O Semideus escrita por Dreamer


Capítulo 5
Conheço as Amazonas de Prata mais Irritantes




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Não havia muito tempo que tínhamos partido do Monte Santa Helena. Uma ou duas horas, talvez. No carro, Lynn dirigia com uma expressão vazia, Matt dormia no assento da frente e roncava baixo, e eu, atrás, fiquei admirando o Mapa dos Deuses. O silêncio dentro daquele carro foi preenchido com uma voz calma.

-Josh, qual é a deusa mais próxima? – perguntou Lynn.

Observei o mapa bem. Estávamos indo para o sul, na direção do Estado de Oregon, então vi que um símbolo prata estava bem próximo da cidade de Salem. Era em forma de arco.

-Artémis – respondi – Em Salem.

Lynn acelerou, fazendo Matt abrir os olhos vagarosamente e acordar. Encostei no banco de trás, enquanto meu amigo na frente, se espreguiçava e bocejava. Dobrei o Mapa dos Deuses e o guardei na mochila de Matt, que se virou para mim com uma expressão sonolenta.

-Então, que deus vamos atrás agora? – Matt disse, voltando a olhar para frente.

-Artémis. – respondi.

-Ahh não... – resmungou meu amigo – Caçadoras? Detesto Caçadoras.

-E elas detestam meninos – complementou Lynn, até então calada – E eu não as culpo por isso. Meninos as vezes são muito bobões.

Matt fez uma careta para Lynn, que retrucou com outra. Eu percebi que aqueles dois eram muito briguentos. Não pararam de brigar desde que saímos do Acampamento. Não me preocupei muito com aquilo, era até engraçado, mas de vez enquando irritava. Mas, fiquei quieto na minha e fiquei olhando o fim de tarde naquela rodovia deserta, pela janela.

[...]

A lua já era visível no céu quando chegamos a Salem. Matt, desta vez, não dormiu. Lynn estacionou o carro numa rua próxima a uma floresta. Todos nós saímos do carro e nos alongamos. Megaraio e a espada dourada estavam embainhadas no meu cinto. A espada negra de Matt parecia mais assustadora e brilhante durante a noite. E o belo tridente de Lynn estava amarrado em suas costas.

-As Caçadoras param de noite para acampar – disse Lynn – E no meio da floresta. Talvez estejam por aqui.

-Quem são as Caçadoras? – perguntei.

-As Caçadoras são servas e seguidoras imortais de Artémis. – respondeu Matt – Para ser uma você pode ser semideusa, mortal ou monstra. Você só precisa ser mulher e odiar homens. Patético...

Lynn revirou os olhos, endireitando o tridente nas coisas. Eu nunca havia percebido aquilo, mas a lua brilhava nos olhos de Lynn. Seu rosto parecia mais ameno, mais calmo, mais dócil..

-Então vamos. – Lynn disse numa voz severa, adentrando a floresta, seguida por Matt.

Entrei na floresta atrás deles. Era uma floresta densa, e as coisas dificultavam pois já estava escuro. Desembainhei Megaraio e fiz uma luz com ela. As coisas facilitaram um pouco, embora não muito.

-Vai ser bem difícil achar o acampamento. – disse Matt, pensativo – As Caçadoras são imprevisíveis.

Lynn assentiu, séria, andando pelas árvores e atenta a todos os lados. Matt, logo atrás dela, também olhava para todos os lados, atento. Eu apenas olhava para trás e para frente, se eram servas de Artémis deveriam ser muito boas em ataques surpresa, afinal, Artémis era a deusa da caça.

Alguns minutos monótonos de procura se passaram. Agora, a floresta estava imersa numa completa escuridão, e nem mesmo a luz de Megaraio ajudava em algo. Embainhei a espada elétrica e, sem enxergar nada, fui seguindo meus amigos, que também pareciam um pouco desorientados.

Matt era filho de Hades, ele devia ter algum tipo de visão noturna. Mas para a minha infelicidade, não tinha, porque ele parecia tão perdido quanto eu. Ele simplesmente parou e fez uma expressão satisfeita, como se tivesse acabado de ter uma idéia.

-Vou procurá-las pelas sombras – disse Matt, rapidamente – Me esperem aqui.

Meu amigo simplesmente virou um vulto negro e desapareceu. Olhei surpreso para o local onde ele estava, que agora tinha uma Lynn impaciente e cansada. Eu olhei para ela em sinal de "O que é isso?", e como se lesse minha mente, ela me respondeu.

-Matt, sendo filho de Hades, é capaz de se teletransportar pelas sombras rapidamente. – disse Lynn, sua voz vinda de um vulto negro a minha frente – Ele diz que é uma arte muito difícil e necessecita de treinos, e blá, blá, blá.

Lynn voltava a ficar calada. Encostou no tronco de uma árvore e eu encostei junto. Depois de alguns minutos, o vulto negro reapareceu e formou o corpo de Matt, que tinha uma expressão esperta, exibida e alegre. A felicidade do garoto foi quebrada pela expressão entediada de Lynn.

-Achei elas. – disse Matt, apontando para o meu lado direito – Estão pra lá, não muito longe.

Lynn assentiu com a cabeça e tomou a frente, indo na direção onde Matt havia apontado. Segui Lynn e logo atrás de mim veio um Matt, com uma expressão emburrada.

-Garotas – resmungou ele – Nunca deixam a gente ser feliz.

Dei uma risadinha baixa, que logo se perdeu na escuridão. Uma luz veio um pouco a frente. Nos aproximando mais, vimos que ali tinha um agrupamento de barracas, e lobos enormes girando em volta. Lynn observou os lobos como se estivesse tentando bolar um plano, e logo se virou para mim e para Matt.

-Precisamos distrair esses lobos. – disse Lynn – Eles que fazem a guarda do acampamento delas. Qual de vocês se candidata?

Eu e Matt permanecemos imóveis.

-Okay, eu vou. Fiquem aqui. – Lynn resmungou e abriu o cantil amarrado a seu cinto, sumindo nas árvores a frente.

Alguns segundos depois, bolas de água voavam de todos os lados, acertando os lobos em cheio. Desorientados, os animais fugiam floresta adentro. Eu e Matt nos esquivamos de um lobo, que por milímetros não tromba com a gente. Lynn apareceu a minha frente.

-Vamos – disse a filha de Poseidon.

-Intrusos! – vozes vinham do acampamento.

-Oh-oh. – disse Matt.

-O que foi? – perguntei.

Matt apontou para cima, mostrando uma chuva de flechas que estava prestes a nos acertar. Lynn puxou a mim e a Matt pelo pulso e nos arrastou para fora do alcance das flechas de prata, que acertavam o chão sem dó.

-Tem mais! – apontei para cima.

-Arg, vamos invadir, precisamos lutar! – gritou Matt.

-Não tem como! – retrucou Lynn – As Caçadoras não são tão fracas igual você pensa!

Eu não tinha outra solução. Abracei a Matt e a Lynn – que não gostaram da idéia de estar juntos – e saltei. Concentrando minhas energias no meu pé e torcendo para que funcionasse, eu comecei a flutar. E logo acelerei, sobrevoando o acampamento das Caçadoras. Tinha uma fogueira no centro com uma barraca maior. Ao redor da barraca maior, havia várias barracas menores.

Flechas de prata vinham de todos os lados para tentar nos acertar. Com reflexos bons de semideus, consegui desviar, sem jeito, de todas. Pousei violentamente dentro do acampamento, próximo a fogueira central. Matt bateu nas roupas e pegou sua espada negra. Lynn fez o mesmo e desamarrou o seu tridente. Eu desembainhei Megaraio, pronto para lutar.

As flechas continuavam vindo de todos os lados. Nós encostamos costas com costas, formando um círculo perfeito, e assim, defendendo as flechas. Vi meninas com vestidos e arcos e flechas prata aparecerem de todos os lados. Fui atirando raios através de Megaraio e noucauteando algumas. Matt foi batendo o pé no chão e atirando pedras contra algumas. Lynn usava chicotes de gelo para noucautear as que viam contra ela.

Uma flecha amarrada a uma corda de aço nos contornou, nos amarrando uns aos outros e nos imobilizando. Uma menina que parecia ter mais detalhes em sua roupa prata apareceu, segurando o fio de aço.

-Lady Artémis, por favor, venha aqui. – a menina gritou educadamente para a barraca maior.

Uma mulher com olhos, cabelos e roupas prateadas surgiu da barraca. Aquela mulher me despertava fascínio e curiosidade, assim como Hefesto me despertou. Mas, Hefesto havia salvado a vida de Matt e de nós todos, e não nos amarrou com servas malucas arqueiras.

A mulher se aproximou e nos examinou. Seus olhos se arregalaram. Aprendi com Hefesto que os deuses podiam saber de quem éramos filhos. E provavelmente, ela descobriu que nós três somos filhos de cada um dos três grandes.

-Entrem. – ela nos desamarrou e andou em direção a barraca maior.

Nós a seguimos.

Entramos na barraca. Era cheia de coisas valiosas e uma cama confortável no meio. A mulher se sentou no chão, e nós sentamos na frente dela. Ela nos olhou mais uma vez, como se quisesse confirmar algo, e logo olhou para Lynn, que tomou a palavra.

-Senhora Artémis – disse ela – Somos filhos dos três grandes. Fomos enviados em missão para poder pedir aos deuses que abençoem uma espada. Já passamos por Hefesto, ainda precisamos de você e mais 11.

Desembainhei a espada dourada e mostrei a ela. Todos os 13 símbolos dos deuses, os mesmos que estavam no Mapa dos Deuses, estavam encravados lá. Todos estavam dourados, como a cor da espada, menos o símbolo de Hefesto, que estava prateado, pois este já havia abençoado a espada.

-Porque precisam disso? – perguntou a voz aguda, porém autoritária de Artémis.

-Para derrotar Cronos. – respondi.

Artémis arregalou os olhos. Pareceu hesitar, mas logo colocou a mão sobre seu símbolo na espada, fechou os olhos e balbuciou algo em grego. O símbolo de Artémis reluziu em prata assim que ela abriu os olhos e tirou sua mão. A deusa forçou um sorriso, e nós três, ao mesmo tempo, forçamos outro como resposta.

-Ahh, obrigado. – disse, embainhando a espada no cinto. – Adeus.

A deusa acenou, com sua expressão séria de volta a seu rosto. Saímos de sua barraca e passamos pelas Caçadoras que olhavam para nós com um olhar furioso. Voltamos para o carro e resolvemos dormir ali mesmo. Matt, é claro, foi o primeiro a dormir.

"2 estão okay, só falta 1", pensei, antes de cair em sono profundo, para descançar daquele dia terrível.


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