Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 6
Capítulo 5 - Reunião


Notas iniciais do capítulo

Neee, finalmente cheguei neste capítulo ^^
Prestem atenção nele, pois é bastante importante se lembrar dos personagens aqui apresentados durante o resto da história. Mas a maioria vcs já conhecem.
Sem desenhos neste e no próximo cap, ok? ^^'



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         Olhei para Nero por cima de uma árvore. Era de noite ainda, mas eu já havia acordado. Eu chegara ali com um dia de atraso, mas não fazia tanto problema, já que eu normalmente chegava atrasado nesse tipo de missão.

         Eu também iria deixar Raquel nessa cidade, seria melhor para ela.

         Mantive – me um bom tempo nos galhos mais altos da árvore em que estava. A cidade tinha uma forma redonda, e o rio Irvine vinha em sua direção, e quando chegava perto aos portões da cidade, se bifurcava e só se tornava uma única linha no fim da cidade. Ele não tinha ponte alguma a vista, mas avistei uma placa de ferro em uma das margens da cidade, e soube que era uma ponte de luz. Ela surgiria na hora em que me aproximasse, e também senti três Auras de guerreiros lá, e duas reconheci como a Aura de café de Alec e a Aura de caramelo de Nina. A outra era uma Aura com o sabor do cheiro de rosas. Complicado, né?

         Começou a amanhecer, e esperei mais algum tempo, até escutar o barulho característico que indicava que Raquel estava acordando, então, simplesmente saltei da árvore, pousando no chão de pé.

         Logo depois fomos para a cidade, e quando me aproximei da placa de ferro, uma luz começou a sair dela, e atravessamos sem problemas. Lá encontrei um homem com o uniforme da Ordem. Ele era do tamanho da minha cintura, mais ou menos, e tinha uma cara de fuinha nada amigável.

         Andando de um modo estranho, ele veio arrastando um saco de couro com dificuldade, e o jogou para mim, que sinceramente, não pesava nada. Fez um barulho metálico quando a peguei, e soube o que era.

         - Está atrasado. – disse com uma voz esganiçada. – Todos os outros já estão aqui.

         - Percebi já. – respondi.

         Ele resmungou e começou a andar. Me dirigi até onde senti as Auras, deixando o carinha para trás, sendo seguido por Raquel. Eu iria falar primeiro com o chefe (ou a chefe) no comando da missão, deixaria Raquel em um hotel, ia para a missão e quando voltasse, iria arranjar alguém para ficar com ela.

         Isso é, se eu voltasse.

         Balancei a cabeça. Era bom manter esses tipos de pensamentos longe da mente, mas era a realidade, poderia muito bem acabar morrendo nessa missão. Mais um ponto de nosso trabalho ser considerado amaldiçoado.

         - Como você sabe onde eles estão? – Raquel perguntou. – Aquele homem ficou para trás, e acabamos de chegar.

         Reparei que algumas pessoas me encaravam com medo – como era o normal – e depois encaravam Raquel com incredulidade, que se demonstrava totalmente alheia a isso. Reduzi o passo para que ela pudesse andar ao meu lado, para que não precisasse elevar muito a voz.

         - Qualquer coisa que não seja um humano ou animal comum, mesmo os meio humanos como nós, exalam uma espécie de energia que chamamos de “Aura”. Assim podemos localizar monstros de pessoas normais, pois nenhuma pessoa comum exala Auras. – respondi. – As Auras de híbridos são diferentes das de monstros, mas possuímo-las mesmo assim.

         - Qual é a diferença?

         - As de monstros são “frias” e exalam um cheiro ruim, uma mistura de coisa estragada, bicho morto e enxofre.

         Quase ri ao ver a careta que ela fez ao torcer o nariz.

         - As dos híbridos são “quentes” e cada um tem um cheiro característico de si próprio. Dois híbridos podem ter Auras parecidas, mas nunca igual. Mas sou meio suspeito a dizer isso.

         - Por quê?

         - Todos os híbridos possuem sensibilidade para sentir as Auras, mas existem níveis diferentes. Eu sou considerado um rastreador ofensivo pela Ordem pelo meu nível de sensibilidade, e também por que eu sou mandado para atacar.

         - Mas todos lutam, não? – perguntou, me encarando com seus grandes olhos azuis.

         - Bom, sim. – respondi. – Mas alguns mais que outros. As funções de alguns são quase apenas rastrear algo e relatar à Ordem, e esses são os rastreadores defensivos. Outros são mandados para rastrear algo e eliminá-lo, esses são os rastreadores ofensivos.

         - Mas isso depende da pessoa. – disse.

         - Sim, alguns aprimoram a sua, outros já quando despertam como híbridos a tem em um nível elevado.

         - Qual o seu caso?

         - Ambos. Eu já tinha uma ótima leitura de Auras, mas procurei aprimorá-la. – respondi. – Hoje eu consigo prever os movimentos de um monstro por meio de sua Aura, e ouvi dizerem que sou o melhor rastreador da Ordem.

         - Ah. Isso explica.

         - Talvez eu apenas tenha sinestesia em relação a Auras.

         - Sinestesia?

         - Sim, tem pessoas que por exemplo, sentem o gosto de uma música. – respondi. – Ou vêem a cor e sentem o cheiro de um som. Isso é sinestesia.                    

         Parei do lado de fora de uma casa branca com uma porta e uma janela de portas duplas de madeira. Era lá em que eles estavam. Abri a porta, entrando no recinto escuro. Lá consegui localizar três sofás de dois lugares. Alec e Nina estavam dividindo o mesmo, e havia uma mulher sentada sozinha no que estava de frente a mim.

         Ela aparentava ter no máximo uns 17 ou 18 anos, mas transpassava um ar de maturidade. Ela estava usando um vestido de alças finas esverdeado, mas usava calças por baixo. Seu cabelo estava preso em uma trança e deixava duas mechas mais curtas soltas.

         - Você chegou atrasado. – ela suspirou.

         - Foi mal. – respondi. – Só que não pude andar muito rápido.

         Ela olhou para Raquel atrás de mim.

         - Entendo. – disse. – Estive adiando isso para quando o último integrante chegasse. Gostaria que dissessem seus nomes e números. E se possível, idade e quantas vezes já caçaram Despertados.

         - Bom, eu sou Yudai. – respondi. – Número nove, eu tenho 15 anos e já os cacei oito vezes. Essa é minha nona caçada.     

         - Eu sou Alec. – disse. – Eu sou o número vinte e sete, tenho 14 anos e já os cacei duas vezes.

         - Eu sou Nina, eu sou a número vinte e nove e tenho 14 anos também, mas nunca cacei um Despertado antes.

         Reparei que além de estarem de estarem sentados no mesmo sofá, Alec passara o braço por trás das costas de Nina. Nota mental: Encarnar com ele depois. Epa! Por que estou agindo como Hideo?!

         - Eu sou Anita. – ela disse por fim. – Sou a número seis e tenho 20 anos, e essa é minha décima primeira caça a Despertados.    

         Número seis? Então ela seria a quem é chamada de “Fantasma”? Bom, eu veria – ou perguntaria – depois. Reparei Nina olhando para Raquel atrás de mim também. Alec parecia pensativo e longe daqui.

         - Certo. – Anita disse. – Partiremos daqui dentro de três horas no máximo, então arranjem o que precisarem, mais comida ou – ela olhou para mim. – arranjarem algo.

         Ela se levantou e percebi que ela era uns quinze ou vinte centímetros mais baixa que eu, e então passou e saiu.

         Alec se espreguiçou e Nina se encolheu em resposta, obviamente contrariada pelo fato dele tomar quase todo o espaço.

         - Viemos parar na mesma missão então. – Alec disse. – Que feliz, podemos morrer todos juntos, só faltava Hideo pra completar.

         Nina puxou sua orelha com força e ele protestou.

         - Ai! Qual é!

         - Coisa mórbida para se dizer! – exclamou. – Não é legal dizer isso!

         - Você só está nervosa por que é sua primeira caçada. – acusou.

         - Isso realmente não foi legal Alec. – eu disse.

         - Sua sorte foi eu não ter puxado sua orelha pelo seu brinco. – ela disse, mal humorada. – Ou veria o quão legal é ter uma orelha rasgada.

         Ri, enquanto Alec instintivamente passava a mão na orelha.

         - Olá. – Alec olhou para Raquel. – O que está fazendo com o chato do Yudai?

         - Engraçadinho. – Bufei. – O nome dela é Raquel. Salvei ela no caminho para cá, e ela veio me seguindo. – me virei para ela e falei com uma dose de sarcasmo. – Não se preocupe com Alec, ele é traumatizante para aqueles que o conhecem. Não sei como Nina o agüenta.

         Ouvi a risada cristalina de Nina, e Alec pareceu se segurar para não pular em mim.

         - Bom, continuando, - fingi um pigarro. – Nina e Alec são dois amigos meus. Nina é legal, não se preocupe. Alec é meu primo e foi parar na Ordem comigo e Hideo. Se quiser achar que ele e Nina são um casal, eu concordo com você.

         Vi seus lábios se torcerem, reprimindo o riso. Alec saltou e acabei tendo que bloquear um chute que – por pouco. – quase acertou meu rosto. Fiquei segurando seu pé, mantendo-o na posição do chute.

         - Eita, calma aí. – respondi.

         - Você adora encher o saco né?

         - Convivência de berço com você. – respondi. – Hideo conviveu mais pelas aulas de música, e ele está num caso mais grave e no momento sem cura.

         Ele bufou, enquanto eu ainda o segurava pelo pé. Nina se levantou também.

         - Ei, se quiserem brigar, briguem depois. – disse. – Por que agora temos que nos preparar para ir.

         Soltei o pé de Alec, enquanto Nina saía pela porta da frente, seguida de perto por Alec, que fechou a porta atrás de si.

         - Ele ficou irritado – Raquel começou. – mas age como se fosse namorado dela.

         - Seus motivos para achar isso?

         - O modo que estava sentado perto dela, a reação dele quando você disse que achava que eles eram um casal, e agora quando ele saiu, só faltou pegar na mão dela. – enumerou.

         Ri.

         - Isso aí Raquel. – respondi. – É nesse caminho.

         Depois de cerca de duas horas, saímos da cidade. Eu havia conseguido uma estalagem que aceitara Raquel sozinha ali. Deixei também com ela todo o dinheiro – sim, eu tenho dinheiro. - que eu tinha, o que era uma quantia considerável, mas acho que aceitaram mais por medo. Depois disso saímos, e para melhorar as coisas, começara a cair uma chuva de molhar e congelar os ossos.  

         Depois de um longo tempo pegando a chuva, conseguimos avistar uma caverna, que era anexada a uma montanha. Subimos lá, saindo da chuva o mais rápido que podíamos, porém não tinha nem um galho seco nesse momento para se fazer fogo, então teríamos de nos virar.

         Anita deu uma olhada no lado de fora, quando um trovão iluminou o céu. Ela voltou para dentro, enquanto eu jogava a sacola com a armadura no chão, e o som metálico imediatamente ecoou.

         - Começou um dilúvio. – Alec comentou enquanto tirava os sapatos e os virava para tirar a água de dentro deles.

         - Isso é mal. – Anita disse. – Mesmo que pare, formará muita lama.

         - Isso é verdade. – respondi. – Mas mesmo que nos atrase, pode atrasar também o Despertado.

         - Nisso tenho de concordar. – Anita disse.

         - Ao menos as minhas coisas ficaram secas. – ouvi Nina murmurar.

         Sentei no chão e tirei os sapatos encharcados, e abri a mochila. Ela estava apenas úmida, mas as coisas estavam relativamente secas. Com cuidado, peguei o pacote que havia comprado de comida – que quase rendera um infarto do vendedor. – que com sorte conseguira sair seca.            

         Abri a embalagem, enquanto ouvia Alec xingar baixinho, parece que ele não tivera tanta sorte e sua comida estava encharcada. Ele a deixou de lado e abraçou as pernas, mas Nina ofereceu parte da dela.

         Sem qualquer maldade, quem visse os dois juntos, imediatamente pensaria que eram um casal, e eles combinavam até. Tinham química, como se costuma dizer.

         Quando terminei de comer, nem me importei com as roupas molhadas, logo adormeci. Acordei depois com um trovão, enquanto a chuva diminuía, mas fora o suficiente para que meu sono fosse roubado, então fiquei apenas parado, esperando a chuva parar e os outros acordarem. Mantive-me em silêncio por umas duas horas até que a chuva parou, e eu saí para ver o estado em que o local ficara. Dava para ver a lama aguada de longe, mas o céu ficara límpido e sem nuvens que parecia que a chuva de antes era não houvesse caído.

         Ouvi um som de dentro da caverna, e logo depois Anita apareceu, terminando de trançar seu longo cabelo, e espiou lá embaixo também.

         - Desse jeito, acho que será bom sairmos daqui já com as armaduras. – sugeri. – Nossas roupas atrapalharão mais na lama do que a armadura.

         - Tem razão. – concordou. – Os dois já acordaram, eu e Nina nos trocamos lá dentro e vocês dois aqui fora.

         Concordei e fui até a entrada da caverna, chamando Alec, peguei minha sacola e saí, enquanto escutava Anita explicando a Nina quais partes da armadura se encaixavam com outra.

         Do lado de fora, abri a sacola e tirei o macacão branco que tinha que usar por baixo e uma espécie de botas de pano junto com as luvas, tirei a roupa e comecei a vesti-los.

         - Essas armaduras são verdadeiras quebra cabeças. – Alec murmurou, terminando de por seu macacão, enquanto eu colocava as luvas.

         - Sim. – concordei.

         Peguei a parte que seria uma das pernas, que estava retraída. Puxei para que ficasse do tamanho normal e a coloquei, e fiz o mesmo com todas as peças. Por fim, peguei o capacete, que era quase como uma máscara que cobria toda a cabeça, só que no local do rosto era um vidro escuro. O pus na cabeça e bati de leve numa espécie de botão que tinha em sua lateral, e ele se iluminou por dentro, permitindo ver o local claramente, como se não houvesse película e o vento entrava levemente, permitindo-me respirar. Fiz um sinal para que Alec pusesse seu capacete, e quando o pôs, perguntei:

         - Consegue me escutar?

         - Sim. – A voz dele ecoou dentro do meu capacete.

         - Eu também consigo. – Ouvi a voz de Nina.

         - Ótimo. – Anita disse. – Acho que agora podemos ir. Deixem suas coisas aqui, voltamos para buscá-las depois.

         As duas saíram de dentro da caverna. As armaduras que usamos não se parecem com armaduras medievais ou fardas. Elas são do exato tamanho – e formato – de quem os usa, então dava para se distinguir levemente quem era quem. Nina era a mais baixa do grupo.

         Como dissera antes, com as armaduras não ficou tão ruim andar pela lama, andamos até um local em que a trilha virava pedra. Tudo virava pedra, as árvores sumiram, dando espaço a grandes rochas, e quando chegamos num local amplo, onde as rochas eram bastante espaçadas, à beira de um penhasco, vi algo.

         Um garoto exalando um forte cheiro de laranja, tanto que chegava a deixar meu nariz ardendo, mesmo com o capacete.

         - O que um garoto está fazendo aqui?

         - Vocês não sentem?! – perguntei.

         - O quê?

         Peguei minha espada e o ataquei. 


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Notas finais do capítulo

Bom pessoal, um aviso para os sensíveis... No próximo capítulo, destruição, sangue, membros e mutilação pra todo lado ^^'