Entrei em casa e não vi não ninguem, nem ouvi ruidos ou vozes. Onde meus pais estavam? Com certeza não estavam na casa dos Cullen, pois eu acabara de chegar de lá e não vira nenhum sinal deles. Talvez estivessem na casa do vovô Charlie. Bom, não importava, eles eram bem grandinhos - apesar de aparentarem ter quase a mesma idade que eu -.

Subi as escadas em direção ao meu quarto, eu já havia tomado banho nos Cullen e vestia uma roupa que tia Rose me emprestara, pois Alice não lembrou de pegar umas mudas de roupas para mim na noite passada. A noite da nossa "festa do pijama", que por sinal até que foi legal, Alice e Rose sabem como me entreter; Ouvimos música, rimos, conversamos, dançamos, fizemos as unhas, tudo o que tínhamos direito, e depois eu acabei caindo no sono - uma grande desvantagem de ser híbrida -, mas pelo menos dormindo eu parava de pensar na história trágica que Emily me contara na fogueira.

Tirei as roupas de Rose e deixei-as dobradas em cima da minha cama. Virei-me e fiquei a me fitar através do grande espelho que havia em meu quarto; meus cabelos eram quase completamente vermelhos, com cachos nas pontas - naquele momento pelo menos, pois meu cabelo sempre mudava, ora liso, ora cacheado e ora ondulado -. Minha pele era branca como a neve. Meus olhos eram da cor mel esverdiado. Meu corpo era esbelto, como o de uma modelo, não era tão alta, talvez tivesse um metro e sessenta e três. Meus lábios eram rosados e carnudos. Nariz empinado, assim como o de Alice. Eu tinha o formato dos olhos da mamãe, e o sorriso do papai, mas todos diziam que eu era muito mais parecida com eles quando era pequena, e quando falavam isso parecia que fazia uma eternidade. Não faz nem três anos que eu nasci, mas o bom era que eu estava parando bastante de crescer dia após dia, Carlisle medira minha altura esta manhã e em duas semanas eu não havia crescido nada, um bom sinal.

Vesti um simples vestido amarelo e sapatilhas brancas, mantive o cabelo solto e sai do quarto. Fiz meu longo trajeto até o porão, afim de beber algo que não fosse bebida de humanos, meu humor não estava nada bom hoje, e apesar de eu estar parando aos poucos de beber sangue humano, naquele momento era o que eu precisava urgentemente. Abri o pequeno freezer onde mantínhamos um estoque de bolsas de sangue humano e peguei uma logo abrindo-a com os dentes, e comecei a beber ali mesmo, eu estava faminta e não comia a um dia inteiro.

Após beber três bolsas de sangue, joguei o resto das embalagens no lixo e subi para a sala de estar. Realmente o nosso antigo chalé estava enorme, assim que completei um ano de vida nós reformamos o pequeno chalé, que por sinal ficou quase maior que a casa dos Cullen, mas mantemos o design original do local. Assim que cheguei na sala me joguei no sofá e permaneci ali quietinha, pensando no que Emily me falara na noite anterior. Eu não sabia se queria falar com Jacob tão cedo, mas por um lado eu sempre soube que essa história me magoaria. Dei graças a deus por mamãe não estar presente, pois eu estava com raiva até dela, tinha medo da minha reação quando ela viesse com o "Oi, querida!". Eu só não sabia o que dizer a ambos, pois eu os amava demais. De maneiras diferentes, mas amava. Em poucos segundos comecei a me perguntar quando deixei de ver Jacob apenas como um amigo, acho que não fazia muito tempo, mas eu sempre me senti ligada fortemente á ele de alguma maneira.

Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi a campainha tocar. Prendi a respiração e permaneci deitada ali. Eu tinha quase certeza de que era Jacob, e eu não estava pronta para conversar. Não agora.

– Ness, eu sei que você está ai! Por favor, abra a porta! - Gritou Jacob.

Fechei os olhos, não acreditando no que estava acontecendo, mas não consegui conter a fúria. Me levantei dali e fui caminhando em passos firmes até a porta, mas não a abri.

– O que você quer? Minha mãe não está aqui. Vá procurá-la em outro lugar, Jacob. - Respondi alto o suficiente para Charlie ouvir da casa dele - o que era bom, pois uma arma agora viria a calhar -.

– Mas é com você que eu quero falar. Me deixe entrar, Nessie. - Insistiu ele.

– Não tenho assuntos a tratar com você. Me deixe em paz, eu já disse - Conclui e dei meia-volta para subir as escadas. Eu entraria em meu quarto e só sairia para me alimentar, não queria ver ninguém. Assim que pus o pé no primeiro degrau da escada meus olhos se encheram de lágrimas e minha garganta deu um nó, parecia que eu estava sufocando. O que estava acontecendo comigo?

– Ness, escuta...A Emily me contou sobre ontem a noite. Me perdoa, eu devia ter te contado antes. Mas por favor, eu preciso falar com você, preciso te ver. Não faz isso comigo. - Implorou Jacob, dava para sentir a angústia em sua voz.

– Vá embora, Jacob! - Disse por fim, subindo os degraus correndo e entrei em meu quarto, batendo a porta - que quase se partiu em duas -.

Sentei em minha cama e posicionei a cabeça entre os joelhos. Não pude evitar que as lágrimas escorressem por todo o meu rosto, quase que involuntárias. Eu não sabia como meu pai aguentou toda esta situação no passado, ele devia ser forte mesmo ou sabia jogar conforme as regras. Mas comigo não era assim, era como se Jacob e eu estivéssemos ligados a uma corrente, que não podia se romper de jeito algum. E mais uma vez as tão horríveis borboletas brotaram em meu estômago, e o nó permanecia firme em minha garganta, as lágrimas rolavam pelo meu rosto, e meu coração fora esmagado nas mãos quentes de Jacob pela primeira vez.