Querido diário,

Eu sei que passei alguns meses sem escrever em você, mas agora estou de volta.

Nesse tempo nada mudou, na verdade, acho até que piorou. Se antes eu falava com ela um “oi”, agora eu não olho nem para o seu rosto. Não é que eu não a ame mais, ou que tenha desistido. O que aconteceu foi mais triste do que isso. A gravadora que tinha feito um contrato conosco, o desfez.

Muito triste isso. O Bill chorou horrores; eu não chorei, mas fiquei super frustrado. Poxa, estávamos contando com aquilo!

Resolvi voltar a escrever em você, por que... Senti que devia fazer isso. Mesmo que esse papo de sentir não me agrade muito...

“Já imaginou você e todos os seus amigos num super Camping? Torne isso realidade e venha para o Timbalaia! Temos piscinas, restaurantes, chalés, salão de jogos e ainda uma super aventura alucinante em nossos campos esperando por você!

Comece ás férias com o pé direito e venha para o TIMBALAIA!”

Não me lembro se é exatamente isso, mas é algo bem parecido com o que está escrito no cartaz pregado na porta da sala.

Ninguém para de falar nisso. O passeio das férias de natal (sim, já se passou muito tempo). A animação parece crescer a cada segundo principalmente porque a professora de matemática faltou e quem veio no lugar dela foi uma mulher que mais parece aluna do que professora. E todo mundo sabe que professora substituta é a mesma coisa que nada, por isso a sala está numa zona.

Já vieram me perguntar umas dez vezes se eu vou para o tal do Timbalaia.

A minha resposta?

“Não sei.”

Bill está com o xodó da vida dele. É, ele finalmente tomou coragem e começou a namorar com a Mari. Não precisa se surpreender tanto diário, mesmo que você não seja uma pessoa e eu ainda esteja me sentindo um retardado por falar com você assim. Eu sei que às vezes eu falo mal dele, mas, acredite, o Bill é um cara normal. Na medida do possível.

Ela é bonita e até legal, mas não sei se isso vai dar certo. Eu torço para que dê já que ele está feliz, mas parece que a mamãe não gostou muito dela, coisa de mãe.

Bom, mas porque eu estou falando da vida amorosa do Bill? Simples, porque a minha é uma porcaria.

Eu estava certo: Não é só um charminho e uma carinha de bom moço que faria a Senhorita Não-Falo-Com-Ninguém olhar para o fundo e me ver aqui atrás. Sentado nas últimas carteiras.

Ela está lá na frente agora lendo um dos seus livros gigantes sobresó-Deus-sabe-o-quê. Onde eu estava com a cabeça quando pensei que alguma coisa iria mudar?

Em Marte, só pode ser.

Não estou decepcionado. Não. Eu nem passei esses meses inteiros imaginando como seria todos os dias em que eu a visse na escola; eu nem fiquei tentando guardar na minha memória a textura exata da pele dela, do perfume e todas essas frescuras.

Nem fiquei. Imagina.

Ah! Esqueci de dizer que eu tenho um melhor amigo na minha turma. O nome dele é Gabe. Ele é um folgado, estranho, maluco, sem-vergonha, e até meio sinistro, mas ás vezes ele faz algo que preste. Do jeito dele, meio torto, mas faz. Como hoje fez hoje.

Gabe: “Vai pro passeio, né, Tom?”

Eu: “Não sei.”

Gabe: “Como assim não sabe?”

Eu: “Eu não sei, ué.”

Gabe: “Mas você e o Bill sempre vão!”

Eu:O Bill já disse que vai com a Mari”.

Gabe: “E você?”

Eu: “Eu não sei se vou”.

Gabe: “O que você aprontou?”

Eu: “Nada.”

Gabe: “Sua mãe não vai deixar?”

Eu: “Sei lá, acho que deixa. Mas, é sério, não sei se quero ir.”

Gabe: “Bebeu? É o passeio das férias!”

Eu: “E?”

Gabe: “Todo mundo vai!”

Eu: “Nem todo mundo.”

Gabe: “Ih, já vi tudo... É a Estranha, né?

Eu olhei para ele de soslaio. Sabe diário, eu sou uma pessoa que tem um olhar muito psicótico. Havia uma semana que eu tinha contado isso para ele, e ele reagiu como o Bill. E os dois ainda a chamam de Estranha. Uma conspiração.

Gabe: “Ta bom, parei! Mas é ela, não é?

Eu só dei de ombros.

Gabe: “Nossa, cara, não acredito que você vai perder o Timbalaia por causa de uma garota!”

Nem eu.

Eu: “Não sei o que todo mundo viu nesse lugar.”

Gabe: “Está escrito na parede atrás de você.”

Eu olhei e estava mesmo: espalharam aquele cartaz maldito por toda a escola.

Eu: “Propaganda. Deve ser uma porcaria.”

Gabe: “Hum.”

Eu: “É muito longe! Mais de duas horas num ônibus, e tem que acordar cedo, passar o fim de semana inteiro lá, deve ter mosquito, a maioria dos monitores são chatos...”

Gabe: “Acabou?”

Eu: “Acabei.”

Gabe: “Beleza, tchau.”

Eu: “Aonde você vai?”

Mas ele não respondeu, em vez disso, continuou andando, me deixando sozinho no banco. Minutos depois ele voltou com um sorriso, que eu chamo de diabólico, no rosto.

Eu: “O que você fez dessa vez seu retardado?”

Gabe: “Fui procurar o que vai fazer o Timbalaia tão imperdível, pelo menos para você.”

Eu: “O quê?”

Ele só apontou para as escadas no fundo do pátio, onde uma garota folheava o seu estúpido livro grosso e mais interessante do que eu.

E agora eu pergunto: Como um livro pode ser mais interessante que Tom Kaulitz?

Falando sério, eu não tenho vergonha de admitir que mesmo amando ela, eu ainda fico com algumas meninas. Mesmo que agora seja mais superficial do que era antes.

Bom, diário por hoje é só. Acabei de perceber uma coisa, o Bill não está nos atrapalhando, adivinha por quê?

Ele foi à casa da Mari, dizendo ele, se apresentar formalmente para a mãe da garota como namorado dela. Eu tenho quase certeza de que a mãe da Mari não quer a filha dela namorando um garoto que usa maquiagem, pinta as unhas e tem um piercing. Mas ele foi tão animado, até levou rosas vermelhas para futura sogra, dizendo ele, que estou torcendo para que ela entenda, que por mais que ele seja esquisito por fora, ele é um doce por dentro.

Ai que coisa mais gay! Melhor eu ir atrás da Michelle, estou afim de namorar hoje. Sexta-feira sempre tem que rolar algo.

Tchau.