“Ainda odiava e temia a idéia da besta-fera que dormia dentro de mim e naturalmente não esquecera os perigos atrozes do dia anterior”

O Médico e o Monstro - Pág. 108.

Tooru POV

Acordei depois de um tempo, eu estava deitado no sofá, com o Jun me observando.

- Nii-san? Está se sentindo melhor? – perguntou.

- Estou sim, Jun... – menti, ainda tinha uma sensação de que meu estomago revirava mas não queria deixá-lo mais apreensivo. – Onde está o Kaoru?

- Ele foi se sentar lá fora, para arejar as idéias...

- Eu vou falar com ele tá? – me levantei, pesadamente, e segui até onde ele estava.

Antes de me sentar, eu ainda o observei.

Os cabelos castanhos escuro, sendo levemente bagunçados pelo vento. Parecia triste, não... estava triste, ainda a culpa era minha.

Me sentei ao lado dele.

- No que pensa? – perguntei, olhando os olhos dele se voltarem para mim.

Ele sorriu levemente.

- Em como deixar você sempre ao meu lado.

Me permiti sorrir. Ele poderia ser tão doce, e tão decidido.  Eu realmente o amava, eu realmente o queria ao meu lado. Mas eu ‘não existo’, eu sou apenas um alter ego, eu sou apenas um lado do complicado Kyo.

E do jeito que tudo está indo, logo não estarei mais aqui.

- Kaoru... Eu não quero que se arrisque por causa do Kyo... eu não quero que destrua tudo por causa dele.

- Eu não consigo seguir sem você, não mais.... você se tornou uma pessoa especial para mim.

- Eu não sou uma pessoa... eu sou uma personalidade...

- Você é uma pessoa, personalidade é o Kyo.

Novamente sorri com o comentário.

- Não confunda as coisas, Kao-chan...  – me atrevi roubar os lábios dele, era um beijo doce, necessitado, precisava senti-lo, mesmo que no fim, o Kyo me machucasse (se machucasse).

Me afastei, no instante que senti, que o Kyo estava voltando...

Me afastei tanto, que eu acabei assustando o Kao.

- O que houve?

- O Kyo... – disse, sentindo meu rosto formigando.

Kaoru POV

- O que houve?

- O Kyo... – assim que ele disse isso, percebi o cabelo já um tanto escuro.

Não queria que ele fosse embora... eu queria continuar o tendo ali ao meu lado. Mas ao ver a figura do Kyo me encarando raivosamente.

- Eu já disse para que você não se aproximar de mim! Seu merda! – ele veio na minha direção, e tentou me acertar um soco, do qual eu segurei o punho dele.

- Cala boca! Entra logo, para de escândalo na frente da casa... – o empurrei para dentro da casa.

Ele relutou e acabou me dando um murro, que não foi tão forte como deveria ser. Retruquei, estava com raiva, estava com raiva por tudo estar indo por água  à baixo.

Porque se eu não corresse contra o tempo, eu não teria mais o Tooru...

- Parem! – gritou Jun vindo separar nos dois que começamos a nos esmurrar. Mas não conseguiu, mas do que ser empurrado pelo Kyo.

Somente parei de bater no Kyo, quando vi seu surpercílio sangrando.

Eu não posso machucá-lo, porque estaria fazendo isso com o Tooru também.

Fiquei o olhando, vendo que ele somente levou a mão ao corte, e riu.

- Tem medo de machucar o Tooru?

Não respondi.... não ia fazer ele se sentir o vencedor... ele não iria dar a ele esse gostinho.

- Para, para Nii-san! Chega disso... – choramingou Jun se aproximando de mim, como se quisera impedir que eu tivesse qualquer ato.

- Eu não vou fazer nada, Jun... nada, não se preocupe.  – Me soltei dele.

Ninguém mais ali tinha o que dizer, e por um milagre, até o Kyo ficara calado.

Ficamos os três, sem ação.

Toshiya POV.

Como assim, ele é o Kyo?

Como consegue fazer algo do tipo?

Parei para pensar, encostando a cabeça no volante. Tentando associar tudo o que eu já sabia e o que eu tinha visto.

Primeiro: O Kaoru era filho de um yakuza.

Segundo: O Kyo, tinha certas ligações com a gangue.

Sendo que isso, segundo os próprios amigos dele, ficou  mais forte depois que ele começou a ter contato com o Kaoru.

Terceiro: O Kaoru é químico, ou seja, fica mais fácil o acesso dele a drogas até então desconhecidas pela policia.

Essa deve ser uma nova droga.

Quarto: Me lembrei que o Kaoru já havia me apresentado o loiro, era o Tooru. E como eu não notei tudo isso antes?

Preciso voltar para o distrito, preciso pensar com mais calma.

Acelerei o carro,  e parti de volta.

Porque o Kaoru mudou tanto? Por que ele se meteu nisso?....

[....]

Voltei antes do previsto para o distrito, e acabei esbarrando com o Daisuke, que já saía de lá...

- Onde esteve? O delegado estava preocupado com você.

- Preciso pensar, me dá licença...

- Descobriu que o seu amiguinho tá mais afundado na lama dessa investigação, do que você pensava?

- Não se mete Daisuke, você está me atrapalhando.

- Te atrapalhando?  Você nem descobre nada, e eu te atrapalho!

- Cala a boca! – empurrei ele, e entrei na minha sala.

Chutei a porta pra fechar e me joguei na cadeira, bufando de raiva.

- Kaoru... porque você? – me dei alguns minutos...

Shinya.... é a hora da verdade, ele é a chave pra muita coisa...

Peguei meu celular...e procurei o numero dele.... eu deveria ter... senão me engano...

Achei!

O telefone não demorou muito a ser atendido

- Shinya?

- Quem é?

- Toshiya...

- O que quer?

- Informações... o que mais eu poderia querer?

- Eu... não sei de nada!

- Você já me deixou descobrir sozinho que o Kaoru está bem perto, e que o Kyo pode ser duas pessoas. – ele não me respondeu... me deixando ainda mais com a certeza de que ele tinha ligação com essa historia.  - Shinya...preciso que vá até a minha casa... Eu preciso saber o que você sabe dessa historia, e qual a sua ligação.

- Eu...

- Não vou citar o seu nome se houver, e haverá um inquérito.

- Eu... .prometi que não...

- Não se afunde na mesma lama que o Kaoru.

- Ele só está os protegendo. – ele desligou o telefone.

Ele não vai me contar mais nada, já chegou ao seu limite.

Ele sempre foi assim... sempre protegeu o Kaoru.

Espere...

O Shinya já me deu muitas dicas.

Tratei de começar a fazer meu relatório.

“Ele só está os protegendo”.

Os protegendo....

“Relatório de Investigação Criminal  nº 24568/35-2012”

...

Reli tudo que eu escrevi, para ver se não deixei nenhum detalhe para trás.

Estava tudo certo...

- Toshimasa... Seu relatório já está pronto? – Fui surpreendido pelo Daisuke, novamente.

Apenas o encarei, pra mim ele já tinha ido. Mas tive uma idéia.

Pensei bem no que eu ia propor...  Nada podia dar errado agora, e também eu queria ter certeza  de que esse infeliz da minha frente, não entregasse tudo antes que eu tivesse certeza de que o Kaoru e o Kyo estavam em minhas mãos.

- Daisuke. Preciso que você me ajude...

- Ah agora quer minha  ajuda...

- Cala a boca. Eu descobri algo... mas  não sei se o delegado vai  acreditar em mim... -Se você acha isso.  Eu também  só acredito  se acabar vendo o que descobriu.... – riu.

- Então temos que ir a Kyoto. À paisana. Preciso conseguir  invadir a casa, e ver o que acontece de perto.

- Certo.

- Agora.

- Estou indo... – ele saiu da minha frente.

Vamos ver melhor o que o Kaoru esta aprontando.

E quem sabe, até ter acesso a tal ‘droga’ que ele criou.

Ou ele apenas controla à quem entregam aquilo.

E como acontece aquela transformação. Como o Kyo se torna o Tooru.

E ainda não sei se o Kaoru realmente pertence a Yakuza.

“Dois coelhos com uma cajadada só.”

Eu vou por um ponto final nessa história, e não vai demorar.