Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 7
Capítulo 6 - Caçada ao Predador


Notas iniciais do capítulo

Novamente, aviso aos sensíveis: cenas de violência, mutilação, e muiiiiiiiiita ação e pancadaria e efeitos especias (?) :P



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Ele saltou, desviando da espada e girou numa cambalhota para trás. Ele usava apenas uma bermuda marrom e uma camisa amarela, mas foram seus olhos o denunciaram. Eram num psicótico tom de verde, e eram felinos. Aqueles eram olhos de Despertado quando se preparavam para o ataque.

Minha espada rachou o chão pela força que havia posto no ataque, e o vi saltando pelas rochas a toda velocidade, parando então numa rocha lisa como uma aranha, e conseguiu se manter grudado lá. Rosnou num tom bestial, ergueu a cabeça e sorriu, mostrando a fileira de dentes pontiagudos e as longas presas.

- Ah... Mandaram um grupo atrás de mim... – disse com uma voz deslocada para seu corpo infantil. Era grossa, rouca e bestial. – Vieram em boa hora, estou morto de fome e híbridos são muito mais saborosos que humanos...

Depois disso, senti sua Aura crescendo e imediatamente soube a direção em que apontava.

- Ele vai atacar!

Uma enorme estaca surgiu do nada, vindo em nossa direção. Saltei para o lado, e escutei os sons indicando que os outros haviam feito o mesmo, só que algo me chamou a atenção. Um som molhado e dilacerante, que fez meu estômago revirar só de escutar, depois o som de uma espada caindo no chão.

- Alec! – ouvi Anita exclamar.

Quando olhei por cima do ombro, vi-o cambalear... Sem o ombro e o braço direito, o sangue escorrendo. Na realidade, sangue escorrendo não era a melhor descrição. O sangue estava esguichando.

A estaca veio novamente e jogou-o violentamente para a fora da beira do penhasco, fazendo-o despencar, e depois de certo tempo escutei o som de algo caindo na água. Tudo acontecera estonteantemente rápido, em no máximo dois minutos.

O corpo do garoto começou a se deformar, a estaca que nos atacara era na verdade o que parecia agora com uma enorme perna artrópode, saindo de suas costas. Na articulação de seu joelho saíra um enorme espinho que pingava um líquido viscoso. Depois, cresceram mais sete pernas, todas feitas de uma couraça que brilhava como metal escurecido. O corpo dele continuou se deformando até aparecer algo que parecia ser o corpo de uma formiga, porém não tinha cabeça e em seu tórax se sobressaía um enorme corpo humanóide. De seu tronco saiam vários e vários braços, todos com enormes garras e sua cabeça era coberta com uma viseira feita com a mesma couraça de seu corpo. Parecia-se com uma mistura entre uma aranha, uma formiga e – em parte – um humano e ele deveria ter no mínimo seis metros de altura.

- Que pena. – disse. – Perdi aquele, mas ainda tem três aqui...

Ele dirigiu um ataque a Nina, tentando pisá-la com uma de suas pernas, porém ela saltou para trás e ele continuou a atacá-la. Ela caiu no chão e ele aproveitou-se para atacá-la nesse momento. Comecei a correr em sua direção, mas quando estava a uns dois metros dos dois e a perna dele começava a encostar-se a ela, uma luz enorme me cegou momentaneamente e ele gritou. Vi então que sua perna estava chamuscada e fumegante, com faíscas aparecendo ocasionalmente. Ele cambaleou, apoiando-se em suas sete pernas restantes, mas claramente não conseguia pisar com a perna chamuscada.

- Nina, desde quando você tem afinidade com eletricidade?! – berrei.

- Desde que Alec tem afinidade com água. – berrou de volta.

- Ele tem afinidade com água?! – gritei enquanto desviava em três saltos de três ataques seguidos. Apoiei meu peso nas mãos e ergui as pernas e saltei de novo pousando de pé quando ele atacou-me pela quarta vez e aproveitei para cortar a ponta de sua pata, que era uma enorme garra feita de ferro, o que não o deixou muito feliz. Duas pernas impossibilitadas, agora faltavam seis, e meus braços queimavam pelos movimentos rápidos.

Com o sangue escorrendo, e agora claramente furioso, o Despertado começou a atacar furiosamente, esmagando o chão com suas patas e fazendo rochas e pedras voarem para todas as direções. Em certo momento, pensei tê-lo visto atravessar Anita, mas depois ela não estava mais lá e sua perna fincou-se no chão. Ele então atacou Nina e me empurrou com tanta força que cheguei a quicar até bater de cabeça para baixo numa rocha e quando bati nela, juro que cheguei a afundar levemente na rocha. Arquejei e caí sobre meus ombros.

Ouvi então um estrondo, como se fosse uma corredeira ou uma enorme onda se erguendo e rochas se quebrando, e quando consegui ficar de cabeça para cima novamente, achei que meu coração iria para pelo susto.

Um enorme dragão chinês se erguera do penhasco, e ele era completamente feito de água, e cada escama de água sua estava espirrando água, como se fosse feito de corredeiras, e após certo tempo se tornou uniforme. Sua crista espirrava tanta água que caía como chuva sobre nós e mesmo após as escamas se manterem uniformes, a crista continuou a espirrar água furiosamente. Arrastando-se como uma serpente, ele deu o bote, abocanhando a lateral do Despertado, e vi o sangue dele esguichar para dentro de suas mandíbulas e misturar-se ao corpo. Ele se debateu e ambos começaram a se enroscar, lutando furiosamente. Diversas vezes bateu nas costas e nos flancos do dragão, mas suas patas apenas afundavam e retornavam encharcadas com a água. No momento em que ele as retirava, o “ferimento” se fechava imediatamente.

No mesmo momento que senti a Aura de Alec chegando, o dragão chicoteou parte do tronco do Despertado com a cauda.

Olhei-o imediatamente, e o vi completamente encharcado, sem capacete, mas o que me chamou a atenção fora o braço e o ombro que ele perdera. Os membros perdidos foram, literalmente, reconstituídos em água e não dava para ver o ferimento sangrento. Ele cerrou sua mão feita de água e ergueu o olhar, com o cabelo e a franja molhada que normalmente eram jogados para trás caindo sobre o rosto.

Ele levantou o olhar demonstrou que utilizava a Aura em torno de seus dez por cento, pois a parte branca de seus olhos estavam completamente negras, suas pupilas eram meros círculos vermelhos e suas íris eram um traço felino vermelho. Ao redor de seu rosto começavam a surgir imagens vermelhas como tatuagens que lembravam ondas, demonstrando que ele estava aumentando-a mais ainda. Percebi então que sua Aura se misturava com o dragão e o controlava e formava. Então ele havia criado aquele bicho?!

Após muito tentar, o Despertado se livrou do dragão de Alec, o desfazendo, porém as gotas de água voltaram a se formar o dragão. Levantei e vi Anita afastada tanto do Despertado quanto do dragão, que era bastante prudente.

Mas durante um ataque do dragão, o Despertado recuou de tal forma que ouvi um grito, e então vi o sangue. Ele havia ido de tal modo que Nina não conseguira recuar, e fora acertada nas costas. Alec desviou sua atenção imediatamente para ela no momento do grito e o Despertado viu sua chance. Atravessou o dragão e antes que eu ou Anita nos movêssemos e empalou Alec.

Imediatamente o dragão se desfez, e vi a água do braço de Alec começar a dissolver. O Despertado tirou sua garra dele e ia atacá-lo novamente, mas eu saltei, cortei sua pata quase em sua articulação e agarrei Alec, que havia perdido a consciência. Senti um golpe rápido em meu ombro, a ponto de fazer sair sangue, mas nada muito grave. Coloquei-o deitado numa pedra.

O Despertado atacou Anita, e senti por um momento uma grande explosão de Aura vinda por parte dela. O Despertado a empalou, ela ficou parada no lugar e... Sua imagem desapareceu.

Como um fantasma.

Ele grunhiu, e suprimi minha Aura para que ele não percebesse, então fui e resgatei Nina que ainda estava atrás dele. Ela recebera um ferimento feio nas costas e peguei-a com cuidado em meu colo e a coloquei perto de Alec. Quando a pousei, tirei seu capacete.

Senti a Aura de Anita ter as pequenas e breves explosões mais e mais vezes, e então tirei meu capacete para poder observar a cena melhor. Essa era então a Técnica “Fantasma”. Anita usava sua Aura para aumentar sua velocidade de tal maneira que acabava formando um pós-imagem, mas era uma técnica perigosa devido à grande quantidade de Aura requerida em cada vez que usava. Então, ela devia ter estipulado um limite. Reparei também que havia um modo de utilizar a técnica sem o uso da Aura.

Mas ela não parecia saber.

Dezesseis, dezessete... Quantas vezes seria seu máximo? Mesmo não podendo ver seu rosto, consegui ver que começava a ficar cansada. Peguei minha espada e fiz cortes profundos em duas patas dele, porém, não consegui arrancá-las. O Despertado rugiu e tentou me pisotear, mas desviei, e ouvi a exclamação de Anita. Apesar de ser um plágio leve, eu usara o outro método para sua técnica.

Anita arrancou uma das patas que eu ferira, mas foi aí que a coisa deu errado. Ela não pôde mais usar sua técnica, havia atingido seu limite, e tanto eu quanto o Despertado percebemos. Ele bateu com força na cabeça dela, quebrando o capacete, e então ficou-a no chão, fincando-a ao chão pelo abdômen. Ela gritou e ouvi a risada dele. Então ele virou a cabeça até o queixo atingir suas costas.

- Agora só falta você, não é?!

Ele atacou com suas pernas e eu saltei com o máximo de força que consegui, atingindo pouco mais que a altura de sua cabeça, mas ele usou uma de suas mãos para me pegar pelo pé, e então esticou-a de modo que me jogou com força no chão, fazendo bater minha cabeça. Arquejei e senti o sangue começar a escorrer em minha testa, e ele me jogou para o alto novamente e acertou meu estômago, me prensando com tanta força na parede de pedra que parte dela rachou e novamente afundei nela. Cuspi o sangue que ficara entalado em minha garganta e ele começou a me socar com todos os seus braços, errando algumas vezes e quebrando a pedra ao meu redor. Todos os golpes doíam insuportavelmente e ainda me arranhavam com suas garras. Desesperado, peguei um de seus braços e o torci com força.

Ele imediatamente parou e caí pesadamente no chão, ainda segurando a mão dele que eu havia torcido com tanta força que acabara arrancando-a. Vi meu sangue começar a sujar o chão e cuspi mais sangue, minha visão completamente tomada por pontos de luz começava a ficar embaçada e escurecia. Desse jeito eu ia acabar desmaiando, e ouvi outro grito de Anita. Trêmulo, comecei a me levantar, ou tentar levantar. Minhas pernas estavam moles pelos golpes e arranhões, e eu estava trêmulo. Era raro eu ficar assim.

Respirei fundo e me concentrei em tentar fechar os ferimentos minimamente só para poder ter mais condições de ajudar, e consegui me firmar o suficiente para levantar. Peguei impulso e praticamente me atirei, cortando a perna que ele usava para prender Anita. Ele cambaleou tendo agora apenas três de suas pernas, então tirei o pedaço preso em Anita e a tirei rápido dali.

Quando nos afastamos, eu desabei e ela também. Pensei então no estado do grupo. Alec e Nina inconscientes, eu e Anita gravemente feridos. A coisa estava feia e o máximo que havíamos conseguido fazer era deixar o Despertado com seus movimentos impedidos, e ele não nos daria uma abertura para curarmos nossos ferimentos, mas se continuássemos parados, estaríamos dando abertura para ele se regenerar.

Com muito esforço me levantei e comecei a aumentar minha Aura até os minha visão mudar, fazendo ver as coisas de maneira mais aguçada, atingindo os dez por cento de uso. Ele me atacou e saltei, agarrando a pata dele com força. Ele começou a balançá-la furiosamente, tentando me soltar, mas continuei a segurando. Ele levantou a outra pata e dirigiu-a a mim, e soltei na hora em que ia me acertar, o fazendo destruir sua própria pata. Ele rugiu de forma ensurdecedora e se balançando de forma precária, começou a tentar me acertar, mas Anita – ainda com seu ferimento – cortou-lhe a segunda pata esquerda, e saltei para trás no momento que seu tronco caiu pesadamente no chão, levantando poeira.

Só então vi que Alec e Nina haviam feito mais estragos do que aparentara no momento em que haviam o atacado. Seu flanco direito estava completamente queimado pelo choque de Nina, e havia buracos sangrentos enormes abertos pelo dragão de Alec, e percebi que o dragão ainda arrancara parte de seus braços e a única pata aracnídea que sobrara estava rachada der tal forma que quando ele moveu-a bruscamente, ela simplesmente caiu.

- Desgraçados... – rosnou.

Ele abriu a viseira, mostrando o rosto com a pele arregaçada e os olhos de besouro, porém ainda verdes psicóticos e felinos. Seu nariz eram duas meras fendas no meio da face e a boca era um rasgo que, quando ele abriu-a fez metade de sua cabeça abaixar-se para trás, revelando as três fileiras de dentes pontiagudos e amarelos.

Ele colocou a língua negra para fora e percebi – admito, com nojo - que ela era coberta por farpas e dela escorria um líquido viscoso e esverdeado. Meu estômago revirou com o cheiro e percebi que sua língua crescia mais e mais, até que... Percebi que ela estava mais perto de mim do que deveria.

O susto me fez reagir, e saltei para trás quando ele me atacou usando sua língua, fincando-a no chão. Esse foi o ataque mais nojento que já pensei que iria sofrer. Ele ergueu-a novamente e ela se tornou bifurcada como a língua de uma cobra, então me atacou de novo. Desviei, mas a segunda parte atravessou minha perna esquerda. A dor foi ainda maior quando ela a retirou, as farpas retirando parte da carne. Depois disso, não consegui mais forças para me levantar.

Ele fez uma careta que me lembrou um sorriso ao colocar a língua novamente na boca.

- Olha só, você tem um gosto muito melhor do que eu imaginava... – comentou.

Ele olhou para Anita, que não podia se mover muito bem por ferimento e pôs a língua para fora novamente. Peguei minha espada e atirei-a, acertando a língua dele e cortando parte dela quando aproximou-se de Anita. Ele rugiu ainda mais alto e começou a erguer e esticar um dos braços em minha direção, e eu não tinha condições de fugir. Não tinha para onde ir.

Quando ele começou a direcionar o ataque, foi atingido por um raio tão forte que mesmo estando afastado pude sentir o calor e meus pelos se eriçarem. Ele balançou-se, estava grogue e fumegante. Sua couraça rachou-se e ele estava todo queimado. Sua viseira estava partida ao meio e então soltou-se de sua cabeça e caiu com um estalo no chão.

Olhei ao redor e vi uma pedra pontiaguda, que havia surgido no ataque furioso dele quando ainda tinha a maioria das pernas. Peguei-a e depositei toda força que tinha em meu braço, mirei e atirei-a nele. Minha visão não estava muito boa e torci para que conseguisse acertar, até que escutei dois sons: um era de algo se quebrando, o outro era molhado. Logo após foi o som de algo cortando o ar e caindo no chão. A pedra.

O Despertado ficou estático durante quase um minuto, até que seu tronco vergou para trás e caiu com estrondo no chão, levantando a poeira e fazendo pedras voarem para todas as direções. Com o som de algo se dissolvendo, o corpo monstruoso começou a se desfazer, depois sobrando-se apenas um corpo humano, a versão adulta do garoto do começo.

De relance vi Nina sentada encostada na rocha em que eu havia a pousado, e Anita usando minha espada como apoio, tentando se erguer, com muito sangue correndo de seu ferimento.

E então eu apaguei.



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Notas finais do capítulo

Duas surpresas no próximo cap...