O Semideus escrita por Dreamer


Capítulo 4
Os primeiros obstáculos, em busca do deus da forja




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/194740/chapter/4

Acordei no meio da noite. Estava suando frio denovo. Eu tive aquele mesmo pesadelo da noite passada. Me encontrei num arrumado e bem cuidado chalé de Zeus, com minha mochila pronta encostada na parede e Megaraio reluzindo em sua baínha, no criado mudo.

Sentei na cama e limpei o rosto com a manga do pijama. Me acalmei para voltar a dormir, afinal no dia seguinte eu teria uma longa busca pela frente. Após me deitar denovo, caí em sono profundo.

[...]

Acordei, como de costume, com a luz do sol brilhando em meu rosto, que invadia o chalé através da janela aberta. Levantei num pulo e me espriguicei. Pela posição do sol no horizonte, ainda era bem cedo. Troquei de roupa rapidamente e coloquei minha mochila nas costas. Encaixei a baínha de Megaraio na cintura. E deixei o chalé de Zeus, olhando-o com ternuta. Eu um dia iria voltar para lá. Era uma promessa.

Virei-me para o centro do U invertido de chalés onde poucos meio-sangues transitavam, já que ainda era muito cedo. Comecei a andar quando um barulho de pedra a minha direita me assustou. No final da filera de chalés da direita, o chão se abriu, e Matt surgiu caminhando. O chão fechou atrás dele.

Aquilo fazia sentido, afinal, Matt era filho de Hades. E eu nunca havia visto um chalé de Hades no acampamento. Talvez ele fosse subterrâneo.

Matt vestia uma roupa negra e seus cabelos pequenos e lisos estavam atrapalhados. Sua expressão era sonolenta. Tinha na baínha uma espada negra e nas costas uma mochila. Ele me avistou e acenou para mim, sorrindo. Devolvi a ele um outro sorriso e corri para alcançá-lo, e chegando perto dele, começamos a caminhar para a colina onde ficava a saída do acampamento.

-Bom dia – disse meu amigo, sonolento.

-Bom dia... – respondi, bocejando – Que espada negra é essa?

-Ahh, essa? – ele desembainhou a espada, mostrando que sua lâmina também era negra – Uma espada de ferro estígio. Ferro encontrado somente no submundo. Ferro capaz de sugar uma alma que esteja fraca.

Matt devolveu a espada a baínha. Olhar para aquela espada me dava arrepios. A descrição de Matt me deu arrepios. Mas, logo chegamos a colina, onde a saída do Acampamento ficava. Encontramos uma durona e extressada Lynn, que trocava o peso do corpo de uma perna para a outra o tempo inteiro.

-Finalmente – ela resmungou – Garotos...

Matt pareceu ignorar a indireta, mas eu não engoli muito bem. Sem ter muito tempo para pensar nisso, Argos, o protetor e motorista do acampamento, juntamente com Quíron, se aproximaram de nós três.

-Vocês três, muito cuidado. – disse Quíron, olhando sério para nós – E boa sorte. Confio em vocês. Agora vão, vocês tem uma grande aventura pela frente.

Nós três, tensos, saímos pelo portal de entrada do Acampamento. Argos saiu atrás de nós. Então, avistei a van do acampamento, onde Matt abriu e porta e entrou, seguido por Lynn e depois por mim. Argos entrou na van e sentou no banco do motorista, dando a partida e manobrando.

Como combinado, Argos nos levaria até a cidade mais próxima, naqueles postos Rent a Car. Lynn já tinha 16 anos e já sabia dirigir, o que facilitava nossa viagem por todo os Estados Unidos. Não demorou para chegassemos no posto e alugassemos o carro. E logo começamos nosso trajeto.

Matt abriu a mochila e pegou o Mapa dos Deuses. Ficou alguns segundos procurando o símbolo marrom de Hefesto, finalmente o achando.

-Hefesto está em Washington, um pouco ao sul de Seattle. – disse Matt.

-Entendi. – disse Lynn, sem tirar o olho do trânsito – Ele está na forja do Monte Santa Helena. A viagem vai demorar algumas horas.

Não entendi muito bem o que Lynn disse, mas logo o carro foi preenchido com um silêncio mortal. Lynn começou a pegar a rodovia para ir para Washington, Matt dormiu no assento da frente e eu permaneci quieto, apenas observando pela janela.

[...]

Depois de algumas horas, finalmente chegamos. Uma fumaça acinzentada subia pelos nos céus no horizonte. O Monte Santa Helena estava bem próximo.

-ACORDA, SEU INÚTIL! – Lynn estapeou o rosto de Matt, que acordou assustado.

-Inútil é você! – retrucou Matt, esfregando os olhos – Não podemos nem tirar uma soneca...

-Sem brigas – disse aos dois – Precisamos trabalhar em equipe. Vamos logo.

Matt e Lynn assentiram, embora meu amigo tenha ficado um pouco emburrado. Decidimos deixar as mochilas no carro e apenas levar as armas. E foi agora que eu percebi: Lynn estava com um belo e grande tridente amarrado nas costas. Lembrei-me de que o pai dela era Poseidon.

Começamos a correr na direção do Monte Santa Helena. No horizonte, o grande vulcão já aparecia, soltando uma fumaça hostil. Caminhamos bastante até chegarmos no monte, e quando chegamos, nos sentamos, descançando um pouco.

-Precisamos bolar um jeito de entrar... – disse Lynn, pensativa.

-Entrar num vulcão? – disse, assustado – Vamos morrer chamuscados pela lava!

Lynn bateu a mão na testa, enquanto Matt que estava sério, sabendo de minha inexperiência com esse mundo, começou a me explicar.

-Alguns vulcões dos Estados Unidos não são só lava em seu interior. – disse ele – Alguns vulcões podem abrigar as forjas de Hefesto, lugares onde esse deus se abriga e trabalha.

-Ahh, entendi. – eu disse – E como vamos entrar, então?

-Não sei. – disse Lynn, um pouco estressada.

-Deixa comigo. – Matt sorriu, se virando para a base do Monte.

Meu amigo fez um gesto com a mão e um túnel se abriu na pedra. Eu e Lynn ficamos surpresos, sabíamos que Matt era filho de Hades, mas não que ele era capaz de manipular terra. Matt deu um sorriso exibido, fazendo Lynn mudar sua expressão surpresa para uma expressão tediosa, revirando os olhos.

-Bem, vamos entrar –disse ela.

Matt entrou dentro do túnel, depois eu entrei. Então, Lynn entrou atrás de mim. Matt foi fazendo gestos com a mão e abrindo cada vez mais o túnel, e parou quando viu que havia alcançado uma luz. E então, se debruçou sobre o túnel, vendo que havia uma grande altura entre o túnel e o chão.

Lynn e eu nos debruçamos sobre o buraco final do túnel, junto com Matt. E então, começamos a espiar a forja. Era um local espaçoso, havia uma mesa enorme com várias ferramentas, vários carrinhos de mão com materiais dos mais variados tipos, fogões de forja e outros. Porém, quem estava forjando eram diabinhos, e não Hefesto.

-O que são essas criaturas? – perguntei, sussurrando.

-Ahh não... – resmungou Lynn – Telquines. São ótimos forjadores. Já trabalharam para Zeus, mas foram banidos para o Tártaro quando descobriram que usavam Magia Negra para forjar. Hoje em dia trabalham para Cronos. E estão tentando dominar as forjas de Hefesto.

Após escutar a história de Lynn, olhei curioso para os Telquines, abaixo. Nós três permanecemos calados, tentando escutar algo do que dialogavam.

-Hefesto, esse idiota. – resmungou um Telquine – Dominamos o Monte Santa Helena!

-Ainda não. – disse outro – Hefesto ainda voltará de sua coleta de materiais. Precisamos pegá-lo numa emboscada.

-Boa idéia! – disse o anterior – Todos, arrumem-se para uma emboscada! Vamos pegar Hefesto!

Os telquines se espalharam pela sala. Se esconderam em todos os cantos, de modo a parecer que não havia ninguém na sala, do ponto de vista de baixo. Porém, eu, que via de cima, podia avistá-los sem dificuldades.

-Precisamos ajudar Hefesto! – sussurrou Matt – E também precisamos dele.

-Sim – respondeu Lynn – Mas Telquines são muito fortes. Conseguem dar conta de um deus. Precisamos ter cautela. Matt, faça eles se revelarem.

-Certo – disse meu amigo.

Matt se ergueu, ficando de pé no túnel. Estendeu as mãos, uma para cada lado, e fechou os olhos. Pedras de tamanho médio se soltaram das paredes do túnel e começaram a flutuar em volta de Matt. Olhei surpreso para o poder dele. Ele então abriu os olhos e as pedras voaram para todos os lados, acertando em cheio todos os telquines da sala, que assustados, saíram de seus esconderijos.

-M-mas o que foi i-isso, chefe? – perguntou um telquine a outro.

-Não sei! – respondeu o que parecia ser o chefe – Mas fiquem a postos!

-Certo! – responderam os outros, e sacaram machados enormes e ficaram olhando para os lados.

Lynn abriu o cantil que tinha na cintura e fez uma expressão determinada.

-Está na hora. Lutem com todas as suas forças! – disse a filha de Poseidon.

Lynn ajoelhou no túnel e manipulou a água dentro de seu cantil usando as mãos. Fez uma espécie de plataforma aquática que ela usou para descer até o chão. A filha de Poseidon sacou seu belo tridente e começou a defender e atacar os telquines enfurecidos. Matt tirou uma pedra enorme da parede do túnel e usou como plataforma para descer, e desembainhou sua espada negra e começou a lutar.

Eu olhei para baixo. Estava muito alto. E eu não tinha nenhum recurso para poder descer. Pensei em chamar um dos meus amigos, mas uma pilha de Telquines nervosos lutavam contra eles. Eu tinha que tentar pular, não tinha outra opção. E assim, fechei os olhos e pulei.

Quando eu estava quase batendo de cara com o chão, eu senti que a queda do meu corpo foi interrompida. Abri meus olhos. Nada me segurava. Eu estava flutuando. Eu sabia voar!

Então, ergui meus braços para cima e comecei a voar. Era bem divertido, mas eu não podia me distrair. Desviei voando de um telquine que tentou me acertar e pousei, desembainhando Megaraio.

Comecei a defender cada machadada que eu recebia com Megaraio. Ela liberava faíscas a cada vez que se chocava com algo, e sempre que eu acertava um telquine a espada o eletrocutava. Era uma espada fascinante.

Um telquine veio em minha direção. Apontei a espada contra ele e algo inesperado aconteceu, a espada liberou um raio enorme e mandou o telquine longe. Sorri e agradeci silenciosamente o meu pai. E comecei a chamuscar todos os telquines que vinham em minha direção.

De repente, a guerra toda se interrompeu com um grito. Era um telquine. Após as criaturas saírem da frente, vi que uma delas tinha o machado no pescoço de Matt. Ele estava imobilizado. Lynn e eu nos entreolhamos.

-Semideuses inúteis! – resmungou o telquine que tinha o machado no pescoço de Matt. – Vocês dois, saiam ou corto a cabeça de seu amigo!

-Matt! – gritei.

-Josh... não se preocupe... fuja. Fuja você e Lynn, e vão pedir ajuda...

Matt teve o machado pressionado mais no pescoço. Ele não conseguia mais falar nem respirar, pois o machado com mais um centímetro atravessava sua garganta. Matt já ia desmaiar, quando uma adaga atingiu o machado do Telquine e o partiu ao meio, permitindo que Matt respire. O filho de Hades massageou a garganta.

Olhei para atrás dos telquines. Um homem coxo, com o rosto deformado, cabelos loiros e uma roupa bem suja apareceu. Ele olhava feio para os telquines.

-O que fazem aqui, seus idiotas! – disse o homem, com uma voz grossa e autoritária – Sumam daqui!

-Hefesto! – berrou o telquine chefe – Você irá pagar! Vamos, bater em retirada!

Os telquines desapareceram. E então, eu, Lynn e Matt nos vimos na frente do homem, que de acordo com as circunstâncias era Hefesto. O deus rodeou os olhos prateados por nós, nos examinando.

-Semideuses... – disse Hefesto, com uma voz mais calma, porém ainda grossa e autoritária – Filhos dos três grandes! Posso ajudar vocês?

-Ahhn, senhor, temos uma missão muito importante a cumprir... – Lynn tomou a voz, dizendo calmamente, demonstrando respeito – Quíron quer que nós peçamos a todos os deuses para eles abençoarem uma lâmina, que precisa ser feita por você. Mas, para suportar os poderes dos deuses, essa lâmina precisa de ser de um material divino, o...

-Ouro Celestial – interrompeu Hefesto, que começou a mancar em direção a sua mesa – Vocês querem minha ajuda primeiramente para isso?

-Sim – disse eu – E é muito importante, senhor. Para nós derrotarmos Cronos.

Um trovão ribombou nos céus. Hefesto fechou os olhos como se estivesse sentindo um presságio. Ele logo os abriu, olhando para os nós, á sua frente.

-Certo – disse o deus, pegando um pedaço de uma espécie de metal dourado – Este é meu último pedaço. Mas, fazer o quê...

Hefesto ofereceu assentos para nós três. Nos sentamos, enquanto Lynn curava seus próprios ferimentos e os de Matt com água. Eu não havia me ferido. Eu permaneci imóvel, olhando Hefesto trabalhar com curiosidade. Hefesto era o primeiro deus que eu via cara a cara. E eu estava muito surpreso.

Hefesto finalmente terminou. Seu trabalho resultou numa espada dourada, com um suporte arredondado com uma capa de couro. A lâmina da espada continha encravado os símbolos de todos os 13 deuses, e do outro lado havia algumas decorações encravadas.

-Um pequeno aviso. – disse Hefesto – O Ouro Celestial é tão poderoso que o simples toque a um mortal transformará em pó imediatamente. É resistente, porém perigoso. Por isso, não toquem na lâmina dessa espada.

-Obrigado, senhor. – disse Lynn, pegando a espada – Mas agora, será que o senhor pode abençoá-la?

Hefesto permaneceu sério. Se aproximou de Lynn e pôs as duas mãos sobre seu símbolo na espada e fechou os olhos. Permaneceu murmurando algumas coisas em grego que eu não entendi. E de repente, os símbolo de Hefesto na espada tornou-se de um prata vivo e brilhante. Lynn agradeceu e colocou a espada numa baínha que tinha, e a deu para mim. Um pouco confuso e surpreso, encaixei a baínha no meu cinto.

-Bem, senhor, já estamos de saída. – disse Matt – Muito obrigado.

-Não tem de quê. – respondeu Hefesto, ainda sério – Adeus.

-Adeus. – respondemos.

E assim, saímos do Monte Santa Helena pelo túnel e voltamos para o carro, onde nós três fomos na direção de nosso próximo deus.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Semideus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.