Cinza E Vermelho escrita por ThePrototype


Capítulo 2
O novo mundo


Notas iniciais do capítulo

É um capítulo pequeno, porque o próximo é consideravelmente grande...
Se a formatação for estranha, é porque eu copiei do Word, e eu já tive problemas com isso, se for particularmente grave me avisem.



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Quanto a aparência de onde uma pessoa vive afeta seu estado mental?

                Me acostumei com o barulho das ruas, as pessoas passando, um ritmo que tinha seu charme. Mas agora nada disso existe mais.

                Mas eu acho que ainda preciso esclarecer alguns detalhes. O filtro de ar tem que ser instalado em uma sala entre a saída e o resto da casa. Cada vez que a porta da saída é aberta, você deve fechá-la e ligar o filtro, e só deve remover o grande e cinzento uniforme de proteção quando a máquina terminar o seu serviço.

                Até ontem eu não precisei sair de casa, contente com os suprimentos que ainda tinha e observando as criaturas lá fora. Eu não esperava que a água parasse de correr pelos canos. Imaginei que alguém ainda trabalharia para suprir a necessidade mais básica da humanidade. Então ontem eu decidi sair pela primeira vez e ver de perto a morte silenciosa ao meu redor.

                As únicas duas pessoas que eu vi saindo de suas casas enquanto o sol brilhava foram assassinadas violentamente por um grupo de infectados, corpos divididos em vários pedaços pela horda de quase-humanos que os cercavam, disputando as maiores partes, rasgando as grossas roupas como se fossem nada. Mas no momento que o sol começou a desaparecer, todos eles também o fizeram, pegando o que podiam carregar do pouco que restava dos corpos e dispersando, saindo de vista.

                Então, no momento que o sol desapareceu completamente, recolhi o pouco de coragem que ainda existia em mim e saí para aquela noite sem estrelas, a lua quase invisível sobre as nuvens, mesmo sem saber para onde ir, além do pequeno mercado local.

                A caminhada até lá, que não poderia demorar mais de um minuto, levou uma eternidade: cada galho quebrando parecia ressoar na imensidão vazia das ruas, cada movimento podia ser um daqueles monstros que estão sempre com fome, prontos para saltar de um telhado e arrancar vidas com somente um golpe. Mas nenhum monstro saltou das sombras daquele início-de-noite escuro, e um raio de luz brilhava em direção aos céus. Acelerando o passo, eu encontrei a fonte daquela luz: um holofote, ao lado de uma pequena van, e dois “sobreviventes”, vestidos com uniformes acizentados idênticos arrastando produtos do mercado até a van, ainda praticamente vazia. Um deles, quando me viu, acenou de uma maneira quase exagerada e gesticulou para que me aproximasse.

                “Boa noite, vizinho!” ele disse, a voz abafada pela máscara, “Deixa eu adivinhar, sem água?”. Era uma fala rápida, descontraída, que unia palavras umas às outras em um ritmo estonteante. Ele me chamou de “Vizinho”?

“Claro, os velhos preguiçosos devem ter esquecido que não são só as plantas que precisam de água, hein?” E terminou com uma risada leve, calma. Como um homem podia parecer tão despreocupado em uma situação crítica me escapa até agora. Mas o monólogo foi interrompido por outra voz, mais lenta. “Pai, depois de encher a van você pode conversar com o estranho...”. Pronto, “Vizinho” e “Estranho”.

“Ora, tu vê o sol aparecendo no céu, vê? Sabe que só aparecem quando amanhece, tu sabe!”, o “pai” respondeu de uma maneira um tanto rude, que ainda era quase indecifrável com a distorção e o sotaque de interior, discreto o suficiente para ser só percebido. “Ignora o garoto. Se precisa de água ou de outra coisa ainda tem bastante lá dentro e a gente pode te dar uma carona de volta pra casa, é.”, E retornou ao tom jovial.

Pareceu uma oferta agradável, andar com sacolas cheias de comida na escuridão completamente silenciosa não parecia um curso de ação interessante. Carregamos a van com tudo que precisávamos (o canhão de luz desligado repousando junto as outras caixas) e retornamos, o gentil estranho e seu filho silencioso no banco da frente, eu sentado junto às “compras”, observando as ruas que passavam pela janela traseira. Estava distraído quando as caixas e pacotes se moveram, quase suspensos, para a frente do veículo, meu corpo lançado junto, caindo em uma pilha especialmente desconfortável de garrafas, palitos e ferramentas. O motorista parecia gritar com a coisa que o fez frear tão bruscamente. “Diabo, olha por onde anda! Até parece que é um dos que andam de dia, ora, se não fosse a roupa...”

Quando chegamos em frente a minha casa, perguntei se era realmente outra pessoa que atravessou nosso caminho. “Parecia que sim, usava essa mesma roupa feia e andava de pé, não curvada como os que gostam da carne.” Mesmo com a escolha estranha de palavras, decidi confiar no homem, que me deixou um cartão com seu número de telefone (“Se estiver prestes a ser engolido vivo, não esquece de ligar” ele disse, com uma risada) e seguiu seu caminho para casa, a van mais ágil sem o considerável peso de um passageiro e vários pacotes com suprimentos.

Foi uma noite quase totalmente silenciosa, mas sem sono.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que errei a data da última vez, mas é melhar adiantar do que atrasar, eu acho. Até a próxima (segunda-feira, no máximo),que será a coisa mais intensa que vocês já leram. Tragam um par de calças extra.



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