Querido diário,

Adivinha o que aconteceu?

Não, não adivinha porque você é só um caderno de papel que eu ganhei como diário...

Ontem, quando eu fui tocar com os garotos ela não estava lá, mas eu queria que ela estivesse simplesmente porque lá estava um cara da Sony que resolveu assinar um contrato conosco!

Eu sei que isso pode soar gay, mas ah eu fiquei tão feliz que sai beijando o rosto do Bill, Georg e Gustav, que graças a minha mãe, literalmente, não duvidaram da minha masculinidade.

Mas sabe aqueles dias em que você acorda, olha pro céu, vê ele todo cinzento e morre de vontade de voltar para debaixo do edredom? Eu tenho um conselho para isso: Voltar para a cama. Ou melhor, correr. Porque, tenha certeza, vai dar tudo errado. (É diário, eu sinto... e isso é tão... Bill!)

O problema é que eu sou um idiota e não sigo os meus próprios conselhos.

Sendo assim, eu levantei da cama e fui com o Bill para a escola. Mesmo sabendo que nenhum dos meus amigos bagunceiros e preguiçosos estaria lá, aliás, mesmo sabendo que quase ninguém vai para a escola em dias assim. Menos é claro os Nerds (que não perdem um dia de aula), os Esquisitos (que só vão para fazer suas esquisitices com mais liberdade), e os Idiotas (que não percebem que ficando na cama, eles teriam muito mais proveito do seu tempo).

É estranho chegar na escola e não ver ninguém que você sempre costuma ver. Mais estranho ainda é perceber que os Nerds, em dias como esse, parecem bem mais descolados que você. Porque você está sozinho parecendo um Emo, e eles estão em bando concentrados em conferir se alguma equação da lição de casa está errada.

Preferi sair daquela situação deplorável e ir para a sala antes que eu começasse a considerar me juntar a eles, e Bill disse que ia procurar sua amiga, que segundo ele é Nerd e provavelmente estaria em algum lugar da escola.

OBS: Acho que o meu gêmeo também está apaixonado por uma nerd!

O sinal ainda não havia batido por isso eu não esperava encontrar alguém na sala.

Mas lá estava ela.

Sozinha. Como sempre. Lendo algum livro. Como sempre.

E naquele exato momento eu soube o porque de ter levantado da cama. Gostaria de dizer que era porque eu tinha tomado vergonha na cara e resolvi estudar. Mas não é isso. Eu só estava ali por causa dela, e porque eu não queria desperdiçar uma oportunidade de vê-la.

E isso é tão meloso que eu prefiro ficar com a versão de que tomei vergonha na cara.

A oportunidade perfeita.

Não havia ninguém, era só eu e ela. Era só chegar e falar, e caso ela não desse bola para mim e saísse por aí dizendo para todo mundo que eu estava doido por ela, era só desmentir. A minha palavra contra a dela.

Mas isso não iria acontecer.

Fala sério, ela nunca ficaria se gabando por algo assim com alguém... Ela nem mesmo conversava com alguém. Seria fácil. Se algo desse errado, se eu levasse um fora, ou sei lá o quê, era só fingir que eu nunca havia falado nada e que ela nem existia para mim, certo? Errado. Nada é tão simples assim.

Eu não estava pronto para levar um não. Eu sou Tom Kaulitz! E também, acho que não saberia como reagir diante disso. Não podia simplesmente chegar nela e dizer que estava apaixonado, ela deveria saber no máximo o meu nome, ela nem me conhecia direito.

E não é assim que acontece nos filmes e nas novelas. Primeiro o cara tem que conquistar a garota, certo? O problema é que eu não sou o mocinho da seção da tarde e nem um galanteador como o da novela das oito.

Nunca precisei conversar direito com uma garota para ficar com ela. No máximo eu perguntava coisas banais como o filme favorito, mas nunca realmente parei para prestar atenção no jeito que elas falavam, se estavam nervosas ou se o sorriso era bonito.

Mas aquela garota era diferente das outras. Eu queria realmente saber do que ela gostava, o que ela fazia depois da escola, qual era a cor favorita e esses detalhes que parecem bobos, mas que são importantes para um idiota. Um idiota apaixonado.

Se isso fosse um filme, eu teria ido falar com ela e a chamado para sair. Se fosse um livro, eu teria derrubado alguma coisa para chamar sua atenção e tirá-la de dentro daquele livro.

Mas não é nenhum dos dois, por isso eu só murmurei um “bom-dia” e fui para o meu lugar. Ou eu tive uma alucinação, ou ela realmente respondeu com um bom-dia tímido e baixo.

E então o céu poderia desabar em chuva, que o meu dia seria perfeito.

É. Esqueça o meu conselho. Ele é uma porcaria. Quando levantar e tiver vontade de voltar para a cama... Vá trabalhar mesmo assim, preguiçoso!

Minha mãe está gritando o meu nome e o do Bill agora, ela deve estar uma fera com a gente porque molhamos o piso inteiro da casa, esquecemos o guarda-chuva e voltamos todos molhados.

Bem, tenho que ir.

Como se diz um verdadeiro tchau para um diário? Acho que o tchau que eu dei na folha anterior dessa foi muito brega.

Ah que se foda. Tchau!

P.S: Escrever em você está me deixando tão louco que estou quase te tratando como uma pessoa.