Jun POV

Realmente eu tenho medo de que minha mãe queira me levar.

Eu gosto tanto da atenção que tenho aqui, mesmo que a maior parte do tempo, o Kaoru esteja trabalhando, quando ele chega, ele joga vídeo-game comigo, conversa sobre qualquer coisa.

E naquela casa, eu nem vejo minha mãe direito, fico praticamente trancado no quarto, para que aquele velho não me ataque.

Eu vivo lá com medo...

E aqui fico tão em paz...  Aqui eu me sinto bem sorrindo.

E não tenho que lembrar das vezes que...

Aquele velho machucou o meu nii-san.

Minha mãe podia destruir tudo... Ela nunca ouviu mesmo eu e meu irmão...

Era capaz de bater em mim, se eu insinuasse dizer que aquele velho fazia mal a mim e ao nii-san.

O Kaoru deixou que eu o abraçasse, e ficasse assim por um tempo.

Depois ele se soltou de mim, e falou algo sobre tomar o café da manhã.

 Depois que terminamos, eu ajudei ele com a louça.

Alguém tocou a campainha, e eu internamente pedi que fosse qualquer pessoa menos minha mãe.  Kaoru foi atender.

Mas nem tudo o que se quer é o que você tem...

Era ela, e já entrou gritando, falando que ia mandar o Kaoru pra cadeia por que ele praticamente tinha me seqüestrado.

E o pior foi quando ela disse que o Kaoru era da mesma laia do meu irmão, que devia ser um delinqüente, drogado.

Eu espiava da porta da cozinha, estava com medo de ir lá, enfrentá-la.

Só ouvi o Kaoru rindo, e dizendo que se ele fosse como os amigos do Kyo, ele já teria batido nela.

- Ele está aqui por que quer, eu não o estou prendendo...

- Ele é uma criança, como vou saber que você não está o ameaçando? – ela estava bem histérica hoje, pra variar.

Depois dela falar muita coisa para o Kaoru, e ouvir muita coisa dele, sai da cozinha e a encarei.

- Ele não é como o seu marido. – disse firme. – O Kaoru cuida de mim...

- Cala a boca! Você já está agindo como o Tooru, aquele inconseqüente.

O Kaoru balançou a cabeça negativamente, eu não entendi bem o porquê. Mas ele tomou a palavra novamente.

- Primeiramente, não compare irmãos, isso não é saudável. E eu não estou maltratando o Jun, eu cuido dele, como se fosse meu filho. E pelo que percebi, você nem fica com ele, o deixa com o padrasto, que tenho certeza que não tem condições de cuidar dele.

Eu interrompi Kaoru, eu precisava falar aquilo.

- Aquele bêbado, que sempre tenta me machucar de alguma maneira, eu não vou voltar pra lá, para sofrer como o Kyo-nii-san, sofreu.

- Meu marido sempre cuidou de vocês.

- Cuidou? – eu ri, tive que rir. – Ele maltratava nós dois, e o pior sempre era com o Kyo, ou você acha que ele se revoltou por nada. Eu não vou voltar para aquele inferno, eu não quero me sentir um lixo de novo. Eu não quero que ele acabe fazendo comigo o que fez com meu irmão. – gritei, com todas as minhas forças tinha que colocar aquela dor pra fora...

-O que ele fez com ele, tentou educá-lo.  – ela duvidava de minha palavra, sempre fora assim.

- Eu sei que você não vai acreditar em mim. Nunca acreditou quando eu disse que tinha medo de ficar sozinho com aquele homem. Quer saber o que ele fazia, quer nos mínimos detalhes?

Ela continuou me encarando incrédula.

Respirei fundo, eu sei que se o meu irmão descobrisse que contei sobre isso, ele iria me bater, mas precisava falar, eu não podia continuar guardando isso pra mim.

- Ele violentou o meu irmão... Na minha frente, várias vezes! – praticamente cuspi tudo isso nela. Eu não agüentei e comecei a chorar, senti Kaoru me abraçando e quando voltei novamente meu rosto na direção de minha mãe, ela ria.

Aquela que eu chamo de mãe, ria, ria do que aconteceu com o filho dela.

- De onde você tirou essa idéia?

- Ele esta falando a verdade... – Kaoru me soltou e encarou-a – Ou você acha que ele iria brincar com um assunto desses?

- Ele nunca soube o que diz... É louco como o irmão, como o pai deles. Vão morrer na loucura. – ela se aproximou de mim. – Vamos logo, não tenho o dia todo... – ela segurou meu pulso e me puxou, mas o Kaoru me segurou.

- Ele fica. Você desaparece daqui. – Do tempo que eu estou aqui, nunca vi o Kaoru perder a calma.

Ela o olhou com desprezo, e depois voltou o olhar para mim.

- Se você ficar, não o verei mais como meu filho. – ela disse isso decidida.

- Você não é minha mãe á anos, só agora percebi. Não acredita numa palavra que eu digo.

 Respirei fundo, olhei diretamente nos olhos dela.

- Não volto com você... Não vou...  E tenho certeza de que não me arrependerei dessa decisão.

Ela me soltou, e saiu.

Eu ainda fiquei parado no mesmo lugar.

Não tinha reações. Não conseguia nem chorar mais, nem gritar....

Eu apenas tentava processar em minha mente tudo o que ela me disse.

- Não se preocupe mais com isso, Jun.. – Kaoru me abraçou, e tudo que consegui fazer foi chorar, chorar, chorar...

Eu estava destruído, eu não esperava que ela reagisse dessa maneira ridícula.

Não tenho mais mãe....

Mais ganhei um amigo, que cuida de mim, de verdade.

Kaoru POV

Ele estava tão indefeso.

E eu ainda não sabia bem o que deveria fazer agora, praticamente, ele se defendeu sozinho.

Pensei em alguma coisa para alegrá-lo...

Vídeo game....

- Jun, vamos jogar um pouco? - disse olhando para ele, que estava enxugando os olhos

- Você não vai trabalhar? – ele sorriu, de leve.

- Hoje dá pra ficar aqui... Tô com preguiça de ir lá, e também não quero deixar você sozinho.

 - Obrigado...

- Sua mãe sempre agiu assim com você? – perguntei

- Só quando não faço as vontades dela. Ela quer que eu seja submisso, mas desde que meu irmão voltou pra me ver, eu não faço mais isso.

- Seu irmão ficou fora por quanto tempo?

- Seis meses.... Por que ele ficou preso.

- Preso... Ele não devia ter escolhido esse caminho.

- Ele só tenta apagar o passado, mas com atitudes ruins... Tenho medo de que ele acabe morrendo com isso...

- Não vamos pensar nisso, não é mesmo? – sorri tentando animá-lo.

[...]