Cap. 06: A verdade

Fiz Christofer e Laura me prometerem que não contariam nada da minha história para Summer. Eu não sei muito bem o por quê de tê-los feito prometer isso, mas acho que a razão é que Summer é tao... equilibrada. Ela é meio louca, eu sei, mas ainda sim ela tem o jeito de agir, de falar, de uma garota certa. De uma garota que sabe o que é certo e o que é errado. Eu não queria que ela parasse de falar comigo, nem que passasse a sentir repulsa de mim por causa dos meus problemas.

Eu não sei por que penso assim. Estou confuso até agora. Eu não devia me preocupar com a opinião de Summer... ela é tão estranha!

Eu andava em direção ao colégio cheio de sono, debaixo daquele Sol.

Tem coisa melhor?

– Mark Campbell!

Ah, sim. Tem coisa melhor! Melhor do que ir para a escola cheio de sono, é quase enfartar com uma criatura risonha pulando no meu caminho e gritando o meu nome.

Parei onde estava, de olhos fechados, tentando acalmar o meu coração.

– Mark, você está bem?- ela perguntou.

Respirei fundo, ainda de olhos fechados.

– Estou sim.- respondi, minha voz saindo meio esganiçada.

Abri os olhos vagarosamente e então, petrifiquei, olhando sem piscar para Summer, que parecia preocupada, mas estava...

Estava linda.

Ela sempre prendia o cabelo para ir à escola, mas hoje estavam soltos, e seus cachos caíam livres por suas costas, emoldurando seu rosto.

Ela usava uma maquiagem bem leve (o que não era preciso, já que seu rosto era muito bonito) e vestia uma blusa azul-claro, que dava um contraste tremendo com aos olhos.

Eu ainda a contemplava quando ela deu um passo em minha direção. Seu dedo indicador cutucou minha testa. Pisquei os olhos, voltando ao meu estado normal. Summer riu.

– Definitivamente você não está bem. O que foi?- suspirei, olhando para os seus olhos.

E – droga! – eu petrifiquei novamente. Eram muito azuis! Muito mesmo!

Observei sua face corando um pouco.

– Mark, você está me assustando.- ela murmurou.

Engoli em seco, tentando parar de olhar para os olhos dela.

– Mark...

– O que é isso aí?- a voz atrás de mim fez a minha espinha gelar.

Christofer olhou para mim e me deu um tapa (que mais parecia um soco) na minha cabeça. Gemi de dor, massageando o local atingido.

– Chris! Precisava fazer isso?- Summer disse, vindo até mim, preocupada.

Christofer começou a rir.

– Como pode ser tão cara-de-pau?- ele falou, ainda rindo.

– Infantil..- Summer revirou os olhos.- Não ligue para ele, ok?- assenti, deixando suas mãos massagearem a minha cabeça no lugar das minhas.

Christofer pôs as mãos atrás da cabeça, ainda achando graça daquilo tudo.

– Vamos nos atrasar se o namorico continuar!- ele disse, andando à nossa frente.

Summer arregalou um pouco os olhos e retirou a mão da minha cabeça rapidamente. Seu rosto atingiu um tom avermelhado, enquanto ela se adiantava indo atrás do irmão.

Christofer era mesmo um estraga-prazeres!

Chegamos ao colégio rapidamente, apesar do meu andar vagaroso.

– Vocês têm aulas juntos hoje?- Chris perguntou à mim.

Summer já estava praticamente correndo em direção à Laura, que permanecia sentada debaixo de uma das árvores do campus.

– Hoje e todos os dias.- respondi. Christofer deu um sorrisinho que eu achei um tanto estranho.- O que foi?

– Nada, nada.- ele disse, ainda com aquele sorrisinho.

Revirei os olhos. Tentar entender Chris e Summer era mesmo uma tarefa impossível. Em alguns momentos, ele era tão estranho quanto a irmã.

As aulas foram um tédio só.

Eu dormi e acordei várias vezes. Vez ou outra Summer perguntava se eu estava mesmo bem, se eu estava passando mal, se eu precisava ir na enfermaria... E aí eu ficava igual a um retardado olhando para ela.

Eu acho que Summer estava certa quanto ao fato de eu não estar muito bem hoje.

Já havia anoitecido.

Eu já havia acabado de ensaiar as minhas cenas da peça, então já poderia ir embora.

Arrumei minhas coisas e pendurei minha mochila em um dos ombros, saindo do vestiário.

Encontrei Summer em frente a palco, lendo suas falas.

– Hei!- a chamei e ela me olhou.- Vai continuar aqui?

– Sim. Ainda falta uma cena, daqui a pouco eu termino.- ela disse, dando um pequeno sorriso.

Pelo canto dos olhos, vi que Josh fingia ler suas falas, mas prestava atenção à nossa conversa. Instantaneamente fiquei preocupado. Principalmente quando ele deu um sorriso torto quase imperceptível quando Summer falou que continuaria ali.

– Você quer... quer que eu te espere? Já está escuro. Acho que é perigoso você ir sozinha.- falei, as palavras quase não saindo.

Summer sorriu.

– Não precisa, Mark. Você está cansado, vá descansar. Eu ficarei bem.- ela disse. Assenti, sentindo todo o meu corpo implorar por uma cama.

Suspirei, olhando na direção em que Josh estava, mas ele havia sumido. Olhei de volta para Summer, que me observava, curiosa.

E então, num impulso, dei um passo em direção à ela e a abracei fortemente.

– Se cuida.- murmurei em seu ouvido.- Qualquer coisa, me liga.- a soltei dos meus braços e a olhei rapidamente, antes de dar-lhe as costas e ir em direção à saída do teatro.

Seus olhos estavam arregalados, ela estava surpresa com meu ato.

Até eu estava.

E durante todo o caminho, aquela aflição. O sentimento de erro. Erro por ter deixado ela para trás sozinha.

O dia seguinte amanheceu chuvoso.

Durante toda a noite eu não consegui dormir direito. Apenas cochilava, e acordava minutos depois, assustado e pensando em Summer.

Fiz minha higiene matinal praticamente correndo, engoli o café-da-manhã sobre os protestos da minha mãe e fui para a escola.

Com os olhos, eu procurava por Summer no campus do colégio. Mas não a encontrei.

Assim que entrei no prédio do colégio, pude ouvir uma gritaria e o barulho de algo batendo nos armários. Me aproximei rapidamente, e arregalei os olhos ao ver Christofer sendo segurado por dois alunos. Josh estava praticamente jogado no chão à sua frente, sendo amparado por outros dois garotos.

Voltei meu olhar para Christofer, e vi seu rosto tomado pelo fúria.

– SEU ANIMAL! COMO PÔDE?!- Christofer gritava, furioso, tentando soltar-se dos braços que o seguravam.

O que havia acontecido?

Olhei para Josh novamente, que já estava de pé. Seu rosto estava vermelho, e as bochechas inchadas. Saía um pouco de sangue do canto de sua boca, que ele logo tratou de limpar com as costas da mão, rindo debochadamente.

– Por que tanto drama, irmãozinho? Se você quer saber... ela bem que gostou.- Josh falou, ainda rindo consigo mesmo.

Arregalei os olhos,, olhando Chris novamente.

E eu me senti vendo um campeonato da UFC de camarote.

Chris se soltou das mãos que o seguravam com facilidade, quase deslizando, e foi com o punho diretamente na cara de Josh.

As garotas que assistiam a briga agarraram-se umas as outras e começaram a gritar novamente, e todos se afastaram. Eu permaneci onde estava, atônito.

– VOCÊ MERECE MORRER, DESGRAÇADO!

Christofer gritava, revoltado. Josh estava caído no chão, a blusa branca que usava começado a ficar avermelhava devido ao sangue que saía de seu corpo, a cada soco ou chute que Christofer dava.

Eu continuei imóvel onde estava, com os olhos arregalados.

“O que aconteceu?”- a pergunta martelava em minha mente.

Christofer estava fora de si, e ninguém mais tentava impedi-lo de bater em Josh. Ele gritava, socava e chutava Josh, que agora tentava se defender dos golpes.

Praticamente sem pensar, fui em direção à eles.

– Mark, se afaste!- disseram, colocando uma mão em meu ombro. Vi que era Dylan quem tentava me parar.

Ele tentou me puxar para o outro lado do corredor, mas eu me desvencilhei de suas mãos.

– E-espera, nós não podemos...- eu mal conseguia falar, de tanto nervosismo. Christofer iria acabar matando Josh se continuasse daquele jeito!

– Já chamaram o diretor!- Dylan falou, tão nervoso quanto eu.

Ele tentou me puxar para longe da briga novamente, mas eu rapidamente me soltei dele e fui até Christofer, puxando para longe de Josh. Ele tentou me purrar, mas quando viu que era eu quem tentava prender seus braços, ele parou de se debater, ofegante.

Seu rosto estava vermelho devido ao esforço. Ele passou a mão sobre o lábio inferior, onde havia um corte. Limpou um pouco do sangue que havia ali. Alguns outros alunos foram ajudar Josh, que estava com o rosto todo machucado.

– O que deu em você? Enlouqueceu?!- perguntei, minha voz saindo um tanto desesperada.

Chris bufou, ainda tentando controlar a respiração. Pareceu hesitante em me contar o que havia acontecido, mas logo pareceu precisar contar. A agonia agora em seu rosto.

E sua voz saiu esganiçada. E o que ele me disse me fez gelar.

– Esse merda estuprou a minha Summer. Outra vez!