Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 27
Capítulo 26 - Futuro, Passado, Vida Passada.


Notas iniciais do capítulo

Eeeeeeeee é isso aí! De ontem para hoje terminei Olhos de Sangue. i.i OMG, mal consigo acreditar, kkkkk (preciso dizer que chorei muito no final?). Bom, tem um total de um prólogo, 39 caps e um epílogo, mas como um cap não é muito relevante para a históra, eu decidi descartá-lo de postá-lo. Podem me matar à vontade.
Mais mistérios serão expostos neste capítulo... Mas nenhum deles será respondidos em Olhos de Sangue, kkkk Parcialmente em Meia Alma. Talvez eu ponha algo em Labirinto da Escuridão... :P
Bom, vamos ao capítulo então!



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        Cinco anos.

        Deveria ser março, sei lá, estava há algum tempo naquela floresta, acabei perdendo a noção do tempo. Hideo não estava muito melhor em minha mente, ele estava recebendo tantas missões quanto eu. Achei estranho, era uma missão atrás da outra, mal tinha tempo de respirar. Eu sequer voltava para a Ordem mais, só ia de um lado para o outro na região central de Darneliyan, a região do mais movimentado portal de Darneliyan.

        Pois é, eu realmente fiquei como número 1.

        Eu tive que lidar com alguns problemas com gente que não considerou aquilo justo (entenda-se: Dante, Raimundo, Hilda, a metade da Ordem. Ou mais da metade.). Mas depois de algum tempo – e algumas lutas que eu tentei evitar. Eu juro. Não me responsabilizo por ninguém que saiu quase morto. Eu também tentei evitar isto. – pararam de duvidar de mim.

        Durante um bom tempo, para mim aquilo fora estranho, demorou uns dois anos até com que eu me acostumasse com a ideia. Fora isso, acredito eu, estava tudo bem.

        Eu não desistira de procurar por Raquel, procurava em toda cidade em que ia – na maioria das vezes eu precisava usar um pequeno estoque de Transfiguradores que consegui clandestinamente com Raimundo para conseguir respostas decentes. Sim, ele também não é um santo e pode ser considerado o “traficante” da Ordem.

        Em nenhuma cidade haviam visto uma garota de cabelo negro ondulado e olhos azuis desacompanhada chamada Raquel, depois de um tempo, tive de mudar para uma adolescente de cabelo negro ondulado e olhos azuis chamada Raquel. Mas eu não perdera as esperanças, elas só... Diminuíram. Um pouco.         

        Era verdade que eu sentia falta dela. Muita, na verdade. Apesar de Hideo ser constante em minha mente, era diferente. Ele só se mantinha material por perto quando o local das missões era próximo, já que não pisávamos na Ordem havia alguns meses.

        É, eu me sentia quase solitário.   

        Estava caindo um dilúvio do lado de fora, então acabei ficando preso em uma caverna, completamente entediado. Começara ainda pela manhã, me pegando de surpresa, choveu a tarde inteira e já deveria estar anoitecendo, e a porcaria da chuva só parecia aumentar cada vez mais e mais.

        Talvez amanhã, eu tivesse que nadar em vez de andar para chegar até o local da missão.

        Que divertido. – Hideo comentou em minha mente. Pelo que eu podia ver, o local onde ele estava não estava sequer chuviscando. Sortudo.

         Eu não vejo tanta graça nisso. – retruquei.

         Ele somente me ignorou e continuou andando. 

         Olhei para a entrada da caverna, e ao mesmo tempo, um raio clareou a escuridão causada pela tempestade, causando um estrondo de dar medo em qualquer um. Meus ouvidos doeram com aquilo, mas me levantei e saí para a entrada da caverna, me encharcando até os ossos pela chuva gelada, parecia que estava chovendo a água provinda de icebergs, tão gelada que estava, porém, eu precisava ver ao menos o estado de como estava o chão abaixo de mim. A caverna onde eu me refugiara ficava na encosta de uma montanha, portanto eu não precisava me preocupar com uma enchente, que visivelmente ocorria lá embaixo.

         A água estava até a metade das árvores, o chão tinha desaparecido sob a água lamacenta. Pude ver alguns animais refugiados sobre os galhos mais altos das árvores, e outros – que me deram pena – sendo arrastados pela correnteza, que arrastava já pedras, galhos, animais, e árvores menores. Mais trovões e raios cortaram o céu, e – se é que era possível. – a chuva se intensificou.

         Eu não estava brincando quando dissera que estava ocorrendo um dilúvio.

         Voltei para a caverna, tirando a minha franja molhada de cima dos olhos, tão molhado que parecia que eu havia nadado com roupas em um rio, mas fora por vontade própria que eu fora até a chuva. Tirei os sapatos e as meias encharcadas, deixando ao lado da mochila.                        

         Eu podia ver que a caverna era profunda, havia um imenso corredor à minha frente, o qual eu ainda não havia entrado. Passara o dia todo sentado em frente à entrada da caverna torcendo para a chuva parar. Claro que tivera o efeito inverso e ela se intensificara. O deus da água deve estar de gozação com a minha cara.

         Por não ter nada para fazer, resolvi ver qual a profundidade total da caverna depois de algum tempo. No momento, não havia nada comestível em minha mochila, pois o que tinha, agora não passava de uma papa molhada, que eu não comeria nem sob tortura.

         Andei em linha reta pelo corredor escuro, com minha visão noturna ativada, já que eu não possuía tocha ou lanterna. As paredes de pedra eram estranhamente lisas, como se a caverna houvesse sido esculpida por alguém.

         Percebi depois algo em uma parede, era...

         Caí.

         Rolei.

         Hideo começou a rir em minha mente, para o meu desgosto.

         Bufei dolorido, tendo caído com minhas pernas praticamente por cima de minha cabeça. Eu ficara tão distraído com algo não identificado na parede da caverna que sequer percebera que havia uma imensa – e lisa – descida à minha frente. Não vendo a descida, caí e rolei ladeira abaixo.

         Yudai, cada dia mais a sua distração é motivo de piada, dane-se se você é o número 1 ou se tem 20 anos! – Hideo riu ainda mais em minha mente, me deixando de mal humor.    

         Levantei e deparei-me com algo estranho: Tecnicamente, a caverna é de pedra, certo? Pois bem, a ladeira em que desci era de terra, e o local era, muito estranhamente, iluminado.

         Desliguei minha visão noturna, ela doía na luz. Vi que a dita luminosidade possuía ondulações, como se viesse de dentro d’água. Curioso, fui ver o que era. O caminho formava uma curva, cuja visão era dificultada por um paredão de pedra amarronzada. Passei minha mão nele e a terra ficou como areia em minha mão. Bati-a na outra para limpá-la.

         Fui até aquela curva, e quando virei pelo paredão, vi um imenso lago, com ocasionais pedaços de terra, minúsculos, que provavelmente deveriam caber somente uma pessoa e nada mais, que, se eu saltasse de um para o outro, iria chegar ao outro lado.

         E, só para constar, o lago brilhava.

         Ele tinha um estranho tom, era... Azul alaranjado que brilhava intensamente, como se fosse iluminado por dentro. Aquilo estava cada vez mais estranho. As águas estavam calmas e paradas, tão límpida que conseguia ver o fundo dela.

         Saltei para uma das ilhotas, e dela para outra. Quando estava na metade, uma coisa surgiu na água, para meu susto.

         Parecia... Uma mistura de diversos animais, um terrestre com algum animal marinho. Ele possuía escamas douradas, levemente vermelhas, e reluzia de maneira magnífica. Sua cabeça triangular lembrava-me a de um dragão, sobre seus olhos verdes sobressaíam-se duas antenas prateadas que brilhavam de maneira sobrenatural, de sua testa saía-se uma crista de espinhos verdes, que me lembravam de cristais. Possuía duas nadadeiras dianteiras e uma cauda, suas nadadeiras eram etéreas, pareciam véus azulados, que flutuavam levemente na água, assim como as asas em suas costas, que lembravam asas de borboletas. De maneira discreta, duas presas branquíssimas escapavam de dentro de suas mandíbulas e ficavam à mostra mesmo com a boca fechada.                      

         O que diabos é isso? Hideo perguntou em minha mente.

         Não faço a mínima ideia. – respondi. 

         Seja lá o que fosse, aparentava ser um filhote, embora provavelmente devesse ter meu tamanho. Os grandes olhos verdes me encaravam com interesse. Não exalava Aura alguma, portanto, não poderia ser um monstro ou Despertado.

         Saltei para a outra ilhota, e para minha surpresa, o bicho pulou por cima de mim, caindo na água ao meu lado, tão pesado que tomei mais um banho. Tive que ser cuidadoso para manter o equilíbrio e cuspi água, sua cabeça emergiu novamente, me encarando com diversão.

         Parece que ele quer brincar. - Hideo sugeriu.

         Não tem outros com ele? – Perguntei Hideo, mesmo sabendo que não iria ter uma resposta convincente.       

         Saltei para a outra ilhota e tive de me abaixar, pois ele saltou novamente, mas tão baixo que se tivesse me mantido em pé, aquele bichinho teria me levado para a água. Saltei para a outra, a última antes de chegar a terra, porém, dessa vez o animal foi mais esperto do que eu. Ele saltou na altura de meus pés, perdi o equilíbrio com seus provavelmente noventa e poucos quilos e caí na água. 

         Talvez minha intenção fosse somente emergir de novo e ir para a terra, mas não deu certo. Apesar de, tecnicamente, o lago parecer calmo, como ele poderia ter correnteza? Não fazia ideia, mas ele tinha. E muito forte.

         Ei! – Hideo gritou.

         Fui arrastado pela água para dentro de uma caverna subterrânea, extremamente profunda, praticamente no chão do fundo do lago. Dentro dessa caverna, fui arrastado para um corredor repleto de água corrente. Eu precisava respirar urgentemente. Mas estava difícil, meus pulmões queimavam, o ar que eu conseguira prender era pouco. Me bati em várias paredes dentro daquele corredor submerso que era uma descida, o que deixava as águas ainda mais rápidas.

         Bati com a cabeça numa pedra e soltei o ar que estava segurando, engolindo alguns litros de água contra minha vontade. Meu coração estava acelerado, meus pulmões queimavam. Droga! Sobrevivi a uma tentativa de afogamento há cinco anos por parte do Nicholas, agora eu iria morrer afogado?! Hideo estava em alerta em minha mente, mas ele não podia fazer nada, estava muito distante e também iria acabar do mesmo modo se estivesse por perto.

         Vi um lampejo dourado me seguindo, desviando das rochas em que eu batia com leveza. Bichinho... Desgraçado.

         Minha visão estava começando a ficar cheia de pontos vermelhos quando fui atirado para cima, novamente numa imensidão de um lago. E eu conseguia ver a superfície.

         Consegui nadar desesperado até ela e achei uma faixa de terra, como uma praia. Cuspi a água entalada, tossi e caí sobre a terra, ofegante. Meu coração batia tão rápido que eu sequer sabia se estava batendo mesmo, eu respirava o ar como se fosse uma dádiva.

         Vi o animal saltando na água e dando cambalhotas no ar, emitindo um som que me lembravam de o de um golfinho. Minha primeira vontade foi de bater naquela coisa, mas depois desisti. Dada a velocidade em que ele nadava, deveria ser difícil pegá-lo na água.           

         Você está bem? – Hideo perguntou preocupado.

         Tirando que quase morri afogado, estou.  – respondi, e abri os olhos.

         Aí eu me assustei, e Hideo quase enfartou na minha mente.

         O meu cabelo estava caindo molhado sobre meu rosto, até aí, nenhuma surpresa.

         Mas... Ele estava vermelho?!

         Olhei para a água, e ela agora parecia normal, transparente, apesar do ambiente ainda estar iluminado com aquele azul alaranjado. O animal deu um guincho feliz para mim quando me aproximei de um local onde não dava para ver o chão. Eu me assustei com o reflexo.

         Eu estava com o meu cabelo vermelho e os meus olhos azuis.

         Como de quando eu era criança!

         Pisquei assustado com aquilo. Quando morremos, nossos cabelos e olhos voltam a cor normal de quando éramos humanos, mas eu estava vivo!

         Estava tão acostumado aos cabelos brancos e aos olhos vermelhos que me assustei, não parecia ser eu no reflexo, era... Humano demais. Nem quando há cinco anos, quando fui para a Ludwings, eu sentira tanta estranheza com minha aparência, eu sabia que era artificial. Mas agora, eu não ingeri nada, então porque minha aparência estava humana?!   

         Hideo não tinha ideia alguma em minha mente, só ficava olhando por minha visão a imagem, embasbacado. Aquilo estava muito confuso.

         O bicho continuava saltando e guinchando alegre para mim, mas eu estava assustado demais para prestar atenção nele, e escutei o som de algo se arrastando pelo chão pesadamente. Olhei por cima do ombro e o vi se arrastando pela terra, guinchando para mim. 

         Hesitante, fui atrás dele, parecia loucura, mas ele parecia querer mostrar algo para mim. Bom, só minha aparência já estava uma loucura, então...

         Ele se arrastou pelo chão, e novamente para meu susto, suas nadadeiras se transformaram em quatro pernas parecidas com as de um cavalo, porém, levemente por cima de seus cascos alaranjados, estavam penas direcionadas para cima e uma enorme cauda que movia-se levemente pelo ar, as asas abrindo e fechando levemente.

         Parei diante o ser, que me encarava com seus grandes olhos verdes, e inclinou levemente a cabeça para o lado, como se me perguntasse o porquê da minha cara estar estranha – não duvidava em nada que estivesse. O que era aquele bicho afinal? Parecia inteligente demais para qualquer um que eu já houvesse visto, e também dessa dele virar de animal aquático para terrestre... Aquela estava se tornando a coisa mais bizarra que já me acontecia.

          Ele começou a andar, e, sem ter para onde ir, eu o segui, esperando que ele não me levasse para nenhum lugar onde eu fosse virar ração ou coisa parecida.

          Depois de certo tempo, percebi que tufos de grama começavam a aparecer na terra. Certo, eram tufos de grama, mas, assim como tudo, como poderiam crescer debaixo da terra, envoltos de água, e ainda mais, a grama era prateada. Cada folha brilhava de forma inimaginável, quando percebi, haviam flores aparecendo, as pétalas de ouro ou bronze, com o caule de prata, pedras preciosas em seu centro.

          Esse lugar está cada vez mais bizarro.

          Bizarrice é refresco comparado a esse lugar.

          Tive de concordar com ele, mas a bizarrice estava mais à frente. Cheguei, seguindo aquele bicho, numa espécie de jardim.

          As árvores de caules dourados e folhagens prateadas estavam dispostas em um amplo círculo envolta de três árvores, as quais ganhavam o prêmio de bizarrice:

          Uma possuía o caule verde, como se fosse feito de esmeralda, as folhas laranjas e brilhantes, arabescos prateados subiam por seu caule, formando desenhos que lembravam fogo. Este estava na extrema esquerda. Dele, saía-se uma tênue e sobrenatural luz avermelhada.

          Na extrema direita, estava uma árvore de caule dourado e folhagens prateadas, arabescos acobreados subindo pelo caule formando desenhos parecidos com plantas e pássaros. Exalava uma tênue luz branca.

          A do meio possuía o caule prateado e folhas azuis brilhantes, os arabescos eram dourados, subindo e circundando o caule como se fossem... Laços rompidos, havia em seu centro uma imagem que lembrava mãos de pessoas sendo separadas à força, alguns arabescos lembravam lágrimas. Exalava uma tênue luz azulada.

          O chão tremeu sob meus pés, e quando olhei para trás, estava uma versão muito maior do bicho ao meu lado, talvez sua mãe. Ele me encarava, mas não com aquele olhar de “você vai ser o meu jantar”. Não, somente me encarava com uma inteligência inimaginável com seus olhos verdes, e, para me assustar mais ainda, uma voz feminina, suave, calma e sábia soou em minha mente:

            Futuro. Passado. Vida passada.

            Pisquei, sem entender o que quisera dizer com aquelas palavras, mas logo o filhote chiou para ela e trotou em sua direção. Ela se deitou e começou a lambê-lo. Hideo, assim como eu, estranhava aquilo, não entendendo nada.

            Bom, vejamos... Ela disse em ordem: Futuro, passado, vida passada. Três palavras. Olhei para o que estava à minha frente. Três árvores.

            Será que cada árvore representava um desses tempos?

            Mas, quando nos referimos ao tempo, não falamos passado, presente e futuro?

            Hideo estava pensando em algo, e depois de algum tempo ele disse:  

            Estamos vivendo o presente, não se é necessário vê-lo. Mas, será que acontece algo se tocar nas árvores?

           Talvez... – falei, pensativo diante suas palavras. –... Vamos ver.

           Escolhendo a dedo, me dirigi para a árvore da direita, a dourada. Olhei-a atentamente, como se ela fosse criar espinhos, um bicho fosse pular de dentro dela ou coisa parecida, mas nada disso aconteceu. Hesitante, ergui uma mão, e toquei seu caule.

           Com um lampejo, tudo pareceu mudar de lugar. Pisquei, atônito, e percebi que estava tocando em uma árvore normal, numa floresta Darneliyana normal. Mas o que me assustou foi o que estava à minha frente, ou melhor, quem estava à minha frente.

           Era um rapaz humano, não daria mais de uns 22 ou 24 anos para ele. Algo me dizia que estava num passado muito distante, ainda dado a maneira com que ele se vestia: Usava uma toga azul escura de mangas compridas, porém, com uma calça por baixo, até no meio das panturrilhas, sandálias de couro, feitas de tiras. Do cinto de couro em sua cintura estava presa uma aljava em forma de cone os quais continham flechas com penas brancas, com uma linha negra em seu centro e um círculo azul, em suas costas estava preso um arco artesanal cuja estava entalhado nele a figura de um esguio e gracioso pássaro, suas asas formando as extremidades do arco.

           Ele estava de costas para mim, o cabelo negro preso num rabo de cavalo que ia-lhe até a nuca, algumas mechas soltas que iam-lhe até um pouco abaixo do queixo. Conseguia ver que usava uma estreita faixa amarrada na testa, e usava brincos discretos de ônix e ouro, porém grandes, considerando-se que era um homem.

           Ele usava roupas típicas, e considerando-se também os brincos, era um passado realmente distante, pois sabia que antigamente até homens usavam brincos e Darneliyan. Brincos grandes. Até atualmente os sacerdotes costumam usá-los.

           Ele tinha o tom de pele mais ou menos do tom da minha, usava em seus antebraços vembrassas de couro, em sua mão direita estava a arma mais estranha que eu já vira. Parecia-se um bastão de metal com seu centro de couro trançado, com mais ou menos dois metros de comprimento, mas em ambas as extremidades, estavam uma série de lâminas brilhantes, afiadas e retorcidas abertas como um leque. Dava para ver de longe que aquela arma, se você a girasse, era muito mais mortal e eficiente que minha claymore.

           Falando em ser eficiente, envolta de si estavam os corpos de vários seres não identificados. O que eram eu não fazia ideia, poderiam ser monstros, mas estavam tão destroçados e multilados que não dava mesmo para se identificar.

           Ele suspirou pesadamente e se virou, me assustando.

           Era... Eu?

           Quer dizer, era mais alto, o rosto mais maduro, a cor do cabelo e dos olhos eram diferentes, mas sem dúvidas, éramos idênticos, o que não tinha como não se assustar. Ele usava franja também, porém, muito mais longa do que a minha. Enquanto a minha ia até a altura dos olhos, a dele passava destes, chegando até o início das bochechas. Como ele enxergava com tanto cabelo nos olhos, acho que somente pelo fato da franja ser repicada, a mecha que era mais longa no centro de minha franja, chegava-lhe quase que na altura da boca. Os olhos dourados pareciam reluzir como ouro iluminado por dentro, detrás o cabelo negro.

           Ele olhou distraidamente para um dos restos no chão, como se não visse minha presença, e chutou um pedaço maciço, e escutei outro suspiro, na verdade, ele bufou, sua expressão tornando-se insatisfeita.

           - Acho bom você não fazer isso, Sora! – alguém gritou do meio da floresta, para o meu susto.

           - Quieto. – respondeu em voz baixa.

           Nesse momento soltei da árvore e quando dei por mim, estava de volta aquele estranho jardim que estava antes.

           O que diabos fora aquele cara que eu vira?! Nunca acreditei nisso, mas... Vida passada, era minha encarnação passada?

           Alguém o chamara de Sora. É um nome bastante conhecido pelo fato da lenda de Sora e Daichi, mas ninguém se atreve a por nas crianças estes nomes. Dizem que tem muita força, diante quem já os usou. Para aquele cara se chamar Sora, tinha que ser de um tempo antes do Sora da lenda, ou...

           Balancei a cabeça. Pensar aquilo já era pretensão demais.

           Olhei para trás e vi a mãe do filhote me olhando com interesse, como se quisesse que eu fosse para a árvore seguinte.

           Respirei fundo e fui até a branca, tocando em seu caule.

           Quando vi, estava... Num templo. As paredes brancas e as imensas janelas demonstrando que eu estava numa cidade tão imensamente grande que só poderia ser Sacraelum, a cidade mais rica do continente, considerada a cidade sagrada, pois aquela era como se fosse a “Roma” de nosso mundo.

           Pisquei, estava de noite, mas a luz das estrelas era o bastante para que eu pudesse ter uma boa visão, mas atrás de mim havia luz. Havia um banco de mármore branco à minha frente, ao qual estava sentado um rapaz de uns 17 anos, talvez.

           Mesmo de costas, eu conhecia aquela figura...

           Ouvi passos atrás de mim, e ele se virou.

           Ele mesmo! Era o meu pai! Mais novo do que eu me lembrava, mas sem dúvidas era ele, deveria ter a idade de quando eu e Hideo nascemos. O cabelo vermelho ondulado até a altura do queixo, cheguei a jurar que vi os olhos castanhos dele brilharam ao ver seja lá quem estivesse atrás de mim.

           Uma garota mais ou menos de sua idade passou por mim, e na mesma hora a reconheci como sendo uma sacerdotisa, dada a maneira rica que estava vestida. E também pelo comprimento de seu cabelo.

           Ela tinha um cabelo longo e liso, tão negro que emitia reflexos azuis e violetas, presos em um rabo de cavalo alto por uma presilha feita de ouro puro incrustada com safiras azuis e granadas, porém, mesmo seu cabelo estando preso, caía-lhe por suas costas como uma cortina de cetim negro até os joelhos. Usava par de brincos grandes e redondos feitos de ouro, com ocasionais pedaços de safira, os quais também eram incrustados com granadas e seu centro era feito de madrepérolas, pequenos losangos de prata pendendo deles. Era também usava uma gargantilha de ouro, prata com uma única granada como se fosse seu fecho, no centro, e dois colares de contas feitas de ouro e bronze, com ocasionas pedras preciosas. Usava em ambos os braços braceletes grossos de ouro e bronze, pulseiras de prata pérolas em seus pulsos. Usava um vestido cor de creme sem mangas preso aos ombros por botões feitos de safira, das quais em ambas pendia-se um tecido semi transparente, levemente dourado, que caía-lhe por suas costas como se fosse uma capa e arrastava-se pelo chão. Para que o vestido não ficasse excessivamente solto, ela usava logo abaixo do busto um cinto estreito de ouro incrustado e decorado com opalas.

           Ela parou e olhou rapidamente por cima dos ombros, e pude ver os olhos azuis, quase brancos, levemente prateados. As feições tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas pelo melhor dos artesãos.

           Olhei, só por via das dúvidas, para o que eu estava usando como encosto. Era um pilar de pedra, pintado em branco com partes em dourado. Quando voltei o olhar, vi o meu pai e a garota sentados muito próximos um do outro, e ela estava falando algo em voz baixa, o suficiente para que eu não escutasse, mas que meu pai escutava atentamente. Então, ele baixou o olhar esfregou a mão na testa, a expressão de repente preocupada, mas pude ver, que mesmo que discretamente, ele estava feliz, o sorrisinho aparecendo em seus lábios.

           Sem querer, acabei soltando o pilar e voltei para o jardim novamente. Nem precisei olhar para trás, sabia que tinha que ir para a árvore seguinte. Por que eu vim parar aqui? Não fazia ideia, ainda mais tendo que ver o que aquelas árvores mostravam.

           Não havia conseguido escutar o que aquela mulher falara para o meu pai, não fazia também a mínima ideia. Eu havia visto algo que não fizera nexo nenhum para mim em uma árvore, na outra eu vira meu pai mais novo... Vida passada – eu ainda não engolira isso. – e passado. A próxima árvore deveria demonstrar algo que ocorreria no futuro.

            Para mim, não era certo que eu soubesse antecipadamente do que iria ocorrer, mas... Tudo bem, eu estava curioso.

            Me dirigi até a árvore verde, e, mais hesitante ainda, a toquei.

            Novamente, fui parar em uma floresta. Novamente, estava encostado a uma árvore. Novamente estava de noite, a luz da lua intensa.

            Havia o som de algumas coisas, meio que ao longe. Escutei um rufar de asas desesperado e algo fazendo o som de um bichinho de pelúcia caindo no chão. Ouvi uma voz feminina e melodiosa falando algo sobre um Diego e... Larry estarem bem.

            Ouvi outra voz, parecida com a minha, falando que precisava ver algo. Mas... Era muito séria, séria demais, aliás. A outra voz não disse nada, somente escutei depois o som de passos.

            A espada de Hideo foi atirada violentamente contra a árvore que eu segurava, com tanta força que eu me assustei e quase que soltei dela. A árvore tremeu, as folhas balançaram e ouvi um estalo audível. Olhei assustado, Hideo a atirara com tanta força que ela fora enfiada quase que até o cabo. Escutei o som dos passos pararem, então olhei para cima.

            Hideo estava parado à minha frente. Eu sabia que era ele.

            Mas tinha muita coisa errada.

            Ele usava roupas completamente rústicas e negras, como se houvessem sido feitas para que fossem extremamente resistentes. Ele usava uma camisa negra com gola alta e mangas compridas e largas, ou melhor, manga comprida e larga, pois faltava uma. Seu braço visível – o esquerdo - estava com os bíceps enfaixados e ele usava uma luva de couro sem dedos com botões de couro no local onde eram os calos dos dedos. Na  outra mão usava uma luva de couro curta comum, mas também com aqueles botões. Por cima dessa camisa usava uma espécie de camisa sem mangas feita de couro negro, como se fosse uma armadura, um largo cinto feito de couro marrom no qual estava preso uma lâmina embainhada e uma espécie de bolsa. A calça também era negra, sendo que as pernas eram um tanto largas, e usava botas feitas de couro, ao qual cada parte ficava presa por tiras de couro.

            Mas o que realmente me chamou a atenção foi outra coisa: Ele cortara o cabelo, continuava com a mesma franja, mas alguns fios mal chegavam a altura do nariz, o cabelo cortado muito curto, acima da nuca. Nem pelo corte, foi ainda outra coisa.

            Ele estava com o cabelo vermelho, e por dentro, algo dizia que não eram Transfiguradores.

           Os olhos continuavam vermelhos.

           Os seus olhos, pareciam estar carregados de tanta tristeza que tive vontade de me encolher, parecia estar se forçando para manter-se vivo. Como se não tivesse força de vontade o suficiente para seguir em frente.

            Ele socou a árvore a qual eu estava encostado. As folhas tremeram e algumas caíram, tamanha a força do golpe. Vi que sua mão afundara-se na madeira levemente, estalando-a, seu braço tremia.

            - Foi culpa minha... – murmurou.

            - Ei Hideo, o que você está fazendo aí?! – uma voz que me lembrou da voz de bichinhos de desenho animado gritou em meio às árvores.

            Ouvi passos apressados, e Hideo rapidamente se recompôs, arrancando sua espada da árvore de uma só vez, transformando-a num colar novamente, a barreira impenetrável formada novamente em seus olhos. Aquilo era muito estranho, ainda mais com seu cabelo ruivo, aliado as roupas. Por que ele estava daquele jeito?

            - Ah, que susto... – a voz feminina disse em meio as árvores. – Eu pensava que você tinha encontrado algum híbrido da Ordem.

            - Se eu tivesse encontrado um híbrido da Ordem, ele já estaria estatelado no chão inconsciente. – respondeu sem emoção alguma.

            “Da Ordem”? Como assim? Olhei para as roupas de Hideo, eram roupas feitas para ser resistentes, não parecia o tipo de roupa que ele pegaria somente para usar. Então...

            Hideo iria desertar?

            Senti algo espinhoso roçando em minha perna, no susto, soltei a árvore e voltei para o jardim. Vi o filhote me olhando com expectativa, como se quisesse saber o que eu vira, porém, algo acabou se passando por minha mente que me fez parar, ou melhor, algo na mente de Hideo.

            O tempo esfriara.

            Ele não conseguia me mover.

            Eu ainda lembrava o que era isso.

    Olhei para trás de supetão, cinco anos... Agora de novo, aquilo me lembrara aquela coisa negra que nos atacara na floresta há cinco anos! Ele não estava distante, eu vira isso, somente estava num local onde não estava chovendo, mas como eu iria alcançá-lo se eu quase morrera afogado para chegar aqui? E mais, nadando contra a correnteza, seria ainda pior.

     Eu estava preso aqui.

     Droga, de certa forma fora culpa minha, se eu não tivesse ido explorar a caverna, não teria achado o filhote, se não tivesse achado o filhote, não teria caído no lago e não teria sido levado pela correnteza.

     Quando dei por mim, senti algo espinhoso... Passando por entre minhas pernas. Exclamei – ou gritei algo. – e acabei me segurando para que não caísse de seu pescoço por cima da crista de espinhos, que, repentinamente, me pareceram se tornar muito afiadas. O que ele queria para praticamente me obrigar a montá-lo? Eu estava preocupado com Hideo, mas antes que eu pudesse sair de cima dele, ele começou a correr numa velocidade que, se eu tentasse acompanhá-lo, não tinha dúvidas de que comeria poeira.

     Ele começou a se embrenhar por entre as árvores, na direção oposta ao onde deveria ir para encontrar Hideo, mas também seria loucura, pois provavelmente morreria afogado se tentasse nadar contra a correnteza. Se Hideo estivesse bem, provavelmente eu poderia tentar o que ocorrera há cinco anos. Eu poderia tentar ver se Despertando, conseguiria ir contra a correnteza.

     É, talvez eu não estivesse pensando com clareza.

     Eu quase podia sentir aquela coisa gélida subindo por meu corpo, as vozes penetrando a cabeça de Hideo. Mesmo que chegasse até ele, no fundo sabia que de nada adiantaria. Quando tentara separá-lo daquilo, sofrera também as consequências.

     Lembra-se agora?

     A voz gélida ressoou em minha mente, tão forte como se estivesse falando comigo. Acabei vergando meu corpo para frente, quase encostando meu rosto no pescoço do filhote. Comecei a tremer, não conseguia mais me segurar, minhas mãos perderam totalmente a força.

     Vocês conectaram suas mentes.  

     Pareceu que uma mão havia sido posta em meu ser, e agora agarrava a essência de minha alma. Não havia acontecido algo assim da última vez. O frio espalhou-se por meu corpo, meus olhos doeram diante a frieza que se espalhara por meu corpo como fogo gelado que ardia e congelava tudo o que encostava. Me contraí por dentro, algo estranho aconteceu comigo. Tombei sem forças sobre o pescoço da criatura que me carregava, minha mente tornou-se enevoada e vaga, como quando forçaram-me, há dez anos, a tomar a pílula de sedativo para fazer a cirurgia.

     Refizeram sua sina.    

     Minha visão embaçou-se, eu não possuía mais controle sobre minha mente nem sobre meu corpo. Estava tudo muito pesado, minha cabeça, meus braços, pernas, tudo. Tudo parecia pesar toneladas. Minhas pálpebras não eram exceção, mas eu não estava sonolento. O que antes era um borrão pela velocidade, para mim, não passava de manchas indistintas agora.  

     Mesmo estando longe, eu sei que pode me sentir e ouvir, ----.

     Que nome era aquele? Eu parecia já tê-lo escutado antes, mas ele não adentrou em minha mente, simplesmente não consegui absolvê-lo. Mas sabia que ela falava comigo. Meu cabelo vermelho caía sobre meu rosto devido ao vento, mas eu não sentia nada. Não sentia as roupas molhadas, o vento que até pouco tempo açoitava meu rosto, nada. Sentia como se fosse apenas uma casca sem vida. Por quê?

     Parecia-me que sequer isso importava.

     Você quer acabar com a própria vida, não quer? Está se aproximando de onde não deve... Que tal uma lembrança de que você terá se chegar até lá?

     Repentinamente, algo apareceu. Não eram visões ou vozes, nada disso. Eram sensações.

     Um prazer imenso, carnal. Parecia-se como algo vindo do mais profundo de minha essência, lembrava-me o prazer que sentira quando Despertara nas masmorras pelas torturas de Marcus. Mas a sensação não era mesma, era bom, mas ao mesmo tempo não era. Era quase como se fosse uma sensação emprestada, como as que eu possuía com Hideo.

     Aquele prazer me trazia náuseas, meu corpo inteiro protestou contra ele. Meu estômago revirou, minha boca foi invadida por gostos estranhos. Eu sentia náusea, já conseguia sentir o gosto do que eu comera anteriormente voltando por minha garganta, mas também havia outro gosto, era um gosto até bom... Mas não conseguia desfrutar dele. Conseguia quase que sentir o toque de algo macio contra os lábios da pessoa que estava recebendo o que pareceu ser um beijo, mas era, por algum motivo, repulsivo para mim. Trazia-me raiva, raiva da pessoa que estava me fazendo sentir aquilo, não de quem estava beijando essa pessoa. Por que eu sentia aquilo? Eu jamais sentira aquilo!

     Aquele prazer pareceu intensificar-se, para minha repulsa. Senti que o filhote parara e olhava para mim, a preocupação era visível em seus grandes olhos verdes. Toda a força que eu ainda tinha sumira de meu corpo. Arquejei, entalado, sentindo o formigamento em minha garganta. Tossi, arquejei de novo, só tive tempo de, com esforço, jogar meu tronco para o lado, caindo de cima do dorso do filhote pesadamente no chão. Consegui me apoiar sobre meus braços e pernas, e só então fiz algo que não fazia em muitos anos.

     Vomitei, e vomitei muito.

     Enquanto tossia, o cheiro horrível veio a minhas narinas, me forçando a vomitar de novo. E olha que eu sequer havia comido muito hoje.

     Seu irmão lhe roubou o que mais desejavas uma vez, e ele fará isso novamente.

             O filhote pôs a cabeça por debaixo de meu peito, fazendo-me apoiar-me nele. Minhas pernas estava fracas, eu tossia muito. Ele teve cuidado o suficiente para que seus cascos não batessem na coisa que eu me recusava em ver a aparência que eu sabia que era o que eu havia vomitado.             

     Ele me tirou de perto daquilo, e eu sequer conseguia me mover direito. Ainda tossia e engasgava, o gosto horrível em minha boca. Percebi que estava na entrada de outra caverna – pois é, uma caverna dentro de outra caverna – e eu estava ainda mais fraco, se é que isso era possível. Toda minha força parecia ser forçada para fora de mim, e não era por causa da coisa negra. Tudo parecia girar, eu mal tinha controle sobre meu corpo.

     O filhote novamente deu um jeito de que eu ficasse montado sobre ele novamente, o que de certa forma agradeci, pois não possuía forças para nada.

     Fechei os olhos, apenas me concentrando no trotar uniforme que o filhote fazia abaixo de mim. Depois da voz e das sensações – e consequentemente, do vômito – chegava a ser quase relaxante. Relaxante demais...

     Não conseguia contatar com Hideo em minha mente, ele deveria ter perdido a consciência, como da última vez, mas, estranhamente, aquilo não parecia me importar.

     Havia um crescente vazio dentro de mim, nada parecia importar.

     A cada metro que o filhote dava, parecia que minha vontade de qualquer coisa diminuía. Ele chegou a um lugar que, se eu estivesse bem, teria ficado provavelmente surpreso e embasbacado, mas apenas permaneci indiferente.

     - Ah... Legal. – gemi quase que sem emoção, e isso foi o máximo que consegui por.

     Toda a caverna com mais de dez metros de altura era revertida por cristais. Não cristais comuns.

     Arabescos graciosos de cristais azuis e laranjas subiam por todas as paredes, formando ocasionalmente imagens de pássaros, animais terrestres, plantas e seres voadores. Bem no centro do teto, descia um gigantesco cristal com a forma de um losango de uns cinco metros de altura, dos quais de suas extremidades e de perto de sua parte inferior saíam-se algo como pontes de cristal azul e laranja, e tomando a do meio, o filhote começou a subi-la.

     Parecia-me que a cada passo que ele dava minhas forças se esvaíam cada vez mais, e logo estávamos dentro do losango azul alaranjado que brilhava intensamente, e o filhote levantou voo rapidamente com suas asas, ignorando o peso morto em suas costas – eu - e chegamos a em frente a um portal de cristal sem portas, os cristais pontiagudos adornando o chão liso de cristal. Os cascos do animal ressoavam dentro do recinto, e eu estava cada vez mais fraco, parecia que eu iria perder a consciência logo.

     Parecia-se um salão com um teto decorado com as mesmas imagens do lado de fora, porém no centro havia algo.

     Em meio a cristais, estavam formas humanas.

     Eram idênticos e pareciam ter sido esculpidas nos cristais, duas formas idênticas, um azul claro e a outra de um tom laranja avermelhado intenso. Ambos brilhavam sobrenaturalmente, como se iluminados por dentro. Os olhos estavam fechados, as testas se tocavam, o cabelo esculpido de forma a parecer que havia vento. Suas feições eram idênticas e ambos estavam sem roupa, mas os cristais escondiam bem partes... Indevidas. O azul segurava o rosto do outro, como se houvesse forçado-o a olhar para si, e o avermelhado segurava suas mãos. Ambos estavam ajoelhados e suas expressões foram esculpidas de formas serenas.

     Não...

     No fundo sabia que não eram esculturas.

     Ambos eram idênticos ao rapaz da minha visão da vida passada. Como se em resposta ao meu pensamento, o azul começou a brilhar intensamente, a ponto de suas formas quase desaparecerem em meio a luz.

     Uma voz feminina ressoou em minha mente, mas não era a mesma voz de antes. Era suave, doce, e quente. Melodiosa e suave, parecia trazer paz...

      ̱rate Sora... Allá í̱soun o pró̱tos pou tha ftásei edó̱...

      - Nai... Allá poté den ítan dikó mou... – Murmurei antes de desmaiar.         

                                  


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Notas finais do capítulo

Nee, eu fiz um desenhinho de como os gêmeos eram com 10-11 anos, mas deu preguiça de scanear '-'
Bom... Os Darneliyanos entendem qualquer língua, mas não quero estragar a surpresa, então pus em helênico mesmo kkkkk E não adianta usar o google tradutor, não funcionará!
E o que vocês acham que foi essa sensação que o Yudai sentiu?
~Curiosidade 8: Gêmeos ~
Yudai e Hideo, os nossos queridos gêmeos híbridos, número 1 e número 9... Por que só falar deles separadamente?
Bom, apesar de todos os esforços de Hideo para irritar o Yu, a união deles é bem visível, não é? ^^ Ainda mais agora, com as mentes conectadas... Um laço formado no útero, mas que a vida pode tomar decisões diferentes para cada um...
Bom, estou explicando previamente para que não aja confusões futuras, porque algumas vezes, o modo de agir deles levanta suspeitas em algumas pessoas que leem... Dormir na mesma cama quando criança, carregar o outro, etc. Uma amiga minha quer que quer um Twincest (romance entre gêmeos) yaoi (romance entre dois homens) deles -.-' Não se preocupem, pq jamais vou aderir à ESSA vontade dela!
Bom, essa curiosidade não foi muito relevante '-' Até a próxima!