True Supernatural escrita por Cat Hathaway


Capítulo 9
Capítulo 9




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As mãos de Rachel começaram a tremer e, por um momento ela não conseguiu respirar e mal sentiu as lágrimas deslizando por seu rosto.

Tudo o que importava era que Roxy estava ali, deitada na sua frente, simplesmente parada. Rachel duvidava até que ela respirasse. Pôs as mãos no rosto e começou a lamentar.

Talvez se tivesse sido mais rápida ela poderia estar viva ou se tivesse prestado mais atenção nas intenções dela e a tivesse impedido de trancá-la dentro do carro. Mas, naquele momento, tudo o que ela queria era ficar sozinha e lamentar. Sentiu algo pousando em seus ombros e os sacudiu. Se fosse alguns dos meninos, que finalmente a tinha encontrado, ela gritaria. Só queria ficar sozinha por um momento.

Mas, a mão que estava em seu ombro era fria demais para ser de um dos irmãos Winchester. Também ardia contra a sua pele. A mesma ardência que sentiu instantes antes de encontrar Roxy. E agora ela estava morta. Quando escutou um gemido contra o seu ouvido e ela se arrepiou, congelando. Seus olhos se arregalaram e a respiração ficou lenta. Ela sabia o que aconteceria em seqüência, antes que o fantasma envolvesse suas mãos em seu pescoço.

Ela arfou com o aperto e suas mãos se moveram para o pulso frio do fantasma. Seus olhos queimavam em vermelho e sua boca estava aberta e ameaçadora. Sua pele era de um pálido maligno. Rachel estava tão apavorada que era fácil ficar sem ar. Ela arrastou seus olhos até o corpo intocado de Roxy.

Seus olhos começaram a se encher de lágrimas novamente. Lembranças passavam por sua mente.

A primeira vez em que Roxy fugiu de casa e apenas Rachel conseguiu convencê-la a voltar.

A primeira vez em que Roxy defendeu a irmã na escola quando a chamaram de irmãs siamesas. O dia em que o seu pai as abandonou.

O jeito como Roxy a olhou antes de sair do carro. De algum modo, ela sabia que não veria mais a irmã. E isso doía.

Seu rosto começou a esquentar pela falta de ar e ela deu outra arfada com a visão começando a turvar. Ela soltou uma das mãos do pulso do fantasma e esticou-a até a mão de Roxy. Sentiu a pele gelada de Roxy contra a sua e tremeu. E então, sorriu. Nasceram juntas, morreriam juntas. Por um breve momento, ela jurou ter sentido um dos dedos de Roxy se mexendo contra a palma de sua mão, mas era impossível. Sua irmã estava morta.

Rachel escutou passos, mas pareciam tão distantes. Tudo o que ela pode fazer era fechar os olhos e esperar de braços abertos que a morte a levasse. Mesmo que de um modo tão horrível. Num último momento de lucidez se perguntou se todos os irmãos gêmeos que haviam sido mortos ali, tinham tido esse mar de emoções nos seus últimos momentos de vida.

Não houve tempo pra pensar em uma resposta.

Os passos ficaram mais ligeiros e ela teve impressão de ter escutado a voz de Sam, mas estava tão longe que poderia ser apenas uma ilusão pré-morte.

Seu pescoço queimava e ela tinha medo de quebrar. Remexeu-se mais um pouco, mas não abriu os olhos.

Queria que sua última lembrança fosse feliz.

O sorriso de Sam, as piadas de Dean, as broncas de sua mãe, as brincadeiras de seu pai, o jeito como os olhos de Roxy brilhavam quando ela ia a uma festa.

Apenas lembranças felizes.

Escutou um tiro de longe e soube que era o fim. Esperou mais dor e mais queimação, mas tudo o que teve foi uma sensação de alívio. Teve medo de abrir os olhos, mas o fez, lentamente. Preparou-se para encarar o rosto deformado, mas tudo o que viu foi à escuridão e depois Dean e Sam aparecendo a sua frente, Dean com uma arma levantada e os olhos atentos.

Rachel respirou fundo e pôs a mão em seu coração, escutando o quanto ele estava batendo.

Ela ainda estava viva.

Um arfar ao seu lado a alertou. Virou-se para ver a irmã se sentando rapidamente e olhando para os lados com os olhos arregalados, com medo. A alegria tomou Rachel. Roxy tossiu e passou a mão pelos cabelos, respirando com rapidez. Mesmo sabendo que deveria dar espaço a ela, Rachel não conseguiu se conter e então se jogou nos braços da irmã e a abraçou com força, chorando.

“Acho que dessa vez, eu acertei.”, Dean disse abaixando a arma.

“Você acertou.”, Roxy garantiu com a voz distante.

Ela abaixou os olhos para a irmã e começou a acariciar seus cabelos loiros, carinhosamente enquanto esperava que ela se acalmasse.

Sam olhou para Roxy, desconfiado e ela apenas desviou os olhos. Era óbvio que eles queriam saber como ela tinha certeza que Dean acertou. Mais ela não queria se lembrar. Lembrar que por muito pouco, não estaria morta.

“Calma, Rachel.”, Roxy disse abraçando a irmã com mais força. “Acabou.”, ela olhou para os irmãos Winchester que assentiram. “Acabou.”

*******


Roxy acordou estalando as costas doloridas. Ela gemeu com a dor, então estalou o pescoço. Aquele fantasma tinha mesmo feito um estrago nela.

Se não fosse por Dean e Sam, com certeza ela estaria morta. Levantou-se, esticando as pernas e olhou para o relógio. Sabia que estava atrasada para o trabalho e que Roy teria um ataque, mas depois do que tinha acontecido no dia anterior, ela não teria direito a um dia de folga?

Ela desceu passando os dedos pelos cabelos escuros e tentando prendê-los em um coque. Estranhou o silêncio vindo do andar de baixo. Estranhou mais ainda quando não viu a irmã cozinhando ou gritando que estava atrasada. Seria bem irônico se Rachel estivesse preocupada com o horário depois de ter quase morrido.

Roxy não queria admitir, mas tinha quase certeza que a única coisa que ainda a prendia ao mundo dos vivos era Rachel. A ligação delas era tão forte, que mesmo desacordada e sem respirar, ela ainda conseguia sentir um pouco do seu corpo. Ela quase cruzou o portão dos mortos, mas quando sentiu a mão de Rachel na sua teve que voltar. Tinha certeza que aquela não era a sua hora. Não poderia ser a sua hora.

Escutou o som da televisão, então andou até a sala, encontrando Dean sentado com um prato de salgados e uma cerveja em sua mão. Ele tinha um sorriso nos lábios enquanto assistia ao jogo. Roxy reparou nas malas perfeitamente arrumadas perto da porta e teve a certeza de outra coisa.

Os Winchesters iriam embora.

E ela não poderia deixar que Dean fosse sem que ela pudesse agradecer, do seu próprio jeito.

Ela continuou se aproximando, até que Dean levantou os olhos verdes para ela e sorriu.

“Dormiu bem?”, ele perguntou.

“Nem consegui dormir.”, Roxy confidenciou se sentando ao lado de Dean e abraçando as próprias pernas. “Como vocês conseguem dormir depois de tudo aquilo?”

Dean deu de ombros.

“Sam reza, eu viro na cama e fecho os olhos.”, ele deu um gole em sua cerveja então ofereceu a Roxy, que negou. A última coisa que a morena precisava naquele momento, era ficar bêbada.

“Onde estão Rachel e Sam?”, Roxy perguntou notando a ausência da irmã.

“Foram até um posto de gasolina.”, Dean disse. Então pareceu se lembrar de outra coisa. “Ah, sim. Sam descobriu o porquê de sua casa ser tão boa e tão barata.”

“Bons negócios?”, Roxy arriscou.

“Não.”, Dean disse e eles sorriram. “Um par de gêmeos que morava aqui foram mortos, no ano passado. Os Fell. Parece que os pais não queriam mais ficar na cidade e venderam para o primeiro que fizeram a oferta. E talvez seja porque vocês eram gêmeas e lembravam os filhos deles.”

“Eu estou morando na casa de um defunto?”, Roxy perguntou impressionada. Dean assentiu. “Deveria saber que o preço estava bom demais.”

Ela balançou a cabeça e se levantou, indo até a geladeira e pegando outra cerveja. Mesmo achando que não precisava beber, mudou de ideia mais rápido. Ela sabia que Rachel iria demorar. O posto de gasolina mais perto ficava quase que do outro lado da cidade.

Olhou para Dean pelo batente. Ele estava tão tranquilo assistindo seu futebol, nem parecia o mesmo cara tenso que quase a impediu de ir a uma festa.

Roxy se inclinou contra a bancada e suspirou dando um gole na cerveja. Pensou em como seria bom viver andando de cidade em cidade, de estado em estado. Nunca parada. Então, um barulho a despertou de suas fantasias.

Ela foi até a janela da sala e puxou a cortina, vendo os grossos pingos de água batendo contra o chão e arqueou uma sobrancelha. Jurava que tinha céu estrelado no dia anterior.

“Está chovendo.”, ela informou a Dean.

“Estou vendo.”, ele disse atrás dela.

Roxy se virou um pouco assustada e Dean sorriu. Ele tinha se movido tão rápida e silenciosamente que ela nem tinha percebido que ele estava tão perto. Olhou para as próprias roupas. Felizmente, Rachel tinha tido o bom senso de não vesti-la com o moletom do Mickey Mouse. Dean abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido pelo barulho estridente do celular de Roxy.

Ela piscou algumas vezes, como se despertasse de um sonho distante e correu escada a cima. Encontrou o celular jogado no criado mudo. Viu o nome de Rachel brilhando na tela. Puxou a cortina do quarto vendo a chuva caindo com velocidade e forte. Deu as costas para a porta e atendeu.

“Fala, R. C.”

“Roxy, que bom que você acordou.”, Rachel soou distante do outro lado da linha. O barulho da chuva se destacava. “Olha, só liguei para avisar que eu e Sam vamos demorar um pouco. Está chovendo muito, então paramos em um bar a beira da estrada e assim que a chuva passar nós voltamos.”

“O quê?”, Roxy perguntou pensando que tinha escutado errado. “Vocês não vão vir agora?”

“Roxanne.”, Rachel rolou os olhos. “Está chovendo muito. As pistas estão escorregadias e quase não dá para enxergar nada. Como você quer que eu e Sam voltemos para casa?”

“Tudo bem.”, Roxy disse automaticamente com a mente longe.

Ela desligou sem escutar o que a sua irmã tinha que dizer. Largou seu celular de volta no criado mudo e se virou para poder avisar a Dean que seu irmão e Rachel iriam demorar. Não precisou ir muito longe. Dean estava parado no batente de sua porta, com os braços cruzados observando cada movimento de Roxy.

“O que aconteceu?”, ele perguntou descruzando os braços e entrando no quarto.

“Rachel disse que ela e Sam vão demorar por causa da chuva.”, Roxy respondeu mecanicamente.

Dean continuou se aproximando, então parou. A única coisa que os separava era a cama de Roxy, ironicamente. Roxy levantou o olhar para Dean esperando que ela dissesse alguma coisa. Seus olhos ficaram presos ao corpo de Roxy, a atmosfera estava quente, exalando desejo. Era praticamente impossível não sentir nada com aquele homem parado bem na sua frente.

Sentindo que deveria dizer alguma coisa, Dean abriu a boca, pronto para dizer que Sam era um péssimo motorista, por isso que ele e Rachel iriam demorar. Mas ele nem teve a chance. Sendo levada pele impulso, Rachel subiu em cima da cama, ficando de joelhos na frente de Dean. Então o puxou pela camisa e o beijou.

Dean ficou surpreso por um momento, mas então relaxou e envolveu os braços em volta da cintura de Roxy, puxando-a com força contra si.

Eles eram pura eletricidade. O corpo de Roxy estava pegando fogo. Ela puxou Dean para a cama e arrancou sua camisa, vendo aquele corpo perfeito tão perto dela. Roxy sorriu e Dean a ajudou a tirar a blusa.

Roxy não conseguia acreditar que estava ali, com Dean Winchester. Só conseguiu ter certeza que não era um sonho quando todas as suas roupas caíram no chão e sentiu Dean dentro dela. Parecia tão surreal, mas a presença de Dean era real e física demais para ser ignorada.

Roxy agradeceu por todo aquele mal tempo ter atrasado Rachel e Sam. Nem tinha noção da reação da irmã se visse Roxy e Dean juntos. Talvez pirasse, talvez ignorasse. Roxy não saberia dizer. Naquele momento, ela não sabia dizer nem seu próprio nome. Tudo o que importava é que ela estava ali, com Dean. E viva.


*******


“Falou com eles?”, Sam perguntou se aproximando de Rachel.

Rachel olhava para o celular franzindo o cenho. Roxy parecia tão estranha e distante ao telefone, como se ela não fosse ela mesma. Ou como se estivesse pensando em algo muito difícil. A loira sentiu a mão de Sam em seu ombro e se virou, sorrindo.

“Avisei a Roxy, mas ela é tão avoada que é possível que esqueça.”, Rachel disse e Sam riu.

Eles estavam voltando para casa quando a chuva repentina começou então Sam resolveu parar em um bar a beira da estrada. Ela tinha ido até a porta para ligar para Roxy e avisar que iria demorar, mas a irmã parecia aérea e ainda desligou na cara de Rachel. Sam e Rachel entraram por causa do frio.

Eles olharam para as mesas de sinuca. Duas delas ocupadas por bêbados e uma delas vazia. Rachel se sentou no bar e se virou para Sam que estava sentado ao seu lado.

Não queria contar a Roxy que, pra ter certeza de que realmente estavam seguras, Rachel fez Sam passar pela Avenida 23 e parar. Rachel tinha saído do carro e dado uma volta, mas nada aconteceu. E nem sentiu aquele mau pressentimento. Apenas viu o lugar como mais uma rua qualquer.

Realmente tinha acabado.

“Então, o que faremos agora?”, Sam perguntou tirando Rachel de seus devaneios.

A loira estreitou os olhos azuis, pensativa. Tinha muitas coisas que ela queria fazer com Sam. Muitas delas em particular. Balançou a cabeça com o próprio pensamento. Parecia Roxy. Passou a mão pelos cabelos loiros e coçou a nuca tentando se concentrar para que seu rosto não corasse, mesmo que quase tivesse a certeza de que era em vão. Só tinha uma coisa que eles realmente poderiam fazer naquele momento.

“Vamos beber.”


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