“Pensava nele com afeto; mas seus pensamentos eram desassossegados e temerosos...”

 O Médico e o Monstro -Pág. 56

Kaoru POV

Senti o doce sabor dos lábios de Tooru...

Meu coração já estava pedindo isso há certo tempo...

Mas eu tinha medo de aceitar isso....

Foi desde o primeiro instante que encarei aqueles olhos azuis...

O que eu poderei fazer?

Me apaixonei por um alter ego, que só ressurgirá quando Kyo tomar a Wakeru...

Estou perdido...

Completamente perdido... Sinto que não poderei ter o que meu coração tanto pede...

Nunca me apaixonei, e isso tinha que acontecer logo agora, logo nessa situação...

Eu já estava no meu quarto sentado, evitando olhar Tooru enxugar as lágrimas....

Eu o fiz lembrar do que aquele homem fez com ele, quando ele simplesmente era uma criança...E ainda teve a coragem de fazer isso na frente do Jun....

Fechei os olhos... Fiquei mais alguns minutos e senti braços me envolverem...

Abri os olhos e vi Tooru me abraçando... E pedindo desculpas...

- Não precisa pedir desculpas... – eu levantei o rosto dele e lhe dei mais um beijo.

Eu precisava disso...

Estou cometendo uma loucura... Não é mesmo?

Mas o coração é assim mesmo...

[...]

Despertei com o sol batendo na janela. Tooru ainda dormia abraçado em mim...

Até agora, a Wakeru surtiu efeito...

Será que ele ficará aqui, sempre?

Me soltei dos braços dele, delicadamente, não queria acordá-lo.

Fiquei olhando ele dormindo, os fios loiros sobre o rosto, ainda marcados pelas lágrimas...

Tão inofensivo, tão doce... Para alguém querer fazer á ele algum mal...

Fui ao banheiro lavei meu rosto, e fiquei me olhando no espelho...

- Eu sou um monstro... Eu sim sou uma pessoa ruim...

Fui até a sala, Jun estava despertando...

Bom... Seria um problema se ele visse Tooru voltar a ser o Kyo...

Ele esfregou os olhos, e se sentou no sofá...

- Ohayo! Kaoru-kun! – ele sorriu, aparentando estar bem disposto.

- Ohayo, Jun! Dormiu bem? – sorri.

- O Waru-kun foi embora? – ele perguntou arrumando o cabelo.

Pensei se lhe dizia a verdade ou não

- Não, ele esta dormindo...

A Wakeru ainda não tinha ‘acabado’, duraria um pouco mais.

- Ele é legal, e o Shinya-san também... – ele riu - E eles gostam de videogame!

- Eu também gosto... Acho que ainda tenho um console, quer jogar?

- Sério! Eu quero! – ele pulou empolgado.

- Antes vá lavar seu rosto....

 O garoto correu e acabou esbarrando no Tooru que vinha na direção contrária.

Os dois riram...

E meu coração doeu ao ver essa cena...

Será que se o Jun, soubesse a verdade....

Ele iria reagir de maneira ruim?

Ou apenas sorrir por ter o irmão ‘de volta’?

Ainda prefiro ficar na duvida...

- Kaoru... – Tooru evitou olhar para mim... Ele estava vermelho...

- Ohayo, Waru-chan! – sorri para ele, e ele apenas levantou os olhos, parecendo confuso.

- Ohayo...

Me aproximei dele, e lhe dei um leve selinho..

- Não se preocupe... Vou tentar consertar tudo....nee... Chibi

O chamei de maneira carinhosa, e ele riu timidamente.

- Vamos ver se tem alguma coisa para tomarmos café... – me afastei e fui para cozinha.

O que será que vai acontecer agora?

Kami-sama... Se você realmente existe, me ajude agora...

Tooru POV

Isso é tão proibido...

Mas eu preciso tanto dele perto de mim...

Mas... Eu não mando nesse corpo, eu não sou o verdadeiro ‘Tooru’ agora.

Me sentei no sofá e fiquei olhando a TV desligada...

Mas... Agora que percebi... Ainda estou aqui, não houve nem uma tentativa do Kyo, ressurgir...

Realmente Kaoru é inteligente, mas isso não poderá me manter pra sempre aqui...

Logo Jun se sentou do meu lado, bem elétrico.

- O Kaoru-kun te dei açúcar foi? – ri bagunçando o cabelo dele, como sempre fazia quando éramos pequenos.

- Waru-kun, como é seu nome?

Tremi... Por que o Jun tinha que ser tão curioso... Não podia demorar a responder...

- Prefiro que me chame só por Waru... Não gosto do meu nome...ok?

- Ok! Desculpe-me por perguntar e que eu costumo ser muito curioso. – ele sorriu.

- Gente, sinto informar que não tem nada que seja bom para um café da manhã decente. A não ser que vocês queiram comer rámen instantanêo... -Kaoru saiu da cozinha rindo...

- Então o que vamos comer? – perguntei olhando para Kaoru que ainda estava rindo.

- Bom, o jeito é ir para uma padaria e tomar café lá... E depois Jun, você joga videogame.

- Então foi isso que fez ele ficar desse jeito!

- Mas e se minha mãe...

- Bom, está um pouco frio ainda, te empresto uma blusa e você fica com o capuz, e ninguém vai te reconhecer... Certo?

- Ok. Vamos então!

[...]

 - Bom, hoje eu tenho que ir trabalhar....já devo estar atrasado... Jun, você pode voltar pra minha casa...O videogame esta numa caixa debaixo da minha cama e Waru, você vem comigo. – Kaoru entregou as chaves para o Jun

Seguimos direto para o laboratório, e eu passei a tarde inteira lá, olhando Kaoru fazer formulas e mais formulas...

- Kaoru... Tem como a Wakeru funcionar para sempre? – essa pergunta escapou por meus lábios, e rapidamente evitei encarar o Kaoru.

- Não... Como muitos ‘remédios’ o corpo logo se acostuma, e tudo volta como era antes... Claro que sem alguns pontos, por exemplo a ‘doença’. Mas não te deixa imune...

Me esforcei para compreendê-lo

- Então ela não funcionará por um longo período... Mas não me fará imune a ela?

- Mais ou menos... Você até que entendeu um pouco... – ele sorriu.

Mas agora seu sorriso foi amargo, com se o coração dele estivesse insatisfeito.

E isso cada vez me fazia lembrar o quanto eu fazia as pessoas sofrerem por mim...

 Kaoru POV

Nada do Kyo... Isso é ótimo....

O Tooru ficou todo esse tempo em casa...

Nós três, nos divertimos muito...

E eu me apaixonei ainda mais....

Piorando minha situação....me perdi de vez!

O perigo agora seria, se o corpo dele se acostumasse com a wakeru...

E eu não pudesse trazê-lo de volta para mim

Esse pensamento cortou minha mente, várias vezes durante esse tempo...

Mas tê-lo por perto de mim por tanto tempo foi maravilhoso...

 Hoje, já de madrugada, estávamos conversando no lado de fora, quando as tatuagens da mão dele começaram a aparecer....

Eu não consegui fazer com que a Wakeru funcionasse como eu desejei...

Ele se despediu de mim com um breve selinho...

Os olhos azuis foram desaparecendo e me afastei o suficiente para me manter seguro de qualquer ataque do Kyo, se ele souber o que aconteceu nos últimos dias, realmente eu estarei morto.

A transfiguração foi rápida, e logo eu estava encarando Kyo.

- Espero que Tooru não tenha feito nada que detone a minha reputação.... – e já despertou com seu escândalo rotineiro.

-Kyo-san, você vai acordar o Jun...

- Ele ainda tá aqui? A velha não o encontrou?

- Não, ele não quis voltar , e está aqui comigo... – respondi com toda a paciência do mundo, desejando que ele sumisse e deixasse o Tooru voltar...

- Tá, agora solte meu dinheiro que eu preciso resolver os meus problemas.

- Ainda tenho que melhorar a Wakeru. – eu peguei dinheiro no meu bolso, entreguei a ele.

- É só me procurar... Sempre estou no beco...

- Sua mochila está lá dentro... Kyo-san. – eu apontei a porta aberta, e ele entrou bem rápido e saiu quase correndo.

Agradeci o fato de o Tooru poder bloquear algumas coisas e o Kyo nem imaginaria o que estaria acontecendo entre nós.

Passei o resto da noite pensando em como fazer com que a Wakeru funcione permanentemente...

Eu simplesmente estou tão confuso, não consigo pensar... Abaixei a cabeça, e fiquei ali olhando o chão...

Já era de manhã, quando resolvi entrar e fiquei sentado, no sofá oposto de onde o Jun dormia.

Logo ele despertou...

- Ohayo, Kaoru! – disse ele se espreguiçando.

-Ohayo, Jun... – respondi, tentando me animar...

- O Tooru tá dormindo ainda?.... – a semana inteira que passamos juntos, Jun perguntava sempre de Tooru assim que acordava.

-Não, pequeno, ele já foi... – respondi.

- Ah... Eu nem me despedi dele....  – reclamou fazendo uma careta infantil

- Ele volta logo... – pelo menos por mais algum tempo.

- Você gosta bastante dele... – quando o Jun disse isso meu coração acelerou, e tive a impressão de que isso estava quase que perceptível.

Sorri para ele e confirmei com a cabeça.

- Kaoru...  Se minha mãe descobrir que eu estou aqui? E se ela me levar embora? Eu gosto de ficar aqui!

- Vou fazer tudo o possível para te deixar aqui...

- Então como vamos contar pra ela?

- Você pode ligar pra ela, e chamá-la aqui.

- Tá bom! – sorriu... E ele sorria da mesma maneira que Tooru, de maneira meiga.

Ele correu pro telefone, e discou os números de maneira rápida.

Ri comigo mesmo, eu nunca imaginei que eu cuidaria de uma criança.

Acho que eu estou aprendendo com minha formula.

Ele ficou batendo os dedos na perna impacientemente.

Ele fazia eu me lembrar de quando eu era pequeno...

[Flashback On]

13 anos antes...

Eu estava sentado na porta da escola, esperando pacientemente, ou não tão pacientemente assim.

Porque meu pai estava demorando tanto?

Eu já estava ali há quase sete minutos.

Ele me prometeu que iria me levar naquele laboratório onde ele trabalhava...

Quando vi o carro dele parando na rua, fui correndo na direção...

- Pai! Esqueceu de mim foi? – abri a porta e entrei no carro.

- Claro que não, nunca esqueceria... Só tive um imprevisto e tive que demorar um pouco, tudo bem?

- Ah... Você vai me levar pro laboratório hoje nee?

- Claro que sim, por que eu não cumpriria minha promessa?

- Por nada... – ri – É que não quero ficar com a babá hoje... E eu já estou bem grandinho pra ficar com babá no meu pé.

- Nunca vou te deixar sozinho...  – ele fez um cafuné em mim, e deu a partida no carro.

[Flashback off]

Lembrar do meu pai me dava forças pra continuar, ele foi a única pessoa que cuidou de mim, por toda minha infância e minha adolescência, por mais que ele...

E de um ângulo, agora eu me sentia como um pai para o Jun.

Eu fiquei ainda observando por mais alguns segundos sua impaciência...

- Mãe? – ele sorriu ao ser atendido. – Sou eu o Jun.... Tá eu estou bem não se preocupe... Eu estou na casa de um amigo... Eu quero falar com você...

A feição dele ficou triste. 

- Mãe me escuta... – ele passou o endereço. – Vem aqui, quero conversar.... – ele desligou o telefone. – Kaoru... Se ela não deixar?

- Nós fugimos... – ri, tentando animá-lo.

- Obrigado... Você está sendo gentil em me deixar aqui.

- Me afeiçoei a você... Não ia te deixar na mão nee? – sorri e ele me deu um abraço.