrou em foco novamente estávamos as margens de um grande lago e podia avistar uma ponte.

Nico me soltou com um pouco de relutância, sorriu e disse.

─ Eu disse que você me subestima demais. ─ Então ele olhou para água. ─ Lago Michigan.

Ficamos um tempo observando a água e o local sem dizer nada, quase como um instinto de sobrevivência ─ ou de semideuses ─ nos certificando de que nada nos atacaria. Por fim eu disse:

─ Eu não subestimo você, apenas esqueci que você podia fazer isso.

─ Você devia prestar mais atenção nos dons do papai aqui. ─ Respondeu se achando a ultima bolacha do pacote.

─ Ta, ta. Você já pode parar de se achar. ─ Sorri maliciosamente. ─ Além de que a mamãe aqui tem muito mais habilidades que você.

Ele gargalhou alto.

─ Você que pensa.

─ Não querido primo, eu sei. ─ E lhe joguei um pequeno raio que atingiu sua barriga fazendo-o estremecer.

─ Quer parar com isso.

Sorri para ele orgulhosa.

─ Vamos começar a procurar.

Andamos por toda a extensão do lago, que era bem grande. E também por suas proximidades. Por um instante parei próximo a duas árvores deitadas e retorcidas que formavam uma passagem estranha de onde se podia ver um túnel de terra. Por ali senti um odor fétido, como se alguma coisa lá dentro não tomasse banho durante vários anos.

Curiosa como sou, ia entra no túnel para investigar, mas Nico chegou ate mim e me desviou a atenção.

─ Então, ─ Começou ansioso. ─ eu soube que você pode invocar um tipo de monstro esquecido.

Virei-me para ele que estava sentado perto de algumas pedras.

─ Como sabe disso?

─ As noticias de uma novata, filha de Zeus, abençoada e escolhida pela deusa casta e que foi levada para treinar com ela sem compromisso… bem, correm rápido.

─ É, mais ou menos isso. ─ Apontei para o céu. ─ Esta vendo aquela constelação?

─ A do escorpião?

─ Sim. Segundo a lenda, Ártemis invocou uma vez um escorpião gigante para matar um… homem que a desafiou e jugou-se melhor que ela.

─ Órion?

─ Isso. Mas assim que ela o viu morto se apiedou dele e como não havia mais nada que ela pudesse fazer o lançou no céu assim como seu assassino. Pelo menos é isso que uma das lendas diz, elas divergem muito e Ártemis não comentou nada. Só que…

─ Só que…?

─ De alguma forma, eu consigo invocar o escorpião, mas apenas a noite que é quando posso ver sua constelação. Mas isso exige muito esforço. E na verdade eu nem sei como eu fiz, só sei que estava com raiva e ele surgiu da terra.

─ Posso te pedir uma coisa?

─ Claro.

─ Quando ficar com raiva de mim, não tenta me matar com escorpião gigante ta? ─ Ele riu.

─ Tudo bem. ─ Senti novamente o cheiro vindo do túnel.

─ O que foi? ─ Nico perguntou, provavelmente viu a minha cara enojada.

─ Não sei. Um cheiro estranho. Vem aqui.

Ele se aproximou da entrada e respirou fundo, balançou a cabeça negativamente.

─ Não sinto nada.

─ Minha mãe estava começando a me ensinar a sentir cheiro de monstro. Eu posso afirmar que deve ter algum ai.

─ Então vamos passar longe.

─ Não!

─ Por que não? Se é um monstro e ainda não nos farejou é melhor irmos logo.

─ Nico, estamos atrás de uma criança que esta em perigo. A mulher do meu sonho também. Qual o lugar perigoso pra eles? Onde você acha que vamos encontra-los?

─ Argh. Você quase foi partida no meio recentemente e ainda quer arranjar mais confusão.

─ Eu estou bem.

─ Tudo bem. Mas não reclame se você se machucar.

Ele empunhou sua lamina negra como a noite. Olhei para a lua buscando forças, foi uma boa ideia, ela me encheu de energia. Apertei meu cordão e em menos de um segundo Eutykhia estava em minhas mãos.

─ Vamos. E pare de me dar broncas.

─ Ta. ─ Respondeu irritado. ─ Eu vou na frente e você cobre a retaguarda.

Entramos no túnel que mais parecia um labirinto, Nico ficou agitado, inquieto.

─ O que foi Nico?

─ Além de estarmos indo em direção a um monstro que com certeza quer nos devorar? Eu apenas… não gosto de labirintos subterrâneos.

─ Você se refere a Batalha do Labirinto? É assim que chamam não é?

─ Sim, tive que vagar pelo labirinto de Dédalo com um espirito pouco amigável. Até Percy me encontrar e me salvar.

─ Hum. ─ Toquei seu ombro. ─ Vamos ficar bem.

─ Assim espero.

E continuamos nosso caminho. O Labirinto era bem grande, o que nos guiava era o meu nariz, eu sentia o cheiro do monstro cada vez mais perto. Até que chegamos a uma bifurcação.

─ Para onde? ─ Nico indagou.

─ Eu… eu não sei. Sinto o mesmo cheiro dos dois lados.

─ Ah, que ótimo.

Bufei.

─ Pare de reclamar. Já está enchendo minha paciência.

Entrei pelo caminho da direita e Nico me seguiu. O horrível cheiro ia ficando cada vez mais forte conforme eu me aproximava da saída daquele túnel, Eutykhia estava de prontidão com três flechas preparadas e brilhando com o poder do luar.

Entramos em um grande salão de pedras. Em uma pilha no canto podia ver ossos de animais variados e até mesmo humanos. Do teto pendia um lustre velho e quebrado que emitia uma luz fraca deixando o lugar sombrio. No chão havia camisas rasgadas que estavam sendo usadas como tapetes, camisas laranjas e outras roxas. Mas o pior de tudo era a visão do homem gigante que estava de costas para eles. Ele estava junto a um grande caldeirão mexendo e jogando coisas nele frequentemente e parecia estar cantando algo em grego antigo que só entendi algumas partes “comida para meus filhos”, “semideuses mortos”.

Nico fez sinal para que eu me escondesse, olhei-o indignada, não ia fugir. Ele mostrou sua espada e indicou meu arco, eu balancei a cabeça negativamente e ele me empurrou e correu atacando o monstro.

─ Há muito tempo eu lhe esperava meu irmão. ─ Soou uma voz feminina que fez Nico parar.

Demorei um tempo para perceber o que estava acontecendo. Rachel havia me alertado sobre isso, mas Nico estava parado como se a voz o trouxesse lembranças que… Bianca!

─ Nico! ─ Gritei. ─ Acorde, é um truque dele.

Só então o monstro se virou e pude ver o horror. Tinha facilmente 3 metros, usava apenas uma tanga esfarrapada, o rosto era grosso e rude os dentes tortos rangendo para nós me dava medo, mais ainda o seu olho, seu único olho negro no meio da testa demonstrava desprezo e… fome. Por que todos os monstros que eu encontro tem que estar com fome?

─ Então, finalmente a querida filha de Ártemis veio me procurar. Todas suas caçadoras vem mais cedo ou mais tarde.

─ Então você não é muito habilidoso, já que todas estão vivas.

─ Posso não mata-las, com certeza elas tem belas marcas de nossos encontros, mas você não tem treinamento, nem é uma caçadora. Posso lhe oferecer duas alternativas.

─ E quais seriam?

─ Entregue-se, lhe matarei rapidamente com pouca dor e deixo seu amiguinho aqui ir. ─ Nico ainda estava paralisado. ─ Ou você pode resistir, matarei os dois com muita dor e bem devagar.

Então ele deu um grito de dor agonizante.

─ Ferro estígio não é? ─ Disse olhando para Nico que tinha sua espada fincada no pé do ciclope. ─ Parece que o fantasminha aqui já decidiu por você.

Nico arrancou a espada do pé do monstro e correu para o lado, bem a tempo de escapar de um chute colossal. Com ele distraído por Nico, lancei minha primeira flecha em direção ao seu olho. Ela acertou-o em cheio arrancando mais um grito pavoroso.

─ Por que vocês sempre tentam no olho? ─ Perguntou vindo em minha direção.

─ Agradeça a ela, você ficou muito melhor com as mãos no rosto. ─ Nico debochou.

O ciclope agarrou a colher de madeira que ele usava para mexer no caldeirão e tentou acertar Nico, mas ele já havia desviado. Atirei as outras duas flechas que atravessaram o flanco do monstros, ele cambaleou mais não morreu, talvez um ataque direto seja melhor. Nico o golpeava e desviava dos ataques, peguei minha adaga e carreguei de eletricidade, corri para ataca-lo por traz, mas nesse momento Nico o tinha golpeado de tal forma que o ciclope quase caiu em cima de mim. Ele correu e me empurrou mais uma vez para longe do monstro.

─ Fique com suas flechas, é melhor.

─ Eu tenho tanto direito de lutar com ele quanto você.

─ Eu luto a mais tempo, então deixe comigo.

─ Ótimo, morra sozinho então.

Nico voltou para atacar enquanto eu me sentei esperando ele pelo menos se machucar e vir pedir ajuda, mas em vez disso ele achou um ponto vulnerável, a parte de traz de sua coxa, esfaqueou ali fazendo o ciclope arfar, ele curvou-se para frente e Nico enterrou sua espada no peito dele. Antes de se dissolver ele soltou um grito estranho e diferente, quase como se estivesse…chamando reforços. Um barulho veio pelo túnel. Levantei-me num pulo com duas flechas em Eutykhia. Um ciclope menor, duas harpias e alguns seres aquáticos apareceram.

─ Telquines. ─ Nico sussurrou.

Atirei nas harpias que não tiveram nem tempo de se defender. O ciclope pareceu não gostar muito disso. Ele atacou, Nico se jogou contra mim e estávamos novamente nas sombras, demos de cara com um carro e caímos.

─ Desculpa, isso acontece quando estou cansado.

─ Ora, a culpa é sua.

─ Será que da pra você parar de brigar comigo por um instante?

Não o olhei mais. Peguei uma de minhas flechas e consegui abri o carro, por sorte ele não tinha alarme.

─ Sabe dirigir? ─ Disse ainda sem olha-lo.

Ele assentiu. Entrei no carro e saímos disparados.

─ Qual o próximo lago?

─ Lago Superior.

─ São 10 horas de carro até uma cidade próxima de lá. Você sabe dirigir?

─ Sim. Nós alternamos a cada três horas para que um possa dormir.

─ Tudo bem.



Ainda estávamos em uma estrada passando de uma pequena cidade chamada Green Bay, Nico no volante e eu no banco ao lado. Já estava em claro, tínhamos comido barras de cereal e mais nada. Eu olhava para as arvores que passavam rapidamente e estava desconfiada que algo nos seguia, como o vidro do carro estava aberto eu podia sentir um cheiro característico de monstro, eu mantinha Eutykhia preparada para o caso de um ataque rápido.



Nico se alternava em olhar para a estrada e para mim, ele ficara apreensivo desde que soube do meu primeiro acidente grave, a maldita lamina no acampamento de Ártemis. Agora toda vez que algum monstro ataca ele fica tentando me tirar da luta, como se eu fosse tão frágil que nem pudesse me defender. Mas o empurrão foi a gota d’água.

─ Ele está perto? ─ Perguntou.

─ Talvez. Ou não. Só sei que se move rápido, pois apesar da nossa velocidade o cheiro dele continua nos rondando. ─ Respondi sem encara-lo.

─ Olhe, me desculpe por aquilo. Mas é que eu tenho medo. Se você se machucar a culpa vai ser minha.

─ Não foi nada. ─ Respondi secamente.

─ Se não tivesse sido nada você não estaria desse jeito.

Eu ainda encarava as arvores.

─ Viviane. ─ Ele deu sinal de que ia parar.

─ Não pare. É perigoso parar agora. Ele está se aproximando e você pode ter que lutar sozinho de novo, já que não me deixa ajudar.

Nico acelerou, mas continuou a alternar seu olhar.

─ Vai continuar assim até o final da missão?

Virei-me para ele totalmente irritada.

─ É Provável que nem terminemos a missão desse jeito. É por isso que são sempre três, para que um possa ajudar o outro. Já está bem difícil sendo apenas dois e você não me deixando ajudar vai se tornar impossível. Vamos morrer. ─ Gritei num folego só. ─ E olhe pra estrada ou nossa morte pode chegar ainda mais cedo.

E atirei-me no banco com força. Ele obedeceu e encarou a estrada em silencio por um momento.

─ Sim, você está certa. Uma missão sem amigos é uma missão totalmente impossível. Mas é que você me…

Uma explosão atrás de nós interrompeu qualquer coisa que Nico fosse dizer. Coloquei a cabeça pra fora bem a tempo de ver um Telquine arremessando um arpão da janela de passageiro de um lelux vermelho.

─ Isso é impossível.

Lancei uma flecha carregada de magia lunar que atravessou o arpão partindo-o em dois e foi cravar-se na cabeça do Telquine que se dissolveu em pó dourado.

─ Como eles podem dirigir? Os pés são nadadeiras. ─ Perguntei irritada.

─ Na verdade… ─ Nico olhou pelo retrovisor esquerdo. ─ é outro ciclope que está dirigindo.

Passei para o banco de traz e abaixei os dois vidros, do lado esquerdo havia um ciclope e mais um Telquine com outro arpão.

─ Quantos monstros asquerosos cabem nesse carro? ─ Nico acelerou. ─ Tem mais dois a direita.

─ Deuses, essas coisas são insistentes. ─ Vi que ele mirava o arpão no pneu. ─ Mas vamos virar o feitiço contra o feiticeiro.

Carreguei uma flecha com tanta eletricidade que em vez de azul ela ficou quase branca. Atirei-a no pneu do lelux que tremeu. O carro inteiro foi atingido e explodiu. Provavelmente atingiu a gasolina.

─ Pronto, agora morreram. ─ Voltei para o banco da frente.

Nico sorriu.

─ Realmente, fazemos um belo time.

─ Agora vai me deixar ajudar? ─ Questionei.

─ Lógico. Claro que isso pode causar muitos desastres, mas vamos tentar. ─ Ele deu um sorriso debochado.

Soquei seu braço.

─ Ai. ─ Ele gemeu. Mas logo em seguida sorriu.


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